sexta-feira, 11 de abril de 2014
ELEIÇÕES(?)2014: CPLP espera que o país saia da "agenda dos problemas"
O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, disse hoje esperar que a Guiné-Bissau saia da "agenda dos problemas" após as eleições, criando um cenário propício ao desenvolvimento económico e social. "A minha vontade e determinação é que a Guiné-Bissau saia da agenda dos problemas em que tem estado sempre presente na agenda das nossas reuniões e passe a figurar como caso de sucesso."
"Estaremos a participar no restabelecimento da sua democracia, da sua paz, esperando que a paz e estabilidade deixe de ser preocupação para os nossos oito países, que se devem ocupar de questões de desenvolvimento económico e social", disse à Lusa. Murade Murargy falava à margem da conferência "Promoção e Difusão da Língua Portuguesa", organizada pela comissão temática desta área dos observadores consultivos da CPLP, que decorre hoje na Universidade de Aveiro. Lusa
quinta-feira, 10 de abril de 2014
ELEIÇÕES(?)2014: EUA pretendem ambiente pacífico na votação de domingo
O Departamento de Estado norte-americano apelou às autoridades da Guiné-Bissau para criarem «um ambiente pacífico durante as eleições de domingo». «A população da Guiné-Bissau vai às urnas dia 13 e pedimos às autoridades da Guiné-Bissau que criem um ambiente propício para que os cidadãos possam expressar a sua vontade em eleições pacíficas e credíveis», pode ainda ler-se no comunicado. Ao mesmo tempo, os eleitores são encorajados «a fazer com que as suas vozes sejam ouvidas através do processo democrático».
A posição do Departamento de Estado norte-americano junta-se a outras de diversos representantes da comunidade internacional, que ao longo das últimas semanas, têm feito sucessivos apelos às autoridades de Bissau para que a votação e o período pós-eleitoral decorram de forma pacífica. Para as eleições gerais, presidenciais e legislativas, há 13 candidatos presidenciais e 15 partidos a concorrerem à Assembleia Nacional Popular. Este será o primeiro escrutínio depois do golpe de estado de 12 de Abril de 2012.
ELEIÇÕES(?)2014: Esperança ainda move (alguns) guineenses em Cabo Verde
A esperança numa Guiné-Bissau normalizada, em paz e com desenvolvimento ainda move alguns guineenses em Cabo Verde, que defendem o fim da relação entre políticos e militares para que todos os que estão fora possam regressar ao país. Em declarações à agência Lusa, três guineenses residentes na Cidade da Praia afirmaram ainda acreditar nesse “sonho”, embora o condicionem, sempre, a uma mudança de políticos e, sobretudo, das chefias militares que, consideram, tem levado a Guiné-Bissau para o abismo.
Essas são as expectativas de Silvino Nanque, 35 anos, há quatro na capital cabo-verdiana, operário da construção civil, natural de Quinhamel (região de Oio), e de Daniel Albano Lopes, 32 anos, na Cidade da Praia há seis, nascido em Safim (10 quilómetros a norte de Bissau e canalizador de profissão, para as eleições gerais de domingo na Guiné-Bissau. “Se a Comunidade Internacional estiver na Guiné-Bissau, as eleições vão decorrer bem e não haverá complicações, como no passado. (A situação de crise político-militar) vai ter de normalizar”, disse Silvino Nanque à Lusa, indicando que tenciona regressar ao país logo que tudo estabilize, tal como é vontade de “todos os filhos” da Guiné-Bissau que estão fora.
Daniel Lopes, por seu lado, só espera que todos os eleitores guineenses votem com a “consciência limpa” e que vencedores e vencidos se juntem para desenvolver o país e que se convençam que nenhum tem mais direito que outros. “Espero que todos os guineenses votem com a consciência limpa. A nossa esperança é que as eleições decorram na normalidade e que não aconteça nada de errado. Que todos votem com a esperança de que quem vença a eleição que seja para o bem de todos os guineenses. A Guiné-Bissau é de todos nós e ninguém tem mais direitos do que o outro. Todos somos guineenses”, frisou.
Daniel Lopes realçou ter também “esperança” de que os militares, responsáveis pelo golpe de Estado de 12 de abril de 2012, não interfiram, e que os políticos se dediquem exclusivamente à política e não colaborem com os militares. “Tenho esperança de que não haja intervenção dos militares na política. Ou que os políticos mostrem os seus argumentos sem colaborar com militares, porque há muitos que não acreditam nos seus próprios argumentos políticos. Se você acha que é político e que tem argumentos suficientes para convencer a população, então que use os seus argumentos políticos, mas não colabore com os militares.
“Peço aos militares que saibam que, quando provocam alguma coisa de errado, um levantamento ou um golpe, alcançam uma coisa boa só para eles e para as suas famílias, mas nem todas as famílias beneficiam disso. É prejudicial. Estamos a pagar pelos erros dos militares e dos políticos que não têm argumentos suficientes para convencer os eleitores”, acrescentou.
António Aly Silva destoa
Destoando da esperança, António Aly Silva, 48 anos, jornalista guineense autor do conhecido blogue “Ditadura do Consenso”, natural do Quebo (sul), afirmou que as eleições de domingo em nada vão mudar o futuro do país, tendo em conta as “tantas votações“ já realizadas e que nunca permitiram a conclusão de uma única legislatura.
“O problema são os homens. Isso é o que falta ao país, que nunca teve gente certa para o liderar e vimos, durante estes dois últimos anos, um governo de transição cuja função era organizar eleições e não conseguiu fazê-lo (no prazo inicialmente previsto). As eleições não mudam nada. Não podemos estar a fazer eleições que são pagas por terceiros e, depois, abortá-las com golpes de Estado”, referiu.
“(As legislaturas) nunca chegaram ao fim por causa daquela estirpe militar que temos no país e é esse o problema da Guiné-Bissau. O problema mais óbvio depois das eleições é lidar com o exército: entregar o (CEMGFA) António Indjai à Justiça norte-americana e mudar todas as chefias militares no país, bem como reformar as Forças Armadas com gente que saiba ler e escrever”, acrescentou.
António Aly Silva, crítico dos sucessivos regimes guineenses e na Cidade da Praia há cerca de um ano, considerou que a Guiné-Bissau é uma “ilusão”, argumentando sobretudo com os dois últimos anos de transição pós-golpe de Estado. “Tenho 48 anos e nunca vi o meu país tão pobre, nem tão corrupto, nem tão mais sem vergonha como nestes dois últimos anos. Quanto à esperança, há um ditado que diz: «a esperança e a sogra são as últimas a morrer. Tenho ainda as minhas sogras de vida e espero que a esperança ainda esteja com vida”, concluiu. JSD/Lusa
AME 2014: Manecas Costa levou assistência ao rubro
Ontem, o músico guineense Manecas Costa deu um brilharete no festival AME, na cidade da Praia. Manecas Costa, que lança dentro de um mê o seu 5º disco, cantou seis músicas e levou o público ao rubro. É a primeira vez que o artista toca no AME. "Foi super interessante, fui muito bem tratado. Senti-me em casa, e contente por as pessoas cantarem comigo", disse ao DC.
O baixista guineense, Sanhá, foi o único acompanhante de Manecas Costa. E um caboverdiano, Mirocas Paris, tocou tina. Manecas Costa fez questão de mostrar ao público a água no alguidar, onde assenta a cabaça. "Espero voltar. Tenho a certeza, até pelo que disse o presidente da Câmara: 'Você mexeu com a minha cidade'". AAS
ELEIÇÕES(?)2014: CEDEAO teme problemas com a aceitação dos resultados (A MESMA CEDEAO QUE NOS METEU NESTA ENCRENCA...)
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) teme problemas com a aceitação dos resultados das eleições gerais na Guiné-Bissau, referiu hoje Kabiné Komara, dirigente da missão de observação eleitoral. A CEDEAO NÃO TEM VERGONHA NA CARA! AAS
ELEIÇÕES(?)2014: Militares e membros de forças de segurança já começaram a votar
Militares e membros das forças de segurança que vão estar mobilizados no domingo são os primeiros a votar nas eleições gerais na Guiné-Bissau, com o voto antecipado marcado para hoje. Cerca de 2.000 elementos das forças armadas, polícias, Guarda Nacional e outras autoridades estão recenseados e podem hoje votar mais cedo, hoje em vez de domingo, nas instalações de cada uma das nove comissões regionais de eleições (CRE) do país. "É uma medida prevista na lei e está tudo a decorrer com normalidade", referiu à agência Lusa o vice-presidente da CRE de Bissau, Malam Manafá, à porta das instalações em Bissau Velho. LUSA
Cruz Vermelha da Guiné-Bissau prepara plano de contingência para as eleições gerais
Comunicado à imprensa
A Cruz Vermelha da Guiné-Bissau é uma instituição de carácter humanitária, que inspira na realização das suas actividades nos princípios do Direito Internacional Humanitário e age no respeito dos princípios fundamentais do movimento Internacional da cruz vermelha que são:
Humanidade, Imparcialidade, Neutralidade, Independência, Voluntariado, Unidade, Universalidade.
A Cruz Vermelha da Guiné-Bissau tem como Missão principal, prevenir e aliviar, com Imparcialidade absoluta, o sofrimento das comunidades mais vulneráveis, sem discriminação por motivos de nacionalidade, de raça, sexo, classe, religião ou opinião política.
A sua visão, é tornar-se uma Sociedade Nacional credível, capaz de organizar serviços de socorros de urgência. Contribuir para melhorar a saúde, criar serviços de apoio às comunidades vulneráveis, adaptados às condições nacionais e regionais, e aliviar o sofrimento de vítimas das calamidades.
No quadro de cumprimento da sua missão para que foi incumbida, a CVGB elaborou um plano de contingência para implementar durante todo o período das eleições gerais, este plano visa proteger e assistir as vítimas de diferentes casos que são verificados ao longo dos dias dos comícios, momento de votação, situações como por exemplo: acidentes, perda da coincidência, dor da cabeça, ferimento, agressão física e muitos outros casos que devem merecer uma assistência humanitária.
O risco de derrapagem relacionada com eleições gerais (presidenciais e legislativas) na Guiné-Bissau também pode sem dúvida ter consequências humanitárias para a população, incluindo aqueles que já sofrem de pobreza crónica e sem acesso aos serviços de base, onde o desenvolvimento de um plano de preparação e resposta a um evento de uma grande crise é muitíssimo importante para todos sem discriminação.
Este plano de contingência é uma acção conjunta de preparação da Cruz Vermelha da Guiné-Bissau e seus parceiros locais, incluindo aqueles em risco de situações de violência. Este plano descreve um conjunto de estratégias, medidas e acções necessárias para uma melhor preparação e implementação de uma resposta humanitária eficaz para as populações que poderão vir a sofrer.
Antes de elaborara este plano, fez-se um estudo sobre a situação sócio político em geral no país, e depois o plano foi orientado no pior cenário com os riscos da violência eleitoral, avaliamos as necessidades humanitárias e determinamos que tipo de assistência será necessário para minimizar as dificuldades das populações afectadas.
Para a implementação deste plano de contingência, foram mobilizados e reciclados 300 voluntários a nível nacional através das nossas estaturas dos comités regionais e locais, com equipas bem preparadas e capacitadas em matéria de assistência em primeiros socorros, serviços sócias, abastecimento de água, abrigo, restabelecimento de laços familiares e outros serviços de carácter humanitária.
Serão montadas aqui em Bissau 15 brigadas com 06 voluntários cada nos pontos e locais mais críticos, próximo das mesas das assembleias de voto, assim como nos comités regionais e locais as brigadas de primeiros socorros serão igualmente montadas.
A cruz vermelha da Guiné-Bissau, aproveita esta oportunidade para desejar a toda a população da Guiné-Bissau que votem na paz, tranquilidade, irmandade e sobre tudo para bem-estar do povo guineense.
Para mais informações contacte:
Daniel Sanha – 00 245 584 55 95, Av. Unidade Africana ½ C.P. 14-1036
Greve geral em véspera de eleições
A faltarem quatro dias para as eleições gerais a função pública inicia uma greve geral de três dias para exigir pagamentos de salários em atraso. As centrais sindicais da Guiné-Bissau enviaram, na semana passada, um pré-aviso ao governo de transição, sem obter resposta. A greve geral decretada pelas centrais sindicais guineenses teve hoje início e decorre até sexta-feira, dois dias antes das eleições gerais, agendadas para domingo.
Os sindicatos reivindicam três meses de salário em atraso exigindo que o Governo leve avante o acordo assinado no final do ano passado com vista ao cumprimento dos salários dos professores e profissionais de saúde. No primeiro dia de greve estima-se que a paralisação contou com uma participação com cerca de 90% dos funcionários públicos. Estes receando que o fim do mandato do governo de transição, uma vez que não sabem se poderão, no futuro, receber ordenados em atraso.
Quanto ao sector da educação e da saúde a tónica é a de reivindicação. Os professores das escolas públicas estão de greve até dia 7 de Maio. Estes acusam o Banco Mundial de não cumprir com um acordo assinado com o governo para efectuar os salários de Janeiro a Junho deste ano. O Banco Mundial defende que, através da coordenação das operações dos pagamentos, muitos dos professores e funcionários do sector da saúde não têm conta bancária. RFI
OPINIÃO: As eleições serão a solução para a Guiné-Bissau?
Fonte: Público
Por: Fernando Ka
"Os guineenses têm noção errada de soberania, confundindo-a com a independência. Se esta é uma condição necessária de soberania, não é suficiente para o seu pleno exercício. Um país não é de verdade soberano quando ainda não é capaz de ter o controlo absoluto sobre o seu território e os respectivos recursos naturais, os quais estão sujeitos a desenfreada e criminosa pilhagem pelos forasteiros, a pretexto de “contrato de exploração”. Por outro lado, um país que nem sequer é capaz de garantir o mínimo de auto-suficiência alimentar às suas populações altamente subnutridas, roçando a fome e os mínimos cuidados de saúde, não é digno desse nome.
A falência da Guiné-Bissau como Estado deve-se ao facto de nunca ter tido dirigentes à altura dos desafios que se impunham logo a seguir à independência até hoje. As gerações formadas no exterior para concretizarem o nobre ideal dos seus antepassados, que deram as suas vidas de forma a pôr fim ao colonialismo, não têm sabido desempenhar o seu papel na caminhada histórica para a construção do país. O sonho acalentado durante os dias intermináveis do sofrimento por uma justíssima causa foi ignorado pelo egoísmo atroz da gente de pós-independência que não olha os meios para atingir os fins. Podia estar a contribuir para fazer da Guiné um país de bem para todos, porque deve a sua formação ao país e não pode furtar-se à responsabilidade e, por conseguinte, ao sacrifício daí decorrente.
As próximas eleições podem proporcionar boas perspectivas à Guiné no sentido de encontrar o rumo certo para o seu desenvolvimento adiado sine die. Tudo isso irá depender do esforço comum entre o Governo e a comunidade internacional no trabalho de levar a cabo a organização do Estado guineense. A reestruturação das forças de defesa e segurança deve situar-se como uma prioridade ou um simultâneo com todos os sectores do Estado, nomeadamente a administração pública, que está sem “rei nem roque”, a justiça completamente submersa na corrupção, deixando de exercer o seu papel de equilíbrio na sociedade.
Ora, a actual composição das forças armadas predominantemente tribal, e ainda influenciada por um partido político de índole tribalista, não só cria instabilidade nos quartéis como também no país. É urgente e necessária uma nova família castrense em que não há a superioridade de um só grupo étnico em relação aos demais. A sua composição deve necessariamente reflectir o mosaico étnico do país, sob pena de um dia a Guiné vir a confrontar-se com sérios problemas de natureza tribal. “Mais vale prevenir do que remediar”, diz o ditado popular.
Já que a comunidade internacional parece agora ter mostrado o seu interesse em ajudar a Guiné a sair do buraco em que se meteu desde há muito, então que a acompanhe até ao fim da construção de um verdadeiro Estado de direito. Os guineenses, sozinhos, serão incapazes de levar esta tarefa a bom termo. Daí que a comunidade internacional deveria adoptar o mesmo sistema de organização do Estado de Timor-Leste na Guiné-Bissau.
Os sectores de alavancamento do Estado e da economia nacional precisam, nesta primeira fase crucial de construção do Estado e da economia nacional de uma forma sustentável, de gestores estrangeiros nas finanças, na pesca, na floresta, na área energética em geral e na futura exploração mineira/petróleo, pelo menos durante o período de cinco anos sob o controlo conjunto entre o Governo e as Nações Unidas.
Este apontar de caminho não põe em causa a independência nacional, como alguém poderá ver nisso um absurdo autêntico. Mas nem sempre o que parece é verdade. A concretização do que foi dito irá proporcionar capacitação aos nacionais na melhor gestão das coisas públicas que os guineenses precisam ainda de aprender muito. Desde a independência a esta parte não foram capazes de produzir provas que contrariassem a afirmação anterior.
A humildade não é a negação da qualidade individual de um povo, mas predispõe a abertura de espírito para a aprendizagem uns com os outros. Ninguém nasce ensinado e a aprendizagem é um processo contínuo e só termina com o fim da vida. Na Guiné, os gestores públicos carecem de conhecimentos necessários para o exercício das suas funções; quando têm oportunidade de aprender mais, devem aproveitá-la para o bem do país, mas também valorizando-se profissionalmente.
A falta de preparação adequada para os cargos políticos na governação tem estado na origem de conflitos de competências entre as diferentes áreas governativas. Senão vejamos. O Governo de transição, usurpando a competência exclusiva do futuro Governo a ser eleito, colocou-se em bicos de pés e, de uma forma atabalhoada, foi assinar “acordos” com os chineses e os russos para a dilapidação dos recursos naturais com enormes prejuízos para o país.
Não só não foi acautelado o impacto ambiental decorrente da desenfreada exploração da areia pesada como também o equilíbrio do ecossistema na devastação da floresta de valor incalculável em termos económicos, medicinais e ambientais. Como de costume, a Guiné sai sempre prejudicada, mas as empresas contratadas e os representantes do Governo é que ficam a ganhar neste tipo de negociatas.
Portanto, convenhamos que a melhor ajuda da comunidade internacional, pela qual anseia o povo da Guiné, é a paz e a estabilidade duradoira, permitindo a entrada de investidores estrangeiros e, por consequência, também a criação de empregos.
Dirigente da Associação Guineense de Solidariedade Social"
Por: Fernando Ka
"Os guineenses têm noção errada de soberania, confundindo-a com a independência. Se esta é uma condição necessária de soberania, não é suficiente para o seu pleno exercício. Um país não é de verdade soberano quando ainda não é capaz de ter o controlo absoluto sobre o seu território e os respectivos recursos naturais, os quais estão sujeitos a desenfreada e criminosa pilhagem pelos forasteiros, a pretexto de “contrato de exploração”. Por outro lado, um país que nem sequer é capaz de garantir o mínimo de auto-suficiência alimentar às suas populações altamente subnutridas, roçando a fome e os mínimos cuidados de saúde, não é digno desse nome.
A falência da Guiné-Bissau como Estado deve-se ao facto de nunca ter tido dirigentes à altura dos desafios que se impunham logo a seguir à independência até hoje. As gerações formadas no exterior para concretizarem o nobre ideal dos seus antepassados, que deram as suas vidas de forma a pôr fim ao colonialismo, não têm sabido desempenhar o seu papel na caminhada histórica para a construção do país. O sonho acalentado durante os dias intermináveis do sofrimento por uma justíssima causa foi ignorado pelo egoísmo atroz da gente de pós-independência que não olha os meios para atingir os fins. Podia estar a contribuir para fazer da Guiné um país de bem para todos, porque deve a sua formação ao país e não pode furtar-se à responsabilidade e, por conseguinte, ao sacrifício daí decorrente.
As próximas eleições podem proporcionar boas perspectivas à Guiné no sentido de encontrar o rumo certo para o seu desenvolvimento adiado sine die. Tudo isso irá depender do esforço comum entre o Governo e a comunidade internacional no trabalho de levar a cabo a organização do Estado guineense. A reestruturação das forças de defesa e segurança deve situar-se como uma prioridade ou um simultâneo com todos os sectores do Estado, nomeadamente a administração pública, que está sem “rei nem roque”, a justiça completamente submersa na corrupção, deixando de exercer o seu papel de equilíbrio na sociedade.
Ora, a actual composição das forças armadas predominantemente tribal, e ainda influenciada por um partido político de índole tribalista, não só cria instabilidade nos quartéis como também no país. É urgente e necessária uma nova família castrense em que não há a superioridade de um só grupo étnico em relação aos demais. A sua composição deve necessariamente reflectir o mosaico étnico do país, sob pena de um dia a Guiné vir a confrontar-se com sérios problemas de natureza tribal. “Mais vale prevenir do que remediar”, diz o ditado popular.
Já que a comunidade internacional parece agora ter mostrado o seu interesse em ajudar a Guiné a sair do buraco em que se meteu desde há muito, então que a acompanhe até ao fim da construção de um verdadeiro Estado de direito. Os guineenses, sozinhos, serão incapazes de levar esta tarefa a bom termo. Daí que a comunidade internacional deveria adoptar o mesmo sistema de organização do Estado de Timor-Leste na Guiné-Bissau.
Os sectores de alavancamento do Estado e da economia nacional precisam, nesta primeira fase crucial de construção do Estado e da economia nacional de uma forma sustentável, de gestores estrangeiros nas finanças, na pesca, na floresta, na área energética em geral e na futura exploração mineira/petróleo, pelo menos durante o período de cinco anos sob o controlo conjunto entre o Governo e as Nações Unidas.
Este apontar de caminho não põe em causa a independência nacional, como alguém poderá ver nisso um absurdo autêntico. Mas nem sempre o que parece é verdade. A concretização do que foi dito irá proporcionar capacitação aos nacionais na melhor gestão das coisas públicas que os guineenses precisam ainda de aprender muito. Desde a independência a esta parte não foram capazes de produzir provas que contrariassem a afirmação anterior.
A humildade não é a negação da qualidade individual de um povo, mas predispõe a abertura de espírito para a aprendizagem uns com os outros. Ninguém nasce ensinado e a aprendizagem é um processo contínuo e só termina com o fim da vida. Na Guiné, os gestores públicos carecem de conhecimentos necessários para o exercício das suas funções; quando têm oportunidade de aprender mais, devem aproveitá-la para o bem do país, mas também valorizando-se profissionalmente.
A falta de preparação adequada para os cargos políticos na governação tem estado na origem de conflitos de competências entre as diferentes áreas governativas. Senão vejamos. O Governo de transição, usurpando a competência exclusiva do futuro Governo a ser eleito, colocou-se em bicos de pés e, de uma forma atabalhoada, foi assinar “acordos” com os chineses e os russos para a dilapidação dos recursos naturais com enormes prejuízos para o país.
Não só não foi acautelado o impacto ambiental decorrente da desenfreada exploração da areia pesada como também o equilíbrio do ecossistema na devastação da floresta de valor incalculável em termos económicos, medicinais e ambientais. Como de costume, a Guiné sai sempre prejudicada, mas as empresas contratadas e os representantes do Governo é que ficam a ganhar neste tipo de negociatas.
Portanto, convenhamos que a melhor ajuda da comunidade internacional, pela qual anseia o povo da Guiné, é a paz e a estabilidade duradoira, permitindo a entrada de investidores estrangeiros e, por consequência, também a criação de empregos.
Dirigente da Associação Guineense de Solidariedade Social"
quarta-feira, 9 de abril de 2014
terça-feira, 8 de abril de 2014
MORTE de KUMBA YALA: Um testemunho do Embaixador Seixas da Costa
"Morreu Kumba Ialá, antigo presidente da Guiné-Bissau.
Um dia de 2001, na ONU, em Nova Iorque, estive presente, em representação de Portugal, numa reunião do grupo "amigos da Guiné-Bissau". O novo presidente guineense fora convidado a fazer uma apresentação sobre a situação no seu atribulado país, com vista a mobilizar a boa vontade e a ajuda da comunidade internacional. O tempo que lhe fora destinado para intervir foi largamente excedido, mas o seu discurso tinha coerência e demonstrava uma determinação no sentido da correção de algumas políticas, tudo envolvido num registo muito típico, desde logo marcado pelo barrete de lã vermelha que nunca o abandonava.
Com o meu colega brasileiro, Gelson Fonseca (atual cônsul-geral do seu país no Porto), e para potenciar o efeito positivo da reunião, combinei duas intervenções sucessivas de apoio à declaração do presidente, procurando dar ênfase à sua expressiva vontade de mudança. Outros embaixadores, em especial de países "do Sul", seguiram uma linha idêntica e, a meio da reunião, o ambiente podia considerar-se globalmente positivo, quiçá apenas com as reticências face à sustentabilidade das políticas que algumas lideranças africanas, em especial oriundas de países mais frágeis, nunca deixam de suscitar.
O delegado de um país do Norte da Europa abordou entretanto a sensível questão da corrupção. Notei que Kumba Ialá ficou muito atento à intervenção e, no imediato, pediu para responder. Com ênfase, marcou a sua firme determinação em pôr fim ao flagelo da corrupção no seu país. E, a certo passo, agarrando firmemente o ombro da ministra dos Negócios Estrangeiros, que estava a seu lado, disse, bem alto:
- Vou ser muito duro, podem acreditar. Por exemplo: aqui a senhora ministra. Se eu vier a descobrir que ela rouba, que é corrupta, podia mandar matá-la. Mas não, não a vou mandar matar! Mas vai levar tanta porrada, tanta pancada, que nunca mais vai querer roubar. Mas ela não rouba, não! - e dizia isto, contemporizador, abanando a constrangida ministra, que afivelava um sorriso que quero crer que seria amarelo...
Kumba Ialá falava em português e, na sala, para além do embaixador brasileiro e de mim próprio, que tínhamos olhado um para o outro algo preocupados com o facto do presidente poder ter "estragado tudo" com estas palavras, creio que só a intérprete que ia traduzindo as intervenções do presidente se inteirara do teor da comprometedora declaração. Contudo, a coreografia e o tom de Ialá tinham criado uma particular curiosidade nas restantes pessoas à roda da mesa, que aguardavam a tradução.
A intérprete, consciente da delicadeza do momento, olhou para mim, em busca de "ajuda" para superar o problema. Fiz-lhe um gesto discreto, a pretender significar a necessidade de "adocicar" fortemente as embaraçantes frases do presidente. E foi então que assisti a uma magnífica demonstração de profissionalismo, com a senhora a dizer algo como: "Mr. President wants to emphasize that corruption, in his country, is not punished with death penalty. Nevertheless, under his leadership strong mesures will be taken against those who may incur in such practices, even if they are members of his own government".
Olhei para o meu colega brasileiro e demos um suspiro de alívio. No final, dei uma palavra de parabéns (e gratidão) à intérprete. Tinha-nos ajudado a salvar a sessão. Uhf!
(Duas Ou Três Coisas, um blog da autoria do embaixador Francisco Seixas da Costa)
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