sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Mandinti: daqui 'o maior'


«Olha, senhor Mandinti,

Pedir respeito pela Guiné-Bissau até compreendo, mas misturar isso com a entrevista do nosso mais galardoado bloguista é um erro. É um erro simplesmente, porque no debate não estará sozinho, mas sim acompanhado de outras duas pessoas e o tema não é Guiné-Bissau.

Pelo que eu saiba, sempre num debate tem que ter mais que uma pessoa e daí teremos opiniões diferentes em ambas as partes. Acho que a entrevista do Aly no exterior, tanto em Portugal como em Cabo Verde devia ser orgulho nacional, não ao contrário com dores de cotovelo. Nós Guineenses de Bissau gostamos de criticar, mas às vezes sem razão, ou porque não conseguimos a concorrência levamos a analisar ao contrario
»

Umaro Baldé

Mandinti: netatu


«Esta é uma campanha desencadeada pelos intelectuais golpistas para calar as vozes que se levantam para denunciar as atrocidades que estão sendo cometidas pelos militares e governo golpista. Há uma diferença muito grande entre falar mal dos golpistas e denunciar a situação que se vive na Guiné-Bissau, e falar mal do povo guineense e da Guiné-Bissau.»

Nanthoy

«Parvoíce de artigo, mesmo ao jeito do Mandinti. Cara, mete nessa sua cabeça oca que nem sempre o que achamos é. Discurso retrógrado que em nada ajuda o guineense a se desenvencilhar dos dogmas do partido luz e guia do nosso povo. Toma juízo.»

Artur

Mandinti: kai na baleta


«Tanto o Aly como qualquer outro do mundo virtual tem alguns defeitos, mas o facto de ter sido uma escolha da imprensa de qualquer pais não pode constituir motivo de tanto ódio e ira contra ele. O porquê disso? Inveja?, ou uma tentativa de desviar as atenções? Qual é o problema de dar opinião à imprensa, seja qual for o pais? Alguém pretende condicionar a agenda da imprensa cabo-verdiana?

Eu quero apenas dizer ao Aly, que há pessoas que elegeram o Nino Vieira e o CADOGO como razões das suas lutas, e depois destes desaparecerem da cena política, acabou a luta. Já não condenam nada, já não pronunciam nada, já são surdos e mudos.
»

Basta General António Indjai

Mandinti: o da dor de corno


«Cabo Verde é um ESTADO DE DIREITO, onde não existe censura, nem perseguição ou tortura/violência por delito de opinião. Assim como o sr. Mandinti tem o direito de apoiar os golpistas, violadores dos direitos humanos, destruidores das instituições e da esperança de um povo, o Aly pode ser entrevistado pelos órgãos de comunicação social de Cabo Verde. Venha a Cabo Verde e terá espaço para defender os golpistas. Não fique amuado e chateado por Cabo Verde ser um país Livre e democrático.»

José Rocha

Coisa de doidos: José Ramos-Horta, envia mensagem de "condolências" ao Presidente da Nigéria


Mas, algum dia, o Ramos Horta enviou telegrama de condolências aos familiares de cidadãos guineeses assassinados pelos que assumiram o poder ilegalmente na Guiné-Bissau? A estupidez tem limites. A bajulação, também! Ramos Horta, tem paciência!!! AAS

A minha resposta


ASSIM

António Aly Silva, na TCV


Conversa em Dia: Migrações e os focos de conflito em África

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

Parte 6

Obrigado à Televisão de Cabo Verde, e à Jornalista Margarida Fontes. AAS

Mandinti: tens furúnculo no cotovelo


«Caríssimo Aly,

Deixares os teus afazeres da tua luta quotidiana para dares atenção a um frustrado da vida que não suporta a tua mediatização e que morre de inveja e tem ódio ao teu sucesso é um desperdício que a sua pequenez de pessoa não merece. Continua o teu caminho e a tua luta que nós estamos juntos contigo. Ele se quiser vangloriar a Guiné-Bissau, no estado em que esta com o regime de assaltantes do poder, que o faça por suas expensas pois com eles se identifica e muito.

Entre vocês, é como o sol e a manteiga: quanto mais brilhas mais ele se derrete... de inveja e de ódio. O teu sol, esse continuará a brilhar, cada vez mais intenso, alimentando com o seu raiar de esperança e perseverança o sonho de todos os guineenses, que é de ver o fim do regime hediondo instalado em Bissau.

Nhu mandinti, nhu figa kanhota.

OP
»

Mandinti: lava o cérebro


«Mais um disparate à... Dinguinho! Cabo-Verde, caso não saiba, é um país soberano, um Estado consolidado e democrático (e com liberdade de expressão/opinião)! Lá, rege-se pelo respeito ao direito à expressão e liberdade de pensamento das pessoas. Os órgãos de comunicação social funcionam de forma autônoma e sempre em obediência com aqueles princípios! Será que, é por não estarem habituados a tais liberdades é que vos leva a essa indignação toda? Ou, talvez, será pela pura ignorância?

Por acaso, o que se diz deste miserável pais chamado Guiné-Bissau, não corresponde a verdade? Valha-me Deus! Estou cada vez mais decepcionado com os Guineenses! Lixam tudo e enterram-se cada vez mais no charco por eles criado e, para o meu espanto, não admitem que se diga a verdade! Poxa...! Chato, hein?
»

Ntory Palan

Mandinti: lava a boca


«Porra! Este Mandinti não gosta mesmo do Aly. É só ódio. Então o homem não é jornalista? Não é a primeira vez que dizes isto. Porquê? Tens inveja? Ele foi jornalista do Independente (da revista VISÃO e fundou um jornal em Lisboa - O Lusófono, que dirigiu durante 3 anos) e já vi, por causa das tuas dúvidas, a caderneta de jornalista dele, publicada muitas vezes. E olha, pá! Fizeste bem em ir ao baú dele. Afinal recordaste-me, que ele nunca bajulou o Cadogo, foi aliás um grande crítico dele. Como agora é destes assassinos! Porque não comentas os escritos dele, sim, do blogue dele, do tal que todos leem, do tal que todos escutam. Pois, a inveja é muita, sem dúvida. A ti, ninguém te pergunta nada (e porque haviam de perguntar, se tu nem sequer tens um blogue?) Deixa o Aly em paz. Deixa-o denunciar os atropelos que todos os dias se fazem na Guiné, deixa-o denunciar a prepotência das forças armadas, do barão da droga, a quem os americanos estão prestes a deitar a luva. Denuncia tu estes desmandos, os assassínios sem culpa formada, o medo, os assaltos, a tortura, os espancamentos. Ou julgas que anda toda a gente a dormir como tu?»

Joka, S. Paulo, Brasil

«Mandinti, deixa o Aly em paz, lava a boca antes de falar do trabalho que Aly tem prestado ao mundo e aos guineenses. Talvez seja Aly o mais digno filho deste país que nos últimos tempos fez-se conhecer pela sua versatilidade e capacidade profissional inquestionável. O homem pode lá ter os seus defeitos como ser humano que é mas nem de perto, nem de longe se compara contigo em fazer algo para Guiné-Bissau. Ele foi quem realmente teve tomates para enfrentar a realidade e a brutalidade que se viveu no nosso país sem deixar perder a dignidade e a sua forma realista de ver as coisas, assumindo ser controverso em alguns momentos, amado e odiado por muitos, mas mostrou que o que importa mesmo é assumir se livre de expressar e exprimir ideias sem entrar na paranoia de subjectividade. Este é o Aly, ao contrário do Mandinti, que nunca escondeu ser demagogo, falso, invejoso, rancoroso, prepotente durante todos estes anos. Aly vem com o que interessa não importa que tu gostes ou não, ele não reclama reconhecimento ao seu trabalho, recusa homenagens, mas trabalha e as pessoas nele identificam qualidades, isso explica porque ele tem esmagado o site Mandinti.org e eliminou-lhe na órbita das visitas. Enquanto tu e o teu comparsa "bari dur di padja" e etnicista Cocó Djau continuam a morrer de inveja, para não falar do Analfabeto Segurança, o Aly continua a somar credibilidade e se transformando num grande herói e combatente de liberdade da pátria. Tenham vergonha na cara e deixar o homem trabalhar.»

Amadeu, Bissau
Fonte: MANDINTI.ORG

Mensagem de condolências


MEMBRO DE:

 FIDH – Federação Internacional dos Direitos Humanos
 UIDH – União Internacional dos Direitos Humanos
 FODHC-PALOP – Fórum das ONGs dos Direitos Humanos e da Criança dos PALOP
 Fundador do Movimento da Sociedade Civil
 PLACON – Plataforma de Concertação das ONGs
MEMBRO OBSERVADOR JUNTO DE:
 CADHP – Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
 

Liga Guineense dos Direitos Humanos
 
Nota de Condolência

Foi com profunda mágoa que a Liga Guineense dos Direitos Humanos recebeu a triste notícia da morte súbita do Jornalista Amarante Sampa, igualmente Secretário Geral do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (SINJOTECS).

Ao longo da sua vida profissional o malogrado foi um grande simpatizante da LGDH e defensor das suas causas e principios.

Para a Liga, o seu desaparecimento físico constitui um rude golpe para a liberdade de imprensa e pluralismo de ideais na Guiné-Bissau enquanto ideais que ele sempre defendeu e para os quais dedicou toda a sua carreira.
Neste momento de dôr e de consternação, a Liga Guineense dos Direitos Humanos manifesta o seu profundo pesar à família enlutada, à ANG e ao SINJOTECS, rogando a Deus que a sua alma descance em Paz.
 
Feito em Bissau, aos 18 dias do mês de Outubro 2013
 
A Direcção Nacional
______________________

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A educação que se não tem

NOTÍCIA 1

Hoje por volta de 11h15 minutos a esposa do Ministro da Educação cortou trânsito no hospital Nacional Simão Mendes durante alguns minutos, tudo isso veio na sequência de:
A estrada que liga antiga maternidade ao bloco operatório havia um mercedez que estacionava a direita, como a prioridade era da viatura que virá noutra direcção, a esposa do ministro da Educação colocou o carro e recusa de voltar a atrás, logo o homem que tem prioridade ficou todo o tempo a espera de "marcharé" e ela recusou, só quando o motorrista do mercedez dirigiu-se para a viatura dela e disse: "volta para trás porque não tem prioridade" a partir daí voltou i disse em língua crioula " sika bó ba nona mansi li na es kau" (se não fosse tu iamos dormir aqui). O número de matrícula do carro é: 5186 CD (carro de cor verde...

NOTÍCIA 2

O Ministro da Educação esqueceu de matricular os filhos que estudavam no Liceu João XXIII e só depois de lembrar foi matricular os filhos na Escola adventista Betel.
Será que um ministro que esqueceu de matricular os filhos vai lembrar de de abertura das portas dos alunos que estudam nas escolas públicas?

OPINIÃO: INPS nas mãos de abutres


"A situação no Instituto Nacional da Proteção Social guineense é simplesmente caótica. O mais grave é que tudo se passa a imagem do país, ou seja, os contribuintes não dizem nada, não fazem nada, mas vêm os seus direitos violados e seu dinheiro voar pela janela para satisfazer os interesses pessoais e partidários. A atual direção até decide financiar um peditório em mais de 30 milhões de FCFA de uma pseudo-ONG, denominada "ONG especial". E tudo se passa nas barbas do governo, do parlamento e da Presidência da República. Estes não dizem nada, não fazem nada, mas sabem de tudo, e não tomam medidas. Isto é uma autêntica vergonha nacional.

Os contribuintes (funcionários de ONGs, de agências e organismos internacionais de cooperação, de empresas publicas e privadas) que descontam mensalmente dos seus salários vêm o seu dinheiro voar para financiar interesses e ostentações pessoais, tudo isto num país, onde a impunidade é o apelido principal das pessoas, onde os que deveriam beneficiar dos seus descontos e contribuições feitos na base de muitos sacrifícios e durante décadas e décadas nem conseguem os míseros reembolsos para os medicamentos que regularmente compram. E ninguém diz nada, pois este é um país de "sacana di merdas"..são injustiças e abusos como estes que fazem o povo revoltar...
Tenho dito

A.F."

PAIGC/Congresso

Press Release

O Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, depois de ter tomado conhecimento do teor do panfleto (panfleto porque não está assinado) divulgado nos órgãos de comunicação social em nome da Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vem tornar público o seguinte:

Registamos com tristeza e desilusão a linguagem contida no comunicado subscrito pela Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vulgo Plataforma. Tristeza, porque para além de ofensiva e caluniosa, denota desconhecimento dos Estatutos e má-fé. Desilusão, porque contrasta com os elevados padrões ético-morais que normalmente associamos à pessoa do Camarada que encabeça o referido projecto para a liderança do PAIGC.

O Camarada António Oscar Barbosa, também conhecido por Cancan, embora seja Membro da Comissão Permanente e Porta-voz do PAIGC, quando fala em nome do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, não usa e dispensa esse estatuto, contrariamente ao que acontece com muitos respeitáveis Camaradas. Aliás, o esclarecimento público prestado pelo Camarada Cancan sobre o resultado das conferências sectoriais aos órgãos de comunicação social, foi feito na qualidade de responsável pelo Departamento de Comunicação e Marketing do Projecto e visava única e exclusivamente dissipar e esclarecer eventuais dúvidas que pudessem subsistir quanto à representatividade de cada uma das candidaturas junto às estruturas do Partido.

O Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva lamenta que continue a persistir a falta de transparência e a promiscuidade entre a Plataforma, a Direcção Superior do Partido e a Comissão Organizadora do Congresso, o que para além de por em causa a credibilidade do processo, constitui a causa próxima dos sucessivos e inadmissíveis adiamentos do Congresso.

Embora não seja parte interessada, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva não pode deixar de manifestar estranheza e preocupação ao ver a Plataforma, como se já não bastasse controlar a Comissão Organizadora do Congresso, arroga-se agora também, publicamente, a competência de dar orientações, instruções e ordens ao Conselho Nacional de Jurisdição do PAIGC.

Por fim, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva faz um veemente apelo ao Camarada 1º Vice-Presidente e Presidente em Exercício do PAIGC para que peça contenção aos Dirigentes do Partido no sentido de não voltarem a baixar o nível das intervenções públicas e solicita os bons ofícios da Plataforma junto da Comissão Organizadora para que o Congresso marcado para 7 e 10 de Novembro próximo não volte a ser adiado, como tudo parece indicar, o que poderia acarretar consequências imprevisíveis.

Bissau, 17 de Outubro de 2013
Pela Coordenação do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva

Marciano Silva Barbeiro
Coordenador

Roubado em Bissau


José Luis Peixoto conta a 'aventura' em Bissau

Fonte: revista Visão

"História de uma viagem - José Luís Peixoto

Numa rua de terra, senti agarrarem-me na mão e levarem-me o telemóvel. Corri alguns passos atrás desse vulto, mas vieram mais por trás. Agarrei a carteira e puxaram-me de todos os lados. Um deles deu-me um murro no nariz e na boca para me fazer largá-la.

Antes de chegar ao mercado de Bandim, no centro de Bissau, já tinha reparado nas nuvens. Enormes, grossas, esculpidas em branco puro, a contrastarem com todas as cores do chão: a terra vermelha, rasgada por faixas de lama brilhante, e o lixo de cores desmaiadas, apodrecidas, castanhos tristes. Sobre isto passavam mulheres a levarem todo o tipo de volumes à cabeça: caixas, latas, baldes. As cores dos tecidos que usavam eram vivas como se ardessem, azul a arder, verde a arder, amarelo a arder. Às vezes, quando vistas de frente, essas mulheres tinham um par de pezinhos espetados sobre as ancas. Quando vistas por trás, lá estava o rosto da criança, de face espalmada sobre as costas da mãe, a escutar-lhe a respiração, com o corpo moldado pela faixa que as unia.

Bandim anoitecia e, talvez por isso, notava-se uma pressa, uma febre. Muitas mãos escolhiam de montes de sapatos usados, todos diferentes. Nesse mesmo passeio, os corpos caminhavam desencontrados, tentavam desviar-se uns dos outros à última hora e, com frequência, não conseguiam. Esbarravam com os cotovelos, com os ombros, com os joelhos. Seguíamos à distância de nos cheirarmos. Pelo meio, homens com carrinhos de mão cheios de qualquer peso. Às vezes, durante minutos contados, algum desses encostava-se e ficava a ver o movimento, orgulhoso do seu carrinho de mão. Na estrada, um pouco abaixo do passeio, pessoas em cadeiras de rodas passavam a pedalar com as mãos à frente do peito. Logo atrás, entre táxis amolgados a apitarem sem descanso, os toca-toca, pintados de amarelo e azul, paravam onde calhava. A porta de trás abria-se de repente, como se tivesse levado um pontapé desde o interior, talvez tivesse. Saía um e entravam meia dúzia ou todos os que quisessem, havia sempre lugar. Esses toca-toca iam para o Aeroporto, para São Paulo, para o Bairro Militar ou para o Enterramento.

E, de repente, a noite. Num canto, uma sombra zangada com o telemóvel, a gritar em crioulo. Noutro canto, outra sombra a gritar sem que se percebesse para quem, para ninguém quase de certeza. E os contornos da multidão desenhados pelos faróis dos carros. Gente a conversar comigo no meio, através de mim. Às vezes, eu a desviar-me de algum jato de cuspo que tivesse sido lançado para o lado, entre os dentes. A pouca luz era ainda suficiente para ver os pequenos montes de vegetais sobre tabuleiros de lata. Algumas vendas com os balcões cobertos por uma rede de ferro, iluminadas desde o interior por candeeiros a gás, a venderem latas pobres e caixas de fósforos, saquinhos de óleo de palma e de molho picante, com letreiros toscos a dizerem "há cana bordão", sumo de caju fermentado, alcoólico. E a pressa de toda a gente era cada vez maior. Alguém me despejou um alguidar de água negra sobre os pés. Saído do meio da multidão, um homem com uma perna encolhida e torta avançava com desenvoltura impressionante, apoiando-se num pau grosso, a remar no chão.

E foi como se o céu rebentasse. Os trovões pareciam chegar desde o fundo da terra.
A chuva caia como de fosse disparada, atirada com maldade, descarregada. As gotas davam chapadas onde batiam. Apagaram-se os fogareiros de assar espetadas de carne seca e maçarocas de milho. Encostei-me a uma parede, com as goteiras a escorrerem diante de mim e de outros que ainda tinham apanhado lugar, com camisolas de algodão grosso, atravessadas por suor e terra. Os carros apitavam desesperados. A chuva parecia querer lavar tudo, purificar tudo. Quando os relâmpagos riscavam o céu, era como se, por instantes, fosse dia pálido e cinzento. Nessa trégua, podia ver-se uma multidão de rostos abrigados nos destroços de Bandim.

Quando acalmou, a noite era opaca. Poucas luzes, excepto os relâmpagos, a afastarem-se, a desenharem altas copas de árvores de encontro ao horizonte. Tranquilo, talvez a sorrir, eu regressava cheio de imagens. Então, numa rua de terra, senti agarrarem-me na mão e levarem-me o telemóvel. Corri alguns passos atrás desse vulto, mas vieram mais por trás. Agarrei a carteira e puxaram-me de todos os lados. Um deles deu-me um murro no nariz e na boca para me fazer largá-la. Não conseguiu. Eram uns cinco ou seis e desapareceram na escuridão.

Quando cheguei à luz, tinha a camisola e as mãos cheias de sangue. A ferida no nariz não doía muito, estava meio dormente, só começou a doer mais tarde. Está a doer agora. Sei bem que os finais costumam encerrar uma conclusão mas, neste momento, não sei o que pensar. Só sei que foi assim que aconteceu.
"