sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Mandinti: tens furúnculo no cotovelo
«Caríssimo Aly,
Deixares os teus afazeres da tua luta quotidiana para dares atenção a um frustrado da vida que não suporta a tua mediatização e que morre de inveja e tem ódio ao teu sucesso é um desperdício que a sua pequenez de pessoa não merece. Continua o teu caminho e a tua luta que nós estamos juntos contigo. Ele se quiser vangloriar a Guiné-Bissau, no estado em que esta com o regime de assaltantes do poder, que o faça por suas expensas pois com eles se identifica e muito.
Entre vocês, é como o sol e a manteiga: quanto mais brilhas mais ele se derrete... de inveja e de ódio. O teu sol, esse continuará a brilhar, cada vez mais intenso, alimentando com o seu raiar de esperança e perseverança o sonho de todos os guineenses, que é de ver o fim do regime hediondo instalado em Bissau.
Nhu mandinti, nhu figa kanhota.
OP»
Mandinti: lava o cérebro
«Mais um disparate à... Dinguinho! Cabo-Verde, caso não saiba, é um país soberano, um Estado consolidado e democrático (e com liberdade de expressão/opinião)! Lá, rege-se pelo respeito ao direito à expressão e liberdade de pensamento das pessoas. Os órgãos de comunicação social funcionam de forma autônoma e sempre em obediência com aqueles princípios! Será que, é por não estarem habituados a tais liberdades é que vos leva a essa indignação toda? Ou, talvez, será pela pura ignorância?
Por acaso, o que se diz deste miserável pais chamado Guiné-Bissau, não corresponde a verdade? Valha-me Deus! Estou cada vez mais decepcionado com os Guineenses! Lixam tudo e enterram-se cada vez mais no charco por eles criado e, para o meu espanto, não admitem que se diga a verdade! Poxa...! Chato, hein?»
Ntory Palan
Mandinti: lava a boca
«Porra! Este Mandinti não gosta mesmo do Aly. É só ódio. Então o homem não é jornalista? Não é a primeira vez que dizes isto. Porquê? Tens inveja? Ele foi jornalista do Independente (da revista VISÃO e fundou um jornal em Lisboa - O Lusófono, que dirigiu durante 3 anos) e já vi, por causa das tuas dúvidas, a caderneta de jornalista dele, publicada muitas vezes. E olha, pá! Fizeste bem em ir ao baú dele. Afinal recordaste-me, que ele nunca bajulou o Cadogo, foi aliás um grande crítico dele. Como agora é destes assassinos! Porque não comentas os escritos dele, sim, do blogue dele, do tal que todos leem, do tal que todos escutam. Pois, a inveja é muita, sem dúvida. A ti, ninguém te pergunta nada (e porque haviam de perguntar, se tu nem sequer tens um blogue?) Deixa o Aly em paz. Deixa-o denunciar os atropelos que todos os dias se fazem na Guiné, deixa-o denunciar a prepotência das forças armadas, do barão da droga, a quem os americanos estão prestes a deitar a luva. Denuncia tu estes desmandos, os assassínios sem culpa formada, o medo, os assaltos, a tortura, os espancamentos. Ou julgas que anda toda a gente a dormir como tu?»
Joka, S. Paulo, Brasil
«Mandinti, deixa o Aly em paz, lava a boca antes de falar do trabalho que Aly tem prestado ao mundo e aos guineenses. Talvez seja Aly o mais digno filho deste país que nos últimos tempos fez-se conhecer pela sua versatilidade e capacidade profissional inquestionável. O homem pode lá ter os seus defeitos como ser humano que é mas nem de perto, nem de longe se compara contigo em fazer algo para Guiné-Bissau. Ele foi quem realmente teve tomates para enfrentar a realidade e a brutalidade que se viveu no nosso país sem deixar perder a dignidade e a sua forma realista de ver as coisas, assumindo ser controverso em alguns momentos, amado e odiado por muitos, mas mostrou que o que importa mesmo é assumir se livre de expressar e exprimir ideias sem entrar na paranoia de subjectividade. Este é o Aly, ao contrário do Mandinti, que nunca escondeu ser demagogo, falso, invejoso, rancoroso, prepotente durante todos estes anos. Aly vem com o que interessa não importa que tu gostes ou não, ele não reclama reconhecimento ao seu trabalho, recusa homenagens, mas trabalha e as pessoas nele identificam qualidades, isso explica porque ele tem esmagado o site Mandinti.org e eliminou-lhe na órbita das visitas. Enquanto tu e o teu comparsa "bari dur di padja" e etnicista Cocó Djau continuam a morrer de inveja, para não falar do Analfabeto Segurança, o Aly continua a somar credibilidade e se transformando num grande herói e combatente de liberdade da pátria. Tenham vergonha na cara e deixar o homem trabalhar.»
Amadeu, Bissau
Fonte: MANDINTI.ORG
Mensagem de condolências
MEMBRO DE:
FIDH – Federação Internacional dos Direitos Humanos
UIDH – União Internacional dos Direitos Humanos
FODHC-PALOP – Fórum das ONGs dos Direitos Humanos e da Criança dos PALOP
Fundador do Movimento da Sociedade Civil
PLACON – Plataforma de Concertação das ONGs
MEMBRO OBSERVADOR JUNTO DE:
CADHP – Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Nota de Condolência
Foi com profunda mágoa que a Liga Guineense dos Direitos Humanos recebeu a triste notícia da morte súbita do Jornalista Amarante Sampa, igualmente Secretário Geral do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (SINJOTECS).
Ao longo da sua vida profissional o malogrado foi um grande simpatizante da LGDH e defensor das suas causas e principios.
Para a Liga, o seu desaparecimento físico constitui um rude golpe para a liberdade de imprensa e pluralismo de ideais na Guiné-Bissau enquanto ideais que ele sempre defendeu e para os quais dedicou toda a sua carreira.
Neste momento de dôr e de consternação, a Liga Guineense dos Direitos Humanos manifesta o seu profundo pesar à família enlutada, à ANG e ao SINJOTECS, rogando a Deus que a sua alma descance em Paz.
Feito em Bissau, aos 18 dias do mês de Outubro 2013
A Direcção Nacional
______________________
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
A educação que se não tem
NOTÍCIA 1
Hoje por volta de 11h15 minutos a esposa do Ministro da Educação cortou trânsito no hospital Nacional Simão Mendes durante alguns minutos, tudo isso veio na sequência de:
A estrada que liga antiga maternidade ao bloco operatório havia um mercedez que estacionava a direita, como a prioridade era da viatura que virá noutra direcção, a esposa do ministro da Educação colocou o carro e recusa de voltar a atrás, logo o homem que tem prioridade ficou todo o tempo a espera de "marcharé" e ela recusou, só quando o motorrista do mercedez dirigiu-se para a viatura dela e disse: "volta para trás porque não tem prioridade" a partir daí voltou i disse em língua crioula " sika bó ba nona mansi li na es kau" (se não fosse tu iamos dormir aqui). O número de matrícula do carro é: 5186 CD (carro de cor verde...
NOTÍCIA 2
O Ministro da Educação esqueceu de matricular os filhos que estudavam no Liceu João XXIII e só depois de lembrar foi matricular os filhos na Escola adventista Betel.
Será que um ministro que esqueceu de matricular os filhos vai lembrar de de abertura das portas dos alunos que estudam nas escolas públicas?
Hoje por volta de 11h15 minutos a esposa do Ministro da Educação cortou trânsito no hospital Nacional Simão Mendes durante alguns minutos, tudo isso veio na sequência de:
A estrada que liga antiga maternidade ao bloco operatório havia um mercedez que estacionava a direita, como a prioridade era da viatura que virá noutra direcção, a esposa do ministro da Educação colocou o carro e recusa de voltar a atrás, logo o homem que tem prioridade ficou todo o tempo a espera de "marcharé" e ela recusou, só quando o motorrista do mercedez dirigiu-se para a viatura dela e disse: "volta para trás porque não tem prioridade" a partir daí voltou i disse em língua crioula " sika bó ba nona mansi li na es kau" (se não fosse tu iamos dormir aqui). O número de matrícula do carro é: 5186 CD (carro de cor verde...
NOTÍCIA 2
O Ministro da Educação esqueceu de matricular os filhos que estudavam no Liceu João XXIII e só depois de lembrar foi matricular os filhos na Escola adventista Betel.
Será que um ministro que esqueceu de matricular os filhos vai lembrar de de abertura das portas dos alunos que estudam nas escolas públicas?
OPINIÃO: INPS nas mãos de abutres
"A situação no Instituto Nacional da Proteção Social guineense é simplesmente caótica. O mais grave é que tudo se passa a imagem do país, ou seja, os contribuintes não dizem nada, não fazem nada, mas vêm os seus direitos violados e seu dinheiro voar pela janela para satisfazer os interesses pessoais e partidários. A atual direção até decide financiar um peditório em mais de 30 milhões de FCFA de uma pseudo-ONG, denominada "ONG especial". E tudo se passa nas barbas do governo, do parlamento e da Presidência da República. Estes não dizem nada, não fazem nada, mas sabem de tudo, e não tomam medidas. Isto é uma autêntica vergonha nacional.
Os contribuintes (funcionários de ONGs, de agências e organismos internacionais de cooperação, de empresas publicas e privadas) que descontam mensalmente dos seus salários vêm o seu dinheiro voar para financiar interesses e ostentações pessoais, tudo isto num país, onde a impunidade é o apelido principal das pessoas, onde os que deveriam beneficiar dos seus descontos e contribuições feitos na base de muitos sacrifícios e durante décadas e décadas nem conseguem os míseros reembolsos para os medicamentos que regularmente compram. E ninguém diz nada, pois este é um país de "sacana di merdas"..são injustiças e abusos como estes que fazem o povo revoltar...
Tenho dito
A.F."
PAIGC/Congresso
Press Release
O Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, depois de ter tomado conhecimento do teor do panfleto (panfleto porque não está assinado) divulgado nos órgãos de comunicação social em nome da Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vem tornar público o seguinte:
Registamos com tristeza e desilusão a linguagem contida no comunicado subscrito pela Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vulgo Plataforma. Tristeza, porque para além de ofensiva e caluniosa, denota desconhecimento dos Estatutos e má-fé. Desilusão, porque contrasta com os elevados padrões ético-morais que normalmente associamos à pessoa do Camarada que encabeça o referido projecto para a liderança do PAIGC.
O Camarada António Oscar Barbosa, também conhecido por Cancan, embora seja Membro da Comissão Permanente e Porta-voz do PAIGC, quando fala em nome do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, não usa e dispensa esse estatuto, contrariamente ao que acontece com muitos respeitáveis Camaradas. Aliás, o esclarecimento público prestado pelo Camarada Cancan sobre o resultado das conferências sectoriais aos órgãos de comunicação social, foi feito na qualidade de responsável pelo Departamento de Comunicação e Marketing do Projecto e visava única e exclusivamente dissipar e esclarecer eventuais dúvidas que pudessem subsistir quanto à representatividade de cada uma das candidaturas junto às estruturas do Partido.
O Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva lamenta que continue a persistir a falta de transparência e a promiscuidade entre a Plataforma, a Direcção Superior do Partido e a Comissão Organizadora do Congresso, o que para além de por em causa a credibilidade do processo, constitui a causa próxima dos sucessivos e inadmissíveis adiamentos do Congresso.
Embora não seja parte interessada, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva não pode deixar de manifestar estranheza e preocupação ao ver a Plataforma, como se já não bastasse controlar a Comissão Organizadora do Congresso, arroga-se agora também, publicamente, a competência de dar orientações, instruções e ordens ao Conselho Nacional de Jurisdição do PAIGC.
Por fim, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva faz um veemente apelo ao Camarada 1º Vice-Presidente e Presidente em Exercício do PAIGC para que peça contenção aos Dirigentes do Partido no sentido de não voltarem a baixar o nível das intervenções públicas e solicita os bons ofícios da Plataforma junto da Comissão Organizadora para que o Congresso marcado para 7 e 10 de Novembro próximo não volte a ser adiado, como tudo parece indicar, o que poderia acarretar consequências imprevisíveis.
Bissau, 17 de Outubro de 2013
Pela Coordenação do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva
Marciano Silva Barbeiro
Coordenador
O Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, depois de ter tomado conhecimento do teor do panfleto (panfleto porque não está assinado) divulgado nos órgãos de comunicação social em nome da Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vem tornar público o seguinte:
Registamos com tristeza e desilusão a linguagem contida no comunicado subscrito pela Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vulgo Plataforma. Tristeza, porque para além de ofensiva e caluniosa, denota desconhecimento dos Estatutos e má-fé. Desilusão, porque contrasta com os elevados padrões ético-morais que normalmente associamos à pessoa do Camarada que encabeça o referido projecto para a liderança do PAIGC.
O Camarada António Oscar Barbosa, também conhecido por Cancan, embora seja Membro da Comissão Permanente e Porta-voz do PAIGC, quando fala em nome do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, não usa e dispensa esse estatuto, contrariamente ao que acontece com muitos respeitáveis Camaradas. Aliás, o esclarecimento público prestado pelo Camarada Cancan sobre o resultado das conferências sectoriais aos órgãos de comunicação social, foi feito na qualidade de responsável pelo Departamento de Comunicação e Marketing do Projecto e visava única e exclusivamente dissipar e esclarecer eventuais dúvidas que pudessem subsistir quanto à representatividade de cada uma das candidaturas junto às estruturas do Partido.
O Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva lamenta que continue a persistir a falta de transparência e a promiscuidade entre a Plataforma, a Direcção Superior do Partido e a Comissão Organizadora do Congresso, o que para além de por em causa a credibilidade do processo, constitui a causa próxima dos sucessivos e inadmissíveis adiamentos do Congresso.
Embora não seja parte interessada, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva não pode deixar de manifestar estranheza e preocupação ao ver a Plataforma, como se já não bastasse controlar a Comissão Organizadora do Congresso, arroga-se agora também, publicamente, a competência de dar orientações, instruções e ordens ao Conselho Nacional de Jurisdição do PAIGC.
Por fim, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva faz um veemente apelo ao Camarada 1º Vice-Presidente e Presidente em Exercício do PAIGC para que peça contenção aos Dirigentes do Partido no sentido de não voltarem a baixar o nível das intervenções públicas e solicita os bons ofícios da Plataforma junto da Comissão Organizadora para que o Congresso marcado para 7 e 10 de Novembro próximo não volte a ser adiado, como tudo parece indicar, o que poderia acarretar consequências imprevisíveis.
Bissau, 17 de Outubro de 2013
Pela Coordenação do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva
Marciano Silva Barbeiro
Coordenador
Roubado em Bissau
José Luis Peixoto conta a 'aventura' em Bissau
Fonte: revista Visão
"História de uma viagem - José Luís Peixoto
Numa rua de terra, senti agarrarem-me na mão e levarem-me o telemóvel. Corri alguns passos atrás desse vulto, mas vieram mais por trás. Agarrei a carteira e puxaram-me de todos os lados. Um deles deu-me um murro no nariz e na boca para me fazer largá-la.
Antes de chegar ao mercado de Bandim, no centro de Bissau, já tinha reparado nas nuvens. Enormes, grossas, esculpidas em branco puro, a contrastarem com todas as cores do chão: a terra vermelha, rasgada por faixas de lama brilhante, e o lixo de cores desmaiadas, apodrecidas, castanhos tristes. Sobre isto passavam mulheres a levarem todo o tipo de volumes à cabeça: caixas, latas, baldes. As cores dos tecidos que usavam eram vivas como se ardessem, azul a arder, verde a arder, amarelo a arder. Às vezes, quando vistas de frente, essas mulheres tinham um par de pezinhos espetados sobre as ancas. Quando vistas por trás, lá estava o rosto da criança, de face espalmada sobre as costas da mãe, a escutar-lhe a respiração, com o corpo moldado pela faixa que as unia.
Bandim anoitecia e, talvez por isso, notava-se uma pressa, uma febre. Muitas mãos escolhiam de montes de sapatos usados, todos diferentes. Nesse mesmo passeio, os corpos caminhavam desencontrados, tentavam desviar-se uns dos outros à última hora e, com frequência, não conseguiam. Esbarravam com os cotovelos, com os ombros, com os joelhos. Seguíamos à distância de nos cheirarmos. Pelo meio, homens com carrinhos de mão cheios de qualquer peso. Às vezes, durante minutos contados, algum desses encostava-se e ficava a ver o movimento, orgulhoso do seu carrinho de mão. Na estrada, um pouco abaixo do passeio, pessoas em cadeiras de rodas passavam a pedalar com as mãos à frente do peito. Logo atrás, entre táxis amolgados a apitarem sem descanso, os toca-toca, pintados de amarelo e azul, paravam onde calhava. A porta de trás abria-se de repente, como se tivesse levado um pontapé desde o interior, talvez tivesse. Saía um e entravam meia dúzia ou todos os que quisessem, havia sempre lugar. Esses toca-toca iam para o Aeroporto, para São Paulo, para o Bairro Militar ou para o Enterramento.
E, de repente, a noite. Num canto, uma sombra zangada com o telemóvel, a gritar em crioulo. Noutro canto, outra sombra a gritar sem que se percebesse para quem, para ninguém quase de certeza. E os contornos da multidão desenhados pelos faróis dos carros. Gente a conversar comigo no meio, através de mim. Às vezes, eu a desviar-me de algum jato de cuspo que tivesse sido lançado para o lado, entre os dentes. A pouca luz era ainda suficiente para ver os pequenos montes de vegetais sobre tabuleiros de lata. Algumas vendas com os balcões cobertos por uma rede de ferro, iluminadas desde o interior por candeeiros a gás, a venderem latas pobres e caixas de fósforos, saquinhos de óleo de palma e de molho picante, com letreiros toscos a dizerem "há cana bordão", sumo de caju fermentado, alcoólico. E a pressa de toda a gente era cada vez maior. Alguém me despejou um alguidar de água negra sobre os pés. Saído do meio da multidão, um homem com uma perna encolhida e torta avançava com desenvoltura impressionante, apoiando-se num pau grosso, a remar no chão.
E foi como se o céu rebentasse. Os trovões pareciam chegar desde o fundo da terra.
A chuva caia como de fosse disparada, atirada com maldade, descarregada. As gotas davam chapadas onde batiam. Apagaram-se os fogareiros de assar espetadas de carne seca e maçarocas de milho. Encostei-me a uma parede, com as goteiras a escorrerem diante de mim e de outros que ainda tinham apanhado lugar, com camisolas de algodão grosso, atravessadas por suor e terra. Os carros apitavam desesperados. A chuva parecia querer lavar tudo, purificar tudo. Quando os relâmpagos riscavam o céu, era como se, por instantes, fosse dia pálido e cinzento. Nessa trégua, podia ver-se uma multidão de rostos abrigados nos destroços de Bandim.
Quando acalmou, a noite era opaca. Poucas luzes, excepto os relâmpagos, a afastarem-se, a desenharem altas copas de árvores de encontro ao horizonte. Tranquilo, talvez a sorrir, eu regressava cheio de imagens. Então, numa rua de terra, senti agarrarem-me na mão e levarem-me o telemóvel. Corri alguns passos atrás desse vulto, mas vieram mais por trás. Agarrei a carteira e puxaram-me de todos os lados. Um deles deu-me um murro no nariz e na boca para me fazer largá-la. Não conseguiu. Eram uns cinco ou seis e desapareceram na escuridão.
Quando cheguei à luz, tinha a camisola e as mãos cheias de sangue. A ferida no nariz não doía muito, estava meio dormente, só começou a doer mais tarde. Está a doer agora. Sei bem que os finais costumam encerrar uma conclusão mas, neste momento, não sei o que pensar. Só sei que foi assim que aconteceu."
É hoje, é hoje: Tudo ligado na RTC
HOJE, quinta-feira, a partir das 22h, na Televisão de Cabo Verde (RTC) debate-se 'As Migrações e a Nova Ordem Mundial' - centrado na problemática africana, com os seguintes convidados: O Sociólogo e Diplomata, Arnaldo Andrade, o Jornalista, António Aly Silva e o Investigador, Corsino Tolentino. A jornalista Margarida Fontes conduz o debate. A não perder.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
BOMBAS? - ases pelos ares
Centenas de bombas de 500 kg para aviões MIG de fabrico soviético, estão estocadas a menos de 200 metros das salas de embarque e das chegadas do aeroporto Osvaldo Vieira, em Bissau, na área militar. As bombas foram lá 'esquecidas' poucos anos depois da independência, revelou uma fonte militar guineense ao Ditadura do Consenso: "As bombas estão muito enferrujadas mas podem causar grande destruição", revela este oficial superior das forças armadas da Guiné-Bissau, que deixa uma pergunta pertinente: "Será que estamos interessados numa explosão como aquela que ocorreu num paiol militar em Moçambique?". AAS
António Aly Silva, em directo na Televisão de Cabo Verde
Amanhã, quinta-feira, a partir das 22h, na Televisão de Cabo Verde (RTC), debate-se 'As Migrações e a Nova Ordem Mundial' - centrado na problemática africana, com os seguintes convidados: O Sociólogo e Diplomata, Arnaldo Andrade, o Jornalista, António Aly Silva e o Investigador, Corsino Tolentino. A jornalista Margarida Fontes conduz o debate. A não perder.
CABO VERDE: A minha verdade - actualizado
Entre os Povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, não metas a colher. Para começar, em Cabo Verde existe Estado desde a abertura democrática. Mas já havia um Estado antes disso. Em Cabo Verde existe Estado, ponto. Um Estado soberano, crescido e, sobretudo, respeitado no mundo. Um Governo bem dirigido, aliás, um apanágio do País desde a sua independência. Nova geração de políticos, deputados e deputadas, muitos deles jovens, convivem aprendendo com os mais 'velhos'. Mas todos eles comungam um único objectivo: estão determinados em batalhar, muito, mas muito mesmo. As armas que usam? O diálogo, e o debate político - os únicos caminhos para desenvolverem o seu País. A democracia é aguerrida mas saudável; o Estado é reconhecido internacionalmente - e apoiado. E até copiado em certas coisas.
Até 2015, Cabo verde atingirá - nas palavras do seu próprio Primeiro-Ministro, José Maria Neves e ditas na passada 2ª feira - «TODOS OS OBJECTIVOS DO MILÉNIO.» Brilhante.
De facto, o crescimento que Cabo Verde alcançou desde a sua independência, há quase 40 anos e apesar de todas as dificuldades e problemas que este País insular com 10 ilhas enfrenta - é simplesmente notável. Os cabo-verdianos só podem sentir-se orgulhosos com este e com todos os seus ex-Presidentes e Governantes. Diz-se que Roma e Pavia não se fizeram num dia - eu não sei, não conheço Pavia mas já estive pelo menos 7 vezes em Roma...e aquilo é trabalho para 100 séculos, caramba!
Mas que sei aquela que diz que um Estado constrói-se todos os dias, ah, lá isso sei - e concordo.
Exemplos? Só na ilha de Santiago (a capital política e financeira do País) existe perto de 10 fábricas - todas funcionais -, grandes empresas, muitas delas multinacionais, centenas de quilómetros de estradas atravessando as suas altas e portentosas montanhas. No alcatrão, não há buracos não. O desenvolvimento de Cabo Verde está garantido: o Povo de Cabo Verde escolhe, os políticos agradecem e trabalham para o Povo. Cabo Verde, tal como Roma e Pavia, são para ir construindo. O Povo está lá para os ajudar e dar força.
Nas forças armadas de Cabo Verde não existe combatente da liberdade da Pátria no activo - foram todos para a reforma. E são gente com dignidade, respeitada no seu País. Gente que não pegou em armas para exigir 'reforma condigna'.
Cabo Verde tem pouca água doce. Então, dessaliniza quase toda a água que é consumida no país. Outra coisa notável. Nós, que temos mais água que terra...andamos aos papéis. Não me doeu nem um pouco ver o desenvolvimento espetacular conseguido por este País. Muito pelo contrário, sinto um orgulho desmedido, e - bem, devo confessar - alguma inveja, mas no bom sentido. Inveja por não termos, na Guiné-Bissau, essa visão de futuro. Inveja por não termos um só exemplo que nos empolgue. E raiva por nós, os guineenses, termos escolhido o caminho mais fácil - o das guerras intestinais, da calúnia, do ódio, da destruição, da matança gratuitas.
Para dar um exemplo, só na ilha de Santiago foram construídas 3 barragens, que, hoje mesmo, uma está a transbordar e as outras quase cheias - aliás, pode nem chover durante dois longos anos que haverá água doce para irrigar todos os campos e respectivas plantações!!! A isto chama-se trabalho. Arrisco mesmo dizer que as obras das barragens foram as mais importantes levadas a cabo no País desde a sua independência. Em quase todas as outras ilhas, rasgam-se montanhas para erguer mais barragens. O trabalho leva ao desenvolvimento. Até parece fácil. Os cabo-verdianos uniram-se, as suas forças armadas são republicanas, obedientes ao poder político, e não andam aos tiros, sobressaltando a população, para tirar este ou aquele Governo ou impor este ou aquele Presidente. Não, caramba! É o Povo de Cabo Verde que escolhe quem quer para governar e quem quer para Presidente. Ponto.
Cabo Verde tem problemas graves como os crimes transnacionais - oh, se tem! - mas tem-nos combatido, apesar das dificuldades. O tráfico de droga, apesar de alguma falta de meios, tem sido severamente combatido e foi por várias vezes duramente atingido - dezenas de edifícios foram confiscados pelos tribunais em julgamentos mediáticos e reverteram todos a favor do Estado. Residências e viaturas de luxo e outros bens, também. Aliás, o moderníssimo edifício onde funciona o Estado Maior General das Forças Armadas é disso exemplo.
Em Cabo Verde, trabalha-se. Apesar das dificuldades, existe um bom sistema de ensino e a taxa de analfabetismo está a ser combatida; a saúde funciona. Existe uma classe média esclarecida e exigente e um povo que sabe o que é Estado e respeita-o como tal. As mulheres ocupam cada vez mais altos cargos na vida do País - da Assembleia Nacional aos municípios, do ensino à saúde, das empresas às áreas técnico-profissionais. As mulheres são, orgulhosamente, uma força bastante considerável no desenvolvimento de Cabo Verde.
Na Guiné-Bissau, pura e simplesmente não existe Estado digno desse nome. Isto pode doer - e dói. A mim dói muito, imenso. Mas é a dura e triste realidade. AAS
terça-feira, 15 de outubro de 2013
ESTADO da NAÇÃO: O discurso do Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos
"SENHOR PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL,
SENHORES DEPUTADOS,
ILUSTRES CONVIDADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
Estou aqui para falar-vos sobre o Estado da Nação, como determina a Constituição, e vou começar usando uma frase que todos dizem. A situação do país é estável e a paz está a consolidar-se.
Os angolanos estão a trabalhar seriamente para recuperar o tempo perdido durante a guerra, vencer as dificuldades e melhorar as condições em que vivem.
Têm todos um destino comum e valores, princípios e objectivos consensuais inscritos na Constituição da República, em que se revêem, mas nem sempre definem os mesmos caminhos e têm os mesmos métodos.
No momento actual não é fácil compreender todas as soluções achadas pelo Governo neste período de transição para o Estado social e a economia de mercado.
Há quem pense que o crescimento e desenvolvimento social a diferentes velocidades de vários segmentos sociais seja uma política deliberada para perpetuar a injustiça social. Não é assim.
Este é apenas um fenómeno inerente a este período de transição, em que a Nação precisa de empresários e investidores privados nacionais fortes e eficientes para impulsionar a criação de mais riqueza e emprego.
Esta situação cria, naturalmente, a estratificação da sociedade, isto é, o surgimento de várias classes sociais.
No entanto, eu tenho fé que a esperança que se renova todos os dias e a confiança na construção de um futuro melhor para todos são fortes e serão o denominador comum que continuará a cimentar a unidade necessária à consolidação da Nação angolana e à construção da nova sociedade democrática, inclusiva e próspera.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
Dizem alguns teóricos que a economia é a base e as instituições políticas são a super-estrutura e tem de haver uma relação dialéctica entre as duas.
Cuidar da economia, da sua gestão e desenvolvimento e da partilha justa dos seus resultados é uma condição indispensável para se assegurar a estabilidade política e o crescimento do bem estar social.
Ora, Angola está integrada na economia internacional e sofre os efeitos dos seus constrangimentos.
A evolução recente da economia mundial foi marcada pela revisão em baixa das perspectivas do seu crescimento, justificada por um crescimento moderado que se verifica nas economias emergentes (BRICS) e pelo contínuo estado de crise da economia europeia, que se traduziu na redução em 0,2 por cento da projecção do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
Assim, o Fundo Monetário Internacional estimou, no passado mês de Junho, o crescimento do PIB mundial em 3,1 por cento, ao contrário da projecção de 3,3 por cento feita dois meses antes, alertando para os enormes riscos ainda pendentes sobre o sistema financeiro internacional.
A redução do crescimento dessas economias tem por base a diminuição da procura externa e do preço de algumas mercadorias e produtos de base.
No plano interno, a nossa economia foi afectada pela severa estiagem ocorrida ao longo de todo o ano de 2012 em 14 das 18 províncias do país. Como consequência da seca, a produção da energia hidroeléctrica evoluiu a um ritmo de 10,4 por cento, muito inferior ao previsto, que era de 23,9 por cento.
Por outro lado, o sector petrolífero cresceu apenas 5,6 por cento, muito abaixo das estimativas que apontavam para 17,7 por cento, e a má gestão da dívida do Estado para com as empresas privadas levou à redução ou paralisação da actividade de muitas delas e a uma certa estagnação económica.
Esta situação, aliás, levou à alteração da direcção dos ministérios das Finanças e da Construção.
O Executivo teve assim de enfrentar os riscos decorrentes destas situações no caminho para a concretização dos grandes objectivos, que visam consolidar a paz, reforçar a democracia, preservar a unidade nacional, promover o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida dos angolanos.
Tendo em linha de conta o contexto internacional e interno, o Executivo tem sido prudente e rigoroso na gestão das Finanças Públicas.
A recente evolução do quadro macroeconómico da economia nacional exprime a permanência desse rigor, que nos levou a introduzir reajustamentos na estimativa do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
A projecção do crescimento da economia em 2013 passou para 5,1 por cento, em vez dos 7,1 por cento previstos no Plano Nacional de Desenvolvimento para 2013.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
O sucesso da nossa política económica tem sido a consolidação fiscal, que começámos a implementar desde 2009 e que implica uma correcta articulação entre as medidas de política fiscal e de política monetária, uma gestão mais parcimoniosa das despesas públicas e o investimento nas infra-estruturas que constituem a alavanca para o aumento da competitividade da produção não petrolífera e para o desenvolvimento do sector nacional privado.
Neste contexto, a inflação acumulada dos oito primeiros meses do ano em curso é de 5,38 por cento, uma diminuição quando comparada com os 5,42 por cento observados no mesmo período de 2012.
As taxas de juro mantiveram-se estáveis. Embora as taxas de juro activas permaneçam demasiado elevadas, convém assinalar que a moeda nacional se manteve estável e assim se espera que continue, com a plena aplicação do novo regime cambial para o sector petrolífero e dos novos procedimentos para a realização de operações cambiais de invisíveis correntes.
As Reservas Internacionais Líquidas do país, no mês de Outubro, situam-se em 33,4 mil milhões de dólares americanos, o que representa um incremento de 9,3 por cento em relação ao final do ano passado.
O crédito à economia cresceu 4,3 por cento, tendo o seu 'stock' atingido 2 mil e 779 milhões de Kwanzas.
De facto, o grande objectivo da política económica para a presente legislatura consiste na promoção da diversificação da nossa economia, por forma a tornar o nosso processo de desenvolvimento menos vulnerável e mais sustentável.
Por essa razão, concebemos os programas e projectos estruturantes prioritários, o quadro da despesa pública de desenvolvimento de médio prazo e o respectivo sistema de monitoria.
A nossa intenção é concluir até princípios de 2016 os principais projectos dos sectores da energia e águas e o programa de reabilitação das vias secundárias e terciárias e de construção das estruturas de plataforma logística e de apoio ao comércio rural, por forma a criar as condições para o incremento do investimento privado na produção de
bens e serviços com vantagens competitivas e para o aumento do emprego.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
O país conseguiu avanços consideráveis também na redução da pobreza. O Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza é o maior programa de inclusão social do país, implantado em todos os municípios desde 2012.
O Governo pretende alcançar agora percentagens de redução da pobreza abaixo dos 35 por cento, contra os 65,6 por cento de 2002. De entre outras acções, a implementação do subprograma 'Ajuda para o Trabalho' e o acesso a produtos básicos essenciais subvencionados pelo Estado vão beneficiar, numa primeira fase, 200 mil famílias em 80 municípios. Nas fases posteriores, esse número vai crescer significativamente.
Os grandes desafios para os próximos tempos serão a passagem do mercado informal para o formal e a resposta adequada a dar à procura no domínio da habitação social.
Quanto aos dados estatísticos, presentemente 52 por cento da população rural tem acesso a água potável, 48 por cento ao saneamento básico, que inclui a rede de esgoto e fossa séptica; 25 por cento a electrificação rural, através de fontes alternativas, como geradores e painéis solares; 61 por cento aos serviços municipalizados de saúde; 79 por cento das crianças têm acesso ao ensino primário e 48 por cento beneficiam de merenda
escolar.
Nos próximos tempos, os nossos esforços serão direccionados para a melhoria da qualidade do ensino a todos os níveis, fundamentalmente no ensino primário e secundário.
Hoje temos 7,4 milhões de alunos matriculados em todos os níveis de ensino não universitário, dos quais 5,1 milhões no ensino primário e 2,3 milhões no ensino secundário.
O número de professores é de 278 mil, dos quais 153 mil no ensino primário e iniciação e 125 mil no secundário. Com vista a melhorar a qualidade do Ensino de Base, o Executivo vai empreender acções para melhorar a formação de professores.
No Ensino Superior ocorreu um rápido alargamento da oferta pública e privada em todo o território nacional. No segundo trimestre do corrente ano estavam matriculados 198 mil e 700 estudantes, o que ultrapassa em 8,8 por cento a meta fixada para este ano.
A grande prioridade a este nível terá de ser também uma clara melhoria da qualidade do ensino ministrado e que o mesmo responda às necessidades do país, conforme previsto no Plano Nacional de Formação de Quadros.
Verifica-se, com efeito, que o alargamento da oferta não tem privilegiado áreas cruciais para o desenvolvimento do país, designadamente nas engenharias e tecnologias, nas ciências da vida e nas ciências agrárias.
São áreas que exigem maior investimento por estudante, mas que são indispensáveis. O alargamento da oferta tem privilegiado, no entanto, as áreas de menor investimento por estudante e não se justificam por isso as propinas tão elevadas que o sector privado cobra neste momento.
Foi já elaborado um diagnóstico sobre a situação do Ensino Superior que prevê a breve prazo medidas e soluções para os problemas identificados.
Paralelamente, prossegue a implementação do Sistema Nacional e da Política de Ciência, Tecnologia e Inovação, bem como a criação da Rede Nacional de Instituições de Investigação Científica, Tecnológica, públicas e privadas, existindo 28 unidades de investigação e desenvolvimento, que abrangem mil e 200 investigadores e mil e oito técnicos auxiliares de investigação.
O Plano Nacional de Emprego e Formação Profissional, em preparação, é um outro instrumento estratégico de grande relevância para o futuro do país, em particular da nossa Juventude, para o qual queremos dedicar recursos adequados, garantindo assim prioridade à inserção dos jovens e dos quadros nacionais na vida económica e social.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
No sector da Saúde, procedeu-se à elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário e realizaram-se campanhas de vacinação em todo o país contra diversas enfermidades. A rede sanitária cresceu imenso e abrange praticamente todas as localidades.
Também aumentou significativamente o número e qualidade dos profissionais do sector, mas reconhecemos que isso ainda não é suficiente. São necessários mais esforços para atendermos à procura e, sobretudo, para contermos a propagação das grandes endemias que persistem no país e que provocam anualmente milhares de vítimas.
Reconhecemos também que em relação ao HIV/SIDA, apesar do tratamento anti-retroviral já ter alcançado mais de 42 mil e 600 pessoas, o que representa um crescimento de mais de 55 por cento desde 2010, importa alcançar todas as mulheres grávidas seropositivas e garantir através do corte vertical que as crianças não sejam infectadas ao nascer.
Devemos continuar as campanhas de educação para melhorar a qualidade do atendimento nos hospitais públicos.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
No centro da política do Governo também se inscrevem as questões ambientais. Por essa razão destacamos a aprovação do Plano Nacional de Combate a Seca e Desertificação e as várias campanhas de educação, sensibilização e consciencialização ambiental da cidadania.
Os progressos rápidos que atingimos no domínio da Reconstrução Nacional e da normalização da vida das populações em todo o país, deve-se em grande medida também ao trabalho de desminagem.
Esse trabalho permitiu proceder à limpeza de engenhos explosivos numa área de 6,2 milhões de metros quadrados e a desminagem, só nos últimos meses, de 112 quilómetros de estrada e de 486 quilómetros de linha de transporte de energia eléctrica de alta tensão.
Merecem uma palavra de apreço e reconhecimento todas as pessoas que estão envolvidas nesta grande tarefa e que têm dado a sua contribuição, pondo em risco as suas próprias vidas.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
No contexto africano, queremos afirmar-nos como um país do desporto.
As recentes vitórias alcançadas ao nível do basquetebol, feminino e masculino, e do andebol feminino, não foram conseguidas por mero acaso. São o fruto de um trabalho abnegado feito com sacrifício.
Nós temos potencial para ir mais longe. Vamos ajustar a nossa Estratégia de Desenvolvimento Nacional do Desporto à nova realidade, definindo melhor os objectivos, os programas específicos e as metas a atingir a médio prazo pelas diferentes federações, nas modalidades e disciplinas que tutelam, por forma a promover e fortalecer o desporto recreativo, escolar, amador e profissional e a estabelecer-se um sistema adequado de formação de agentes desportivos e professores de educação física e desportos ou de motricidade humana.
Por outro lado, a nossa política cultural vai ser igualmente reajustada e revitalizada na sua execução para maior valorização do livro e incentivos à leitura, para a realização de actividades culturais regulares nos municípios, províncias e a nível nacional, tanto no domínio do folclore e do artesanato como no das manifestações de cultura popular e erudita.
Precisamos nesta área de criar também com urgência os estabelecimentos de formação básica, média e superior para facilitar o acesso ao conhecimento científico e técnico dos cidadãos.
Devemos promover também a projecção regional e internacional das nossas figuras de destaque no domínio cultural e o registo e reconhecimento internacional dos bens culturais materiais e imateriais que simbolizam a nossa identidade.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
Não estaríamos aqui e não estaríamos onde estamos hoje se não houvesse antes de nós e mesmo nos nossos dias cidadãos que, tendo consciência do seu dever patriótico, deram o melhor de si para a libertação do nosso país.
Peço que continuemos a prestar e devida atenção aos nossos antigos combatentes e veteranos de guerra, que são o exemplo vivo da nossa coragem, determinação e sentido do dever.
Devemos reconhecer o seu papel na edificação da nossa Pátria livre e independente e apelar a toda a sociedade para que nunca se esqueça dos sacrifícios por eles consentidos.
Hoje estão identificados a nível nacional 159 mil e 75 beneficiários do Regime de Protecção Especial do Estado, dos quais 44 por cento são antigos combatentes, 16 por cento deficientes de guerra, 32 por cento órfãos e 8 por cento viúvas de combatentes e ascendentes.
Dos diferentes processos de paz que ocorreram no país temos 288 mil 816 desmobilizados. Foram pagas as pensões que estavam em atraso e estão definidos vários programas de formação profissional e de reinserção social e produtiva, para o enquadramento dos que ainda não foram contemplados.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
Afirmou um sábio que uma revolução vale algo quando se sabe defender. Para o nosso país manter a sua soberania e integridade territorial tem de ter capacidade suficiente para se defender.
Assim, está em curso a implementação de uma política de modernização que visa melhorar a qualidade e a capacidade técnica, operacional, logística e de infra-estruturas das Forças Armadas Angolanas, bem como a qualificação técnica e profissional dos seus recursos humanos e a melhoria das suas condições de vida.
Está igualmente em curso a revisão da legislação fundamental sobre Segurança e Ordem Interna, com o objectivo de se aprimorar e reforçar a segurança pública, a integridade e controlo das fronteiras nacionais e o combate à criminalidade.
Neste capítulo, não descuramos a melhoria das condições dos reclusos, cujos direitos humanos devem ser respeitados, a fim de os recuperarmos como cidadãos úteis à sociedade.
A situação de segurança é assim, na generalidade, estável e normal.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
Reconhecemos que nas actuais condições é inquestionável a importância da institucionalização do poder autárquico.
Neste sentido, o Executivo está a implementar várias iniciativas, com vista a contribuir para a definição das políticas públicas relativas à administração local e autárquica e a criar as condições para apoiar a sua implementação.
É evidente que uma grande parte da tarefa compete a esta Casa das Leis e o Executivo continuará a dar apenas a sua contribuição.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
No plano internacional, a realidade dos factos tem demonstrado que o uso da força ou a ameaça de assim proceder se está a tornar numa perigosa cultura política que em nada tem contribuído para se acabar com a violência.
É necessário, portanto, que os Estados façam prova de contenção e capacidade de diálogo, tendo em vista a necessidade da manutenção da paz e da segurança internacionais.
Angola tem reafirmado na sua política externa o primado do respeito pela ordem constitucional e a resolução pacífica dos conflitos e diferendos, em especial no nosso continente, onde ainda prevalecem situações preocupantes no Mali, na República Centro Africana, no Sudão e Sudão do Sul, na Somália, em Madagáscar, na Guiné Bissau e na
República Democrática do Congo.
A República de Angola vai continuar a integrar as equipas da União Africana e da SADC que observam e acompanham os processos eleitorais em África, em particular nos países da nossa sub-região, dando relevo à nova cultura do Estado Democrático de Direito e de legitimação do poder pela via eleitoral.
Angola pretende desempenhar um papel primordial no combate e prevenção de todos os fenómenos negativos e criminosos e aposta por isso no reforço da segurança marítima do Golfo da Guiné.
O nosso país continuará a ser um membro activo da União Africana, da SADC, da CEAC e da CPLP e apresentou a sua candidatura a Membro Não Permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas para o período 2015/2016.
No plano bilateral, Angola tem relações estáveis com quase todos os países do mundo. Com muitos deles tem uma cooperação económica crescente e com benefícios recíprocos.
O nosso país tornou-se um destino turístico e de investimento estrangeiro porque o seu prestígio e a confiança dos seus parceiros está a crescer.
Só com Portugal, lamentavelmente, as coisas não estão bem. Têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e o clima político actual, reinante nessa relação, não aconselha a construção da parceria estratégica antes anunciada!
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
No horizonte desta legislatura e do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 a ideia central do Governo é 'Estabilidade, Crescimento e Emprego'.
Sem estabilidade económica, política, social e institucional, não haverá crescimento económico sustentado e sem este não aumentará o emprego nem a riqueza e os rendimentos dos cidadãos e das famílias.
Na promoção e consolidação da paz, da reconciliação nacional e da democracia, que são os fundamentos da estabilidade política, é indispensável a participação de todos, independentemente das suas origens, ideias e convicções políticas e crenças religiosas. Só assim contribuiremos para o progresso e reforço das instituições e da democracia participativa.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
No sentido de moralizar a nossa sociedade, fazendo prevalecer os princípios e os valores que integram a nossa cultura, o Executivo está a implementar as normas internacionais sobre o branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo e dará passos no sentido da introdução no ordenamento jurídico angolano da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção e da criação do Instituto Nacional da Luta contra as Drogas, que poderão facilitar as medidas para prevenir e combater de forma mais eficaz e eficiente os efeitos destes fenómenos, de dimensão universal.
Neste processo de luta contra a corrupção, há uma confusão deliberada feita por organizações de países ocidentais para intimidar os africanos que pretendem constituir activos e ter acesso à riqueza, porque de um modo geral se cria a imagem de que o homem africano rico é corrupto ou suspeito de corrupção.
Não há razão para nos deixarmos intimidar.
A acumulação primitiva do capital nos países ocidentais ocorreu há centenas de anos e nessa altura as suas regras de jogo eram outras. A acumulação primitiva de capital que tem lugar hoje em África deve ser adequada à nossa realidade.
A nossa lei não descrimina ninguém. Qualquer cidadão nacional pode ter acesso à propriedade privada e desenvolver actividades económicas como empresário, sócio ou accionista e criar riqueza pessoal e património.
O cidadão estrangeiro pode criar empresas de direito angolano e integrar-se na economia nacional.
Um simples levantamento dos resultados das empresas americanas, inglesas e francesas no sector dos petróleos ou das empresas e bancos comerciais com interesses portugueses em Angola mostrará que eles levam de Angola todos os anos dezenas de biliões de dólares.
Por que é que eles podem ter empresas privadas dessa dimensão e os angolanos não?
As campanhas de intimidação que referi antes são feitas persistentemente contra os africanos porque não querem ter concorrentes locais e querem continuar a levar cada vez mais riqueza para os seus países.
Nós precisamos de empresas, empresários e grupos económicos nacionais fortes e eficientes no sector público e privado e de elites capazes em todos os domínios, para sairmos progressivamente da situação de país subdesenvolvido.
Isto não tem nada a ver com corrupção, nem com o desvio de bens públicos para fins pessoais. Há que separar o trigo do joio.
As nossas leis que regulam essas matérias são claras e devem ser continuar a ser aplicadas com rigor.
SENHORES DEPUTADOS,
CAROS COMPATRIOTAS,
Quero terminar reafirmando que o Executivo levará à prática as recomendações do Fórum Nacional da Juventude recentemente realizado.
É uma experiência de diálogo e concertação em que o Ministério da Família e da Promoção da Mulher se inspirou para auscultar a vontade das mulheres e reforçar a sua luta pela igualdade do género e contra a violência doméstica.
As mulheres e a juventude são duas componentes essenciais do nosso mosaico social.
Elas são o garante do futuro da Nação e o nosso capital decisivo.
É nossa responsabilidade criar as condições para que este capital cresça e frutifique, gerando uma Angola próspera, pacífica e democrática.
VIVA ANGOLA!
Muito obrigado pela vossa atenção!"
Governação em África: No que toca à Guiné-Bissau, quanto pior... melhor
Cabo Verde ficou em 3º lugar no Índice Ibrahim de Governação Africana. Ano após ano, estudo após estudo, Cabo Verde não descola do topo. Mantém-se firme entre os primeiros dez melhores países de África. O país da morabeza, com 76,7 pontos ultrapassa largamente a média continental, que é de 51,6%, ficando apenas atrás das Maurícias e do Botswana, que somam 82,9% e 77,6% pontos respectivamente. Juntam-se à festa a África do Sul, o Botswana, a Tunísia, o Gana, as Seychelles e a Namíbia. Lesoto e... Senegal, completam o dream team de melhor governação em África.
Ainda hoje, o primeiro-ministro José Maria Neves garantiu que até 2015 Cabo Verde cumprirá todas as metas, atingindo assim os objetivos do Milénio. E no fim da lista, no fim de tudo, como sempre, surge a dor de todos nós - a maltratada Guiné-Bissau, ingloriamente acompanhado de Madagáscar, da Eritreia, da Somália, da Líbia e do Mali. Este ano, ninguém fará a festa. AAS
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