segunda-feira, 15 de abril de 2013

Baraka malgós


O antigo chefe da armada da Guiné Bissau, José Américo Bubo na Tchuto deverá comparecer novamente em tribunal em Nova Yorque, hoje, Segunda-feira, isto numa altura em que se adensa o mistério sobre a identidade de várias outras pessoas que alegadamente estiveram envolvidas no plano de contrabando de cocaína mas cujos nomes não foram revelados pelas autoridades americanas.

Pelo menos uma dessas misteriosas personagens reivindicou acesso ao presidente da república e obviamente detém poder suficiente para nomear militares para o representar nas negociações sobre o trafico de drogas e armas. Vários viajaram para encontros em países da América do Sul e tinham contactos na Holanda para onde queriam que fossem feitos pagamentos. Bubo na Tchuto foi preso ao largo da costa da Guiné-Bissau juntamente com Papis Djeme e Tchamy Yala no passado dia 2 de Abril. Os três compareceram em tribunal no passado dia 5 num audiencia em que o juiz marcou uma nova sessão para o dia 15. Todos fazem face a uma acusação  de conspiração para fazerem entrar drogas nos Estados Unidos e fazem face a uma pena máxima de prisão perpetua. Dois outros homens, Manuel Mamadi Mané e Saliu Sisse, foram presos numa operação separada. Rafael Garavito-Garcia e Gustavo Perez-Garcia, ambos colombianos  foram presos no seu país e deverão ser extraditados para os Estados Unidos.

Mas a prisão destes sete homens deixa de fora os nomes de sete outros guineenses referidos nos documentos publicados pelo Departamento  de Justiça americano apenas como   CC 1, CC2, CC 3, CC 4, CC5 e ainda Entidade Militar da Guiné Bissau 1 e Entidade Militar da Guiné Bissau 2. Pela descrição fornecida nos documentos alguns destes homens tinham acesso aos mais altos níveis do governo e das forças armadas e tiveram um papel activo nos planos, alguns deles aparentemente bem mais importante que aquele de Bubo na Tchuto.

Por exemplo em Junho de 2012 “num hotel no Brasil” CC 2 reuniu-se  com agentes americanos a operarem na clandestinidade, num encontro que teve como principal objectivo  “discutir o envio de cocaína da América do Sul para a Guiné Bissau que seria eventualmente transportado para, entre outros países, os Estados Unidos”. Cerca de cinco dias depois CC 2 volta a reunir-se, agora em Bissau,  com os agentes americanos  e agora com Manuel Mamadi Mane e Saliu Sisse para discutir “a necessidade de se envolver entidades governamentais da Guiné Bissau na operação”. É nesse encontro que Mane teria concordado em ajudar a obter armas para o grupo de guerrilha colombiano FARC organizando uma reunião com “CC 1 através de CC 3”.

CC1 é obviamente alguém de importância porque numa reunião a 2 de Julho o agente americano  explicou que tinha pedido um encontro face a face com essa entidade para “obter a aprovação de CC1 em movimentar  toneladas de cocaína para a Guiné Bissau usando carregamentos de uniformes militares“. Nesse encontro CC 1 reconheceu que o plano para se obter armas seria feito através dele e do governo da Guiné Bissau. “É através de mim que vocês podem fazer isso. . . É através do governo e eu sou o único intermediário,” disse CC 1. Nesse encontro  CC 1 declarou também que iria discutir o plano com o presidente da Guiné Bissau afirmando que “depois de amanhã vou falar com o presidente da República”.

Nesse mesmo dia Mane disse ter recebido a informação através de CC3 que CC1 “queria um pagamento de 20.000 Euros” como  pagamento adiantado e mais tarde CC1 nomeou “entidade militar 1” como a pessoa que estaria encarregada do negócio das armas e para receber o primeiro transporte de cocaínas. “Entidade militar 2” passou  por outro lado a ser o representante de CC 1 em reuniões. Passados outros cinco dias , Mane e Sisse informam que “entidades governamentais da Guiné Bissau iriam reter uma percentagem da cocaína enviada para a Guiné Bissau e que eles (Mane e Sisse) discutiram a quantidade exacta com essas entidades oficiais da Guine Bissau”.

Em Agosto de 2012  CC 2 e CC 4  reuniram-se com agentes clandestinos dos Estados Unidos em Bogotá na Colômbia tendo concordado em receber um carregamento de 4.000 Quilos de cocaína da FARC. No mês seguinte em Bissau CC 5 recebeu uma lista de armas que a FARC estaria a pedir entre as quais metralhadoras AK 47 e misseis terra-ar. Nesse encontro Mane disse que “CC 5 iria falar com o presidente e o primeiro-ministro da Guiné Bissau sobre a encomenda de armas para a FARC”.

Subsequentemente houve vários outros encontros com essas misteriosas personagens entre os quais uma reunião em Novembro de 2012 em Bissau em que “entidade militar 2 explicou que CC 1 estaria pronto a executar a transacção de armas logo que a FARC enviasse dinheiro para a Guine Bissau”. Desconhece-se a razão porque todos estes indivíduos não foram detidos ou não são mesmo identificados. Talvez durante os julgamentos dos detidos esses pormenores sejam revelados.

É HOJE, É HOJE: É hoje que o hiper-traficante, Bubo Na Tchuto, enfrenta as 'feras' num tribunal de Nova Iorque. Adeus, Bissau! AAS

Quem tem medo dos americanos?


Um despacho do EMGFA traz o seguinte teor:

"Doravante, todas as deslocações de oficiais (militares e de segurança) para além de Safim (diga-se corda de Safim) carece de autorização superior - do Ministro do Interior em casos de agentes de segurança ou do Ministro de Defesa em casos de militares."

Será que o Injai também é abrangido por este despacho? Parece que não... AAS

PAIGC: Braima Camará recebe agrupamento de jovens


O Movimento de Jovens, conhecido por "AGORÁ" foi recebida pelo camarada Braima Camara, candidato a liderança do PAIGC recebeu e dialogou com uma dezena de jovens, numa troca de pontos de vista, versando o futuro e a inserção dos jovens no desenvolvimento do país.

O Presidente desta organização juvenil, que apoia o PAIGC, Geremildo Malaca, que  considerou, depois de ter enumerado os grandes problemas que os jovens têm  enfrentado, "não ter sido elaborada nem uma estratégia e muito menos uma política virada para a resolução dos seus problemas, facto que tem contribuído para a degradação da vida social de uma grande camada de jovens, hoje embrenhados no mundo do "warga", da droga, da delinquência juvenil, da prostituição e outros males que têm grassado de forma inexorável e preocupante no seio da juventude guineense".

Geremildo Malaca disse ser "para os jovens uma esperança o surgimento de um novo PAIGC, reconciliado, unido e coeso para poder promover novas e mais consentâneas políticas que possam ir ao encontro das nossas legitimas esperanças", daí que para o Agrupamento AGORÁ "o VIII Congresso do PAIGC seja por nós e para toda a juventude guineense aguardada com renovadas esperanças"

O Coordenador-Geral do Projecto "Por uma liderança democrática e inclusiva" Marciano Silva Barbeiro, membro do Bureau Político do PAIGC disse aos jovens que "um novo amanha está já a despontar com o surgimento de uma nova liderança no nosso Partido, dai o meu apelo a que tenham mais esperanças e acreditarem que uma nova oportunidade será dada aos jovens guineenses, mediante uma nova estratégia e política que vos conferirá mais oportunidades para singrarem na vida e no desenvolvimento do nosso país".

O Candidato Braima Camara expressou as suas esperanças em sair vitorioso no VIII Congresso Ordinário e prometeu profundas mudanças no funcionamento interno do PAIGC, "pois só funcionando bem, com dinamismo, rigor, competência e um elevado espirito de militância para servir o nosso grande partido, poderemos, com efeito produzir as mudanças que todos desejam para fazer uma vez mais do Partido de Cabral a mola impulsionadora do nosso desenvolvimento e nesta perspectiva os jovens ocuparão, como ontem na fase de aluga Armada de Libertação Nacional o seu espaço, o seu verdadeiro lugar e consequentemente as melhores oportunidades surgirão, mediante novas políticas, novas estratégias, novos projectos e consequentemente novas esperanças".

Para Braima Camara, "há que terminar com os wargas, as drogas, os maus vícios a que os jovens foram condenados a buscar para fazerem face a falta de oportunidades, quer ao nível da formação, quer ao nível dos empregos. Temos que implementar novas e consentâneas políticas quer nos domínios da educação e formação, quer em novas oportunidades de emprego ou de trabalho e criar estratégias que levem os jovens a voltarem a acreditar que eles devem ser a mola mestra impulsionadora do desenvolvimento político, económico, social do nosso país".

"Sou jovem, conto com os jovens, sem contudo esquecer os velhos, que devem ser os nossos conselheiros, para podermos transformarmos o nosso partido, a nossa terra", disse ainda Braima Camará.

A comunidade internacional e a Guiné-Bissau


Não devemos ter ilusão quanto ao papel da comunidade internacional na Guiné-Bissau. Quem é a comunidade internacional? O termo designa, de maneira imprecisa, um conjunto de Estados e as suas organizações internacionais e ONG`s influentes na matéria de relações internacionais. Isso quer dizer que é uma noção aproximativa, constituída de actores diferentes, em função dos temas, dos interesses e dos países em causa.

No caso da Guiné-Bissau, a comunidade internacional é constituída por Estados-Unidos da América, França, Brasil, Portugal, Nigéria, Angola, ONU, União Europeia, União Africana, CEDEAO e CPLP. A comunidade internacional só pode ajudar. Somos nós, os guineenses, que devemos arrumar a casa, fazendo o nosso trabalho interno para que do apoio do exterior surjam efeitos positivos.

Como arrumar a Guiné? Para isso é preciso reinventar o futuro? Como reinventar o futuro? Fazendo uma introspecção dos nossos problemas, definindo as responsabilidades de cada um dos actores da vida pública, melhorando o sistema organizacional do poder político e sustentando a esperança através de uma transformação económica inclusiva na Guiné.

Os maiores partidos políticos da Guiné, já demostraram os seus limites: guerras intestinas reflectiram-se a nível nacional, - golpes e contra golpes, crimes de sangue, destruturação da economia e da sociedade, incapacidade de criar um consenso à volta da coisa pública e disputa do monopólio dos instrumentos coercitivos do Estado, as forças de defesa e segurança, tornando a Guiné e o seu povo refém das contradições dos que animam a vida política.

O próprio modelo político e constitucional de organização do poder político, o semi- presidencialismo, não corresponde a sociologia política e cultural da percepção e do exercício do poder na Guiné. Tivemos sempre confusão entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro, mesmo sendo sempre do mesmo partido político. Isso implica que os partidos políticos e os seus dirigentes devem também ser reformados para que se possa definir claramente um modelo societal abrangente de toda a diversidade da sociedade guineense. E só com um modelo societal, aceite por todos que têm uma força moral baseada num novo contrato social, que a Justiça poderá funcionar e acabar com o surto de impunidade na Guiné.

Actores e modelo políticos relevam das vontades individuais e colectivas. Mas, para que essa vontade não se perca nos mares das necessidades humanas, é preciso criar uma dinâmica que os mantenha vivos, que dê esperança e que faça acreditar que hoje será menos pior do que ontem e que amanhã será melhor que hoje. Isso passa pela transformação económica da Guiné, através do crescimento económico inclusivo que dará emprego condigno às mulheres e aos homens na idade de trabalhar, para acabar com a pior doença do corpo social, a pobreza. Sem essa dinâmica económica nada mudará na Guiné, mesmo com o apoio da comunidade internacional.

Isso implica a escolha nas próximas eleições de pessoas competentes, de boa moralidade e que podem ser ouvidas no exterior para dar esperança ao povo, legitimando o poder que sairá das urnas com a voz dos que constituem a principal força política silenciosa na Guiné-Bissau desde as três ultimas eleições: os 45% dos abstencionistas que não se reconhecem nem nos actores actuais da política (partidos e indivíduos), e nem nos projectos de sociedade desses partidos. Assim sendo, a questão do perfil do futuro Presidente da República, do futuro Primeiro-ministro, deve estar desde já na mente de cada um de nós.

Podemos resumir este texto em uma frase: «Kim ku pudi manda pa tira Guiné na é situaçon?»

PAIGC e o Congresso: Onde e quando?


Mais um Golpe de Estado na Guiné-Bissau, mais uma transição vergonhosa (é que desta vez não resultou mesmo. E espero que seja a última). Mais uma situação caótica, mais um adiamento que não se justifica, um autêntico apunhalar pelas costas e uma ferida aberta na honra e na dignidade dos guineenses de boa-fé, espalhados pelos quatro cantos do Mundo. Mais um festim para os abutres, com o País de rasto e o povo amordaçado a contemplar, impávido e impotente, o estrangular da sua esperança de um dia construir um futuro melhor para os seus filhos, em virtude dos sacrifícios consentidos durante a Luta de Libertação Nacional, como sempre frisava o nosso saudoso Amílcar Cabral – QUE NOS PERDOE E QUE A SUA ALMA DESCANSE EM PAZ!

É com este estado da Nação, quando consensualmente, a opinião pública nacional considera o PAIGC o principal factor de instabilidade para o País, que esta formação Política se prepara para realizar o seu VIII Congresso, previsto para o próximo mês de Maio (?), em Cacheu (?). Gostaria francamente que este Congresso ajudasse o Partido de Amílcar Cabral a se reencontrar, por duas razões muito plausíveis, do meu ponto de vista:

1 – Cacheu, a primeira Capital do nosso País, terra da minha querida mãe e de gente de Paz, berço do crioulo (língua que contém todos os ingredientes necessários para se falar e se entender, desde que haja boa vontade e bom senso);

2 – O PAIGC é parte integrante de cada um de nós, um fenómeno indissociável da nossa história, um património Nacional que devemos preservar para as gerações vindouras e em homenagem aos Heróis e Mártires da nossa fratricida Luta de Libertação Nacional e não permitir que, de Partido Libertador se transforme em Partido gerador de calamidades nacionais.

Será que os actuais Militantes do PAIGC têm plena consciência das responsabilidades que recaem sobre os seus ombros? Será que estão devidamente preparados para fazer história em Cacheu? Espero bem que sim, que o pragmatismo e o espírito de franco patriotismo, que por lógica, devem estar presentes nestas situações, acabem por se sobrepor aos interesses mesquinhos e corporativistas, que como mostra a prática, acabam sempre por resultar em nada absoluto.

Cacheu merece uma homenagem, um abraço carinhoso e a honra de ser a Cidade anfitriã do VIII Congresso da maior Formação Política do País. Entretanto, do ponto de vista estratégico, a decisão (tomada noutra circunstância) de realizar este Congresso em Cacheu, em detrimento de Bissau, poderá revelar-se infeliz para o PAIGC.

Tanto o aspecto Logístico (Cacheu não é Gabú), como o próprio timing (nada abonatório) e a situação sociopolítica vigente (notória falta de segurança), aconselham à tomada de medidas muito pragmáticas, que visam, sobretudo, reduzir ao mínimo as pressões externas e garantir aos Delegados um ambiente de trabalho que propicie a liberdade de pensamento e de acção, para que possam decidir de acordo com a sua consciência.

Apesar da reconhecida importância do VIII Congresso do PAIGC para a estabilização do País e o seu regresso à normalidade Democrática, parece que a sua realização não constitui uma prioridade, se tivermos em conta a gritante morosidade que envolve a sua preparação: o constante adiamento da reunião do Comité Central, enquanto Órgão Máximo do Partido, para definitivamente decidir sobre o Nº de Delegados ao Congresso; a Data (constantemente alterada) e o Local (tendo em conta as circunstâncias) da sua realização; a Composição da Comissão Eleitoral; o Regulamento Interno; os Estatutos; o Orçamento e outros itens imprescindíveis à sua realização.

Tudo isto tem gerado especulações que apontam esta atitude como estratégica, tendente à marcação de um compasso de espera, relativamente aos acontecimentos que se precipitam e prometem conjunturas mais agradáveis do ponto de vista político e portanto propícios para arrumar a casa.

Entretanto existem opiniões que conotam esta atitude com manobras tendentes à manipular a situação em prol de determinado (s) candidato (s). O que a confirmar-se, não deixa de ser preocupante, numa altura em que a nossa Sociedade e o próprio PAIGC clamam por eleições justas, livres e transparentes, como forma de legitimar o Poder, condenando veementemente a fraudulência, o favoritismo e todas as formas de manipulação eleitoral que, pela sua essência, equivalem á um autêntico Golpe de Estado.

Enquanto militante do PAIGC, reconheço neste Congresso um momento único para salvar o Partido de Amílcar Cabral, desde que sejam cumpridos os pressupostos necessários, para que seja realizado num ambiente de Liberdade, Justiça e Transparência e que dele emerja uma Direcção Jovem, Forte, Coesa e suficientemente Corajosa para lidar com os crónicos problemas estruturais que desembocam em crispações e fricções de interesses retrógrados instalados, acabando quase sempre por transbordar e inundar toda a nossa Sociedade.

POERA DJÚ

LISBOA, PORTUGAL

domingo, 14 de abril de 2013

Atenção internacional cai um ano após o golpe militar de Estado na Guiné-Bissau


A 12.04.2012, um golpe derrubou o Governo eleito democraticamente e instalou no poder um executivo que se afirma de transição. Atenção da comunidade internacional voltou-se para outros focos de crise. Nessa noite, militares em revolta invadiram à força a residência do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.

É com relutância que ainda hoje o chefe do Governo democraticamente eleito recorda aquela noite, como disse numa entrevista exclusiva à DW África alguns meses mais tarde: "A minha casa ficou totalmente danificada. Saquearam completamente a minha casa. Os mobiliários que não conseguiram abrir, abriram a tiro. Está firmado, está fotografado", lembra Carlos Gomes Júnior. "Em todo país democrático, tem que haver justiça", constatou o antigo candidato presidencial, que concorria pelo partido governista PAIGC ao cargo mais alto do país em decorrência da morte por doença, em janeiro de 2012, do antigo presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá.

"E todos estes actos, eu vou traduzi-los à Justiça. Eu vou exigir que essa gente seja traduzida à Justiça", prometeu, na altura, Carlos Gomes Júnior, também conhecido como "Cadogo". Estava prevista, para o dia 13 de abril, a abertura da campanha eleitoral de Cadogo para a segunda volta das presidenciais. O primeiro-ministro era considerado o grande favorito, depois de sair em primeiro lugar na primeira volta, com 49% dos votos, quase a maioria absoluta.

Popularidade versus militares

O chefe do Governo gozava de muita popularidade porque soubera dar ao país, vítima permanente de golpes de Estado, alguma estabilidade que resultou até num crescimento económico. Não obstante a sua popularidade, o político tinha um adversário de peso: o exército. Na Guiné-Bissau nada se faz contra a vontade dos militares. E estes ressentiram-se da tentativa de modernização das forças armadas levada a cabo pelo Governo com a ajuda de Angola. O objectivo era reduzir o número de soldados e oficiais e subjugá-los ao comando civil.

Carlos Gomes Júnior na presidência significava uma ameaça para o poder militar e o seu envolvimento no narcotráfico. Por isso detiveram o primeiro-ministro, seguidamente forçado a exilar-se em Portugal. Em lugar do Governo formado pelo seu partido, o PAIGC, os militares revoltados instalaram um executivo civil, mas sem legitimação democrática. Desde então, o único acontecimento digno de nota foi  a detenção em alto mar, na semana passada, por agentes norte-americanos, do Almirante guineense Bubo Na Tchuto, que vai ser julgado por tráfico de drogas.

Situação igual, sem eleições

Mas, de resto, pouco se passou nos últimos doze meses, a situação permanece a mesma e as eleições prometidas pelos golpistas não se realizaram. Por isso, o enviado especial das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, o prémio nobel da paz e ex-Presidente de Timor Leste, José Ramos-Horta, exige "a realização de eleições até ao final deste ano, a formação de um governo mais alargado para ser mais legítimo, para gerir o processo até as eleições o mais rápido possível – a partir de abril ou maio, deveria haver um governo mais alargado".
Ramos-Horta também disse querer a mobilização de recursos financeiros e materiais, mas afirmou que esta era "a parte mais simples. A parte mais complexa e sensível é o aspeto político".
Isolamento internacional

Apenas a Comunidade Económica e de Desenolvimento da África Ocidental (CEDEAO) reconheceu o Governo de transição, que se encontra internacionalmente isolado. Mas também a CEDEAO exige eleições até ao final do ano.
No entanto, adverte o analista Paulo Gorjão, diretor do Instituto português de pesquisa da política internacional (IPRIS), as eleições não são uma panaceia universal: "Não é suficiente repor a legalidade constitucional, embora evidentemente seja muito importante, mas é preciso, de facto, resolver de uma vez por todas os problemas que afetam a Guiné-Bissau: a reforma do sector de segurança e, por sua vez, ligada a isso, uma política mais pró-ativa no combate ao narcotráfico", avalia o especialista. Deutsche Welle

CARLOS LOPES: Um blog para seguir com atenção


Caras/os amigas/os, chegou o BLOG do nosso conterrâneo e alto funcionário das Nações Unidas, Carlos Lopes. Recomendo, e agradeço que todos partilhem.

Podem seguir o Dr. Carlos Lopes de várias maneiras:

Blog http://www.uneca.org/es-blog (em francês http://www.uneca.org/fr/es-blog)
Twitter @ECA_Lopes
Facebook LopesInsights
Flickr Carlos Lopes ECA

Obrigado. AAS



Ditadura do Consenso chegou ao Facebook


Visite a PÁGINA e divulgue

De um Nobel para um outro Nobel: Joseph Stiglitz e José Ramos-Horta


O Nobel da economia, o americano Joseph S. Stiglitz escreveu num artigo sobre a "retoma da economia mundial" o seguinte: "Um sistema, qualquer que seja (financeiro, politico ou outro) poderá se reformar a partir do seu interior? Tenho dúvidas, responde o economista. E acrescentou: "Enquanto não haver a intrusão de forças externas no seio do sistema, este continuará a perdurar".

Esta tese defendida por um dos economistas mais famosos do mundo, aplica-se perfeitamente ao caso guineense. Já o tinha dito e volto a repetir: Enquanto não haver uma intrusão de fora (da ONU), para que o rumo das coisas mudem na Guiné-Bissau, acredito que nunca, mas nunca mesmo, os actores políticos e militares que actualmente se encontram no poder, quererão mudar o sistema prevalecente que lhes serve na íntegra.

Está dito por quem sabe.

Arafam Bamba

Pois...


"Nos últimos anos, o jornalista António Aly Silva assumiu uma importância muito maior do que a que a Agência Noticiosa da Guiné-Bissau (ANG) alguma vez teve. Um homem só deu-nos muito mais a ler sobre o seu país do que toda uma estrutura do Estado." - Jorge Heitor, jornalista

Tic-tac-tic-tac


- Pouco tempo antes da prisão de Bubo Na Tchuto, uma pessoa esteve com o António Indjai, em Bissau, e ofereceu dois relógios de ouro (um para o CEMGFA e outro para o porta-golpe Daba Na Walna). Pouco tempo depois, esse fulano telefonou a dizer ao CEMGFA que já estava no alto-mar 'com a encomenda' e que ele já podia ir... António Indjai respondeu dizendo que não iria, mas este sossegou-o. 'Venha, e traga toda a sua escolta, se quiser'. Que nada...mas depois alguém alertou o general: o relógio não teria um dispositivo de escuta? Bem dito, bem feito. Os relógios desapareceram dos dois pulsos. O do CEMGFA anda agora no pulso de um dos filhos, e o do Daba, sabe-se lá...;

- Papa Camará, o acossado CEM Força Aérea, estava (como o Aly...) afinal em Dakar no dia em que o Bubo Na Tchuto foi caçado pelos agentes da DEA norte-americana. Ninguém sabe como saiu de Dakar. Se de foguetão ou numa charrete de burro...

- Na noite de 4ª para 5ª feira passada, o EMGFA enviou 50 homens fortemente armados para a zona de Varela. Motivo? Tinham 'informações' de que rebeldes de Casamança estavam a operar nessa área. Estranho é terem-lhes tirado os telemóveis. Quem comandou foi Caramó, o chefe de operacoes do EMGFA. AAS

Fórum furado


Fórum dos Partidos Políticos: de júri não tem validade, de facto, só faz asneiras. Ao ler o comunicado dos partidos que assinaram o pacto de transição no qual defendem a sua posição em relação a data da realização das eleições gerais fiquei perplexo. A minha perplexidade relaciona-se sobretudo com a fraca qualidade dos argumentos apresentados para a não realização de eleições em 2013. Ou agem de má-fé, ou a competência técnica é deficitária. Estes são argumentos apresentados pelo fórum dos partidos:

- A época das chuvas começa em maio e prolonga-se até Outubro, altura em que não se pode fazer o recenseamento eleitoral.
- Os procedimentos no terreno iniciar-se-iam apenas em Novembro de 2013 e será que num mês seria possível realizar eleições?
- Quando estará disponível o financiamento externo para as eleições?
- Quando se iniciam as reformas legislativas necessárias?
- Quando é que serão empossados os membros das comissões nacionais e regionais de eleições?
- E quando é que se inicia o recenseamento eleitoral?
 
E para terminar, o comunicado dispara: São estas e mais perguntas que os defensores da realização das eleições em 2013 deveriam de esclarecer ao povo guineense.

Seria muito mais inteligente da parte desses partidos responderem, eles mesmos ao povo guineense porque razão não fizeram tudo isso que perguntam há mais de 12 meses? Quando assinaram o pacto de transição (ou “pacto de diabo”), sabiam muito bem que, em 1 ano, as eleições tinham que ser feitas, porque era importante repor a legalidade constitucional. Não fizeram nada. A CEDEAO, actor principal na mediação e resolução da crise, decidiu prolongar o período que ela mesma havia fixado em 1 ano para mais 6 meses, desta vez até o fim de 2013. Pelos vistos, o tempo para eles continua a ser pouco. Quando não se faz nada, não há nenhum tempo de mundo que nos chega…!

Vejamos estes dois exemplos:

- O Mali, que sofreu um golpe de estado um mês antes do golpe na Guiné em 2012 e, mesmo em estado de guerra já fixou as eleições para o mês Junho deste ano?

- Na Venezuela, o presidente Hugo Chavez morreu há menos de 1 mês e meio, mas o país já vai as urnas.

A diferença que existe entre os exemplos citados e o nosso caso está, no nível da maturidade e responsabilidade política (inclui o respeito pela Constituição) dos seus actores políticos, de um lado, e na qualidade da cultura cívica e patriotismo desses mesmos actores, do outro lado.

A questão aqui é muito clara. Num sistema democrático nada justifica a assunção do poder através das armas. O poder é atribuído pela vontade popular via eleições livres. É preciso mudarmos muita coisa na Guiné, e muito em especial, a nossa forma de conceber e fazer política. Os partidos que não querem eleições este ano, apenas o defendem porque estão nos lugares de decisão onde podem abusar do dinheiro e dos bens públicos. Toda a história de falta de tempo é apenas “conversa do quintal”.

A matemática é simples, se posso ganhar dinheiro agora porque vou querer eleições? Hoje, qualquer pessoa nomeada para exercer funções na direcção dos Conselhos de Administração (no EAGB, nos Portos, nas Telecomunicações, e por aí fora) ganha cerca de 2 milhões de fcfa mensal, os conselheiros do Presidente ganham por cima de 1 milhão e meio de fcfa, os do Primeiro-Ministro a mesma coisa e assim sucessivamente.

Esses salários são, de longe superiores aos salários que mais 85% dos efectivos militares ganham. São exemplos demonstrativos da imensa falta de responsabilidade dos políticos guineenses. Um país que vive da ajuda externa, que não pode, regularmente pagar salários miseráveis aos professores e aos outros trabalhadores de Estado dá-se ao luxo de fixar este tipo de salários para gente recrutada de partidos que apoiam o golpe, porquê? Estas pessoas, quase todas elas oriundas de pequenos partidos não vão querer eleições nunca. De certeza que daqui há um ano lá virão elas, outra vez dizer que o tempo é curto, que ainda falta fazer algumas reformas, antes das eleições, etc, etc.

E qual o papel da comunidade internacional?

Primeiro, tomar a responsabilidade de organizar as eleições gerais em colaboração estreita (claro) com as entidades nacionais, Segundo, exigir prazos e responsabilidades sob pena de aplicar mais sanções ao país. Mas para isso, é preciso que se acabe de vez com a retórica de que são os guineenses que devem decidir sobre o seu futuro, porque isso é falso, não funciona. Na Guiné, a vontade dos guineenses nunca decide nada, o povo vota e demonstra a sua preferência eleitoral nas urnas, mas são os partidos políticos e militares que decidem quem deve mandar. No Timor, as Nações Unidas decidiram, e, os timorenses passaram 10 anos sob o protectorado e apoio das NU e, hoje, o país é um outro país. Se de facto, querem saber a vontade dos guineenses sobre o seu futuro, promovam um Referendo Popular, depois disso tudo ficará mais claro. Terceiro, actuar com mais vigor e elasticidade. Isto é, monitorar os pontos fortes e fracos de cada instituição que está relacionada directamente com a organização das eleições e por a sua disposição os recursos humanos, financeiros e materiais necessários ao reforço da sua capacidade organizacional e a sua performance técnica.

E para terminar, um conselho. O fórum faria um grande favor aos guineenses se deixasse de vez de falar e fazer teatro com essa história de criação da Comissão Multipartidária e Social. Tratem é de organizar eleições e deixem que as futuras autoridades legítimas saídas das urnas venham a encarregar-se da criação de estruturas necessárias e duradouras.

Arafam Bamba

sábado, 13 de abril de 2013

Enquanto isso, em Bissau...


Os Chefões Militares (que de facto mandam em Bissau), os Barões, os Mandões e os Super-Ministros recolhem-se cedo da vista das pessoas. Tornaram-se discrectos, pardos até. Pezinhos de lã, desaparecem muito cedo da cena levando com eles as suas crias e os seus bens mais preciosos. A verdade hoje em Bissau, nos tempos que correm, mais vale prevenir que remediar, pois não venham os Drones do Nhamadjo-DEA que vasculham as vidas e seguem os mais subtis movimentos de certas figuras do poder em Bissau, principalmente o militar, lançar de novo as suas garras e levar mais um dos seus alvos que são muitos.

E o pânico que está instalado em certas esferas do poder em Bissau, ainda mais com os rumores de que a DEA possui no terreno uma rede de agentes com grande raio de acção e poder operacional no terreno, acções de mérito suficientemente provadas e reconhecidos em missões de captura e neutralização de grupos para-militares e de narcotraficantes na América Central e do Sul (na placa do aeroporto de Dakar, está um avião espião AWAC americano...), vi-o ontem...

Hoje, assim que a noite chega, as chefias militares fazem um autêntico "pim-pam-pum" para saber onde vão dormir, os ministros rabos de palha idem aspas, os barões resguardam-se em hotéis onde passam despercebidos (como se em Bissau tal é possível). Alguns enviaram até os familiares para a sub-região (Senegal, Conakry, Gâmbia ou Fez, em Marrocos). Todos desligaram os seus telemóveis ou trocaram os seus "pins", alguns mudaram de número. Mas quase todos esconderam os seus reluzentes bólides com que faziam a diferença de estatuto em Bissau, a maioria roubado na Europa.

Ultimamente, grandes transferências estão sendo feitas para dissimulação nas contas de familiares directos ou pessoas de confiança e muitas das vezes estas quantias são confiadas em "cash" para serem depositadas nos bancos da sub-região, nomeadamente em Dakar e na Gâmbia. Recentemente, um dos filhos, por sinal também artista "raper" de um dos chefões da droga, depositou, com a ajuda de um alto funcionário da embaixada da Guiné-Bissau em Dakar, na sua conta, um significante montante que criou suspeitas ao nivel do Banco.

Assassinatos

Outro factor extra de perturbação: ditadura do consenso soube, através de uma fonte da embaixada norte-americana em Dakar, que o coronel Samba Djalo, assassinado cobardemente em Bissau a mando das alta chefias militares, era o elo de ligação com a DEA através do agente assassinado pelos homens de Bubo. Antes do seu assassinato, esse reputado oficial de segurança já tinha enviado em "pen-drive", informações codificadas, detalhadas e altamente comprometedoras para conhecimento das autoridades norte americanas sobre o envolvimento de militares e políticos nos negócios da droga. Parte dessas informações servirão para elucidar sobre os contornos da morte de Helder Proença, Baciro Dabo entre outros. Enfim, Bissau dorme com um só olho... o poder sente-se encurralado. AAS

Eu vi, com os meus olhos


Ontem, ninguém me contou... vi eu mesmo com os meus olhos. Vi o MNE Faustino Imbali nos copos, num concorrido restaurante africano em Dakar - o 'Tradiçon' (onde jantei e almocei várias vezes durante os 12 dias em que lá estive). Ao entrar dei com ele, e logo mudei de ideias. Encarei-o sem que desse conta e decidi dar meia volta, pois há companhias que eu, António Aly Silva, dispenso e bem. Abdiquei do meu copo de despedida de Dakar e fui directamente para o aeroporto e preferi um café. Não quero NADA com os golpistas e os seus aliados.

Hoje, já em Lisboa, chegaram-me as novas. O MNE tem instalado o seu QG no hotel King Fahad Palace (ex-Meridien Président) onde, entre copos e garfadas mal esgrimadas, tem recebido numa autêntica roda viva os mais variados e suspeitos contactos, entre eles o advogado de Bubo Na Tchuto, Joãozinho Vieira Có, assim como uma corja de supostos homens de negócios (alguns obscuros) e comissionistas de toda a espécie (chineses, ucranianos, russos, moldavos, E os infalíveis senegaleses... Enfim, toda a espécie e do piorio, porém essencialmente interessados em negócios de extracção de minérios, extracção de madeira exôtica, pescas e venda de combustível).

O desfile de "personalidades" interessadas em expôr os projectos e investimentos para a Guiné-Bissau ao concorrido MN Estranhos. Olhos avermelhados, fruto da ressaca da noite de ontem, o homem lá vai tomando as suas notas e marcando rendez-vous para Bissau a fim de melhor se alinhavar o negócio ou investimento. De premeio na conversa, deslizam-se sempre subtilmente envelopes bem guarnecidos para ajudar o MNE nas suas dispendiosas despesas e outras vícios a que está habituado nas suas passagens por Dakar. Enfim, é a diplomacia da Guiné-Bissau no seu melhor: uma autêntica Mesa di Djila no mercado de Bandim... AAS