domingo, 14 de abril de 2013
CARLOS LOPES: Um blog para seguir com atenção
Caras/os amigas/os, chegou o BLOG do nosso conterrâneo e alto funcionário das Nações Unidas, Carlos Lopes. Recomendo, e agradeço que todos partilhem.
Podem seguir o Dr. Carlos Lopes de várias maneiras:
Blog http://www.uneca.org/es-blog (em francês http://www.uneca.org/fr/es-blog)
Twitter @ECA_Lopes
Facebook LopesInsights
Flickr Carlos Lopes ECA
Obrigado. AAS
De um Nobel para um outro Nobel: Joseph Stiglitz e José Ramos-Horta
O Nobel da economia, o americano Joseph S. Stiglitz escreveu num artigo sobre a "retoma da economia mundial" o seguinte: "Um sistema, qualquer que seja (financeiro, politico ou outro) poderá se reformar a partir do seu interior? Tenho dúvidas, responde o economista. E acrescentou: "Enquanto não haver a intrusão de forças externas no seio do sistema, este continuará a perdurar".
Esta tese defendida por um dos economistas mais famosos do mundo, aplica-se perfeitamente ao caso guineense. Já o tinha dito e volto a repetir: Enquanto não haver uma intrusão de fora (da ONU), para que o rumo das coisas mudem na Guiné-Bissau, acredito que nunca, mas nunca mesmo, os actores políticos e militares que actualmente se encontram no poder, quererão mudar o sistema prevalecente que lhes serve na íntegra.
Está dito por quem sabe.
Arafam Bamba
Pois...
"Nos últimos anos, o jornalista António Aly Silva assumiu uma importância muito maior do que a que a Agência Noticiosa da Guiné-Bissau (ANG) alguma vez teve. Um homem só deu-nos muito mais a ler sobre o seu país do que toda uma estrutura do Estado." - Jorge Heitor, jornalista
Tic-tac-tic-tac
- Pouco tempo antes da prisão de Bubo Na Tchuto, uma pessoa esteve com o António Indjai, em Bissau, e ofereceu dois relógios de ouro (um para o CEMGFA e outro para o porta-golpe Daba Na Walna). Pouco tempo depois, esse fulano telefonou a dizer ao CEMGFA que já estava no alto-mar 'com a encomenda' e que ele já podia ir... António Indjai respondeu dizendo que não iria, mas este sossegou-o. 'Venha, e traga toda a sua escolta, se quiser'. Que nada...mas depois alguém alertou o general: o relógio não teria um dispositivo de escuta? Bem dito, bem feito. Os relógios desapareceram dos dois pulsos. O do CEMGFA anda agora no pulso de um dos filhos, e o do Daba, sabe-se lá...;
- Papa Camará, o acossado CEM Força Aérea, estava (como o Aly...) afinal em Dakar no dia em que o Bubo Na Tchuto foi caçado pelos agentes da DEA norte-americana. Ninguém sabe como saiu de Dakar. Se de foguetão ou numa charrete de burro...
- Na noite de 4ª para 5ª feira passada, o EMGFA enviou 50 homens fortemente armados para a zona de Varela. Motivo? Tinham 'informações' de que rebeldes de Casamança estavam a operar nessa área. Estranho é terem-lhes tirado os telemóveis. Quem comandou foi Caramó, o chefe de operacoes do EMGFA. AAS
Fórum furado
Fórum dos Partidos Políticos: de júri não tem validade, de facto, só faz asneiras. Ao ler o comunicado dos partidos que assinaram o pacto de transição no qual defendem a sua posição em relação a data da realização das eleições gerais fiquei perplexo. A minha perplexidade relaciona-se sobretudo com a fraca qualidade dos argumentos apresentados para a não realização de eleições em 2013. Ou agem de má-fé, ou a competência técnica é deficitária. Estes são argumentos apresentados pelo fórum dos partidos:
- A época das chuvas começa em maio e prolonga-se até Outubro, altura em que não se pode fazer o recenseamento eleitoral.
- Os procedimentos no terreno iniciar-se-iam apenas em Novembro de 2013 e será que num mês seria possível realizar eleições?
- Quando estará disponível o financiamento externo para as eleições?
- Quando se iniciam as reformas legislativas necessárias?
- Quando é que serão empossados os membros das comissões nacionais e regionais de eleições?
- E quando é que se inicia o recenseamento eleitoral?
E para terminar, o comunicado dispara: São estas e mais perguntas que os defensores da realização das eleições em 2013 deveriam de esclarecer ao povo guineense.
Seria muito mais inteligente da parte desses partidos responderem, eles mesmos ao povo guineense porque razão não fizeram tudo isso que perguntam há mais de 12 meses? Quando assinaram o pacto de transição (ou “pacto de diabo”), sabiam muito bem que, em 1 ano, as eleições tinham que ser feitas, porque era importante repor a legalidade constitucional. Não fizeram nada. A CEDEAO, actor principal na mediação e resolução da crise, decidiu prolongar o período que ela mesma havia fixado em 1 ano para mais 6 meses, desta vez até o fim de 2013. Pelos vistos, o tempo para eles continua a ser pouco. Quando não se faz nada, não há nenhum tempo de mundo que nos chega…!
Vejamos estes dois exemplos:
- O Mali, que sofreu um golpe de estado um mês antes do golpe na Guiné em 2012 e, mesmo em estado de guerra já fixou as eleições para o mês Junho deste ano?
- Na Venezuela, o presidente Hugo Chavez morreu há menos de 1 mês e meio, mas o país já vai as urnas.
A diferença que existe entre os exemplos citados e o nosso caso está, no nível da maturidade e responsabilidade política (inclui o respeito pela Constituição) dos seus actores políticos, de um lado, e na qualidade da cultura cívica e patriotismo desses mesmos actores, do outro lado.
A questão aqui é muito clara. Num sistema democrático nada justifica a assunção do poder através das armas. O poder é atribuído pela vontade popular via eleições livres. É preciso mudarmos muita coisa na Guiné, e muito em especial, a nossa forma de conceber e fazer política. Os partidos que não querem eleições este ano, apenas o defendem porque estão nos lugares de decisão onde podem abusar do dinheiro e dos bens públicos. Toda a história de falta de tempo é apenas “conversa do quintal”.
A matemática é simples, se posso ganhar dinheiro agora porque vou querer eleições? Hoje, qualquer pessoa nomeada para exercer funções na direcção dos Conselhos de Administração (no EAGB, nos Portos, nas Telecomunicações, e por aí fora) ganha cerca de 2 milhões de fcfa mensal, os conselheiros do Presidente ganham por cima de 1 milhão e meio de fcfa, os do Primeiro-Ministro a mesma coisa e assim sucessivamente.
Esses salários são, de longe superiores aos salários que mais 85% dos efectivos militares ganham. São exemplos demonstrativos da imensa falta de responsabilidade dos políticos guineenses. Um país que vive da ajuda externa, que não pode, regularmente pagar salários miseráveis aos professores e aos outros trabalhadores de Estado dá-se ao luxo de fixar este tipo de salários para gente recrutada de partidos que apoiam o golpe, porquê? Estas pessoas, quase todas elas oriundas de pequenos partidos não vão querer eleições nunca. De certeza que daqui há um ano lá virão elas, outra vez dizer que o tempo é curto, que ainda falta fazer algumas reformas, antes das eleições, etc, etc.
E qual o papel da comunidade internacional?
Primeiro, tomar a responsabilidade de organizar as eleições gerais em colaboração estreita (claro) com as entidades nacionais, Segundo, exigir prazos e responsabilidades sob pena de aplicar mais sanções ao país. Mas para isso, é preciso que se acabe de vez com a retórica de que são os guineenses que devem decidir sobre o seu futuro, porque isso é falso, não funciona. Na Guiné, a vontade dos guineenses nunca decide nada, o povo vota e demonstra a sua preferência eleitoral nas urnas, mas são os partidos políticos e militares que decidem quem deve mandar. No Timor, as Nações Unidas decidiram, e, os timorenses passaram 10 anos sob o protectorado e apoio das NU e, hoje, o país é um outro país. Se de facto, querem saber a vontade dos guineenses sobre o seu futuro, promovam um Referendo Popular, depois disso tudo ficará mais claro. Terceiro, actuar com mais vigor e elasticidade. Isto é, monitorar os pontos fortes e fracos de cada instituição que está relacionada directamente com a organização das eleições e por a sua disposição os recursos humanos, financeiros e materiais necessários ao reforço da sua capacidade organizacional e a sua performance técnica.
E para terminar, um conselho. O fórum faria um grande favor aos guineenses se deixasse de vez de falar e fazer teatro com essa história de criação da Comissão Multipartidária e Social. Tratem é de organizar eleições e deixem que as futuras autoridades legítimas saídas das urnas venham a encarregar-se da criação de estruturas necessárias e duradouras.
Arafam Bamba
sábado, 13 de abril de 2013
Enquanto isso, em Bissau...
Os Chefões Militares (que de facto mandam em Bissau), os Barões, os Mandões e os Super-Ministros recolhem-se cedo da vista das pessoas. Tornaram-se discrectos, pardos até. Pezinhos de lã, desaparecem muito cedo da cena levando com eles as suas crias e os seus bens mais preciosos. A verdade hoje em Bissau, nos tempos que correm, mais vale prevenir que remediar, pois não venham os Drones do Nhamadjo-DEA que vasculham as vidas e seguem os mais subtis movimentos de certas figuras do poder em Bissau, principalmente o militar, lançar de novo as suas garras e levar mais um dos seus alvos que são muitos.
E o pânico que está instalado em certas esferas do poder em Bissau, ainda mais com os rumores de que a DEA possui no terreno uma rede de agentes com grande raio de acção e poder operacional no terreno, acções de mérito suficientemente provadas e reconhecidos em missões de captura e neutralização de grupos para-militares e de narcotraficantes na América Central e do Sul (na placa do aeroporto de Dakar, está um avião espião AWAC americano...), vi-o ontem...
Hoje, assim que a noite chega, as chefias militares fazem um autêntico "pim-pam-pum" para saber onde vão dormir, os ministros rabos de palha idem aspas, os barões resguardam-se em hotéis onde passam despercebidos (como se em Bissau tal é possível). Alguns enviaram até os familiares para a sub-região (Senegal, Conakry, Gâmbia ou Fez, em Marrocos). Todos desligaram os seus telemóveis ou trocaram os seus "pins", alguns mudaram de número. Mas quase todos esconderam os seus reluzentes bólides com que faziam a diferença de estatuto em Bissau, a maioria roubado na Europa.
Ultimamente, grandes transferências estão sendo feitas para dissimulação nas contas de familiares directos ou pessoas de confiança e muitas das vezes estas quantias são confiadas em "cash" para serem depositadas nos bancos da sub-região, nomeadamente em Dakar e na Gâmbia. Recentemente, um dos filhos, por sinal também artista "raper" de um dos chefões da droga, depositou, com a ajuda de um alto funcionário da embaixada da Guiné-Bissau em Dakar, na sua conta, um significante montante que criou suspeitas ao nivel do Banco.
Assassinatos
Outro factor extra de perturbação: ditadura do consenso soube, através de uma fonte da embaixada norte-americana em Dakar, que o coronel Samba Djalo, assassinado cobardemente em Bissau a mando das alta chefias militares, era o elo de ligação com a DEA através do agente assassinado pelos homens de Bubo. Antes do seu assassinato, esse reputado oficial de segurança já tinha enviado em "pen-drive", informações codificadas, detalhadas e altamente comprometedoras para conhecimento das autoridades norte americanas sobre o envolvimento de militares e políticos nos negócios da droga. Parte dessas informações servirão para elucidar sobre os contornos da morte de Helder Proença, Baciro Dabo entre outros. Enfim, Bissau dorme com um só olho... o poder sente-se encurralado. AAS
Eu vi, com os meus olhos
Ontem, ninguém me contou... vi eu mesmo com os meus olhos. Vi o MNE Faustino Imbali nos copos, num concorrido restaurante africano em Dakar - o 'Tradiçon' (onde jantei e almocei várias vezes durante os 12 dias em que lá estive). Ao entrar dei com ele, e logo mudei de ideias. Encarei-o sem que desse conta e decidi dar meia volta, pois há companhias que eu, António Aly Silva, dispenso e bem. Abdiquei do meu copo de despedida de Dakar e fui directamente para o aeroporto e preferi um café. Não quero NADA com os golpistas e os seus aliados.
Hoje, já em Lisboa, chegaram-me as novas. O MNE tem instalado o seu QG no hotel King Fahad Palace (ex-Meridien Président) onde, entre copos e garfadas mal esgrimadas, tem recebido numa autêntica roda viva os mais variados e suspeitos contactos, entre eles o advogado de Bubo Na Tchuto, Joãozinho Vieira Có, assim como uma corja de supostos homens de negócios (alguns obscuros) e comissionistas de toda a espécie (chineses, ucranianos, russos, moldavos, E os infalíveis senegaleses... Enfim, toda a espécie e do piorio, porém essencialmente interessados em negócios de extracção de minérios, extracção de madeira exôtica, pescas e venda de combustível).
O desfile de "personalidades" interessadas em expôr os projectos e investimentos para a Guiné-Bissau ao concorrido MN Estranhos. Olhos avermelhados, fruto da ressaca da noite de ontem, o homem lá vai tomando as suas notas e marcando rendez-vous para Bissau a fim de melhor se alinhavar o negócio ou investimento. De premeio na conversa, deslizam-se sempre subtilmente envelopes bem guarnecidos para ajudar o MNE nas suas dispendiosas despesas e outras vícios a que está habituado nas suas passagens por Dakar. Enfim, é a diplomacia da Guiné-Bissau no seu melhor: uma autêntica Mesa di Djila no mercado de Bandim... AAS
... Fórum dos partidos golpistas quer eleições...em 2014
O Fórum dos Partidos Políticos da Guiné-Bissau que apoiam o Governo de transição defende a realização de eleições "com a maior brevidade política", mas considera que as mesmas terão de ocorrer em 2014. Um ano depois do golpe militar que derrubou os governantes eleitos na Guiné-Bissau as eleições deveriam estar já com data marcada, visto que o período de transição foi marcado para terminar em maio. O período de transição foi prolongado entretanto até final do ano, período durante o qual a comunidade internacional quer que se realizem eleições. Num comunicado divulgado hoje, o Fórum, que agrupa a maior parte dos partidos da Guiné-Bissau (a grande maioria com pouca expressão eleitoral), defende que o cronograma das eleições (que ainda não existe oficialmente) "deve de ser extensivo ao ano de 2014".
O comunicado justifica a sugestão afirmando que a época das chuvas começa em maio e prolonga-se até outubro, altura em que não se pode fazer o recenseamento eleitoral. "Os procedimentos no terreno iniciar-se-iam apenas em novembro de 2013 e será que num mês seria possível realizar eleições?", questiona o Fórum. No comunicado, os partidos perguntam ainda quando estará disponível o financiamento externo para as eleições, quando se iniciam as reformas legislativas necessárias, quando é que serão empossados os membros das comissões nacionais e regionais de eleições, e quando é que se inicia o recenseamento eleitoral.
"São estas e mais perguntas que os defensores da realização das eleições em 2013 deveriam de esclarecer ao povo guineense", diz o comunicado, que reafirma a defesa da criação de uma Comissão Multipartidária e Social de Transição. Essa Comissão deverá juntar partidos, sociedade civil e castrense, órgãos de soberania e parceiros internacionais, e destina-se a encontrar "um consenso nacional" para que não se repitam situações de instabilidade no futuro. As competências da comissão, diz o comunicado, não colidiriam com as da Assembleia Nacional Popular, ou a sua substituição ou dissolução. LUSA
BUBO: Joaozinho Vieira Có, está a caminho de Nova Iorque, para preparar a defesa do seu eterno constituinte Bubo Na Tchuto. Viajará com passaporte português... Entretanto, ontem, em Dakar, o ministro dos Negócios Esquisitos Faustino Imbali foi visto num restaurante com duas gajas. Escusado será dizer que saiu de lá de gatas... AAS
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Guiné-Bissau: O país onde “narcotráfico” é um verbo
Quando tudo está calmo na Guiné-Bissau, é presságio de que algo vai acontecer. Bubo Na Tchuto andava calmo e indiferente às acusações internacionais que lhe imputavam os títulos de «Barão da droga» e «Almirante da Cocaína». Para Bubo a Guiné-Bissau era um Estado de Direito e aí sentia-se protegido, também, com todo o direito.
De facto a Guiné-Bissau é um Estado de Direito, mas torto, e também um Estado Falhado. Assim a detenção de Bubo Na Tchuto (juntamente com Papis Djeme, Tchamy Yala, Manuel Mamadi Mané e Saliu Sisse), na sequência de uma operação da DEA (Drug Enforcement Administration), foi uma acção legítima, sendo que os Estados Unidos assumiram a sua autoria, mas contaram com a discreta colaboração de vários Estados e a anuência da ONU que já denunciara a situação.
Deter um ex-chefe de Estado-Maior da Marinha e ex-Combatente da Liberdade da Pátria guineense na Guiné-Bissau pode ser considerado, por alguns, uma acção de ingerência nos assuntos internos do país e uma afronta à sua soberania. Mas não! O motivo alegado que levou à detenção de Bubo Na Tchuto é “conspiração de narco-terrorismo” com "riscos consideráveis para os Estados Unidos e os seus interesses", duas acusações que colocam a operação em concordância com o Patriot Act americano. A anuência da Comunidade Internacional assenta fundamentalmente na participação directa do Almirante no narcotráfico transnacional que é deste modo uma ameaça que ultrapassa as virtuais fronteiras guineenses. Assim, não sendo possível confiar nas instituições judiciais guineenses e não sendo possível também combater eficazmente os produtores nem os consumidores finais provoca-se um golpe num dos elos mais fracos desta cadeia, o insaciável transitário e armazenista.
A detenção de Bubo Na Tchuto é um duro golpe nas teias do narcotráfico na Guiné-Bissau mas não marca o fim do tráfico de droga no país. Um dos factores que facilitou a captura do «Almirante da Cocaína» foi a existência de concorrentes no mesmo negócio e a fidelidade entre traficantes é ténue como um fio de cocaína.
Os clãs concorrentes e sobreviventes do narcotráfico guineense sorriram tremulamente com a detenção de Bubo. Uma parcela significativa do mercado está agora órfã e receptiva à adopção. Mas também engoliram em seco porque desconhecem se os seus nomes constam na lista da DEA. Além disso, a ganância de Bubo Na Tchuto abriu as portas para que o Almirante caísse numa armadilha estrategicamente delineada por falsos narcotraficantes, um precedente que instaurou um clima de desconfiança face a novos fornecedores.
O Ministério Público norte-americano deixou um perfume desta dança dos clãs quando referiu no acto de acusação de Bubo que a DEA dispõe da gravação de uma reunião na Guiné-Bissau entre Mané, Sisse e Garavito-Garcia (narcotraficante colombiano) com «fontes confiden ciais e um representante militar da Guiné-Bissau onde foi discutido a mais-valia de utilizar a Guiné-Bissau como plataforma» no tráfico de cocaína. O mesmo documento refere também que outro militar guineense seria presumivelmente a fonte das fontes confidenciais.
Nos EUA Bubo Na Tchuto não tem a protecção dos seus temíveis fiéis, encontra-se entregue a si mesmo e corre o risco de ver ser-lhe atribuída uma pena de prisão à perpetuidade numa penitenciária.
Durante a audição no tribunal americano, fiel a si mesmo, Bubo Na Tchuto não hesitará em minimizar o seu papel no narcotráfico e para isso revelará a dimensão do envolvimento de militares, governantes, políticos e empresários guineenses no narconegócio. Talvez comece assim a emergir a ponta do iceberg que poderá elucidar, finalmente, os assassinatos do ex-presidente Nino Vieira, Tagme Na Waie, Helder Proença e Baciro Dabó entre vários outros não publicitados, mas também clarificar a proveniência dos meios financeiros que permitiram a vários guineenses ostentarem sinais exteriores de riqueza surrealistas, com veículos novos de grande cilindrada, luxuosas mansões nos bairros de Alto Bandim (onde também residia Bubo Na Tchuto) e Safim, assim como aquelas que vão florescendo na avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria (vulgo Estrada do Aeroporto), na capital, soberbamente equipadas e decoradas num país que é qualificado como dos mais pobres do mundo.
No entanto, as receitas do narcotráfico na Guiné-Bissau serviram também, desde 1998, para pagar o soldo de muitos militares e assim mantê-los precariamente nas casernas e garantir a sua lealdade a alguns chefes castrenses. Apesar das violentas lutas pela “gestão” desses “fundos”, que se traduziram em Golpes de Estado e assassinatos, o desaparecimento desta receita é mais um elemento para prorrogar a instabilidade no país.
Na Guiné-Bissau, apesar dos nomes dos narcotraficantes nacionais e estrangeiros serem sussurrados pelas bocas de todos no mercado de Bandim e na Chapa de Bissau, acusarem publicamente um governante, político, militar ou empresário de envolvimento no «negócio» é um tabu que, se quebrado, pode custar a vida do delator. Com a morte do narcosuspeito todas a vozes revelam, inclusivamente na imprensa, os envolvimentos óbvios do defunto com o tráfico. E foi deste modo postumamente com Nino Vieira, Tagme Na Waie, Helder Proença e Baciro Dabó.
Sem sussurrar o ex-chefe de Estado-Maior da Marinha e ex-Combatente da Liberdade da Pátria poderá ajudar a DEA a compreender a geopolítica e mecânica do narcotráfico na Guiné-Bissau, ou seja, do envolvimento de cartéis bolivianos, das antenas no Brasil e na Venezuela mas também, numa esfera geográfica mais próxima, as rami ficações das narcotransacções no Senegal, Gâmbia, Mali, Guiné Conacri, Nigéria e em outros países da lusofonia, assim como a rede de receptores da cocaína na Europa.
A Guiné-Bissau nunca foi um caso isolado do narcotráfico na África Ocidental. O facto de tornar-se no Estado Falhado modelo, multiplicando os Golpes de Estado e Contragolpes, assim como os assassinatos de personalidade políticas e militares, tornou-se no foco das atenções por excelência para alívio de alguns dos seus vizinhos atingidos pelo mesmo flagelo.
Os guineenses vão começar finalmente a compreender, grama a grama, a razão porque muitos processos se arrastaram eternamente na fase da instrução, porque é que é conveniente que as instâncias judiciais não funcionem, porque é que a polícia judiciária chegara ao ponto de não ter gasolina para os seus veículos, porque é que alguns aeródromos que remontam ao período colonial foram reabilitados e outros construídos num país que não tem ligações aéreas internas, mas também a razão de algumas empresas existirem e outras desaparecerem por artes de magia.
Bubo Na Tchuto, juntamente com os seus quatro “braços direitos”, foi o primeiro «barão» a compreender que o narcotráfico é transnacional mas que a Justiça também pode ser. Uma reflexão que muitos fazem hoje na Guiné e que pode ser um primeiro pequeno passo para que “narcotráfico” deixe de ser conjugado como um verbo.
Rui Neumann/Password Confidential Newsletter
Captura de Bubo Na Tchuto provoca “pânico” interno
A captura de Bubo Na Tchutoe sua extradição para os EUA, a fim de ser presente à justiça norte-americana, provocou um estado descrito como sendo de “pânico”em meios implicados no narcotráfico – na Guiné-Bissau e em países próximos da subregião. Nos últimos dias têm sido notadas comportamentos sintomáticos de precaução por parte de indivíduos supostamente envolvidos no tráfico de droga na Guiné-Bissau.
No planeamento das operações que levaram à captura de Bubo Na Tchuto, mais dois guineenses e dois colombianos, todos acusados de implicação no narcotráfico, o papel mais activo terá sido desempenhado por Russel Hanks nominalmente representante oficial dos EUA em Bissau, na verdade um experimentado oficial da DEA-Drug Enforcement Administration. De acordo com informações suficientemente verificadas, no seu trabalho foi decisiva a acção de uma rede de informadores locais.
A existência de tal rede é motivo acrescidode preocupação entre os implicados locais no narcotráfico. Russel Hanks deixou Bissau em vésperas do desencadeamento das operações. Em 2010 a DEA reforçou o seu dispositivo de acompanhamento do narcotráfico na subregião de África. Foi mesmo activada uma estação em Lisboa – esta com a tarefa de prestar atenção a conexões locais com o fenómeno. Bubo Na Tchuto, CEM da Marinha até 2008, fora em
Abril de 2010 objecto de uma denúncia formal do Departamento do Tesouro do EUA, como implicado no narcotráfico.
O actual CEM da Força Aérea, general Papa Camará, foi igualmente citado. A captura de Bubo Na Tchuto também terá sido calculada para explorar propícios factores de oportunidade política. O narcotráfico é a principal fonte de financiamento do ramo africano da Al Qaeda; o narcotráfico é praticado numa macha do norte que se estende da Guiné-Bissau ao Mali; a Al Qaedae outras organizações criminosas estão a sofrer revezes militares significativos no Mali. AM
Golpe de Estado: o balanço
365 dias depois da tomada do poder pela força das armas, em Bissau, o país continua mergulhado na anarquia, com a tropa a puxar dos galões. Controlam tudo. Da 'presidência' ao 'governo', passando pelas esquinas e ruas da decadente, assustada e triste cidade de Bissau.
- Interrupção abrupta da 2ª volta das eleições presidenciais antecipadas de 2012;
- Controlo total sobre o narcotráfico que desagua da América do Sul;
- Prisões arbitrárias de políticos, de jornalistas, de cidadãos comuns;
- Rapto, espancamento e tortura de civis e militares;
- Fuga do país (sem qualquer data para regressar) de dezenas de cidadãos;
- Assassinato de cerca de 12 cidadãos guineenses rotulados de "rebeldes de Casamança";
- Delapidação descontrolada do erário público entre outros crimes.
Um ano depois:
- O 'governo e presidente de transição' - imposto à força e com total descaramento e desprezo pelo cidadão eleitor da Guiné-Bissau - pela CEDEAO, continua teimosamente no poder, NÃO é RECONHECIDO pela Organização das Nações Unidas, pela União Africana (organização continental da qual o país está expulso), pela União Europeia (o maior parceiro bilateral de cooperação). Até alguns países da própria CEDEAO descartaram o regime de Bissau.
Resta ao Povo da Guiné-Bissau a vã esperança de que os grandes deste mundo lhes estendam a mão. Uma força de paz - e de interposição - deve ser mandatada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. AAS
Grande Horta!
O Representante do Secretário-Geral da ONU na Guiné-Bissau, Ramos-Horta, recorreu à metáfora para responder, quando questionado pelos jornalistas sobre a alegada catalogação de Cabo Verde como um «mau vizinho», pelo Procurador-Geral da República guineense, Abdú Mané. «Quem tem telhados de vidro não deve procurar problemas com vizinhos», disse Ramos-Hora no final do encontro que manteve no início da tarde desta quinta-feira, 11 de Abril, na Cidade da Praia, com o Presidente da República de Cabo Verde.
Embrulhem! AAS
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