segunda-feira, 8 de abril de 2013
domingo, 7 de abril de 2013
12 de abril: Manifestação em Paris
Comunicado da imprensa do Colectivo em Paris: Manifestação no dia 12 abril 2013 frente da GARE DE L’EST – Paris 10, de 15 às 19 horas.
O “Collectif des Ressortissants, Sympathisants et Amis de la Guinée-Bissau” em França, informa toda a diaspora da sua manifestação-Sitting, prevista para o próximo dia 12 de Abril 2013, data do triste acontecimento do golpe de Estado político-militar que meteu fim às eleições presidenciais democráticas na Guiné-Bissau em abril do ano passado.
Objectivo: Protesto para a realização das eleições presidenciais e o regresso de todos os guineense exilados.
A vossa activa e massiva participação é indispensável para atingir os nossos objectivos.
MANIFESTACAO DOS GUINEENSES, SIMPATISANTES ET AMIGOS DA GUINÉ-BISSAU
SEXTA FEIRA 12 ABRIL 2013 ÀS 15H - FRENTE GARE DE L’EST- PARIS 10ÈME
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O diário de Ramos Horta em Bissau
Depois de 12 dias de uma verdadeira maratona de viagens e reuniões – Abuja (Nigéria), Yamoussukra (Costa do Marfim), Dakar (Senegal), Genebra e Mt Pellerin (Suíça), Bruxelas (Bélgica) e Lisboa (Portugal) – regressei a Bissau, no Sábado, dia 9 de Março. Ja estou de volta ha duas semanas, mergulhei logo de novo na realidade da minha missao. Fui escrevendo estas linhas, roubando tempo aqui e acola. E desta vez decidi escrever na lingua de Fernando Pessoa embora o poeta deve e estar a dar voltas no caixao ao saber que estou a invocar o seu nome.
E hoje, Domingo, decidi explorar a cidade de Bissau, sem dizer nada ao Hilário, um argentino muito simpático, um dos seguranças da ONU, que fala bem o crioulo. Ele vai ficar bravo quando souber que sai de casa esta manha, a pé, sem o ter alertado. Além disso eu tinha prometido telefonar caso decidisse sair. Eu nem alertei com tempo os quatro Timorenses que estão comigo pois nao queria que eles por sua vez alertassem o Hilário.
Alias, desde que os politicos-Cardeais la do Vaticano elegeram um Argentino para Papa, o Hilario ficou muito, muito mais babado. Deixou de ver o futebol para ver o Papa Argentino. Eu apostei e rezei por um Africano ou Asiatico.
Esta manha decidi caminhar, explorar o bairro perto de onde vivo sem incomodar o chauffeur da ONU que tem direito a um Domingo de repouso como Deus determinou – Trabalha-se seis dias e reserva-se o sétimo para descanso. Se Deus, o Todo Poderoso que criou o Mundo, ficou cansado ao sexto dia e decidiu tirar ferias o chauffeur da ONU, o Argentino, os Portugueses e Ganenses que velam pela minha segurança também tem direito a repouso.
Tinha eu 7 anos de idade, na Missao Católica de Soibada, quando a minha inocência e mente inquisidora me custaram uma bofetada do Pe. Januário. Perguntei ao bom padre açoriano para me explicar melhor como e que o Santo Deus Todo Poderoso nao criou o Mundo num so dia? E mais: mas Deus também se cansa como nos? Ainda por cima Ele so tinha trabalhado seis dias e meteu ferias! Nos, crianças tínhamos que trabalhar nove meses em Soibada, nao so estudando mas também limpando a horta de milho, cavar mandioca e apanhar lenha para a missão. E so meses depois tínhamos ferias! Deus so trabalhou seis dias e meteu ferias! Nao achei isso justo. O Pe. Januário, normalmente muito simpático, deu-me dois estalos e vi mesmo estrelas! E ameacou-me com o Inferno! E para me livrar do Inferno receitou-me logo um terco e tres atos de contrição. E para garantir mesmo minha segurança, dobrei a receita, como de resto eu fazia sempre antes de dormir; dobrava sempre as orações recomendadas pelo padre. Sentia-me mais seguro caso morresse essa noite! Nunca mais me atrevi a fazer perguntas mesmo quando a curiosidade, as perguntas e duvidas eram muitas.
Claro esta manha nao sai completamente sozinho. O Iso e o Cap. Francisco que estão na mesma vivenda que eu me acompanharam. Mas nenhum Timorense que me acompanha desde Timor-Leste esta armado. Eu dizia a eles que na GB quando ha probemas entram a funcionar bazukas e morteiros; as pistoletas da nossa gloriosa PNTL nao iriam meter medo aos homens do Gen. Indjai e aos alegados baroes da droga. Confio sempre mais no Anjo da Guarda destacado por Deus para olhar por mim.
O Florisberto, Isolino, Ismael Abo e Cap. Francisco sao otimos elementos, muito disciplinados, dedicados, ja conhecem o bairro e fizeram muitas amizades. A Dona Filomena tambem esta aqui comigo. Procurou emprego no MNEC em 2003 quando eu era Ministro. Ela vinha muito chorosa e ofereceu-se para fazer limpeza. Esta comigo desde essa data, muito trabalhadora, timida, educada.
A primeira paragem que fiz foi no Hospital Simao Mendes, a uns 10 minutos a pé da casa. Hesitei entrar porque pensei que algum chefe do hospital poderia ficar zangadíssimo com um estranho a passear pelos corredores do hospital sem ser convidado. Mas decidi arriscar e subi para o primeiro piso. Tinha visitado esse hospital em 2003 e lembro que na altura ja estava muito degradado e agora esta mais maltratado ainda.
Primeiro observei o edifício por fora que parece ter uma estrutura sólida, do antigamente, do tempo portugues. Naquela época parecia que havia melhores construtores e mais gente honesta…em Portugal e pelo mundo fora.
Um cheiro forte de “xixi” me acolheu mal chego ao primeiro piso. Vi o chão sujo, paredes amareladas, do tempo, humidade, chuva e poeira. Espreitei para dentro dos quartos. Neste domingo de manha o hospital parecia estar calmo. Nao vi gente de bata branca, médicos ou enfermeiros em lado nenhum. Claro que deviam estar em outros lugares do hospital a ver seus pacientes.
Medicos Cubanos e nacionais trabalham ali em condicoes extremamente precarias. Ha mais de 30 medicos Cubanos na GB comparados com os 200 que estao em TL. Mas aqui estes Medicos, autenticos missionarios, trabalham e vivem em condicoes extremamente precarias. Pergunto: se Medicins Sans Frontieres, UNICEF e Mother Teresa receberam o Premio Nobel de Paz porque e que a Brigada Medica Cubana nao deveria receber?? A Brigada existe ha mais de 40 anos e ja salvaram dezenas de milhares de vidas em mais de 100 paises!
Francamente o nosso hospital Nacional Guido Valaderes (HNGV), e muito mais moderno, funcional, limpo. Fui visitante muito frequente no HNGV por isso digo que o nosso esta muito, muito melhor, com uns 50 medicos, muito limpo, com bom equipamento e funcionamento. Nao quer dizer que HNGV funciona em perfeição, longe disso! Mas comparativamente com o Hospital Simao Mendes de GB, HNGV passa o teste!
Claro, pergunto sempre: mas porque ninguém, algum amigo, Brasil ou Portugal, ofereceu a reabilitação completa do hospital e equipa-lo? Ja la vão 40 anos desde a independência deste pais! Claro, nao se pode exigir tudo de Portugal que ja muito tem feito embora nem sempre sabe fazer bem. Os Portugueses sao gente muito generosa. Foram escorraçados das colónias em 1974-75 mas nao guardaram rancor e nao viraram as costas. Apesar de que Portugal nao e uma Alemanha rica, nunca regateou ajuda solidaria as suas ex-colónias. E os colonizados de seculos, raptados e acorrentados em navios-escravos rumo ao Brasil também nao guardam rancor dos seculos de colonização. O africano realmente tem um coração enorme.
Confesso, a minha visita nao programada ao hospital nao durou sequer 20′. Sai e continuamos o passeio. Pelo caminho alguns Bissau-Guineenses criaram-me a ilusão de que eu estava em Dili pois muita gente me me cumprimentava com aquele sorriso limpo do Bissau-Guineense, sincero, inocente.
Um pequeno ajuntamento se fez ali a uns metros do hospital quando alguém me saudou; parei e houve apertos de mão e mais gente se aproximou. Desejaram-me “boas vindas” a sua terra. So queriam que me sentisse “bem-vindo” na sua casa.
Continuei a caminhada, apreciando as casas da época colonial, a maioria delas degradadas, nao habitáveis, outras habitáveis. Fez-me pensar que se houvesse dinheiro para restaurar todas as casas da época colonial, Bissau poderia ser um bom destino turístico.
Chegamos perto do porto de Bissau. Ali apresentaram-se algumas vendedoras de camarão, peixe e ostras. Os camarões eram enormes, tentadores. Comprei também alguma banana e papaia mas o meu interesse estava no camarao! Comprei o suficiente para durar semanas, comer até enjoar! Nao sei quanto paguei. Mas mais barato que em Dili onde eu era sempre vitima dos vendedores pé descalço, pois por ser eu, “Presidente dos Pobres”, tinha sempre que pagar mais, muito mais.
Ah em Timor-Leste nao temos camarão assim. A nao ser numa lagoa em Natarbora. No nosso patriotismo provinciano o Timorense que vai para terra estrangeira diz sempre que o que temos e sempre melhor!
Lembrei-me de um Timorense, exilado em Moçambique nas decadas de 60-90, pelo seu envolvimento no motim anti-Portugal de 1959. Para la foi deportado pela PIDE e por la ficou. Creio que a PIDE se esqueceu dele mas o pobre irmão Timorense nao tinha meios para regressar a sua terra bendita no outro lado do Indico. O seu ganha-pão era um pequeno negocio de venda de carvão de cozinha. E declarava solenemente que o carvão de TL era muito melhor que o de Moçambique.
Segundo esse exilado que se fixou em Terras Mocambicanas tudo que era Timorense era sempre “mais” que o Moçambicano. Uma vez, alguém brincou com ele e disse: “Ah mas o Moçambicano e mais preguiçoso que o Timorense”. Fiel aos seus, respondeu muito orgulhosamente: “Nao! Os Timorenses sao mais preguiçosos!” Logo a seguir deu conta de que este “mais” nao abonava os Timorenses e esclareceu: “Ah nao nao nao. O Moçambicano e mais preguiçoso”.
Outro patriota que conheci foi o Presidente Fradique de Menezes, de Sao Tomé e Príncipe, pais-miniatura, de ilhas paradisíacas, segundo dizem os visitantes. Fradique era homem de negocios bem sucedido, poliglota, charmoso e com grande sentido de humor. Super-patriota, visitando TL quando eu era Ministro de Negócios Estrangeiros, dizia que as bananas, laranjas, cafe, peixe, de STP eram muito melhores e bem maiores que os de TL. Nao havia nada que STP nao tivesse que nao fosse maior e melhor! Sentados os dois num restaurante a beira mar em Dili, Fradique de Menezes dizia como o mar de STP era mais azul e a areia mais fina!
Feitas as compras O Cap. Francisco meteu-se num taxi e regressou a casa para refrigerar os camarões. Continuei o passeio com o Iso.
Ali perto do porto vi um senhor europeu, de porte pequeno, cabelos brancos, ar simples, que a certa distancia me observava, hesitando se devia ou nao abordar-me. Achei-o com ar simpatico e cumprimentei-o. Nascido na GB, considera-se Guineense e passa o ano entre Portugal e GB. Vem a GB quando em Portugal começa a arrefecer e aqui passa alguns meses do ano. Pedi seu contato e prometi convida-lo quando eu decido saborear os camarões. Entretanto, perdi o seu contato. Pena.
Retomei a caminhada pelas ruas esburacadas, de terra vermelha, com pouca limpeza, sempre com algum cheiro desagradável. Vi uma casa de cabeleireiro, tomei nota para daqui a um mês quando precisar.
Passamos em frente a uma discoteca e o Iso disse que ele e o Loro já vieram a esse local; disse ele, o lugar era muito simpático, tranquilo, sem desordem, como em Dili, disse ele onde havia sempre pancadaria. Nunca vou a discotecas, nem em TL. Nos anos 70 ou 80 eu cheguei de ir uma ou outra vez a algumas discotecas bem famosas da epoca como o Studio 54. Mas nos ultimos 10-20 anos raramente falto a uma opera em Sydney, Berlim ou Nova Iorque. Numa ida a Viena ha dois anos a Sandra Pires, cantora de opera e pop Timorense, que fez carreira na cidade de Strauss levou-me a uma opera. Mas o jet-leg venceu e tive que abandonar a Sandra Pires ao intervalo. Ela nao deve ter ficado muito impressionado.
Em Lisboa, a julgar pelo que ouvi em encontros que tive na semana passada, a situação de direitos humanos e “tenebrosa”, o medo se instalou, ha violações frequentes, sistemáticas, tortura. E este pais e o unico “Narco-Estado” do Mundo.
Mas a agencia onusina UNODC, sediada em Viena e com um pequeno escritório regional em Dakar, progenitora do termo “Narco-Estado” e da diabolizacao da Guine-Bissau, nao conseguiu convencer-me de que todos os agentes do Estado estão directamente implicados no narco-trafico.
O problema existe em muitos paises da África como em quase toda a Ásia, América latina, em maior ou menor dimensão. Nao existe um cartel originario deste prqueno pais e o consumo da droga aqui ainda e muito baixo. Quando falei com um diplomata ocidental baseado em Dakar e conhecedor de toda a região, ele nao validou as alegações de UNODC e disse que o consumo da droga na GB aumentou “dramaticamente” porque havia “cinco consumidores e agora aumentou para 10; isto representa 100% de aumento mas nao deixam de ser apenas 10 pessoas”.
A Guine-Bissau nao produz droga e o consumo e baixo. Ha sim grupos que funcionam como correio e pelo trabalho recebem umas migalhas e já ficam muito contentes. Individuos de outras nacionalidades – Colombianos, Bolivianos, Peruanos, Libaneses, Marroquinos e Nigerians – os profissionais do negocio. Face a eles, o Bissau-Guineense e um amador que se contenta com migalhas mas que fica com a fama!
O maior problema da GB e a pesca ilegal em que sobressaem os Europeus. A rapina das riquezas marinhas dos povos da costa ocidental africana faz-se com total impunidade mas os Europeus nao falam muito deste flagelo porque os salteadores sao grupos europeus.
Dentro de dias escreverei mais. Mas em Ingles. Qualquer dia ja escrevo em crioulo. Rezo por todos, pela vossa saude. Rezei muito pela Ligia, atacada pelo cancro em tantas frentes! Mas falei muito a serio com Deus e ela esta a recuperar bem! O Jose Alberto tambem foi atacado pelo cancro. Tambem rezei muito, falei a serio com Deus, e as ultimas noticias apontam para primeiros sinais de melhoria.
Jose Ramos-Horta
OBSERVAÇÃO: ARTIGO E FOTOS RETIRADOS DA PÁGINA DE DR. JOSÉ RAMOS-HORTA"
sábado, 6 de abril de 2013
EUA tem Papa Camará na mira: Depois de Bubo Na Tchuto ter caído no engodo norte-americano, seguir-se-á outro militar, indiciado ao mesmo tempo por Washington de estar ligado ao narcotráfico. Continua no poder, responde pelo nome Ibraima Papa Camará e é... chefe do Estado-Maior da Força Aérea da Guiné-Bissau. Talvez o apanhem...no ar! AAS
S.O.S.: ... Afinal, o 'governo' guineense (de acordo com as escutas telefónicas feitas pela DEA dos Estados Unidos da América) servia-se do dinheiro da cocaína para...pagar salários dos funcionários do Estado!? Quem acode a Guiné-Bissau? Sr. Ramos-Horta, leu bem? Ouviu melhor? Uma força de interposição, e já!, para salvar o Povo da Guiné-Bissau!!! AAS
A armadilha perfeita
Confirma-se, segundo Washington Post e difundido pela maioria dos meios de comunicação internacionais, Bubo Na Tchuto foi capturado pelas forças anti-trafico dos EUA (DEA) nas aguas territoriais internacionais. A captura foi consumada por agentes da DEA que se fizeram passar por proprietarios e intermediarios de dezenas de toneladas de droga que pretendiam stocar em Bissau para posterior encaminhamento para a Europa e os Estados Unidos.
Foi ja presente perante o Tribunal Federal com mais dois dos seus cumplices, nomeadamente Papis Djémé e Ntchama Yala (sobrinho de Kumba Yalá), braços direito do contra-almirante e igualmente indiciados pelo mesmo crime. Os outros dois estão sujeitos a acusasões de outra natureza e gravidade. Essa operação foi montada na maior discrição pelos agentes federais americanos que minotoravam as acões de BNT.
Concomitante a esta detenção duas outras pessoas foram detidas na Colômbia por um braço dessa organização anti-droga americana. Ambos são colombianos e ja estiveram em Bissau, morando em casa de um destacado membro do governo de transição e fervoroso defensor do regime. Também ligado a estas detenções dois notorios narcotraficantes foram detidos num pais da Africa Ocidental, cujo nome não indicaram. Fonte da DC indicou-lhe que se trata da Guiné-Conakry e que os detidos são igualmente militares que recentemente estiveram Dakar com um alto oficial da armada guineense para abertura de uma conta bancaria ligada a esta operação em que cairam na armadilha. Segundo essa fonte da DC, contavam receber na conta aberta mais de 5 milhões de dolares.
A acusasão contra BNT, inclui, trafico de droga internacional, homicidio qualificado contra um agente federal, trafico de armas (lança misseis e roquetes anti-carro) vendidos aos narcotraficantes colombianos e à AQMI e à Al Qaieida). As acusasões contra Papis Djémé e Ntchama Yala e um pouco diferente, pois não estão ligados ao homicidio do agente da DEA.
As autoridades americanas estão na posse de diversas provas, entre elas gravações audio e video gravados na Guiné-Bissau onde BNT e outros oficiais de alta patente (cujos nomes não divulgaram para não complicar as operações ainda em curso) falavam claramente em vendas de droga e de armas. Todos esses oficiais são do topo da hierarquia militar e estão no activo. BNT pedia 1 milhão de euros por cada 1.000 kg de droga descarregada em territorio Guineense. Esse oficial da Marinha Guineense, a serem provadas as acusasões contra ele, sera condenado a prisão perpétua.
1 milhão de dólares por tonelada
Na Tchuto terá exigido um milhão de dólares por cada tonelada de cocaína recebida na Guiné-Bissau
Lusa
06 Abr, 2013, 11:40
O ex-chefe da Marinha da Guiné-Bissau José Américo Bubo Na Tchuto, acusado de conspirar para traficar droga, detido em Nova Iorque, cobraria um milhão de dólares norte-americanos por cada tonelada de cocaína da América do Sul recebida na Guiné-Bissau. De acordo com um comunicado, divulgado na noite de quinta-feira, pela agência de combate ao tráfico de droga dos EUA (DEA, na sigla em inglês), Bubo Na Tchuto "ofereceu-se para usar a empresa que detinha para facilitar o carregamento de cocaína para fora da Guiné-Bissau" e exigiu uma `taxa` de um milhão de dólares americanos por cada tonelada recebida.
A oferta e a exigência foram feitas, segundo a DEA, em encontros, gravados desde o verão passado, na Guiné-Bissau, entre Bubo Na Tchuto, Papis Djeme e Tchamy Yala - mais dois arguidos, cuja nacionalidade não foi divulgada - e agentes ao serviço da DEA que se fizeram passar por intermediários de traficantes de droga baseados na América do Sul. Numa discussão em que foi abordado o envio de toneladas de cocaína provenientes da América do Sul para a Guiné-Bissau por mar, "Na Tchuto observou que o governo da Guiné-Bissau estava debilitado devido ao recente golpe de Estado [de abril de 2012], pelo que era uma boa altura para a transação da cocaína proposta", refere o texto da DEA.
Em encontros posteriores com os supostos intermediários, Na Tchuto, Djeme e Yala alegadamente concordaram ajudá-los, recebendo um carregamento de duas toneladas de cocaína que seria escondida num armazém para ser distribuída na Europa e nos Estados Unidos. A 17 de novembro, lê-se no comunicado, os três arguidos estiveram com dois infiltrados ao serviço da agência e "discutiram a importação de 1.000 quilogramas de cocaína para os Estados Unidos". Na Tchuto, capturado na quinta-feira em águas internacionais perto de Cabo Verde, e Djeme e Yala vão voltar a ser presentes ao juiz Richard Berman no próximo dia 15.
O processo envolve um total de cinco arguidos incluindo, além de Na Tchuto, Djeme e Yala, Manuel Mamadi Mane e Saliu Sisse - cuja nacionalidade não é identificada -, a somar à detenção, na Colômbia, de Rafael Antonio Garavito-Garcia e Gustavo Perez-Garcia, ambos colombianos e alvos de `alertas vermelhos` emitidos pela Interpol. Segundo o mesmo documento, Mane e Sisse também mantiveram contactos pessoais, por telefone e por correio eletrónico, com elementos ao serviço da DEA, que se fizeram passar por representantes e/ou intermediários das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), gravados em áudio ou vídeo durante vários meses.
"Durante os encontros na Guiné-Bissau, encetados em junho de 2012 e que continuaram até novembro, Mane, Sisse, Garavito-Garcia e Perez-Garcia, concordaram receber e armazenar carregamentos de várias toneladas de cocaína recebida ao largo da costa da Guiné-Bissau", dependentes de um eventual envio para os Estados Unidos, onde seriam vendidos com as receitas a reverterem a favor das FARC, explica o comunicado sobre a operação. Mais tarde, os arguidos alegadamente acordaram que parte fosse utilizada para pagar a funcionários do Governo da Guiné-Bissau de forma a garantir uma passagem segura da droga através do país. "Também durante os encontros, Mane, Sisse e Garavito-Garcia aceitaram providenciar a compra de armas para as FARC, incluindo de mísseis terra-ar, importando-as para a Guiné-Bissau" como se fossem para uso nominal do exército do país africano.
Num outro encontro, também gravado, os três arguidos, agentes encobertos da DEA e um representante do exército da Guiné-Bissau reuniram-se para discutir os benefícios que a Guiné-Bissau obteria por servir de ponto de trânsito para a cocaína proveniente da América Latina com destino aos EUA, bem como a natureza das armas a facultar às FARC, refere o comunicado. Mane e Sisse vão ser presentes ao juiz Jed Rakoff na próxima terça-feira, dia 09. Garavito-Garcia e Perez-Garcia encontram-se atualmente sob custódia das autoridades judiciais daquele país sul-americano, aguardando pelo processo de extradição para os EUA.
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Ramos-Horta alerta: prisão de Bubo serve de alerta
O representante da ONU na Guiné-Bissau disse hoje que a prisão do antigo chefe da Armada pode servir para que políticos e militares reflitam sobre como é que um veterano de guerra acaba numa cadeia nos Estados Unidos.
O antigo chefe da Armada da Guiné-Bissau Bubo Na Tchuto foi capturado na quinta-feira em águas internacionais perto de Cabo Verde por uma brigada de combate ao tráfico de droga norte-americana. Bubo Na Tchuto era procurado pelos Estados Unidos por alegado envolvimento no tráfico internacional de droga, sobretudo cocaína oriunda da América do Sul.
Bubo: assassinato de agente da DEA e tráfico de droga
Russel Hanks, o encarregado de negócios (obscuros) da embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Dakar, tem sido presença assídua na Guiné-Bissau nos últimos tempos. Essa presença, tornou-se particularmente mais visivel e intensa no periodo que antecedeu o golpe de estado de 12 de abril prolongando-se até a esta data. Russel esteve de novo em Bissau na semana passada.
O último episódio do forte envolvimento desse diplomata de causas pouco claras a favor do regime golpista de Bissau, foi o seu forte engajamento conjuntamente com senador Carson no lobby pro-regime para tentar fazer representar a Guiné-Bissau pelo actual presidente nomeado pela CEDEAO na última Assembleia Geral das Nações Unidas em detrimento das autoridades guineenses legitimamente eleitas e reconhecidas pela esmagadora maioria da comunidade internacional com destaque para a ONU, organização anfitriã do evento. O referido lobby contou até com a estranha e inusitada adesão do governo dos EUA ao lado das pretensões dos golpistas, mas deu em nada, pois foram humilhados, não chegando sequer a ter acesso às instalações da ONU.
Na verdade, existem efectivamente razões de interesse muito fortes nesse alinhamento de posições com o regime golpista de Bissau. Segundo fontes seguras e dignas de crédito, a razão de ser da presença dessa polémica figura da diplomacia americana ao lado dos militares golpistas da Guiné-Bissau, particularmente do general Antonio Injai, tem um alvo muito particular: o acossado Contra Almirante, José Américo Bubo Na Tchuto, ex-chefe do estado-maior da armada guineense.
De acordo com a mesma fonte, os EUA tem um particular interesse em ajustar contas com o José Américo Bubo Na Tchuto, pois além de ser reconhecido (e acusado) pelo governo dos Estados Unidos como um perigoso barão da droga da Costa Ocidental africana, os EUA acusam-no ainda de ter também ligações com algumas celulas da AQMI instaladas na Mauritânia, na Guiné-Conakry, no Mali e na Gâmbia, onde, recorde-se, Bubo se refugiou quase um ano para depois regressar clandestinamente e preparar o golpe, entretanto falhado, de 1 de abril.
Sobre este facto, convém lembrar o episódio dos três mauritanianos, entre eles Sidi Ould Sindya, perigosos terroristas islâmicos que assassinaram barbaramente um grupo de turistas franceses na Mauritânia. Depois de detidos pelas autoridades do seu pais, esses terroristas consiguiram evadir-se procurando o território guineense como refúgio, fiando-se na desestruturação, inoperância e estado de corrupção que mina toda a estrutura securitária desse pequeno mas instável país da África Ocidental. Porém, contrariamente ao que pensaram os fugitivos, eles foram identificados e detidos pelas autoridades guineenses, com a colaboração dos serviços secretos americanos, franceses, senegaleses e também guineenses, sendo entregues à custodia das autoridades nacionais de então.
Posteriormente esses três terroristas islâmicos sumiram misteriosamente das celas guineenses, sem que as autoridades de então pudessem dar uma resposta convincente sobre esse misterioso "desparecimento". Hoje, sabe-se que esses terroristas foram retirados das celas a mando e pelos homens de Bubo Na Tchuto de quem passaram a ter protecção e garantia de segurança. Essa operação valeu a Bubo Na Tchuto um ganho de quase 3 milhões de dolares, aos quais se juntariam mais 2 milhões caso os conseguisse tirar da Guiné-Bissau.
Contudo, o mais grave nessa história vem depois. O governo norte-americano, ciente da perigosidade desses elementos, envia um dos seus elementos mais válidos e cotados da sua estrutura da DEA em África para seguir de perto e investigar esse caso. Na sua acção de seguimento aproximado ao chefe do grupo, Sidi O. Sidinya, o agente da DEA foi surpreendido pelos homens de Américo Bubo Na Tchuto. Detido na própria casa do Contra Almirante, foi espancado tentando tirar-lhe informações sobre a razão da sua presença nessas paragens, mas não cedeu. Mais tarde, convencido da desatenção dos guardas, tenta a fuga, mas teve pouca sorte: foi recapturado e morto a catanada pelos homens de Na Tchuto.
Mas, em tudo isso, uma marca estranha nessa morte chama a atenção dos norte-americanos. O seu agente foi, provavelmente antes de sucumbir aos golpes de catana, degolado... um sinal de vingança arabo-islamico contra os infiéis... É a marca da AQMI, sinal de que Sidi Ould Seidyna estava com os homens do Almirante aquando da terrivel morte do seu agente (nota: depois de colocados em Uaque - a cerca de 40 km de Bissau e a menos de 20 de Mansoa - por Bubo Na Tchuto, eles foram recapturados com a ajuda dos seriços secretos norte-americanos e reenviados para a Mauritânia).
Perante estes factos, o governo norte-americano por um lado vê Bubo Na Tchuto como um reconhecido e temido barão da droga, e por outro como um perigoso colaborador da AQMI. Enfim, os EUA estão convencidos da participação de Bubo Na Tchuto, dos seus homens e de um dos terroristas da AQMI na morte de um dos seus melhores agentes na África Ocidental (omiti-se deliberadamente o nome do agente do DEA morto na Guiné-Bissau).
Em resumo, a conivência e empatia que alimenta a relação Russel/Antonio Injai, tem uma razão clara e perfeitamente perceptivel: conseguir, por conta e risco dos EUA, a detenção e entrega ao seu governo do Almirante Bubo Na Tchuto.
A apresentação dessa razão importará naturalmente uma outra questão quase por instinto: porque razão é que o governo dos EUA está a colaborar com o golpista António Injai, se publicamente já foi afirmado pelas próprias autoridades dos Estado Unidos de que Antonio Injai é, também hoje, um poderoso e influente barão da droga de toda a África Ocidental, isto, para além de estar intrinsicamente ligado ao assassinato do antigo Presidente João Bernardo Vieira (Nino) - segundo afirmações públicas recentes da própria Secretaria de Estado americana Hillary Clinton. Assim afirmou Hillary, dizendo que os EUA não poderiam aceitar nunca a nomeação de Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, uma pessoa que matou o Presidente do seu país. Essa declaração foi suficientemente difundida em toda a imprensa internacional.
A resposta é simples para o governo norte-americano: o Contra Almirante José Américo Bubo Na Tchuto, para além de ser um narcotraficante à escala mundial (a acusação é deles) e sob alçada das suas autoridades judiciárias, participou com os seus homens na morte de um dos seus agentes em missão do governo americano, e para eles, Antonio Injai, o senhor de Bissau, é a unica pessoa que poderá ajudar na captura de Bubo Na Tchuto e entregá-lo à justiça norte-americana para ser julgado pelos crimes de que é acusado.
E pergunta-se: será que Antonio Injai ficará por lá sem que nada lhe aconteça ?. Não. Pensam os americanos que Antonio Injai será levado pelos acontecimentos que criou e pelos que inevitavelmente se seguirão, ou que, em momento oportuno, ultrapassado a fase Bubo Na Tchuto, terão o tempo de lhe fazer a folha. António Aly Silva
De saudar
O anúncio, ontem à noite, da detenção do almirante José Américo Bubo Na Tchuto, por agentes norte-americanos encarregados do combate ao narco-tráfico, foi uma autêntica bênção para as populações da Guiné-Bissau, uma vez que se trata de um dos elementos mais desestabilizadores do país, a par do actual Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general António Indjai. Apontado já há três anos pela Administração Obama como um dos grandes narco-traficantes da África Ocidental, o almirante Bubo Na Tchuto, antigo Chefe do Estado-Maior da Armada, que disputava a Indjai a liderança de todos os militares guineenses de etnia balanta, foi finalmente detido, juntamente com quatro outras pessoas, em águas internacionais, muito perto de Cabo Verde.
Esta detenção de um dos homens mais ambiciosos e perigosos da Guiné-Bissau pode ser um sério aviso às pessoas sem escrúpulos que da Venezuela, da Colômbia e de outros territórios latino-americanos procuram fazer chegar drogas à Europa, valendo-se para isso de regimes africanos fracos ou que não dispõem de meios para controlar a circulação de cocaína e de outros produtos igualmente desestabilizadores. Ao encaminharem José Américo Bubo Na Tchuto para as ilhas de Cabo Verde, com as quais Washington mantém um excelente relacionamento, os agentes norte-americanos demonstraram que acordaram tarde, mas finalmente acordaram, para uma autêntica cruzada internacional que é necessário fazer contra os narco-traficantes que usam o Senegal, a Gâmbia, a Guiné-Bissau e a República da Guiné para o seu desejo de inundar de droga a Europa Ocidental.
Bubo Na Tchuto, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Ibraima Papa Camará, e muitos outros militares guineenses têm sido suspeitos de fazer narco-tráfico, o qual até aumentou substancialmente desde que há um ano António Indjai deu um golpe de estado, impedindo a segunda volta de umas presidenciais que iriam levar à chefia do Estado o então primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC. A constante intromissão de militares corruptos e permeáveis ao narco-tráfico na vida política da Guiné-Bissau tem sido uma das grandes pragas de um país muito frágil, onde nem sequer um quarto da população se encontra devidamente alfabetizada ou está civicamente preparada para resistir a toda uma série de manobras ilegais que se têm verificado ao longo de décadas.
Maldita cocaína
O jornal The New York Times chegou a considerar o que se verificou faz agora um ano como “um golpe da cocaína”; ou seja, uma jogada avançada dos narco-traficantes para melhor controlarem o país, onde existem numerosos pistas de aterragem e dezenas de ilhas sem o menor controlo. “Dizem que sou um narco-traficante. Se têm provas, apresentem-nas”, afirmou há tempos, em ar desafiador, o general António Indjai, que mantém um estilo de vida muito superior ao que permitem os seus proventes de Chefe do Estado-Maior de umas Forças Armadas que se queixam de serem muito pobres. O Presidente interino Manuel Serifo Nhamadjo e o Governo de Transição surgem neste contexto como uma mera fachada de legalidade, num quadro dominado por militares como Bubo Na Tchuto, Papa Camará e António Indjai, não se tornando pois possível desenvolver um ambiente político mais saudável enquanto toda esta camada castrense não passar definitivamente à reforma.
Só com a ida para a cadeia de muitas pessoas do jaez de José Américo Bubo Na Tchuto é que toda uma frota de bimotores deixará de sobrevoar as bolanhas da Guiné-Bissau e a quietude idílica das ilhas Bijagós, muitas das quais não são habitadas. Muito condescendente, o novo representante local das Nações Unidas, José Ramos-Horta, não tem querido dar toda a devida importância a este problema gravíssimo do narco-tráfico, que tem feito com que a Guiné-Bissau adie por demasiado tempo a exploração dos recursos naturais em que é rica; tanto em terra como no mar.
Se a ONU é demasiado frouxa, ou se acaso se encontra manietada por excessos burocráticos, ao menos que haja alguém, seja onde for, que seja capaz de libertar as populações guineenses das múltiplas pragas que sobre elas se têm abatido.
Jorge Heitos
EXCLUSIVO DC: Quem são as pessoas que foram presas com o Bubo Na Tchuto?
A surpresa maior para os militares, foi a presença de uma mulher (de quem ditadura do consenso desconhece, por enquanto, o nome) no iate de bandeira panamiana. Tchamá Yalá, militar, afecto à Marinha de Guerra; Papis militar de etnia felupe e braço-direito de Bubo na Marinha; Vasco, igualmente da Marinha estão entre os detidos na operação desencadeada pela DEA - Drug Enforcement Agency, a agência norte-americana de combate ao tráfico de droga. AAS
quinta-feira, 4 de abril de 2013
... A medalha que foi vendida ao príncipe saudita
...não cumpriu nenhuma formalidade. A medalha Amilcar Cabral foi vendida por 2 milhões e quinhentos mil dólares ao príncipe Al Waleed Bin Talal Al Saoud - a 25ª fortuna mundial. O falecido Presidente da República, Malam Bacai Sanhã, recebeu 2 milhões de dólares, e o filho 'Bacaisinho' 500 mil euros, tendo entregue 200 mil euros ao Djana. A medalha foi entregue no Hotel Jorge V, que é propriedade do príncipe, no ano de 2010. AAS
Bubo nas mãos dos EUA
O ex-chefe de Estado Maior da Armada da Guiné-Bissau, Bubo Na Tchuto, terá sido preso pela Polícia Judiciária cabo-verdiana, no Porto da Palmeira, na Ilha do Sal, numa embarcação de bandeira do Panamá. A armadilha foi montada pelos EUA. AAS
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