segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Maravilhoso 1973*
Que isto fique bem claro: se, por exemplo, me for permitido escolher um sítio para nascer novamente (não sei é em que circunstâncias isto pode acontecer...) não hesitaria um nanosegundo: a Guiné-Bissau. E de preferência no Quebo. Não trocaria este País por nenhum outro.
Comemorámos mais um aniversário da nossa independência – o 38º. Eu, para ser sincero, não tenho motivos nenhuns para comemorar, tirando o facto de continuar vivo, a ver e a rir das tropelias e dos malabarismos que se fazem para, dizem, sairmos deste lamaçal curiosamente (ou não) por nós criado e onde nos atolámos desde há muito. Pior do que tudo isto é não sabermos como sair do lodo. Tendemos a criar mais lama sobre a... lama!
Mas, de que independência estamos a falar quando falamos em 38 anos? Da nossa, claro. Sim, mas a nossa independência significará tudo menos independência. Somos dependentes em quase tudo; continuamos, orgulhosamente sós, com os nossos fantasmas. Fantasmas que há 38 anos afrontam tudo e todos, despejando um ódio que ninguém sabe donde saiu - se das entranhas ou das profundezas do nosso ser.
Aqui, neste País, tudo o que se faz de realizações fica limitado ao nosso próprio perímetro: pequeno, bolorento, preto-e-branco e às vezes cinzento. Um perímetro partilhado, ainda assim, por muito poucos. Isso forjou-me a têmpora – e é nessa minha quase-solidão que se forjou aquilo que muitos apelidam de coragem, outros de loucura. Isto parece uma espécie de panóplia em que não se pensa mais nada, que se tem em cima sem sequer se dar conta disso. E eu? Eu vou em frente, faço o que tenho a fazer, o resto não interessa para nada.
Por cá, somos desfolhados lentamente, uma folha por dia, até ao fim. Até se ficar nú. Às vezes até parece que as coisas que (muito) poucos de nós combatemos não existem, que é apenas um delírio na nossa mente. É um estado de espírito que não podemos permitir-nos. É um risco, baixar-se a guarda. Há que estar atento, e eu faço por isso.
Preservo-me e sei como. Nesta inútil batalha em que tenho a certeza de reencontrar o papel de derrotado há algo que não devo descurar. E saber. Tenho a certeza absoluta – pelo que me chega - que estou a ser visto, ando a ser vigiado. Mas não conseguem monitorar-me. Aqui, tudo tornou-se loucura e obsessão. Aprendi, assim, a reconhecer até aquela raiz que penetra na terra nos olhares de quem decidiu olhar de frente certos poderes, ainda que saiba as consequências.
Há que encontrar algo que faça carburar o País. Qualquer coisa. O Ultra-nacionalismo, o anarquismo, a desobediência civil, eu sei lá que mais. Qualquer coisa, mas não - nem por sombras! - um cabide onde nos pendurarmos a comer o pó dos dias e à espera de dias piores...
(*) Maravilhoso, mas com sabor a fel.
António Aly Silva
Comemorámos mais um aniversário da nossa independência – o 38º. Eu, para ser sincero, não tenho motivos nenhuns para comemorar, tirando o facto de continuar vivo, a ver e a rir das tropelias e dos malabarismos que se fazem para, dizem, sairmos deste lamaçal curiosamente (ou não) por nós criado e onde nos atolámos desde há muito. Pior do que tudo isto é não sabermos como sair do lodo. Tendemos a criar mais lama sobre a... lama!
Mas, de que independência estamos a falar quando falamos em 38 anos? Da nossa, claro. Sim, mas a nossa independência significará tudo menos independência. Somos dependentes em quase tudo; continuamos, orgulhosamente sós, com os nossos fantasmas. Fantasmas que há 38 anos afrontam tudo e todos, despejando um ódio que ninguém sabe donde saiu - se das entranhas ou das profundezas do nosso ser.
Aqui, neste País, tudo o que se faz de realizações fica limitado ao nosso próprio perímetro: pequeno, bolorento, preto-e-branco e às vezes cinzento. Um perímetro partilhado, ainda assim, por muito poucos. Isso forjou-me a têmpora – e é nessa minha quase-solidão que se forjou aquilo que muitos apelidam de coragem, outros de loucura. Isto parece uma espécie de panóplia em que não se pensa mais nada, que se tem em cima sem sequer se dar conta disso. E eu? Eu vou em frente, faço o que tenho a fazer, o resto não interessa para nada.
Por cá, somos desfolhados lentamente, uma folha por dia, até ao fim. Até se ficar nú. Às vezes até parece que as coisas que (muito) poucos de nós combatemos não existem, que é apenas um delírio na nossa mente. É um estado de espírito que não podemos permitir-nos. É um risco, baixar-se a guarda. Há que estar atento, e eu faço por isso.
Preservo-me e sei como. Nesta inútil batalha em que tenho a certeza de reencontrar o papel de derrotado há algo que não devo descurar. E saber. Tenho a certeza absoluta – pelo que me chega - que estou a ser visto, ando a ser vigiado. Mas não conseguem monitorar-me. Aqui, tudo tornou-se loucura e obsessão. Aprendi, assim, a reconhecer até aquela raiz que penetra na terra nos olhares de quem decidiu olhar de frente certos poderes, ainda que saiba as consequências.
Há que encontrar algo que faça carburar o País. Qualquer coisa. O Ultra-nacionalismo, o anarquismo, a desobediência civil, eu sei lá que mais. Qualquer coisa, mas não - nem por sombras! - um cabide onde nos pendurarmos a comer o pó dos dias e à espera de dias piores...
(*) Maravilhoso, mas com sabor a fel.
António Aly Silva
Recomenda-se, não se recomenda
Foi um Presidente da República dançarino, aquele que se viu no Azalai Hotel, na festa 'oficial' do trigésimo oitavo aniversário da independência da Guiné-Bissau.
Malam Bacai Sanha dancou algumas músicas, e esteve muito bem disposto. Conversou animadamente com alguns convidados e até se lhe ouviu uma anedota - e que a minha fonte, infelizmente (para mim) não quis revelar.
Contudo, houve várias manchas no que toca à festa nacional. No spot televisivo da 'vossa' televisão (do PAIGC) alusivo ao 24 de Setembro - apareceram vários e belos momentos da vida vivida em plena guerra por homens e mulheres guineenses.
Porém, de Jõao Bernardo 'Nino' Vieira, que leu a proclamação do Estado da Guiné-Bissau, nem uma sombra que fará imagens. Do próprio Presidente da República, Malam Bacai Sanha, não se ouviu uma referência ao assassinado Presidente - isto enquanto combatente da liberdade da Pátria, e chefe de Estado. Dá pena. AAS
Malam Bacai Sanha dancou algumas músicas, e esteve muito bem disposto. Conversou animadamente com alguns convidados e até se lhe ouviu uma anedota - e que a minha fonte, infelizmente (para mim) não quis revelar.
Contudo, houve várias manchas no que toca à festa nacional. No spot televisivo da 'vossa' televisão (do PAIGC) alusivo ao 24 de Setembro - apareceram vários e belos momentos da vida vivida em plena guerra por homens e mulheres guineenses.
Porém, de Jõao Bernardo 'Nino' Vieira, que leu a proclamação do Estado da Guiné-Bissau, nem uma sombra que fará imagens. Do próprio Presidente da República, Malam Bacai Sanha, não se ouviu uma referência ao assassinado Presidente - isto enquanto combatente da liberdade da Pátria, e chefe de Estado. Dá pena. AAS
domingo, 25 de setembro de 2011
Vida fodida
A vida, neste caso, tem um nome: ironia. A declaração da União Africana apoiando o Conselho Nacional líbio de Transicao (CNT) está cheia, digamos que, de... ironia. Reparem bem nesta prosa "A UA apoia o CNT ... que venceu o totalitarismo de Muhammar Khadaffi."
E quem assina mesmo por baixo da declaração? O maior democrata deste e do outro mundo, Teodoro Obiang Nguema - cujo país, a Guiné-Equatorial, preside à União Africana!!! A vida é mesmo fodida - estarão de acordo? AAS
E quem assina mesmo por baixo da declaração? O maior democrata deste e do outro mundo, Teodoro Obiang Nguema - cujo país, a Guiné-Equatorial, preside à União Africana!!! A vida é mesmo fodida - estarão de acordo? AAS
Embaixada da Guiné-Bissau lamenta morte de estudante em Cuiabá
O assassinato do acadêmico Toni Bernardo da Silva, 27 anos, na UFMT Cuiabá, com envolvimento de dois policias e um empresário, no bairro Boa Esperança, em Cuiabá, foi lamentada pela Embaixada da República da Guiné-Bissau no Brasil, que em nota, garantiu que vai acompanhar o caso, que deve ganhar repercussão internacional.
A embaixadora da República da Guiné-Bissau no Brasil, Eugénia Saldanha Araújo informa que "a nossa Missão Diplomática informa que está em curso diligências junto das autoridades brasileiras para o apuramento das causas da morte do referido estudante, e aproveita para endereçar a todos os estudantes guineenses no Brasil, em gesto de solidariedade, a sua profunda condolência".
A Universidade Federal de Mato Grosso também lamentou a morte do ex-aluno Toni Bernardo da Silva e informou que está acompanhando e prestando apoio necessário. Informou ainda que o estudante veio para o Brasil por meio do PEC-G, programa desenvolvido pelo MEC/MRE, para cursar Economia na UFMT. Ele iniciou em 2006 e deveria terminar o curso em 2011, mas foi excluído da instituição em fevereiro deste ano por problemas como abandono dos estudos e a reprovação.
Toni foi espancado até a morte, segundo o delegado Antonio José Esperandio, pelos policias militares Higor Marcel Mendes Montenegro, de 24 anos, e Wesley Fagundes Pereira, também de 24 anos, que estavam à paisana na pizzaria e também o empresário Sérgio Marcelo Silva da Costa, de 27 anos, que foram autuados pelo delegado e presos na passada sexta-feira. O motivo, conforme as investigações da Delegacia de Homicídios e Pronteção à Pessoa (DHPP), seria o facto de o estudante, que pedia dinheiro aos clientes no restaurante, ter esbarrado na esposa do empresário que é filho de um delegado aposentado de Mato Grosso.
Conforme os relatos de testemunhas no local, o empresário, Sérgio Marcelo Silva da Costa teria entrado em luta corporal com o rapaz. Em seguida os policias que estavam na pizzaria imobilizaram o estudante e depois os três passaram a desferir socos e pontapés até matar o estudante. Os três acusados disseram que "apenas imobilizaram à vítima". AAS
A embaixadora da República da Guiné-Bissau no Brasil, Eugénia Saldanha Araújo informa que "a nossa Missão Diplomática informa que está em curso diligências junto das autoridades brasileiras para o apuramento das causas da morte do referido estudante, e aproveita para endereçar a todos os estudantes guineenses no Brasil, em gesto de solidariedade, a sua profunda condolência".
A Universidade Federal de Mato Grosso também lamentou a morte do ex-aluno Toni Bernardo da Silva e informou que está acompanhando e prestando apoio necessário. Informou ainda que o estudante veio para o Brasil por meio do PEC-G, programa desenvolvido pelo MEC/MRE, para cursar Economia na UFMT. Ele iniciou em 2006 e deveria terminar o curso em 2011, mas foi excluído da instituição em fevereiro deste ano por problemas como abandono dos estudos e a reprovação.
Toni foi espancado até a morte, segundo o delegado Antonio José Esperandio, pelos policias militares Higor Marcel Mendes Montenegro, de 24 anos, e Wesley Fagundes Pereira, também de 24 anos, que estavam à paisana na pizzaria e também o empresário Sérgio Marcelo Silva da Costa, de 27 anos, que foram autuados pelo delegado e presos na passada sexta-feira. O motivo, conforme as investigações da Delegacia de Homicídios e Pronteção à Pessoa (DHPP), seria o facto de o estudante, que pedia dinheiro aos clientes no restaurante, ter esbarrado na esposa do empresário que é filho de um delegado aposentado de Mato Grosso.
Conforme os relatos de testemunhas no local, o empresário, Sérgio Marcelo Silva da Costa teria entrado em luta corporal com o rapaz. Em seguida os policias que estavam na pizzaria imobilizaram o estudante e depois os três passaram a desferir socos e pontapés até matar o estudante. Os três acusados disseram que "apenas imobilizaram à vítima". AAS
Ban Ki Moon visita Bissau brevemente
De acordo com o porta-voz do secretário-geral, Ban Ki-moon "expressou o apreço pelos esforços continuados para o processo de estabilização da Guiné-Bissau", podendo, em breve visitar Bissau para se inteirar dos problemas. O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, também se encontrou - à margem do debate anual da Assembleia-Geral da ONU -, com o Presidente guineense, Malam Bacai Sanhá. AAS
sábado, 24 de setembro de 2011
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Guineense assassinado no Brasil
Um jovem guineense, estudante na Universidade Federal de Mato Grosso, no Brasil, foi espancado ate a morte, ontem, numa pizzaria de Cuiaba.
Segundo a policia, TONY BERNARDO da SILVA chegou a pizzaria e comecou a pedir dinheiro aos clientes, mas numa das mesas esbarrou com uma mulher mas o namorado desta, um empresario de 27 anos, e dois PM's (policia militar) que estavam a paisana retiraram'no a forca do estabelecimento e comecaram a agredi-lo com murros e pontapes.
Segundo a policia, o espancamento durou longos 15 minutos e tanto o empresario como os dois PM's foram presos e acusados de homicidio.
Uma testemunha que vive mesmo ao lado do local do crime, ouvida pela policia, disse ter tentado separar a briga mas que nao conseguira.
A vitima acabou por morrer no local e pericias policiais indicam que o estudante guineense morreu por ASFIXIA, devido a uma lesao na traqueia. AAS
Segundo a policia, TONY BERNARDO da SILVA chegou a pizzaria e comecou a pedir dinheiro aos clientes, mas numa das mesas esbarrou com uma mulher mas o namorado desta, um empresario de 27 anos, e dois PM's (policia militar) que estavam a paisana retiraram'no a forca do estabelecimento e comecaram a agredi-lo com murros e pontapes.
Segundo a policia, o espancamento durou longos 15 minutos e tanto o empresario como os dois PM's foram presos e acusados de homicidio.
Uma testemunha que vive mesmo ao lado do local do crime, ouvida pela policia, disse ter tentado separar a briga mas que nao conseguira.
A vitima acabou por morrer no local e pericias policiais indicam que o estudante guineense morreu por ASFIXIA, devido a uma lesao na traqueia. AAS
PR Bacai Sanha no funeral de Aristides Pereira
Malal Bacai Sanha confirmou já a sua presença, na próxima 3a feira, nas cerimónias fúnebres do combatente pela libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde e primeiro presidente deste País, Aristides Pereira.
Os restos mortais de Aristides Pereira, que morreu em Coimbra, chegam hoje a Lisboa e seguirão no domingo para a cidade da Praia. Tanto o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca como o primeiro-ministro, José Maria Neves, encontram-se já em Cabo-Verde.
O luto nacional de cinco dias, em Cabo Verde, termina dia 27. A Guiné-Bissau deverá observar 3 dias de luto nacional, apurou o ditadura do consenso. O funeral de Aristides Pereira será na sua ilha natal - Boavista, em cerimónia privada. AAS
Os restos mortais de Aristides Pereira, que morreu em Coimbra, chegam hoje a Lisboa e seguirão no domingo para a cidade da Praia. Tanto o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca como o primeiro-ministro, José Maria Neves, encontram-se já em Cabo-Verde.
O luto nacional de cinco dias, em Cabo Verde, termina dia 27. A Guiné-Bissau deverá observar 3 dias de luto nacional, apurou o ditadura do consenso. O funeral de Aristides Pereira será na sua ilha natal - Boavista, em cerimónia privada. AAS
Subscrever:
Mensagens (Atom)