quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Para o Procurador Geral da República
A 12 de junho de 2009, o Governo da República da Guiné-Bissau disse isto à imprensa:
Guiné-Bissau: Governo apresenta alegadas "provas de golpe de Estado" de 05 de Junho
«O Governo da Guiné-Bissau apresentou hoje gravações áudio e vídeo como alegadas provas da tentativa de golpe de Estado que iria ter lugar no passado dia 05 deste mês e durante a qual foram assassinados dois políticos do país.
Na presença de jornalistas, sem direito a perguntas, o ministro dos Recursos Naturais e Ambiente, Óscar Barbosa, apresentou uma gravação áudio de uma suposta conversa telefónica entre o alegado cabecilha da intentona, o ex-ministro da Defesa e dirigente do PAIGC (no poder) Hélder Proença, a partir de Dacar, Senegal, com um militar, não identificado, em Bissau.
Na mesma ocasião, Óscar Barbosa, acompanhado pelo ministro do Comércio, Botché Candé, exibiu um vídeo que teria sido gravado com uma caneta com câmara, mostrando uma alegada conversa entre o antigo primeiro-ministro Faustino Imbali e o actual vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, coronel António Indjai.
Tanto a gravação áudio como vídeo não são claramente perceptíveis.
Na gravação áudio, em crioulo, Hélder Proença pede ao militar (que seria elemento da sua ligação com as Forças Armadas em Bissau) para que o suposto golpe não fosse adiado em relação à data prevista, isto é na madrugada do dia 05 de Junho.
“Era bom que a coisa não seja adiada.
Não pode ser adiada por causa de fuga de informação”, disse Hélder Proença, que foi morto na madrugada do dia 05 de Junho, na estrada Dacar-Bissau por forças de segurança, que afirmam que o politico resistiu à ordem de prisão quando o golpe foi descoberto. Ao pedido de Proença para que o golpe não fosse adiado, o militar tranquilizou-lo, dizendo-lhe que a acção não seria adiada.
“Não pode ser e não vai ser adiado hoje. Pode deixar que já tenho os homens e quarenta AK (armas automáticas do uso exclusivo do exercito guineense). Vamos bloquear o homem na sua residência onde ele dorme”, disse o seu interlocutor militar, numa alusão ao chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Zamora Induta.
Ainda sobre a suposta conversa entre Hélder Proença e o militar, o político informou que toda a documentação do alegado golpe de Estado, incluindo os discursos, já teria sido preparada, encontrando-se na posse de Faustino Imbali.
“Não se preocupem com os outros aspectos, comunicado e coisas do género, já está tudo preparado e está com o Faustino Imbali”, disse Proença numa série de conversas telefónicas gravadas pelos Serviços de Informação de Estado (SIE, a ‘secreta’ guineense).
O Governo apresentou ainda um comunicado do auto-intitulado Alto Comando das Forças Republicanas para a Restauração da Ordem Constitucional que seria apresentado ao país caso o golpe de Estado tivesse êxito.
No comunicado, são feitas várias acusações ao Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas interino, Zamora Induta, e ao primeiro-ministro, Carlos Gomes Junior, nomeadamente de serem os responsáveis pelo "bloqueio" do país e "perversão da ordem constitucional", com a morte do Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira e do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waié, em Março passado.
"Contra esta perversão da Ordem Constitucional e Democrática, um grupo de patriotas, combatentes de liberdade da Pátria e membros das nossas gloriosas Forças Armadas, reunidos em torno do Alto Comando das Forças Republicanas, decidiu a partir deste momento pôr fim a este estado de coisas, com o objectivo de evitar que o nosso país venha a conhecer mais uma espiral de violência de consequências imprevisíveis", lê-se no comunicado distribuido aos jornalista, como mais uma prova do golpe de Estado.»
Depois, o Procurador Geral, Amine Saad escreve uma carta ao Presidente da República:
“Procuradoria-Geral da República
«Sua Excelência Senhor
Malam Bacai Sanha
Presidente da República
Assunto: Processo nº10/2010 assassinato do então Presidente da República João Bernardo Vieira; processos relativos aos casos 4 e 5 de junho: assassínios de Hélder Proença e Baciro Dabó respectivamente.
Excelência,
No âmbito dos processos acima referenciados, atendendo o ponto a que se chegou com a investigação, bem como as implicações políticas que poderá acarretar, entendo ser meu dever trazer, ao conhecimento da Vossa Excelência para a necessária e devida ponderação, os factos relevantes que se conseguiu apurar.
Com efeito, as últimas audições de alguns cidadãos permitiram ao Ministério Público recolher informações sobre os autores materiais do homicídio do então Presidente da República, General João Bernanro Vieira, pois alguns deles assumem a sua perpetração.
Os pormenores de preparação e perpetração do crime, consiste resumidamente no seguinte:
No seguimento do atentado ocorrido no dia 1 de março, no Estado Maior general das Forças Armadas, que vitimou o então CEMGFA, General Batista Tagmé Na Waié, foram concentrados militares na sede do Estado Maior, entre os quais um grupo vindo do Batalhão de Mansoa. Passado algum tempo, o então Vice-CEM da Marinha, José Zamora Induta ordenou a formatura, os referidos militares no largo do Estado Maior, para explicar o sucedido, e comunicar-lhes o decesso do então CEMGFA.
À mesma formatura, informou que o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr deu-lhe ordens para mandar executar o Presidente João Bernardo Vieira, com o fundamento de que em caso de este não ser executado num período de 24 horas, todas as chefias militares iriam sofrer as consequências.
Na sequência deste discurso, o comandante José Zamora Induta, deu ordens aos 6 militares vindos de Mansoa que estavam na referida formatura para irem executar a operação.
Refere-se que integravam o grupo o Major Martinho Djata, que comandou a operação; o soldado José Sana Sambú; 2º Sargento Bicut Tchuda; Alferes Buam Na Dum; 2º Sargento Solnaté N’cuia; Furriel Wassat Besna.
Segundo declararm unanimemente os 6, deslocaram-se viatura dupla cabine ara a residência do malogrado Presidente, onde chegaram entre as 2 e as 3 da manhã. Ao chegarem a residência do Presidente Nino Vieira para o cumprimento da missão depararm com uma outra força militar vinda da Marinha, também instruídos para a mesma missão pelo então Vice-CEM da Marinha José Zamora Induta com o mesmo propósito da eliminação física do PR.
Todavia, o grupo de 6 militares do exército comandados pelo Major Marinho Djata assumiu o protagonismo na eliminação f´sica do PR Nino, ficando o grupo da Marinha encarregue de controlar o perímetro onde se iria desenrolar a operação.
As portas da resiência do PR Nino foram arrombadas com tiros e algum tiroteio que se ouviu foi mais para afuguentar pessoas do local e repelir qualquer eventual força que pudesse obstar o cumprimento da missão.
Os homens comandados pelo Major Martinho Djata, penetraram na residência do PR que, entretanto, se encontrava escondido com a esposa, tendo sido encontrado deitado no chão ao lado da cama debaixo da qual também se encontrava a esposa que foi descoberta algum tempo depois.
O Presidente foi conduzido para a sala de visitas onde foi sentar-se numa cadeira para, depois, ser morto a tiros.
De referir que os militares, só se aperceberam que a esposa do senhor Presidente afinal se encontrava debaixo da mesma cama, ao lado da qual encontraram o Presidente, já depois de terem conduzido este para a sala; porém, antes de o executarem, foram retirar a esposa debaixo da cama, tendo o comandante da operação ordenado que a conduzissem ara a casa de um familiar que morava nas redondezas.
Segundo as declarações dos militares, a esposa do ex-Presidente não presenciou o momento do cometimento do crime e a morte do PR Nino Vieira foi ocasionada pelos tiros que desferiram, ou seja, negaram categoricamente terem torturado o PR antes da sua morte. Negaram, ainda, ter utilizado outras armas tipo catana ou machado, precisando que no acto da execução só se utilizou armas de fogo.
Das declarações dos 6 militares resulta que um outro grupo teria penetrado na residência do PR, após a morte deste, infligindo mutilações à catanada ao corpo da vítima.
Conforme as declarações destes implicados, os autores morais do homicídio do R João Bernardo Vieira, o actual CEMGFA Contra-Almirante José Zamora Induta, e o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr.
A audição do CEMGFA para ser feita implica segundo a legislação penal que o mesmo terá que constituir um Advogado.
Ora, atendendo a situação da prisão em que se encontra, na sequ~encia do Caso 1 de Abril, esta questão deverá ser devidamente aquilatada. Por outro lado, o Ministério Público necessita ouvir o Primeiro-Ministro em autos, com as implicações jurídico-político advenientes.
II – Casos 4 e 5 de Junho
Quanto aos casos 4 e 5 de Junho, na sequência dos quais foi morto os então candidato à presidência da República e o ex-Ministro da Defesa, senhores Baciro Dabó e Hélder Proença respectivamente, dos autos de inquérito resultaram fortes indícios de que foram executados por um grupo de militares comandados pelo Capitão e Membro da Contra-Inteligência Militar, Pansau Intchama, sob ordens expressas do Contra-Almirante José Zamora Induta, conforme o testemunho do senhor Coronel Samba Djaló, comandante da Contra-Inteligência Militar.
O Capião Pansau Intchama, encontra-se, desde algum tempo a esta parte em Portugal, alegadamente por motivo de formação militar, frequentando o curso de capitães.
Afigura-se ao Ministério Público que a audição do Capitão Pansau Intchama é de extrema importância para o apramento da verdade dos factos, pelo que já iniciou diligências no sentido de pedir a sua extradição.
Olhando para o quadro global da situação e do panorama emergente dos acontecimentos do 1 de Abril, acreditamos que o momento político exige uma intervenção veemente e cuidada de Sua Exelência Senhor Presidente.
O Procurador-Geral da República
Amine Michel Saad»
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Memória e Amnésia
Os partidos políticos da oposição na Guiné-Bissau, falharam por duas vezes, e redondamente: na escolha do tema para as manifestações, e, por não acentuarem os discursos no elevado custo de vida que as populações do nosso País enfrentam. Teria sempre mais adeptos, e, assim, as consequências podiam ser outras. A oposição não entendeu, ou não quis ir atrás. E agora, a oposição está lixada.
Sempre escrevi, neste blog, que o primeiro-ministro Carlos Gomes Jr. era (é) o responsável número um no que toca aos asassinatos políticos que a Guiné-Bissau conheceu em 2009. Por ser o primeiro-ministro. Quanto a isso, não há dúvidas.
«Que o Presidente da República demita o primeiro-ministro Carlos Gomes Jr, para que possa ser levado à Justiça». Eu, se fosse o primeiro-minstro, fazia-vos um manguito. Anta Cadogo dudu nam tok i na bai n'terga si kabeça na Djustiça? Tentem pelo outro lado...
A oposição tinha (tem) tudo para fazer Carlos Gomes Jr cair do topo deste precipício que é toda a nossa nação em desmoronamento. Em três décadas apenas, o nosso País viu aumentar as disparidades em termos de rendimento. Alinhou-se, e mal, no modelo Estado-providência e o crescimento da economia estagnou. Esse modelo não pode ser repetido, uma sociedade jamais se desenvolverá quando um número significativo dos seus membros estiver na miséria extrema: torna-se uma ameaça. A pobreza não implica necessariamente a ausência de leis, e nem será suficiente para alimentar o desprezo dos desordeiros, partes de uma sociedade e de um País párias.
O colapso deste País é uma questão de tempo. Esta sociedade que desmorona a olhos vistos, e de todos, não é exemplo para nenhum Governo ou Presidente. Cada recorrência tende a ser ainda mais grave do que a anterior. Galbraith escreveu que «a memória é de longe melhor do que a lei». Por cá, a amnésia parece estar no topo dessa longa lista... António Aly Silva
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Comunica-se, quoi meme?!
- Presidente da Republica considera "normal" as querelas entre a oposicao e o Governo. Num comunicado, hoje tornado publico por Agnelo Regalla, Malam Bacai Sanha diz "nao existirem indicios" de crise politica.
O PR voltou a garantir "tudo fazer" para que se descubram os responsaveis pelos assassinatos politicos de 2009. O PR fez ainda referencia a acalmia que reinava no Pais, antes das marchas, congratulando depois a oposicao pelas "marchas pacificas e de civismo". AAS
Toroco
" Ali n'na sai mas pa ba passia na bairros ku ruas di no Guine
Si bo na pirmitin, n'na bin son amanha
Ali n'na si mas pa ba passia na bairrus ku ruas di no Terra
Si bo na pirmitin, pe na tchon ku n'na bai ohhh
Pa sabura di tchon
(...)
Kuma Bissau na kumpudu, pa i pudi tem kau di pudu
Kuma Bissau na n'djudado, i ka fika di menda
Kuma Bissau na kulkadu, i ka fika di tem pres
Kuma Bissau na kumpradu disna, i ka fika di nogocia (...)
Letra e Musica: Justino Delgado 'Juju', Album: 'Toroco'
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Bissau/Praia/Dakar: tudo dia
A recém-criada companhia de bandeira, Senegal Airlines, iniciou hoje voos diários de Bissau para Dakar, com escala na cidade da Praia, em Cabo Verde. O avião para as despesas é um ATR 42, de fabrico francês. AAS
Predator
Um dia, estava-se na véspera de umas eleições e o então primeiro-ministro pediu ao seu ministro das Finanças uma soma alta em numerário para, e cito de memória, "animar o povo". O ministro não deu, e este, intimamente irado ou não, cumpriu. E ficou marcado. Outros tempos, é verdade, mesmo se pouco brilhantes;
Sonhara uma noite. Era um cortejo de muitas viaturas, percorrendo lentamente algumas ruas e avenidas da cidade. Nas lojas, enormes portas de ferro eram corridas à sua passagem. De vez em quando a caravana parava à porta de fulano, beltrano ou ainda de parano:
- Saiam de casa, revoltem-se. Homens de merda! Alguem tera a coragem? Ainda sonhando. Recebe uma chamada telefónica e do outro lado, uma voz proclama:
- Por cá a matança terminou. O que fazemos com as armas?
- Não te preocupes, outra matança virá...;
Muito meses antes, tinha deixado escrito no seu diário pessoal: "Só sei que, um dia, morrerei assassinado".
Depois, esse dia chegou, e ele tornou-se como que símbolo trágico, pois a tragédia consumar-se-ia no seu aspecto mais terrível e consubstancial: o seu próprio assassinio.
Epílogo
Nesse dia do seu funeral, no cemitério, enquanto o caixão negro com o seu corpo era transportado por quatro pessoas, algo aconteceu. Um senhor, que por ser alto era curvo, de todos conhecido, bem parecido, de aspecto digno e despido de deselegâncias, deixa tocar o seu telemóvel. Um hino novo ressoava agora sobre os murmúrios que inundavam o cemitério, e que agora se viu mergulhado no mais profundo silêncio - o hino torna-se o novo requiem.
Começou com um toque contínuo, depois tornou-se musical. Ninguém responde. Sinal de que outra guerra está para chegar... AAS
Ponderação
O primeiro a chegar á PR foi o primeiro-ministro Carlos Gomes Jr, chefiando a delegação do PAIGC. Bacai Sanha recebeu-os antes da oposição. Os partidos foram recebidos pelos conselheiros do PR: Dickson, Octávio Lopes, Soares Sambu.
Malam Bacai Sanha, foi claro, hoje, na audiência com os partidos da oposição: "Não se pode tirar agora o primeiro-ministro". E pediu que se dê "dois meses ao novo procurador geral", para que este possa apanhar o fio à meada.
O Presidente, depois de lhe lembrarem as declarações que fez em Nice, França, limitou-se a negar, ainda que lhe tivessem dado uma cópia das suas declarações. I nega far! "O jornalista excedeu-se", disse Bacai Sanha.
Garantiu ainda que exonerou o ex-PGR Amine Saad porque este "estava a atrasar os processos" dos assassinatos políticos de 2009. Pediu depois à oposição que "pare com as manifestações".
Uma medida sensata, esta do Presidente da República, de não mexer no chefe do Executivo, pois o País está a pouco mais de um ano das eleiçõess legislativas.
Os partidos politicos, por sua vez, marcaram já uma reunião para hoje, as 17 horas, na sede do PRS. AAS
domingo, 7 de agosto de 2011
Lima decide futuro presidente
A esta hora, Cabo Verde soma os votos:
José Carlos Fonseca - 37%
Manuel Inocêncio - 33%
Aristides Lima - 26%
Dr. Aristides Lima: Uma vez que não foi eleito, quem irá eleger?! Estas eleições foram um tiro no pé do primeiro-ministro, José Maria Neves, disparado pelo próprio! AAS
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