- "Viva, Aly
A entrevista ao Coronel Joao Monteiro deixa para ja muitas interrogacoes. Ate me pergunto se nao andas a fazer horas extra para a Procuradoria Geral da Republica. Alias, se estes quisessem investigar mais a fundo, teriam no Ditadura do Consenso una boa fonte documental para comecar. Mas esse assunto parece que nao interessa muito...
Abraco,
Kankuran di Mansaba"
M/R: Mas tem de interessar! Ainda que nos matem um por um!!! Abraco, AAS
- "Ola Ay,
Somente para te dar os parabens. A primeira entrevista ao Coronel Joao Monteiro esta clara e objectiva. Continua o teu bom trabalho. G.S.
M/N: E a segunda?! Beijos e abracos a todos, AAS
terça-feira, 7 de junho de 2011
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Entrevista a João Monteiro: um esclarecimento do Coronel Afonso Té
"Caro Aly. Tudo bem?
Se me permitires, gostaria de trazer alguns elementos relacionados com a entrevista do Coronel João Monteiro no Ditadura do Consenso.
Na noite em que o General Tagme foi assassinado, preocupado, entrei em contacto com Coronel João Monteiro e ele deu-me a sua coordenada: Estava na residência do General 'Nino' Vieira e fui ter com ele. Disse-me que aquele o tinha mandado buscar porque constou-lhe que o General Tagme teria sido assassinado. Muito preocupado e incrédulo, perguntou-me porque teriam feito isso? E depois disse-me: olha, isto vai dar bronca. É preciso que o Presidente saia da sua residência, mas ele insiste em ficar.
Ele, já não estava ligado à segurança do Presidente e eu já não estava nas Forças Armadas, pelo que, pese embora reconhecessemos que a situação de risco era por demais evidente, estávamos limitados. Ficamos juntos por um tempo e depois pediu-me para levar-lhe a casa para ele poder jantar e voltar. Assim fiz. Fui com ele, jantamos e saímos juntos.
No caminho, de regresso à casa do General Vieira, fomos informados de que um grupo de veículos dupla cabine, cheio de militares dirigia-se para a casa dele (do Presidente). Fomos directamente para lá.
Quando chegamos constatamos que tinha sido o Presidente quem convocou uma reunião de emergência com as Chefias Militares e que já estava no fim. Eu ainda vi o dispositivo de segurança montado. Havia duas cinturas no perímetro. Aparentemente estava tudo bem. O Coronel João Monteiro entrou e eu deixei-o tendo continuado a circular. Foi assim que comecei a coletar dados para poder melhor entender o que se passou no Estado Maior-General e tirar ilações.
Nisto, fui informado que havia movimento militar a nível de Safim e do Aeroporto. Chamei o Coronel João Monteiro a quem pus ao corrente prevenindo-o. E conforme a noite avançava as coisas se complicavam pois o movimento intensifica-se enquanto que na Presidência, sede do Batalhão do Palácio a calma se tornava cada vez mais suspeita. Pois era a Unidade que tinha por missão defender o Presidente da República.
Depois os tiros começaram a fazer-se sentir, chamei o Coronel João Monteiro que me disse que a residência do Presidente da República estava sob fogo intenso. Depois perdi o seu contato. Entretanto continuei a circular até que consegui o número do Presidente da República : +245 640 0000 (este foi um dos seus últimos números). Liguei para esse número a pessoa que tinha o telefone respondeu mas não dizia nada. eu disse aló várias vezes mas como ela não respondia fiquei à escuta. Foi assim que ouvi uma voz ao fundo perguntar:"para onde o levas, para onde o levas? Uma segunda voz responde: vou levá-lo Estado Maior". Continuei a escutar mas não havia mais nada de importante cortei a ligação.
Eram mais ou menos 5h da manhã. Fiquei ainda com uma certa esperança de que o Presidente ainda estivesse de vida. Tentei chamar o Coronel João Monteiro, mas continuava com o seu telemóvel fechado.
Às sete da manhã o Coronel João Monteiro chamou-me e quando respondi perguntou-me se ainda havia movimento nos arredores da casa do Presidente ao que respondi que sim. Pois, os militares que estavam envolvidos no assalto ainda estavam no local. Nessa altura ele não me disse que estava ferido e nem perguntei onde estava pois no telefone não devia fazé-lo. Em relação a ele eu pelo menos, fiquei a saber que ainda estava de vida. Também já sabia do assassinato do Presidente da República.
Desligou o telefone e só voltou a chamar-me às nove. Desta vez disse-me que tinha sido ferido e que sangrava. Eu pedi-lhe que ficasse onde estava, que eu ia fazer diligências para tirá-lo dali. Chamei o Coronel Cissé da CEDEAO mas o número que eu tinha não passava. Chamei o Coronel Sandji Fati, que me deu o número do Coronel Marino. Depois chamei o Dr. Aristides que de imediato chamou para a UNOGBIS - eu também chamei - tendo confirmado que já tinham sido chamados tanto pelo Aristides como pelo Dr DiCkson.
Depois destas diligências todas fiz o seguimento da operação de sua exfiltração pela UNOGBIS à distância. E só depois de tudo isto é que fui para a minha casa onde fiquei. Estive em Bissau até depois do enterro a que assisti. Saí de Bissau para Dakar no dia 12 de março de 2009 no voo normal da TACV. No dia 14 do mesmo mês segui para a Índia, que, de resto, era o meu destino e o motivo da minha saída do País.
De regresso a Dakar fui visitar o Coronel João Monteiro pela segunda vez, no Hospital militar Principal. Quando eu lhe disse que regressava a Bissau no dia 21 de Março, ele insistiu que eu não fosse. E tinha razão. Logo depois fui informado de que na Segurança do Estado circulava a informação em como eu estava a comandar uma força que tinha por missão invadir a Guiné-Bissau, a partir de Varela, enquanto que o Coronel João Monteiro comandaria outra, que devia desembarcar em São Domingos.
Mais tarde soube que os agentes da Segurança montavam guarda à minha residência.
Coitado do Coronel João Monteiro: enquanto a Segurança dizia que ele comandava uma força que devia desembarcar em São Domingos, ele estava deitado no Hospital com seis balas no corpo...
Esta foi a razão porque fiquei fiquei em Dakar. Só as especulações continuaram. E em Junho de 2009, soube pela comunicação social que o Helder Proença, o Baciro Dabó mais outras duas pessoas foram assassinadas e que o Dr Faustino Mbali foi detido por uma alegada tentativa de Golpe de Estado em que nós participaríamos. Assim tomei conhecimento da lista de nome de pessoas supostamente envolvidas na tentativa.
Nota: Depois de ler a entrevista, quis aportar as precisões acima.
Coronel António Afonso Té"
NOTA: Muito obrigado pelo seu esclarecimento. Um abraço, Aly Silva
Se me permitires, gostaria de trazer alguns elementos relacionados com a entrevista do Coronel João Monteiro no Ditadura do Consenso.
Na noite em que o General Tagme foi assassinado, preocupado, entrei em contacto com Coronel João Monteiro e ele deu-me a sua coordenada: Estava na residência do General 'Nino' Vieira e fui ter com ele. Disse-me que aquele o tinha mandado buscar porque constou-lhe que o General Tagme teria sido assassinado. Muito preocupado e incrédulo, perguntou-me porque teriam feito isso? E depois disse-me: olha, isto vai dar bronca. É preciso que o Presidente saia da sua residência, mas ele insiste em ficar.
Ele, já não estava ligado à segurança do Presidente e eu já não estava nas Forças Armadas, pelo que, pese embora reconhecessemos que a situação de risco era por demais evidente, estávamos limitados. Ficamos juntos por um tempo e depois pediu-me para levar-lhe a casa para ele poder jantar e voltar. Assim fiz. Fui com ele, jantamos e saímos juntos.
No caminho, de regresso à casa do General Vieira, fomos informados de que um grupo de veículos dupla cabine, cheio de militares dirigia-se para a casa dele (do Presidente). Fomos directamente para lá.
Quando chegamos constatamos que tinha sido o Presidente quem convocou uma reunião de emergência com as Chefias Militares e que já estava no fim. Eu ainda vi o dispositivo de segurança montado. Havia duas cinturas no perímetro. Aparentemente estava tudo bem. O Coronel João Monteiro entrou e eu deixei-o tendo continuado a circular. Foi assim que comecei a coletar dados para poder melhor entender o que se passou no Estado Maior-General e tirar ilações.
Nisto, fui informado que havia movimento militar a nível de Safim e do Aeroporto. Chamei o Coronel João Monteiro a quem pus ao corrente prevenindo-o. E conforme a noite avançava as coisas se complicavam pois o movimento intensifica-se enquanto que na Presidência, sede do Batalhão do Palácio a calma se tornava cada vez mais suspeita. Pois era a Unidade que tinha por missão defender o Presidente da República.
Depois os tiros começaram a fazer-se sentir, chamei o Coronel João Monteiro que me disse que a residência do Presidente da República estava sob fogo intenso. Depois perdi o seu contato. Entretanto continuei a circular até que consegui o número do Presidente da República : +245 640 0000 (este foi um dos seus últimos números). Liguei para esse número a pessoa que tinha o telefone respondeu mas não dizia nada. eu disse aló várias vezes mas como ela não respondia fiquei à escuta. Foi assim que ouvi uma voz ao fundo perguntar:"para onde o levas, para onde o levas? Uma segunda voz responde: vou levá-lo Estado Maior". Continuei a escutar mas não havia mais nada de importante cortei a ligação.
Eram mais ou menos 5h da manhã. Fiquei ainda com uma certa esperança de que o Presidente ainda estivesse de vida. Tentei chamar o Coronel João Monteiro, mas continuava com o seu telemóvel fechado.
Às sete da manhã o Coronel João Monteiro chamou-me e quando respondi perguntou-me se ainda havia movimento nos arredores da casa do Presidente ao que respondi que sim. Pois, os militares que estavam envolvidos no assalto ainda estavam no local. Nessa altura ele não me disse que estava ferido e nem perguntei onde estava pois no telefone não devia fazé-lo. Em relação a ele eu pelo menos, fiquei a saber que ainda estava de vida. Também já sabia do assassinato do Presidente da República.
Desligou o telefone e só voltou a chamar-me às nove. Desta vez disse-me que tinha sido ferido e que sangrava. Eu pedi-lhe que ficasse onde estava, que eu ia fazer diligências para tirá-lo dali. Chamei o Coronel Cissé da CEDEAO mas o número que eu tinha não passava. Chamei o Coronel Sandji Fati, que me deu o número do Coronel Marino. Depois chamei o Dr. Aristides que de imediato chamou para a UNOGBIS - eu também chamei - tendo confirmado que já tinham sido chamados tanto pelo Aristides como pelo Dr DiCkson.
Depois destas diligências todas fiz o seguimento da operação de sua exfiltração pela UNOGBIS à distância. E só depois de tudo isto é que fui para a minha casa onde fiquei. Estive em Bissau até depois do enterro a que assisti. Saí de Bissau para Dakar no dia 12 de março de 2009 no voo normal da TACV. No dia 14 do mesmo mês segui para a Índia, que, de resto, era o meu destino e o motivo da minha saída do País.
De regresso a Dakar fui visitar o Coronel João Monteiro pela segunda vez, no Hospital militar Principal. Quando eu lhe disse que regressava a Bissau no dia 21 de Março, ele insistiu que eu não fosse. E tinha razão. Logo depois fui informado de que na Segurança do Estado circulava a informação em como eu estava a comandar uma força que tinha por missão invadir a Guiné-Bissau, a partir de Varela, enquanto que o Coronel João Monteiro comandaria outra, que devia desembarcar em São Domingos.
Mais tarde soube que os agentes da Segurança montavam guarda à minha residência.
Coitado do Coronel João Monteiro: enquanto a Segurança dizia que ele comandava uma força que devia desembarcar em São Domingos, ele estava deitado no Hospital com seis balas no corpo...
Esta foi a razão porque fiquei fiquei em Dakar. Só as especulações continuaram. E em Junho de 2009, soube pela comunicação social que o Helder Proença, o Baciro Dabó mais outras duas pessoas foram assassinadas e que o Dr Faustino Mbali foi detido por uma alegada tentativa de Golpe de Estado em que nós participaríamos. Assim tomei conhecimento da lista de nome de pessoas supostamente envolvidas na tentativa.
Nota: Depois de ler a entrevista, quis aportar as precisões acima.
Coronel António Afonso Té"
NOTA: Muito obrigado pelo seu esclarecimento. Um abraço, Aly Silva
Coronel João Monteiro/Capítulo II - A guerra de 7 de junho: Carlos Gomes Jr., Zamora Induta, Luis Amado e Jaime Gama, José Eduardo dos Santos, os 'aguentas'
DITADURA DO CONSENSO: Coronel, fale-me da guerra de 7 de junho de 1998. Qual foi o seu papel?
João Monteiro: Na guerra de 7 de junho, eu tinha montado uma barricada no poilão de Brã e a Junta Militar estava do outro lado. Um dia, o Presidente ‘Nino’ chama-me e pede que abra uma frente na zona de Plack 2. Então, eu disse-lhe que se saísse do poilão perderíamos essa posição. Ele insistiu: ‘abre o Plack’. Assim fiz. Então, o actual CEMGFA, António Indjai, na altura na Junta Militar, estancou em Brá. Fui e abri essa zona juntamente com o Nunes Cá, o Indi, o já falecido Marcelino Ramos. Logo no primeiro dia, a Junta Militar sofreu uma pesada derrota.
Chegou a sentir, a dada altura, que podiam ganhar a guerra?
Cheguei a sentir que sim, que essa guerra que nos foi imposta, uma aventura irresponsável, podia ser ganha. Aliás, no dia 31 de janeiro estávamos já com poder suficiente e prontos para tomarmos Brá e a Base-Aérea, mas o Presidente ‘Nino’ disse que não, que o Jaime Gama estava para chegar. E eu disse-lhe ‘e quem é o Jaime Gama? Ainda que fosse o Mário Soares, isto é uma guerra!’ E disse aos senegaleses para dispararem mas o Kony disse que havia que respeitar a ordem. E como somos militares há que obedecer, pois o Presidente às tantas diz ‘isto é uma ordem’. E como acabou? Perdemos a guerra e agora havia que negociar. Eu sempre disse ao Presidente que para as negociações era perferível a CPLP - que estancaria a Junta em Mansoa para iniciarmos as negociações.
E aparece a CEDEAO como mediadora...
Sim. A CEDEAO adiantou-se e deu no que deu. Por exemplo, o presidente do Senegal, Abdou Diouf, dizia constantemente ao Presidente ‘Nino’ que ‘as tropas senegalesas não abandonariam o País enquanto ele não ganhasse efectivamente a guerra’. E disse mais ao Presidente ‘Nino’, aí, no aeroporto osvaldo Vieira, em Bissau, durante as despedidas: ‘se não tiver cuidado vai perder esta guerra! Com rebeldes não se brinca, nem se deve negociar!’.
Tínhamos 3 peças de canhão de 120mm, acabadas de chegar do Senegal. Foram montadas e disparamos apenas 3 obuses e o ‘Nino’ opôs-se logo ao seu uso, dizendo que ‘aquilo não era arma para ser usada numa guerra’. Respondi ao Presidente dizendo-lhe que estávamos a ser fustigados por mísseis BM-21 (Katiushka). Ele foi firme: ‘isto é uma guerra entre irmãos e essa arma é medonha? Desmontou-se tudo, reembarcou-se no navio, e assim voltaram aquelas três peças de canhão para o Senegal.
Coronel, conheceu o Zamora Induta?
Não o conhecia, para lhe dizer a verdade. E não sei que ódio moveu o Zamora contra o ‘Nino’ Vieira, contra a minha pessoa e contra a Guiné-Bissau. O Zamora, na guerra de 7 de junho, andou fugido com mais pessoas. Então eu chamei o Watna, que é piloto, e disse-lhe: ‘ouve, tu és militar e há uma guerra e tu estás aqui. O que se passa?’ Ele respondeu dizendo que nem sabia para que lado é que devia ir, que os colegas tinham ficado na Base. Retorqui que não, que os seus colegas tinham saído da base. Então disse que não iria à Base, pois corria o risco de ser abatido. Alegou que não sabia como estava o centro de Bissau. Levei-o comigo. O Zamora foi logo dizer que eu prendi-o e quis matá-lo. Que assim que caiu um obus ele conseguiu escapar...que bandido, este! Alguém que eu nem conhecia! O Watna foi testemunha disto. A partir daí o Zamora começou a olhar para mim como um inimigo.
E depois reaparece, mas na Junta Militar...
Sim. Assim que ouvi falar no nome dele, disse logo para mim que o Zamora tinha algo contra o ‘Nino’ Vieira. Aconteceu outra coisa estranha. Um dia, o Presidente ‘Nino’ ia para França, via Lisboa, e para seu espanto viu o Zamora sentado dentro do avião. E pergunta-lhe ‘o que fazes aqui?’ – Zamora estava com o Luis Amado (actual ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal) a conversar. Zamora responde, visivelmente embaraçado e desconfortável, dizendo que ‘ia a Bruxelas’. O ‘Nino’ voltou à carga: ‘e quem é que te deu licença para ir a Bruxelas? Conheces por acaso o Luis Amado, para estarem na conversa?’. Disse-o à frente do Luis Amado para este ouvir e ouviu muito bem... E ‘Nino’ disse-me depois que tinha quase a certeza de que Zamora Induta estava a esconder qualquer coisa...
Acha que Portugal teve uma ‘mãozinha’ na morte do 'Nino' Vieira?
Não posso dizer isso, mas as declarações do Presidente Mário Soares - ‘Nino era um homem violento e morreu com violência’, deixa entender que há mão oculta, portuguesa, na morte do Presidente da República João Bernardo ‘Nino’ Vieira. Ouvi igualmente o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que falava ao lado do seu homólogo Cavaco Silva, em Lisboa, dizer que a morte do Presidente ‘Nino’ ‘não ficaria em vão, que tinha que ser esclarecida’. Fiquei assim, se saber...
Tem esperança de que um dia o assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira venha a ser cabalmente esclarecido?
Não posso dizer que tenho esperança, não vejo é quem vai resolver isso.... Fui ouvido em Dakar e garantiram-me que em Setembro haverá Justiça. Eu disse-lhes até que ‘mobilizando-me ou não, tinha de falar! Como vieram até cá vou dizer-vos a verdade’. Depois da morte do Presidente comecei a ouvir dizer na rádio que se tratava de um ajuste de contas, que foi um ‘grupo desconhecido’ e coisas assim. Mas que grupo desconhecido? Um grupo desconhecido não pode atacar a residência de um Presidente da República de maneira desenvolta como fizeram. Agora pergunto apenas isto: e eles, os que guardavam o Presidente em casa, como militares, onde é que estavam?
Por falar nisso, onde é que estava a quase centena de militares que guardava a residência do Presidente?
E é mesmo isso que se deve perguntar. Foram para onde? Olhe, o Manuel Sanca (NOTA: Manuel Sanca era segurança do Presidente ‘Nino’ Vieira. Hoje, faz parte da equipa que ‘guarda’ o Presidente da República, Malam Bacai Sanha) veio um dia a Dakar e visitou-me. Depois do almoço, portanto já relaxados, perguntei-lhe calmamente: ‘Manuel, vocês estavam no passeio, eu vi, estavam todos armados, em prontidão de combate. Para onde é que foram quando começaram os tiros?’. Sabes o que ele me respondeu, assim, friamente?: ‘fugimos’. Eu ripostei irritado - Manuel, tu disseste ao ‘Nino’ à minha frente «esta é a tua cova, esta será a minha». E agora a cova do ‘Nino’ chega e tu foges? Porquê? Isto significa que estavas a enganar o Presidente? Então, começou a chorar. Rematei dizendo que se eu estivesse lá, teria outros homens a guardar o Presidente, que não eles. O Presidente ouvia gente que o enganava... Disse-lhe várias vezes que a sua segurança era um caos, que estava completamente desorganizada, e que um dia haveria uma desgraça...
E houve também aquele problema com o Tagme Na Waie, aquando do desarmamento do pessoal da guarda do Presidente, os chamados ‘aguentas’, criados na guerra de 7 de junho.
A primeira vez que o Tagme mandou desarmá-los, eu disse: ‘camarada Presidente, deixe-se disso. Ele responde ‘tens razão’, mas eu continuei: ‘Eu sinto-me ofendido. Quando é que um militar, ainda que seja o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, pode mandar desarmar uma guarda presidencial da escolha de confiança do Presidente da República, que é também Comandante-em-Chefe das forças frmadas?’ Ele apenas disse, olhando para o lado, ‘deixa estar, deixa estar, não arranjes problemas’.
E você, o que fez?
Durante dois dias não meti os pés no Estado Maior. Até o Tagme mandar chamar-me para saber a razão da minha ausência no trabalho. Disse-lhe apenas que não estava a sentir-me bem. Então comunicou-me que ia ter lugar uma reunião das chefias militares. À frente de todos, nessa reunião, disse-lhe que não tinha ficado satisfeito com essa sua atitude de mandar desarmar a segurança do Presidente. Disse-me que não, que esses miudos tinham disparado contra ele (NOTA: Tagme referia-se aos incidentes na avenida da Presidência da República). Disse-lhe mais: que esses rapazes eram balantas, seus parentes, que disseram em inquérito que só passados 30 minutos é que você chegou lá. Que você quem comunicou à Base Aérea que tinham matado um elemento sa sua escolta. E desafiei o Tagme a dizer, no mei0 de toda aquela gente, que elemento da escolta é que tinha sido morto. Desculpou-se então com uma frase tão velha como o próprio mundo: ‘a informação que foi passada era falsa’... Disse-lhe então que tivesse cuidado com essas coisas.
Acha então que foi tudo bem preparado até se chegar ao assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?.
Claro que foi tudo bem cozinhado. Aliás, se eu não tivesse sido atingido, aposto que diriam logo ‘foi o João Monteiro que colocou a bomba que matou o Tagme'.
E foi você?!
Olhe, uma senhora, que tem acompanhado e assistido o Barnabé Gomes na sua recuperação (NOTA: Barnabé era assessor de imprensa do Presidente ‘Nino’, e foi ferido com gravidade no atentado do dia 2 de março de 2009, que custou a vida ao Presidente ‘Nino’ Vieira) disse-me um dia que nessa manhã de 2 de março o meu nome já circulava por meia Bissau - que eu é que tinha colocado a bomba que matou o general Tagme Na Waie... Contudo, assim que souberam que tinha sido atingido e estava na sede da ONU, o boato parou... sei bem o que é o trabalho de um sapador. As minhas mão tremem, portanto fica descartada essa hipótese patética.
Já agora, suspeita de alguém?
Um dia, de Bissau, telefona-me o Melcíades Fernandes (NOTA: General, Piloto-Aviador, Melcíades Gomes Fernandes foi um dos elementos da Junta Militar. Chegou a Chefe do Estado-Maior da Força Aére. Esteve preso mais de um ano, acusado de ter colocado a bomba que deflagrara no Estado-Maior, ceifando a vida do general e CEMGFA Tagme Na Waie, no dia 1 de março de 2009) e aproveitei para lhe dizer apenas isto: Olha, eu não sou um bandido. Sou um homem que vai morrer com uma só cara, que não vai mentir para morrer. Pus a verdade à minha esquerda, à minha direita; à minha frente e atrás. Diz-me só isto: por que razão aceitaste carregar esse peso nos teus ombros, o de teres sido tu a colocar a bomba? Manteve-se calado e eu desliguei o telefone. Não me chegou a dizer que tinha sido ele, nem que não.
Mas o que você acha?
Acho sinceramente que o Melcíades Fernandes mentiu. As informações que eu tenho – por exemplo de um patrício que veio de Cabo Verde, contou-me tudo. Se as provas existem, ou não existem isso eu não sei. Não me peçam é para mentir.
‘Nino’ Vieira chegou a sondar líderes da sub-região para ajudar José Eduardo dos Santos a chegar à presidência da União Africana? O que sabe sobre isso?
Assim foi. O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos é que pediu ajuda ao ‘Nino’ Vieira alegando que ele tinha influência na sua zona, mas que era com ‘Nino’ Vieira que contava na sub-região da África Ocidental. O Presidente ‘Nino’ até já tinha entrado em contacto com o presidente da Gâmbia e com presidentes de outros países vizinhos. Acho até que o Yaya Jahmeh levou esse assunto ao conhecimento do Khadaffi, que queria esse cargo mas acabou por perder na votação... não é que esteja a acusar o coronel Khadaffi, mas há muitas mãos ocultas por detrás desse assassinato. Por exemplo, tenho informação de que o Jaime Gama esteve na Gâmbia antes de chegar a Bissau. Para fazer o quê? E por que razão foi o Jaime Gama a Bissau se o Presidente ‘Nino’ não estava no País? Com quem falou? Do que falaram? Foi falar com o Cadogo...
Por falar em Cadogo, que apreciação faz da pessoa do actual Primeiro-Ministro durante essa crise?
O Cadogo (NOTA: Cadogo é o ‘nominho’ por que é conhecido Carlos Gomes Jr., Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau) esteve em Dakar várias vezes. E o embaixador Fali (NOTA: Fali Embaló é agora embaixador da Guiné-Bissau em Portugal) disse-lhe ‘o coronel João Monteiro está internado no hospital’. A Isabel Vieira disse-me uma vez que ouviu dizer que o Cadogo viria visitar-me e eu respondi ‘ele que venha. Eu estou aqui deitado e nem me posso levantar. Não posso fugir dele.’ Mas eu nunca cheguei a ver o Cadogo com os meus olhos... se tivesse vindo, as nossas palavras cruzar-se-iam. Se ele me dissesse dez eu dir-lhe-ia vinte... Peço a Deus que nem me venha visitar, porque dizia-lhe na cara aquilo que eu penso que ele fez...
Acha então que o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr foi responsável pelo assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?
É responsável, sim! Não sei se foi ele quem matou o ‘Nino’, mas, diga-me uma coisa, você é Primeiro-Ministro e o Presidente da República chama-o. O que você faz? Vai responder, claro. Da segunda vez que o Artur Silva veio à casa do Presidente (NOTA: Artur Silva era, na altura, Ministro da Defesa. Hoje, é titular da pasta da Educação) disse ‘Sr. Presidente, o Primeiro-Ministro diz que não vem porque não tem segurança’. O Lourenço, que morreu nessa noite, disse o mesmo. O Adolfo Martins, também. Então se o Cadogo sabia que alguma estava para acontecer, porque não contou isso ao Chefe de Estado? As suspeitas recaíram desde logo sobre o Cadogo e as suas manobras nessa noite... Deus me perdoe, mas não tiro as mãos do Cadogo nesse assassinato. Várias vezes fez comentários do tipo ‘não coabitarei com um bandido’ (NOTA: Cadogo disse isto em Cabo Verde). E isso quer dizer tudo. Não posso dizer que foi ele a 100 por cento, mas as suas palavras não deixam dúvidas de que tem quota parte da responsabilidade.
CONTINUA...
João Monteiro: Na guerra de 7 de junho, eu tinha montado uma barricada no poilão de Brã e a Junta Militar estava do outro lado. Um dia, o Presidente ‘Nino’ chama-me e pede que abra uma frente na zona de Plack 2. Então, eu disse-lhe que se saísse do poilão perderíamos essa posição. Ele insistiu: ‘abre o Plack’. Assim fiz. Então, o actual CEMGFA, António Indjai, na altura na Junta Militar, estancou em Brá. Fui e abri essa zona juntamente com o Nunes Cá, o Indi, o já falecido Marcelino Ramos. Logo no primeiro dia, a Junta Militar sofreu uma pesada derrota.
Chegou a sentir, a dada altura, que podiam ganhar a guerra?
Cheguei a sentir que sim, que essa guerra que nos foi imposta, uma aventura irresponsável, podia ser ganha. Aliás, no dia 31 de janeiro estávamos já com poder suficiente e prontos para tomarmos Brá e a Base-Aérea, mas o Presidente ‘Nino’ disse que não, que o Jaime Gama estava para chegar. E eu disse-lhe ‘e quem é o Jaime Gama? Ainda que fosse o Mário Soares, isto é uma guerra!’ E disse aos senegaleses para dispararem mas o Kony disse que havia que respeitar a ordem. E como somos militares há que obedecer, pois o Presidente às tantas diz ‘isto é uma ordem’. E como acabou? Perdemos a guerra e agora havia que negociar. Eu sempre disse ao Presidente que para as negociações era perferível a CPLP - que estancaria a Junta em Mansoa para iniciarmos as negociações.
E aparece a CEDEAO como mediadora...
Sim. A CEDEAO adiantou-se e deu no que deu. Por exemplo, o presidente do Senegal, Abdou Diouf, dizia constantemente ao Presidente ‘Nino’ que ‘as tropas senegalesas não abandonariam o País enquanto ele não ganhasse efectivamente a guerra’. E disse mais ao Presidente ‘Nino’, aí, no aeroporto osvaldo Vieira, em Bissau, durante as despedidas: ‘se não tiver cuidado vai perder esta guerra! Com rebeldes não se brinca, nem se deve negociar!’.
Tínhamos 3 peças de canhão de 120mm, acabadas de chegar do Senegal. Foram montadas e disparamos apenas 3 obuses e o ‘Nino’ opôs-se logo ao seu uso, dizendo que ‘aquilo não era arma para ser usada numa guerra’. Respondi ao Presidente dizendo-lhe que estávamos a ser fustigados por mísseis BM-21 (Katiushka). Ele foi firme: ‘isto é uma guerra entre irmãos e essa arma é medonha? Desmontou-se tudo, reembarcou-se no navio, e assim voltaram aquelas três peças de canhão para o Senegal.
Coronel, conheceu o Zamora Induta?
Não o conhecia, para lhe dizer a verdade. E não sei que ódio moveu o Zamora contra o ‘Nino’ Vieira, contra a minha pessoa e contra a Guiné-Bissau. O Zamora, na guerra de 7 de junho, andou fugido com mais pessoas. Então eu chamei o Watna, que é piloto, e disse-lhe: ‘ouve, tu és militar e há uma guerra e tu estás aqui. O que se passa?’ Ele respondeu dizendo que nem sabia para que lado é que devia ir, que os colegas tinham ficado na Base. Retorqui que não, que os seus colegas tinham saído da base. Então disse que não iria à Base, pois corria o risco de ser abatido. Alegou que não sabia como estava o centro de Bissau. Levei-o comigo. O Zamora foi logo dizer que eu prendi-o e quis matá-lo. Que assim que caiu um obus ele conseguiu escapar...que bandido, este! Alguém que eu nem conhecia! O Watna foi testemunha disto. A partir daí o Zamora começou a olhar para mim como um inimigo.
E depois reaparece, mas na Junta Militar...
Sim. Assim que ouvi falar no nome dele, disse logo para mim que o Zamora tinha algo contra o ‘Nino’ Vieira. Aconteceu outra coisa estranha. Um dia, o Presidente ‘Nino’ ia para França, via Lisboa, e para seu espanto viu o Zamora sentado dentro do avião. E pergunta-lhe ‘o que fazes aqui?’ – Zamora estava com o Luis Amado (actual ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal) a conversar. Zamora responde, visivelmente embaraçado e desconfortável, dizendo que ‘ia a Bruxelas’. O ‘Nino’ voltou à carga: ‘e quem é que te deu licença para ir a Bruxelas? Conheces por acaso o Luis Amado, para estarem na conversa?’. Disse-o à frente do Luis Amado para este ouvir e ouviu muito bem... E ‘Nino’ disse-me depois que tinha quase a certeza de que Zamora Induta estava a esconder qualquer coisa...
Acha que Portugal teve uma ‘mãozinha’ na morte do 'Nino' Vieira?
Não posso dizer isso, mas as declarações do Presidente Mário Soares - ‘Nino era um homem violento e morreu com violência’, deixa entender que há mão oculta, portuguesa, na morte do Presidente da República João Bernardo ‘Nino’ Vieira. Ouvi igualmente o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que falava ao lado do seu homólogo Cavaco Silva, em Lisboa, dizer que a morte do Presidente ‘Nino’ ‘não ficaria em vão, que tinha que ser esclarecida’. Fiquei assim, se saber...
Tem esperança de que um dia o assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira venha a ser cabalmente esclarecido?
Não posso dizer que tenho esperança, não vejo é quem vai resolver isso.... Fui ouvido em Dakar e garantiram-me que em Setembro haverá Justiça. Eu disse-lhes até que ‘mobilizando-me ou não, tinha de falar! Como vieram até cá vou dizer-vos a verdade’. Depois da morte do Presidente comecei a ouvir dizer na rádio que se tratava de um ajuste de contas, que foi um ‘grupo desconhecido’ e coisas assim. Mas que grupo desconhecido? Um grupo desconhecido não pode atacar a residência de um Presidente da República de maneira desenvolta como fizeram. Agora pergunto apenas isto: e eles, os que guardavam o Presidente em casa, como militares, onde é que estavam?
Por falar nisso, onde é que estava a quase centena de militares que guardava a residência do Presidente?
E é mesmo isso que se deve perguntar. Foram para onde? Olhe, o Manuel Sanca (NOTA: Manuel Sanca era segurança do Presidente ‘Nino’ Vieira. Hoje, faz parte da equipa que ‘guarda’ o Presidente da República, Malam Bacai Sanha) veio um dia a Dakar e visitou-me. Depois do almoço, portanto já relaxados, perguntei-lhe calmamente: ‘Manuel, vocês estavam no passeio, eu vi, estavam todos armados, em prontidão de combate. Para onde é que foram quando começaram os tiros?’. Sabes o que ele me respondeu, assim, friamente?: ‘fugimos’. Eu ripostei irritado - Manuel, tu disseste ao ‘Nino’ à minha frente «esta é a tua cova, esta será a minha». E agora a cova do ‘Nino’ chega e tu foges? Porquê? Isto significa que estavas a enganar o Presidente? Então, começou a chorar. Rematei dizendo que se eu estivesse lá, teria outros homens a guardar o Presidente, que não eles. O Presidente ouvia gente que o enganava... Disse-lhe várias vezes que a sua segurança era um caos, que estava completamente desorganizada, e que um dia haveria uma desgraça...
E houve também aquele problema com o Tagme Na Waie, aquando do desarmamento do pessoal da guarda do Presidente, os chamados ‘aguentas’, criados na guerra de 7 de junho.
A primeira vez que o Tagme mandou desarmá-los, eu disse: ‘camarada Presidente, deixe-se disso. Ele responde ‘tens razão’, mas eu continuei: ‘Eu sinto-me ofendido. Quando é que um militar, ainda que seja o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, pode mandar desarmar uma guarda presidencial da escolha de confiança do Presidente da República, que é também Comandante-em-Chefe das forças frmadas?’ Ele apenas disse, olhando para o lado, ‘deixa estar, deixa estar, não arranjes problemas’.
E você, o que fez?
Durante dois dias não meti os pés no Estado Maior. Até o Tagme mandar chamar-me para saber a razão da minha ausência no trabalho. Disse-lhe apenas que não estava a sentir-me bem. Então comunicou-me que ia ter lugar uma reunião das chefias militares. À frente de todos, nessa reunião, disse-lhe que não tinha ficado satisfeito com essa sua atitude de mandar desarmar a segurança do Presidente. Disse-me que não, que esses miudos tinham disparado contra ele (NOTA: Tagme referia-se aos incidentes na avenida da Presidência da República). Disse-lhe mais: que esses rapazes eram balantas, seus parentes, que disseram em inquérito que só passados 30 minutos é que você chegou lá. Que você quem comunicou à Base Aérea que tinham matado um elemento sa sua escolta. E desafiei o Tagme a dizer, no mei0 de toda aquela gente, que elemento da escolta é que tinha sido morto. Desculpou-se então com uma frase tão velha como o próprio mundo: ‘a informação que foi passada era falsa’... Disse-lhe então que tivesse cuidado com essas coisas.
Acha então que foi tudo bem preparado até se chegar ao assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?.
Claro que foi tudo bem cozinhado. Aliás, se eu não tivesse sido atingido, aposto que diriam logo ‘foi o João Monteiro que colocou a bomba que matou o Tagme'.
E foi você?!
Olhe, uma senhora, que tem acompanhado e assistido o Barnabé Gomes na sua recuperação (NOTA: Barnabé era assessor de imprensa do Presidente ‘Nino’, e foi ferido com gravidade no atentado do dia 2 de março de 2009, que custou a vida ao Presidente ‘Nino’ Vieira) disse-me um dia que nessa manhã de 2 de março o meu nome já circulava por meia Bissau - que eu é que tinha colocado a bomba que matou o general Tagme Na Waie... Contudo, assim que souberam que tinha sido atingido e estava na sede da ONU, o boato parou... sei bem o que é o trabalho de um sapador. As minhas mão tremem, portanto fica descartada essa hipótese patética.
Já agora, suspeita de alguém?
Um dia, de Bissau, telefona-me o Melcíades Fernandes (NOTA: General, Piloto-Aviador, Melcíades Gomes Fernandes foi um dos elementos da Junta Militar. Chegou a Chefe do Estado-Maior da Força Aére. Esteve preso mais de um ano, acusado de ter colocado a bomba que deflagrara no Estado-Maior, ceifando a vida do general e CEMGFA Tagme Na Waie, no dia 1 de março de 2009) e aproveitei para lhe dizer apenas isto: Olha, eu não sou um bandido. Sou um homem que vai morrer com uma só cara, que não vai mentir para morrer. Pus a verdade à minha esquerda, à minha direita; à minha frente e atrás. Diz-me só isto: por que razão aceitaste carregar esse peso nos teus ombros, o de teres sido tu a colocar a bomba? Manteve-se calado e eu desliguei o telefone. Não me chegou a dizer que tinha sido ele, nem que não.
Mas o que você acha?
Acho sinceramente que o Melcíades Fernandes mentiu. As informações que eu tenho – por exemplo de um patrício que veio de Cabo Verde, contou-me tudo. Se as provas existem, ou não existem isso eu não sei. Não me peçam é para mentir.
‘Nino’ Vieira chegou a sondar líderes da sub-região para ajudar José Eduardo dos Santos a chegar à presidência da União Africana? O que sabe sobre isso?
Assim foi. O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos é que pediu ajuda ao ‘Nino’ Vieira alegando que ele tinha influência na sua zona, mas que era com ‘Nino’ Vieira que contava na sub-região da África Ocidental. O Presidente ‘Nino’ até já tinha entrado em contacto com o presidente da Gâmbia e com presidentes de outros países vizinhos. Acho até que o Yaya Jahmeh levou esse assunto ao conhecimento do Khadaffi, que queria esse cargo mas acabou por perder na votação... não é que esteja a acusar o coronel Khadaffi, mas há muitas mãos ocultas por detrás desse assassinato. Por exemplo, tenho informação de que o Jaime Gama esteve na Gâmbia antes de chegar a Bissau. Para fazer o quê? E por que razão foi o Jaime Gama a Bissau se o Presidente ‘Nino’ não estava no País? Com quem falou? Do que falaram? Foi falar com o Cadogo...
Por falar em Cadogo, que apreciação faz da pessoa do actual Primeiro-Ministro durante essa crise?
O Cadogo (NOTA: Cadogo é o ‘nominho’ por que é conhecido Carlos Gomes Jr., Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau) esteve em Dakar várias vezes. E o embaixador Fali (NOTA: Fali Embaló é agora embaixador da Guiné-Bissau em Portugal) disse-lhe ‘o coronel João Monteiro está internado no hospital’. A Isabel Vieira disse-me uma vez que ouviu dizer que o Cadogo viria visitar-me e eu respondi ‘ele que venha. Eu estou aqui deitado e nem me posso levantar. Não posso fugir dele.’ Mas eu nunca cheguei a ver o Cadogo com os meus olhos... se tivesse vindo, as nossas palavras cruzar-se-iam. Se ele me dissesse dez eu dir-lhe-ia vinte... Peço a Deus que nem me venha visitar, porque dizia-lhe na cara aquilo que eu penso que ele fez...
Acha então que o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr foi responsável pelo assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?
É responsável, sim! Não sei se foi ele quem matou o ‘Nino’, mas, diga-me uma coisa, você é Primeiro-Ministro e o Presidente da República chama-o. O que você faz? Vai responder, claro. Da segunda vez que o Artur Silva veio à casa do Presidente (NOTA: Artur Silva era, na altura, Ministro da Defesa. Hoje, é titular da pasta da Educação) disse ‘Sr. Presidente, o Primeiro-Ministro diz que não vem porque não tem segurança’. O Lourenço, que morreu nessa noite, disse o mesmo. O Adolfo Martins, também. Então se o Cadogo sabia que alguma estava para acontecer, porque não contou isso ao Chefe de Estado? As suspeitas recaíram desde logo sobre o Cadogo e as suas manobras nessa noite... Deus me perdoe, mas não tiro as mãos do Cadogo nesse assassinato. Várias vezes fez comentários do tipo ‘não coabitarei com um bandido’ (NOTA: Cadogo disse isto em Cabo Verde). E isso quer dizer tudo. Não posso dizer que foi ele a 100 por cento, mas as suas palavras não deixam dúvidas de que tem quota parte da responsabilidade.
CONTINUA...
Taxista-violador
Um taxista, violou ontem uma menina de 13 anos, junto ao descampado em frente a sede da ONU, em Bissau. Um transeunte que passava ouviu gritos de aflicao e foi acudir. O taxista fugiu mas o bom homem apontou a matricula. Telefonou a mae da crianca e deu-lhe conta do sucedido. Depois, a menor foi levada ao hospital, onde se confirmou que houve penetracao.
No outro dia, pela manha, o 'nosso' homem mobilizou um amigo e ficaram a espera de apanhar o taxista. O que acabou por acontecer. O 'isco', a um sinal, para o taxi e pede que o leve a maternidade. Ali chegados, foi-lhe logo dado ordem de prisao.
Comecou por recusar, mas assim que trouxeram a menina na sua presenca, ela gritou 'Mae, foi este o homem que me fez mal'. Saltaram-lhe para a espinha e deram-lhe tantas, mas tantas que ate nao podiam mais. No meu entender, deviam te-lo capado...
Depois do 'tratamento', foi assistido ali mesmo, e, depois, conduzido aos calaboucos da Policia Judiciaria. AAS
No outro dia, pela manha, o 'nosso' homem mobilizou um amigo e ficaram a espera de apanhar o taxista. O que acabou por acontecer. O 'isco', a um sinal, para o taxi e pede que o leve a maternidade. Ali chegados, foi-lhe logo dado ordem de prisao.
Comecou por recusar, mas assim que trouxeram a menina na sua presenca, ela gritou 'Mae, foi este o homem que me fez mal'. Saltaram-lhe para a espinha e deram-lhe tantas, mas tantas que ate nao podiam mais. No meu entender, deviam te-lo capado...
Depois do 'tratamento', foi assistido ali mesmo, e, depois, conduzido aos calaboucos da Policia Judiciaria. AAS
PESCA: aprisionados 3 navios chineses
- Um navio, aprisionado em maio, mais dois no sabado passado, fazem dos chineses os reis no roubo do nosso peixe;
- secretarios gerais dos partidos que lideraram as lutas de libertacao nos paises africanos de lingua portuguesa estao reunidos em Bissau. AAS
- secretarios gerais dos partidos que lideraram as lutas de libertacao nos paises africanos de lingua portuguesa estao reunidos em Bissau. AAS
RanTanPlan
Desde ontem que a RDP Africa tem estado maluca. Ouvimos a emissao durante 5 minutinhos e depois fica sem pio durante 50 minutos. Hoje, e para o meu contentamento, estou a ouvir...o noticiario da RTP canal 1. Ouvi por exemplo perolas como esta: 'Um dia depois das eleicoes esta tudo calmo'. Esperava-se uma guerra civil, portanto... Mas sempre e melhor do que ouvir os repetitivos - e chatos - noticiarios do canal Africa da radio publica portuguesa. AAS
domingo, 5 de junho de 2011
Coronel Joao Monteiro/Capitulo I: os dias 1 e 2 de março de 2009
DITADURA DO CONSENSO (DC) – Coronel João Monteiro, falemos da noite de 1 e da madrugada de 2 de março de 2009. Vi-o junto ao Hummer, onde se refugiou e depois ficou sem balas. Vi também alguém subir para os seus ombros e levar uma rajada acabando por morrer aí mesmo. O que se passou nessa noite?
JOÃO MONTEIRO (JM) –Nesse final de dia, o Presidente mandou chamar-me para uma reunião das chefias militares, mas como tinha problemas com o pagamento da escola do meu filho Nino (NOTA: João Monteiro deu esse nome ao filho, em homenagem ao Presidente ‘Nino’ Vieira), acabei por chegar um bocado tarde para a reunião. Fui pagar a mensalidade à escola e de seguida fui para casa. Por volta das 20 horas, o Presidente telefona e pede-me que vá a casa dele. Fui, porque eu era funcionário do Estado-Maior General das Forças Armadas. É pena, na altura, eu não estar no corpo de segurança do Presidente. As coisas não se teriam passado dessa maneira.
Quando cheguei, o Lassana Mansandé disse-me então que a reunião tinha acabado e foi ele quem me deu a notícia de que o General Tagmé Na Waie havia sido morto à bomba no edifício do EMGFA. Quando entrei, vi o Presidente sentado no sofá e cumprimentei-o. Estava triste. E disse-me que se tivesse assistido à reunião ficaria a saber quem estava para ali a gesticular... Então, indaguei, porque razão não saiu de casa. Olhou-me nos olhos e disse-me «João, estou cansado de mentiras neste País. No dia 23 Novembro (NOTA: 1ª tentativa para assassinar ‘Nino’) tu é que os vieste tirar daqui. Depois as pessoas foram para as rádios dizer que o ‘Nino’ é que tinha engendrado esse ataque. Se eu sair daqui, hoje, dirão o ‘Nino’ mandou matar o Tagme, o mesmo homem que contribuiu para o meu regresso à Guiné-Bissau. Não saio de casa». Saí então e chamei o chefe da sua Segurança, o Duarte, e perguntei-lhe: ‘como é que é, está tudo controlado?’ Ele responde que sim, que está tudo bem montado. E eu insisto: ‘tens informações seguras?’ Volta a responder afirmativamente. Digo-lhe então: ‘porque não tiram o Presidente de casa?’ Retorquiu que não podiam dizer ao Presidente para sair de casa. E eu, já irritado, quase aos berros: ‘mas vocês é que são da Segurança, a ordem terá de partir de vocês!?’
DC - O que acontece depois?
JM - Passado pouco tempo, entra o mesmo Duarte, e diz ao Presidente que ia sair para ir ter com o ‘Zé’ António (da Segurança do Estado) para providenciarem uma grua para retirar os escombros por cima do cadáver do Tagme Na Waie. ‘Nino’ deu o seu aval. Pouco depois chega o Kalido e o seu Chefe de Estado Maior particular para dizer ao Presidente que fora ao edifício do EMGFA mas a tropa tinha-lhe proibido a entrada. O Presidente disse-lhe que não havia problemas, que esperassem até a manhã do dia seguinte (dia 2) e que ele mesmo iria até lá. O ‘Nino’ vira-se para mim e disse: ‘João, já não sais daqui’. E por lá fiquei. Chegam então os advogados Armindo (Cerqueira) e Osório. Estava em preparação um comunicado.
Para condenar o assassinato do Tagme, presumo.
Sim, para condenar o assassinato do General Tagme Na Waie. E foi aí que o Presidente me disse que mandara chamar o Carlos (Gomes Jr), mas este recusara, dizendo que não tinha segurança. E eu disse-lhe então: camarada Presidente, se não há segurança para o Primeiro-Ministro como pode haver para si? Vamos sair daqui. Voltou a responder calmamente: não saio daqui para lado nenhum. O que tiver que ser, será! Ou seja, ‘Nino’ estava decidido a ficar, custasse o que custasse. Era um militar, um chefe de guerra.
A mulher do Presidente estava em casa nessa altura?
Sim, estava.
Acha que ela aconselhara o Presidente para sair de casa?
Não acredito que o tenha feito. Pelo que notei, ela não tinha intenções de sair de casa. E o Presidente também não lhe disse para sair da residência, pelo menos na minha presença. Chegaram depois o Conduto de Pina e o Cipriano Cassamá (ambos Deputados do PAIGC) e foram sentar-se com a Isabel Vieira. Tive que lhes pedir que saíssem, pois estávamos a trabalhar. Nisto, liga-me o Jomav (José Mário Vaz, o Ministro das Finanças). Diz que me queria ver com urgência e eu digo-lhe que estou na casa do Presidente mas que me dissesse onde nos podíamos encontrar. Disse então que assim sendo, ver-nos-iamos amanhã (dia 2). O Presidente perguntou-me quem estava ao telefone e eu disse-lhe que era o Jomav e ele mesmo pegou no telefone e falaram os dois. Contudo, posso dizer-lhe que o Jomav nada nos adiantou, mas lá foi dizendo que queria era falar comigo. Não sei que informações tinha o Jomav, só ele saberá. A Isabel não o aconselhou a sair de casa. Quando o ‘Nino’ se despediu, dizendo que ia dormir, disse-lhe que dormisse na sala mas ele recusou... Teria morrido lá, naquela sala, em virtude do obus da RPG7, que atravessou o muro e explodiu na sala (NOTA: foi esse projéctil, o primeiro dessa noite, que feriu gravemente o Barnabé Gomes assessor de imprensa do Presidente da República). O Presidente foi então descansar para o quarto anexo à copa, deixando, no outro lado da casa, os advogados a trabalhar nesse comunicado. Ainda bem que assim foi, caso contrário teriam sido atingidos.
E depois disso?
Depois, fui sentar-me na varanda, mais o Biagué. E de repente chega o Adolfo (Protocolo), a gritar para a Isabel Vieira «senhora, senhora, estão a disparar, o pessoal de Mansoa está a disparar contra a casa». Digo-lhe então: então tu passas por nós e vais avisar a senhora de que há gente a disparar? Mas o que se passa, afinal? Nisto, o Presidente sai do quarto e entrega-me uma kalashnikov – estava lá o Fernando ‘Paris’ - mas no estojo só estavam dois carregadores, em vez de três no estojo e um na arma (NOTA: o estojo tradicional da AK47 leva três carregadores de 30 tiros, mais 30 na arma o que perfaz um poder de fogo de 120 tiros). O Carlos Biagué pegou numa RPG7, um outro alguém também saiu de lá com uma basuca.
Já estava tudo aos tiros, depois do disparo de obus da RPG7
Sim, e digo então ao Carlos que me deixe sair primeiro, com rajada, e assim teria tempo para sair com a RPG7. lembro-me que tinham, cada um deles, seis obuses. É poder de fogo o suficiente para causar muito estrago e, talvez até, abortar o ataque. No primeiro recontro, recuaram, fugiram mesmo, posso dizê-lo. Contudo, uma luz da residência cansou-me. Não previ que esse foco de luz lhes permitisse vislumbrar a minha pessoa, o que acabou por acontecer. A pessoa que você diz que viu cair morto, foi o Lourenço. Caiu redondo, morreu logo ali. Quando apanhou, ainda gritou dizendo ‘João, acertaram-me’. Eu entretanto já tinha sido atingido mas não lhe tinha dito nada...
Coronel, a Segurança do Presidente falhou. Quando Tagme foi morto, o Presidente devia ter sido evacuado para um local seguro. Ou não é assim?
É assim mesmo que devia ser. Mas eu não tinha poder nenhum sobre a Segurança, e o Presidente não quis sair de casa. Aliás, eu dispunha de informação que dava conta de que Carlos Gomes Jr sabia mais qualquer coisa... aliás, a mulher de ‘Nino’ até comentou ‘João, ouviste, chamaram o Cadogo mas ele recusou vir!’. O Presidente gritou então com ela, dizendo-lhe que saisse da sala. Posso mesmo dizer que a Segurança do Estado não estava alheada de tudo. Pelo contrário, sabiam de tudo!
Tagme Na Waie foi assassinado às 19 horas do dia 1, e ‘Nino’ Vieira horas depois, na madrugada do dia 2. Você estava lá e quero perguntar-lhe isto: reconheceu alguém, do batalhão de Mansoa?
Não, ninguém. Aliás, quando saí para a rua, disparei ao acaso porque não vi ninguém.E fiquei junto ao Hummer (que é blindado), e só via as balas a baterem na chapa e no vidro do jeep. Se ficasse lá, ninguém teria entrado. Mas acabei por ficar sem balas (tinha apenas 60).
O Lourenço morre logo depois...
Sim, foi quando se apoiou nos meus ombros para saltar o muro e levou um tiro na cabeça, caindo morto. O Carlos Biagué, nunca mais o vi. Ligou-me depois, quando eu já estava nas Nações Unidas, a dizer que pensava que eu estava morto. Ele já se encontrava na embaixada da Líbia (NOTA: A embaixada da Líbia fica numa esquina do quarteirão onde ‘Nino’ residia), em segurança.
Chegou a ver o Tcham na Man na residência do Presidente nessa noite?
Não, já lhe disse que não reconheci ninguém a não ser vultos. Mas a mulher do Presidente disse-me, no hospital Principal, em Dakar, que viu o Tcham na Man. Disse-me assim: ‘João, posso não conhecer mais ninguém, mas reconheci o Tcham Na Man’. E começou a chorar. Aly, quando fui para as Nações Unidas, digo-te com franqueza, desconhecia se ‘Nino’ Vieira estava vivo ou morto. Pensei até ‘se o apanharem não o matarão’.
Como escapou até chegar às Nações Unidas?
Antes ainda, estive com o Adolfo e com a Palmira (irmã da mulher do Presidente) e com uma menina, dentro de casa. O Barnabé disse-me ‘João, vou morrer’. Aconselhei-os a saírem perto da bilha de gás, a protegerem-se. A Palmira agarrou-me e disse ‘João, vais morrer, foste atingido, estás cheio de sangue’. Os advogados, talvez com o pânico, ‘protegeram-se’ junto a umas caixas de cartão... meti-os num sítio seguro e subi então para o telhado, para junto do depósito de água da residência, sempre com a minha kalashnikov, a ver o tiroteio, mas sem poder disparar porque entretanto tinha ficado sem munições...foi angustiante. A bala que me atravesou as costas de uma ponta a outra, estava a deixar-me inconsciente. Perdi imenso sangue. Lá consegui meter-me num buraco.
E depois?
Depois liguei para o Afonso, que me disse que não vinha porque estava tudo cheio de militares. Pouco depois liga o Dickson (actual director do gabinete do Presidente da República). Diz que me tentou falar durante toda a noite. Digo-lhe que fui atingido. Então, ele disse que ia imediatamente para as Nações Unidas. E assim foi. Liga-me um primo, coordenamos e veio então um carro das NU, que foi recebendo uns sinais, e retiraram-me dali. Houve inclusivamente uma nigeriana, da ONU, que gritava dizendo «quem disparou na casa do Presidente não pode entrar cá!», mas foi logo demovida por um outro funcionário, um brasileiro, que lhe disse «este senhor é coronel e estava a defender o Presidente». Foi assim que lá fiquei, depois de levar seis tiros! Foram precisos quatro sacos de plasma, sangrei das 3 às 7 da manhã...
Constou-me que quando estava na ONU, alguém mandou buscá-lo. Quem foi que deu essa ordem, e porquê?
É a verdade. Pela calada da noite, chegaram militares da Marinha à sede das NU com ordens do Zamora Induta para eu ser levado para o hospital Simão Mendes por, segundo eles, lá ‘haver mais condições’. Dizem-lhes que eu não arredo pé da sede da ONU. Debandaram. No dia a seguir, o Raimundo Pereira (presidente da ANP) liga a dizer que eu devia ser avacuado ontem para Dakar mas que não houve lugar. Transmitiu-me a mensagem do Presidente do Senegal, Abdou Diouf, em como tudo ia ser feito para eu ficar em segurança. Agradeci. Pouco depois liga a Isabel a contar que querem sepultar o ‘Nino’ na Fortaleza da Amura. Disse-lhe que os deixassem fazer isso. Lá é que é o seu lugar. Ela diz então que acabara de cometer um erro... Recusara a opção Amura e estava já tudo pronto para o funeral se ralizar no cemitério municipal de Bissau.
Do que falou com o Presidente da República, Malam Bacai Sanha, em Dakar, sobre o assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?
O Dickson telefonou-me a dizer que Malam Bacai Sanha queria ver-me, e eu respondi que me deixassem em paz, que ainda estava magoado. Ele insistiu, e eu fui. Cheguei ao hotel, e o Presidente abraçou-me. E depois garantiu-me que ‘seria feita justiça à morte do ‘Nino’. Ainda que tenha de morrer, tem de ficar tudo claro’, afiançou Bacai Sanha. Eu respondi que seria óptimo. Quero saber quem matou o Presidente e porque o fizeram. Disse-lhe que aquilo foi um acto de covardia!
Voltemos a essa madrugada, na residência do Presidente. Quem fechou à chave a porta do quarto onde ‘Nino’ Vieira estava?
Alguém disse-me que foi o Fernando ‘Paris’, mas este diz que não foi ele. Certo é que estavam lá duas pessoas... A Isabel disse-me até que o Presidente tinha vestido um colete à prova de balas, que tinha o estojo de munições à cintura e a sua AK 47 na mão. Foi assim que chegaram, e, com um pé-de-cabra, começaram a forçar a porta do quarto. Disse então à Isabel ‘eles vão matar-me, vai para dentro’. Assim que entraram, o Presidente disse-lhes que a senhora (Isabel Vieira) apenas tinha vindo para casamento e que nada tinha a ver com política, que a deixassem em paz. Um militar disse qualquer coisa e o ‘Nino’ mandou-o calar. Disparam logo uma rajada, mas como ele não morreu, acertaram-lhe várias vezes com uma barra de ferro. Depois, esquartejaram-no. Estou a contar-lhe exactamente aquilo que a Isabel Vieira me contou, também em Dakar.
E a Isabel Vieira foi depois ‘vendida’ ao próprio irmão, por 50.000 fcfa (menos de 100 euros)...
Sim. Tiraram-na de dentro dizendo que iam levá-lo ao Estado Maior, mas ela recusou, dizendo que a matassem juntamente com o seu marido. Então, perguntaram-na: onde é a casa dos teus familiares? «Dê-nos 50.000 fcfa e deixámo-la ir, de qualquer maneira o pessoal está lá dentro a beber». E foi assim que bateram à porta do seu irmão, Isidoro Romano Vieira, no cimo da rua de Angola. Este, a princípio, tinha relutância em abrir a porta, acabando por fazê-lo, resgatando assim a sua irmã.
Já lhe extraíram todas as balas do corpo?
Todas. Tenho um estilhaço no corpo (NOTA: facto confirmado pelo editor do Ditadura do Consenso). Não regressei ainda porque não sei o que se passa no meu País. As pessoas dizem-me não venhas ainda por causa disto ou daquilo. Não quero rgressar para o confronto. As pessoas estão cansadas, a Guiné-Bissau está cansada
CONTINUA...
JOÃO MONTEIRO (JM) –Nesse final de dia, o Presidente mandou chamar-me para uma reunião das chefias militares, mas como tinha problemas com o pagamento da escola do meu filho Nino (NOTA: João Monteiro deu esse nome ao filho, em homenagem ao Presidente ‘Nino’ Vieira), acabei por chegar um bocado tarde para a reunião. Fui pagar a mensalidade à escola e de seguida fui para casa. Por volta das 20 horas, o Presidente telefona e pede-me que vá a casa dele. Fui, porque eu era funcionário do Estado-Maior General das Forças Armadas. É pena, na altura, eu não estar no corpo de segurança do Presidente. As coisas não se teriam passado dessa maneira.
Quando cheguei, o Lassana Mansandé disse-me então que a reunião tinha acabado e foi ele quem me deu a notícia de que o General Tagmé Na Waie havia sido morto à bomba no edifício do EMGFA. Quando entrei, vi o Presidente sentado no sofá e cumprimentei-o. Estava triste. E disse-me que se tivesse assistido à reunião ficaria a saber quem estava para ali a gesticular... Então, indaguei, porque razão não saiu de casa. Olhou-me nos olhos e disse-me «João, estou cansado de mentiras neste País. No dia 23 Novembro (NOTA: 1ª tentativa para assassinar ‘Nino’) tu é que os vieste tirar daqui. Depois as pessoas foram para as rádios dizer que o ‘Nino’ é que tinha engendrado esse ataque. Se eu sair daqui, hoje, dirão o ‘Nino’ mandou matar o Tagme, o mesmo homem que contribuiu para o meu regresso à Guiné-Bissau. Não saio de casa». Saí então e chamei o chefe da sua Segurança, o Duarte, e perguntei-lhe: ‘como é que é, está tudo controlado?’ Ele responde que sim, que está tudo bem montado. E eu insisto: ‘tens informações seguras?’ Volta a responder afirmativamente. Digo-lhe então: ‘porque não tiram o Presidente de casa?’ Retorquiu que não podiam dizer ao Presidente para sair de casa. E eu, já irritado, quase aos berros: ‘mas vocês é que são da Segurança, a ordem terá de partir de vocês!?’
DC - O que acontece depois?
JM - Passado pouco tempo, entra o mesmo Duarte, e diz ao Presidente que ia sair para ir ter com o ‘Zé’ António (da Segurança do Estado) para providenciarem uma grua para retirar os escombros por cima do cadáver do Tagme Na Waie. ‘Nino’ deu o seu aval. Pouco depois chega o Kalido e o seu Chefe de Estado Maior particular para dizer ao Presidente que fora ao edifício do EMGFA mas a tropa tinha-lhe proibido a entrada. O Presidente disse-lhe que não havia problemas, que esperassem até a manhã do dia seguinte (dia 2) e que ele mesmo iria até lá. O ‘Nino’ vira-se para mim e disse: ‘João, já não sais daqui’. E por lá fiquei. Chegam então os advogados Armindo (Cerqueira) e Osório. Estava em preparação um comunicado.
Para condenar o assassinato do Tagme, presumo.
Sim, para condenar o assassinato do General Tagme Na Waie. E foi aí que o Presidente me disse que mandara chamar o Carlos (Gomes Jr), mas este recusara, dizendo que não tinha segurança. E eu disse-lhe então: camarada Presidente, se não há segurança para o Primeiro-Ministro como pode haver para si? Vamos sair daqui. Voltou a responder calmamente: não saio daqui para lado nenhum. O que tiver que ser, será! Ou seja, ‘Nino’ estava decidido a ficar, custasse o que custasse. Era um militar, um chefe de guerra.
A mulher do Presidente estava em casa nessa altura?
Sim, estava.
Acha que ela aconselhara o Presidente para sair de casa?
Não acredito que o tenha feito. Pelo que notei, ela não tinha intenções de sair de casa. E o Presidente também não lhe disse para sair da residência, pelo menos na minha presença. Chegaram depois o Conduto de Pina e o Cipriano Cassamá (ambos Deputados do PAIGC) e foram sentar-se com a Isabel Vieira. Tive que lhes pedir que saíssem, pois estávamos a trabalhar. Nisto, liga-me o Jomav (José Mário Vaz, o Ministro das Finanças). Diz que me queria ver com urgência e eu digo-lhe que estou na casa do Presidente mas que me dissesse onde nos podíamos encontrar. Disse então que assim sendo, ver-nos-iamos amanhã (dia 2). O Presidente perguntou-me quem estava ao telefone e eu disse-lhe que era o Jomav e ele mesmo pegou no telefone e falaram os dois. Contudo, posso dizer-lhe que o Jomav nada nos adiantou, mas lá foi dizendo que queria era falar comigo. Não sei que informações tinha o Jomav, só ele saberá. A Isabel não o aconselhou a sair de casa. Quando o ‘Nino’ se despediu, dizendo que ia dormir, disse-lhe que dormisse na sala mas ele recusou... Teria morrido lá, naquela sala, em virtude do obus da RPG7, que atravessou o muro e explodiu na sala (NOTA: foi esse projéctil, o primeiro dessa noite, que feriu gravemente o Barnabé Gomes assessor de imprensa do Presidente da República). O Presidente foi então descansar para o quarto anexo à copa, deixando, no outro lado da casa, os advogados a trabalhar nesse comunicado. Ainda bem que assim foi, caso contrário teriam sido atingidos.
E depois disso?
Depois, fui sentar-me na varanda, mais o Biagué. E de repente chega o Adolfo (Protocolo), a gritar para a Isabel Vieira «senhora, senhora, estão a disparar, o pessoal de Mansoa está a disparar contra a casa». Digo-lhe então: então tu passas por nós e vais avisar a senhora de que há gente a disparar? Mas o que se passa, afinal? Nisto, o Presidente sai do quarto e entrega-me uma kalashnikov – estava lá o Fernando ‘Paris’ - mas no estojo só estavam dois carregadores, em vez de três no estojo e um na arma (NOTA: o estojo tradicional da AK47 leva três carregadores de 30 tiros, mais 30 na arma o que perfaz um poder de fogo de 120 tiros). O Carlos Biagué pegou numa RPG7, um outro alguém também saiu de lá com uma basuca.
Já estava tudo aos tiros, depois do disparo de obus da RPG7
Sim, e digo então ao Carlos que me deixe sair primeiro, com rajada, e assim teria tempo para sair com a RPG7. lembro-me que tinham, cada um deles, seis obuses. É poder de fogo o suficiente para causar muito estrago e, talvez até, abortar o ataque. No primeiro recontro, recuaram, fugiram mesmo, posso dizê-lo. Contudo, uma luz da residência cansou-me. Não previ que esse foco de luz lhes permitisse vislumbrar a minha pessoa, o que acabou por acontecer. A pessoa que você diz que viu cair morto, foi o Lourenço. Caiu redondo, morreu logo ali. Quando apanhou, ainda gritou dizendo ‘João, acertaram-me’. Eu entretanto já tinha sido atingido mas não lhe tinha dito nada...
Coronel, a Segurança do Presidente falhou. Quando Tagme foi morto, o Presidente devia ter sido evacuado para um local seguro. Ou não é assim?
É assim mesmo que devia ser. Mas eu não tinha poder nenhum sobre a Segurança, e o Presidente não quis sair de casa. Aliás, eu dispunha de informação que dava conta de que Carlos Gomes Jr sabia mais qualquer coisa... aliás, a mulher de ‘Nino’ até comentou ‘João, ouviste, chamaram o Cadogo mas ele recusou vir!’. O Presidente gritou então com ela, dizendo-lhe que saisse da sala. Posso mesmo dizer que a Segurança do Estado não estava alheada de tudo. Pelo contrário, sabiam de tudo!
Tagme Na Waie foi assassinado às 19 horas do dia 1, e ‘Nino’ Vieira horas depois, na madrugada do dia 2. Você estava lá e quero perguntar-lhe isto: reconheceu alguém, do batalhão de Mansoa?
Não, ninguém. Aliás, quando saí para a rua, disparei ao acaso porque não vi ninguém.E fiquei junto ao Hummer (que é blindado), e só via as balas a baterem na chapa e no vidro do jeep. Se ficasse lá, ninguém teria entrado. Mas acabei por ficar sem balas (tinha apenas 60).
O Lourenço morre logo depois...
Sim, foi quando se apoiou nos meus ombros para saltar o muro e levou um tiro na cabeça, caindo morto. O Carlos Biagué, nunca mais o vi. Ligou-me depois, quando eu já estava nas Nações Unidas, a dizer que pensava que eu estava morto. Ele já se encontrava na embaixada da Líbia (NOTA: A embaixada da Líbia fica numa esquina do quarteirão onde ‘Nino’ residia), em segurança.
Chegou a ver o Tcham na Man na residência do Presidente nessa noite?
Não, já lhe disse que não reconheci ninguém a não ser vultos. Mas a mulher do Presidente disse-me, no hospital Principal, em Dakar, que viu o Tcham na Man. Disse-me assim: ‘João, posso não conhecer mais ninguém, mas reconheci o Tcham Na Man’. E começou a chorar. Aly, quando fui para as Nações Unidas, digo-te com franqueza, desconhecia se ‘Nino’ Vieira estava vivo ou morto. Pensei até ‘se o apanharem não o matarão’.
Como escapou até chegar às Nações Unidas?
Antes ainda, estive com o Adolfo e com a Palmira (irmã da mulher do Presidente) e com uma menina, dentro de casa. O Barnabé disse-me ‘João, vou morrer’. Aconselhei-os a saírem perto da bilha de gás, a protegerem-se. A Palmira agarrou-me e disse ‘João, vais morrer, foste atingido, estás cheio de sangue’. Os advogados, talvez com o pânico, ‘protegeram-se’ junto a umas caixas de cartão... meti-os num sítio seguro e subi então para o telhado, para junto do depósito de água da residência, sempre com a minha kalashnikov, a ver o tiroteio, mas sem poder disparar porque entretanto tinha ficado sem munições...foi angustiante. A bala que me atravesou as costas de uma ponta a outra, estava a deixar-me inconsciente. Perdi imenso sangue. Lá consegui meter-me num buraco.
E depois?
Depois liguei para o Afonso, que me disse que não vinha porque estava tudo cheio de militares. Pouco depois liga o Dickson (actual director do gabinete do Presidente da República). Diz que me tentou falar durante toda a noite. Digo-lhe que fui atingido. Então, ele disse que ia imediatamente para as Nações Unidas. E assim foi. Liga-me um primo, coordenamos e veio então um carro das NU, que foi recebendo uns sinais, e retiraram-me dali. Houve inclusivamente uma nigeriana, da ONU, que gritava dizendo «quem disparou na casa do Presidente não pode entrar cá!», mas foi logo demovida por um outro funcionário, um brasileiro, que lhe disse «este senhor é coronel e estava a defender o Presidente». Foi assim que lá fiquei, depois de levar seis tiros! Foram precisos quatro sacos de plasma, sangrei das 3 às 7 da manhã...
Constou-me que quando estava na ONU, alguém mandou buscá-lo. Quem foi que deu essa ordem, e porquê?
É a verdade. Pela calada da noite, chegaram militares da Marinha à sede das NU com ordens do Zamora Induta para eu ser levado para o hospital Simão Mendes por, segundo eles, lá ‘haver mais condições’. Dizem-lhes que eu não arredo pé da sede da ONU. Debandaram. No dia a seguir, o Raimundo Pereira (presidente da ANP) liga a dizer que eu devia ser avacuado ontem para Dakar mas que não houve lugar. Transmitiu-me a mensagem do Presidente do Senegal, Abdou Diouf, em como tudo ia ser feito para eu ficar em segurança. Agradeci. Pouco depois liga a Isabel a contar que querem sepultar o ‘Nino’ na Fortaleza da Amura. Disse-lhe que os deixassem fazer isso. Lá é que é o seu lugar. Ela diz então que acabara de cometer um erro... Recusara a opção Amura e estava já tudo pronto para o funeral se ralizar no cemitério municipal de Bissau.
Do que falou com o Presidente da República, Malam Bacai Sanha, em Dakar, sobre o assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?
O Dickson telefonou-me a dizer que Malam Bacai Sanha queria ver-me, e eu respondi que me deixassem em paz, que ainda estava magoado. Ele insistiu, e eu fui. Cheguei ao hotel, e o Presidente abraçou-me. E depois garantiu-me que ‘seria feita justiça à morte do ‘Nino’. Ainda que tenha de morrer, tem de ficar tudo claro’, afiançou Bacai Sanha. Eu respondi que seria óptimo. Quero saber quem matou o Presidente e porque o fizeram. Disse-lhe que aquilo foi um acto de covardia!
Voltemos a essa madrugada, na residência do Presidente. Quem fechou à chave a porta do quarto onde ‘Nino’ Vieira estava?
Alguém disse-me que foi o Fernando ‘Paris’, mas este diz que não foi ele. Certo é que estavam lá duas pessoas... A Isabel disse-me até que o Presidente tinha vestido um colete à prova de balas, que tinha o estojo de munições à cintura e a sua AK 47 na mão. Foi assim que chegaram, e, com um pé-de-cabra, começaram a forçar a porta do quarto. Disse então à Isabel ‘eles vão matar-me, vai para dentro’. Assim que entraram, o Presidente disse-lhes que a senhora (Isabel Vieira) apenas tinha vindo para casamento e que nada tinha a ver com política, que a deixassem em paz. Um militar disse qualquer coisa e o ‘Nino’ mandou-o calar. Disparam logo uma rajada, mas como ele não morreu, acertaram-lhe várias vezes com uma barra de ferro. Depois, esquartejaram-no. Estou a contar-lhe exactamente aquilo que a Isabel Vieira me contou, também em Dakar.
E a Isabel Vieira foi depois ‘vendida’ ao próprio irmão, por 50.000 fcfa (menos de 100 euros)...
Sim. Tiraram-na de dentro dizendo que iam levá-lo ao Estado Maior, mas ela recusou, dizendo que a matassem juntamente com o seu marido. Então, perguntaram-na: onde é a casa dos teus familiares? «Dê-nos 50.000 fcfa e deixámo-la ir, de qualquer maneira o pessoal está lá dentro a beber». E foi assim que bateram à porta do seu irmão, Isidoro Romano Vieira, no cimo da rua de Angola. Este, a princípio, tinha relutância em abrir a porta, acabando por fazê-lo, resgatando assim a sua irmã.
Já lhe extraíram todas as balas do corpo?
Todas. Tenho um estilhaço no corpo (NOTA: facto confirmado pelo editor do Ditadura do Consenso). Não regressei ainda porque não sei o que se passa no meu País. As pessoas dizem-me não venhas ainda por causa disto ou daquilo. Não quero rgressar para o confronto. As pessoas estão cansadas, a Guiné-Bissau está cansada
CONTINUA...
sábado, 4 de junho de 2011
Entrevista a Joao Monteiro: o que aconteceu nos dias 1 e 2 de marco de 2009
Agora sera de vez. Acabei, hoje, de desgravar a entrevista do Coronel Joao Monteiro. Foram varias horas colado ao monitor, noites fechado em casa. Mas valeu a pena. Contudo, ou nao estivessemos na Guine-Bissau, tinha que haver uma e outra manchas. Tentativas frustradas de aliciacao e de intimidacao que a mim nunca fizeram vacilar. Houve entrevista; ha que publica-la, penso assim.
Assim, a partir da noite de domingo, ira para o ar o primeiro de varios capitulos. Para ja: o que aconteceu na noite de 1 e na madrugada de 2 de marco de 2009? Um a parte: Joao Monteiro chegou a residencia do Presidente pouco antes das 20 horas e por la ficou, tendo levado 6 tiros. Uma conversa interessante, um documento importante.
Outro a parte: nao entrevistei Joao Monteiro para saber do seu percurso ou de coisa que o valha. Entrevistei-o porque interessava ouvir tudo aquilo que Joao Monteiro tinha vivido nessa noite. Queria factos, e tive factos. Ha ja muita gente excitada, sem dormir, mesmo antes de a entrevista ir para o ar. E devem ter motivos para isso... AAS
Assim, a partir da noite de domingo, ira para o ar o primeiro de varios capitulos. Para ja: o que aconteceu na noite de 1 e na madrugada de 2 de marco de 2009? Um a parte: Joao Monteiro chegou a residencia do Presidente pouco antes das 20 horas e por la ficou, tendo levado 6 tiros. Uma conversa interessante, um documento importante.
Outro a parte: nao entrevistei Joao Monteiro para saber do seu percurso ou de coisa que o valha. Entrevistei-o porque interessava ouvir tudo aquilo que Joao Monteiro tinha vivido nessa noite. Queria factos, e tive factos. Ha ja muita gente excitada, sem dormir, mesmo antes de a entrevista ir para o ar. E devem ter motivos para isso... AAS
Helder Proença - 2 anos de saudade
VIAGEM DE SEPARAÇÃO
Estava uma manhã calma e sombria
Pela rádio ouviam-se músicas tristes
O tempo transmitia a dor
MEU IRMÃO, andei te procurando
Nessa manhã que nunca mais esquecerei
Tinha esperança de poder falar contigo mas,
A minha esperança,
Desfaleceu no hospital
Onde vi a multidão
Com rosto de tristeza, revolta e interrogação
Dizendo:
“Hélder Proença”
MEU IRMÃO, queria te poder abraçar
Mas não pude
Queria ficar ao pé de ti
Mas ali não era a tua casa
Onde chegava à qualquer hora
E entrava
Estavam pessoas fardadas a guardar-te
No lugar onde te encontravas
A dor, a dor é grande para cada um de nós
As balas cravadas no teu peito
Deixa uma ferida enorme em nossos corações
E grande sofrimento
“Yu” o que me dá forças
Quando vejo os teus filhos sós
E a tua mãe prostrada
Isso renova as minhas forças
Para lutar que esta família seja como sempre desejaste
“Yu” estamos com saudades
Saudades de tudo
Quero te dizer que o teu nome ficará gravado
Na História
E nunca serás esquecido
Nesta Pátria onde lutaste
Para que exista um Estado soberano
E de direito
Testemunhará um dia….
Descansa em paz meu IRMÃO
A Bíblia diz:
“Amanhã a justiça pertence ao Senhor nosso Deus”
“Guiné, mama Guiné, Guiné di nós
No panta, no na punta i ké
Kudinu
Bu sinanu Kuma
Bianda na kabas i ka só pa un alguin
Tudo kin ku tchiga na ki hora,
I pudi kumel
Kila i balur di ermondadi
Manga di kussas
Bu sinanu Guiné
Ma n’bes di iagu kurri
No na odja sangui na kurri na tchon malgós
Ka bu panha raiba
Ka bu viranu kosta
Bambunu ku kil bu bambaran pa nó pudi diskansa na paz”
“Em Homenagem ao nosso saudoso irmão HELDER PROENÇA”
“YU”
27 de Junho de 2009
Estava uma manhã calma e sombria
Pela rádio ouviam-se músicas tristes
O tempo transmitia a dor
MEU IRMÃO, andei te procurando
Nessa manhã que nunca mais esquecerei
Tinha esperança de poder falar contigo mas,
A minha esperança,
Desfaleceu no hospital
Onde vi a multidão
Com rosto de tristeza, revolta e interrogação
Dizendo:
“Hélder Proença”
MEU IRMÃO, queria te poder abraçar
Mas não pude
Queria ficar ao pé de ti
Mas ali não era a tua casa
Onde chegava à qualquer hora
E entrava
Estavam pessoas fardadas a guardar-te
No lugar onde te encontravas
A dor, a dor é grande para cada um de nós
As balas cravadas no teu peito
Deixa uma ferida enorme em nossos corações
E grande sofrimento
“Yu” o que me dá forças
Quando vejo os teus filhos sós
E a tua mãe prostrada
Isso renova as minhas forças
Para lutar que esta família seja como sempre desejaste
“Yu” estamos com saudades
Saudades de tudo
Quero te dizer que o teu nome ficará gravado
Na História
E nunca serás esquecido
Nesta Pátria onde lutaste
Para que exista um Estado soberano
E de direito
Testemunhará um dia….
Descansa em paz meu IRMÃO
A Bíblia diz:
“Amanhã a justiça pertence ao Senhor nosso Deus”
“Guiné, mama Guiné, Guiné di nós
No panta, no na punta i ké
Kudinu
Bu sinanu Kuma
Bianda na kabas i ka só pa un alguin
Tudo kin ku tchiga na ki hora,
I pudi kumel
Kila i balur di ermondadi
Manga di kussas
Bu sinanu Guiné
Ma n’bes di iagu kurri
No na odja sangui na kurri na tchon malgós
Ka bu panha raiba
Ka bu viranu kosta
Bambunu ku kil bu bambaran pa nó pudi diskansa na paz”
“Em Homenagem ao nosso saudoso irmão HELDER PROENÇA”
“YU”
27 de Junho de 2009
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Director-Geral da televisao publica exonerado por desvios de fundos
Eusebio Nunes, director-geral da televisao da Guine-Bissau (TGB), foi exonerado do cargo por desvio de fundos doados pelo Reino do Japao para a compra de equipamentos: cerca de 60.000 euros.
Para o seu lugar vai Luis Domingos Barros (filho do coronel Domingos Barros, assassinado no mesmo dia que o general Verissimo Seabra), que ate aqui ocupava o cargo de director de gabinete da ministra da Presidencia e da Comunicacao Social, Adiato Nandigna.
O Conselho de Ministros diz que vai abrir um processo disciplinar contra o ex-director-geral.
Vergonha! A outra vergonha: durante todo o dia vemos a TPA e nao a TGB... AAS
Para o seu lugar vai Luis Domingos Barros (filho do coronel Domingos Barros, assassinado no mesmo dia que o general Verissimo Seabra), que ate aqui ocupava o cargo de director de gabinete da ministra da Presidencia e da Comunicacao Social, Adiato Nandigna.
O Conselho de Ministros diz que vai abrir um processo disciplinar contra o ex-director-geral.
Vergonha! A outra vergonha: durante todo o dia vemos a TPA e nao a TGB... AAS
terça-feira, 31 de maio de 2011
Liberdades
O Ministerio Publico guineense nao encontrou "indicios suficientes para considerar as acusacoes de crimes contra a seguranca do Estado", e mandou arquivar o processo que pendia sobre varios oficiais das nossas forcas armadas e da seguranca assim como cidadaos comuns. Na alegada tentativa de golpe de Estado, recorde-se, foram assassinados Helder Proenca, Baciro Dabo e mais dois cidadaos anonimos.
Faustino Imbali, Verissimo Nancassa, Sandji Fati, Joao Monteiro, Daniel Gomes, Marciano Barbeiro, Conduto de Pina, Afonso Te, Roberto Cacheu haviam sido acossados pela famigerada Seguranca de Estado de tentativa de golpe de Estado. Hoje, muitos ainda estao longe da sua terra e dos seus familiares.
Entretanto, nao ha quem pague as quatro vidas que se perderam, nem a dor que os seus familiares sentem... E, ainda assim, passados quase dois anos nada de Justica. AAS
Faustino Imbali, Verissimo Nancassa, Sandji Fati, Joao Monteiro, Daniel Gomes, Marciano Barbeiro, Conduto de Pina, Afonso Te, Roberto Cacheu haviam sido acossados pela famigerada Seguranca de Estado de tentativa de golpe de Estado. Hoje, muitos ainda estao longe da sua terra e dos seus familiares.
Entretanto, nao ha quem pague as quatro vidas que se perderam, nem a dor que os seus familiares sentem... E, ainda assim, passados quase dois anos nada de Justica. AAS
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Agora estou confuso...
... Ate ja compreendo o Cadogo. E entendo o Bacai... (Bom, mas deve ser do 1 de junho). AAS
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