quarta-feira, 4 de junho de 2008

Reflexão para o 7 de Junho (I)

Espanta-me o estado de espírito actual dos guineenses, a sua resignação expectante: Passivo à superfície, mas atento e crítico no fundo. Aqui, neste projecto de país, pretende-se caminhar para a justiça social admitindo injustiças pontuais gritantes; prega-se a contenção, e o despesismo do Estado aumenta; quer-se dar excelência ao Ensino e pensa-se, muitas vezes, mais com um espírito economicista do que na natureza do saber.

Aposto mesmo que os nossos governantes pensam o seguinte:
«já que não é possível mobilizar o povo – porque não há ideias, ou porque simplesmente o povo não é mobilizável – neutralizemo-lo, baralhemos a sua 'consciência social' com o nosso pragmatismo ambíguo, obrigando-o a sacrifícios e impondo-lhe, aos poucos, mudanças estruturais; e avancemos assim, com o mínimo de conflitos, até onde pudermos.»

Tendo-lhe retirado deste modo a consciência clara do que realmente se está a passar (um doce a quem saiba para onde isto vai), insuflemos-lhe, pelo menos, a imagem de que se está a dar no duro... Talvez esta seja a única maneira de fazer avançar as coisas, dados os constrangimentos de uma mentalidade mais arcaica. Ocupe-se permanentemente a agenda política, produza-se o acontecimento e preencha-se o espaço político. O povo convencer-se-á, finalmente, de que não há outra via.

Porém, esta maneira de governar comporta dois perigos essenciais: por não haver uma visão geral coerente do que se quer, arrisca-se a não seguir uma linha que diminua progressivamente a injustiça, arriscando-se o governo a perder o «norte». O segundo perigo é o afastamento do povo – o que, precisamente, por razões vitais, o governo não pode querer. Mas até onde quererá ele ir?

António Aly Silva
Jornalista