domingo, 13 de dezembro de 2015

OPINIÃO




Fonte Correio da Manhã

"A Guiné-Bissau é um país que tem sofrido muitas convulsões políticas e várias interrupções no normal funcionamento das suas instituições. Quando tomei posse como primeiro-ministro, em julho de 2004, foi dos primeiros assuntos que tive de tratar.



Existia mais uma crise naquele país, havia confrontos entre algumas das principais chefias, nomeadamente militares, que assumiam um cariz de considerável violência. Existiram assassinatos, pessoas mesmo atiradas pelas janelas, quadros tristes em qualquer país, mas naturalmente para nós ainda mais por se tratar de um Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Um dos protagonistas de todos aqueles movimentos era o ex-Presidente Nino Vieira e recordo-me que logo nos primeiros dias como primeiro-ministro tive que, na prática, dar luz verde para que lhe solicitassem que saísse de um avião onde já estava embarcado, porque não podia seguir viagem.

Nesse verão de 2004 estava como chefe de Governo da Guiné-Bissau um homem que tive oportunidade de receber em Lisboa e que me pareceu uma personalidade moderada, empenhada em estabelecer pontes e em criar alguma normalidade institucional naquele país tão devassado pela pobreza e, no geral, por carências sociais graves.

Estou a falar de Carlos Gomes Júnior. Tal como aconteceu recentemente, na altura foi preciso enviar uma unidade naval para as águas territoriais daquele país e com o meu ministro dos Negócios Estrangeiros tive de desenvolver diligências várias com países amigos – um deles sempre presente e bem informado em África, a França –, mas também, como já tive ocasião de relatar em artigos anteriores, com a Nigéria e com a própria ONU.

A situação na Guiné-Bissau na altura, como agora, preocupava os principais países africanos pela instabilidade que também podia induzir nalguns países vizinhos. Recorde-se que a Guiné-Bissau faz fronteira com a Guiné-Conacri, a sul, e com o Senegal, a norte, e está também numa região estrategicamente importante, com acesso direto ao mar.

De todos os países africanos com os quais temos laços especiais da CPLP, a Guiné-Bissau é um caso sempre muito sensível. É um povo amigo e especialmente caloroso e fraterno, com grandes ligações a Portugal, mas que não conseguiu encontrar ainda essa estabilidade que se deseja.

Carlos Gomes Júnior terminaria o seu primeiro mandato enquanto chefe de Governo em 2005 e voltaria a desempenhar essas funções entre 2009 e 2012. Já saiu e é mais um dirigente daquele país com manifestas qualidades que foi apeado pelas convulsões do sistema político guineense. É pena que na Guiné-Bissau não aconteça o mesmo que se tem verificado no outro Estado da CPLP com o qual existem várias e profundas afinidades que é Cabo Verde.

Este país tem conhecido a estabilidade, o progresso e uma vida democrática impecável. Todos esperamos um dia que o mesmo possa acontecer com a Guiné-Bissau e que esse mesmo dia não esteja longe. E embaixador português naquele país, António Leão Rocha, um distinto diplomata que foi meu adjunto nessa área enquanto tive a responsabilidade de chefia do Governo de Portugal.
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