terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

DO FUNDO DO BAÚ: Toda a verdade sobre a inclusão de nome do DSP no governo de Eng Carlos Correia


Aquando da formação do governo do Engº Carlos Correia, chega a informação da presidência que o nome do Geraldo Martins não vai passar. O PAIGC fica aflito e preocupado (até porque, os organismos financeiros deixaram bem claro que era fundamental a manutenção do Geraldo Martins como interlocutor).

Então, o DSP e o seu núcleo duro, perante esta possibilidade, imediatamente lançam o nome do engenheiro para ministro da Presidência do Conselho de Ministros - vice-primeiro-ministro, portanto.

Por uns instantes a sala ficou gélida e o ambiente intenso. DSP, perante os olhares preocupados de colegas, informa-os que se oferecia para ser um suicida. Perguntaram como? Respondeu: "com o meu nome na lista para o governo salvo o nome do Geraldo Martins."

E assim foi. O JOMAV tinha que escolher entre o DSP e o Geraldo Martins (que ele mesmo considera o melhor ministro do Governo). Jogada de mestre do DSP que nunca quis fazer parte do governo, e acabou por salvar o país. AAS

Hoje, o presidente da CMB teve uma conversa com os funcionários da câmara


OUVIR

Trovoada pede «pacto de estabilidade»


O representante especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, Miguel Trovoada, afirmou «ser de relevante e especial importância estabelecer um pacto de estabilidade para resolver a crise política».

Miguel Trovoada referiu o interesse de se criarem «regras básicas de orientação e gestão» no relacionamento entre as diversas instituições guineenses e lamentou as dificuldades de relacionamento «resultantes da má interpretação particular dos dispositivos legais, apesar da Constituição guineense consagrar atribuições e competências a cada órgão de soberania».

Por fim, Miguel Trovoada sublinhou que «a situação na Guiné-Bissau tem criado bloqueios» e que “a falta de diálogo entre as instituições guineenses «impede que se ultrapassem determinadas situações que podiam ser resolvidas rapidamente».

JUSTIÇA: António Bastos diz que não é o Bastos por quem a Justiça procura


O ex-administrador da extinta SAD da União de Leiria, António Bastos estará a tentar convencer as autoridades da Gâmbia, onde foi capturado há 11 dias, de que não é o fugitivo sobre quem impende um mandato de captura internacional por homicídio.

A Agência Lusa, citando uma fonte policial guineense, noticia que sendo a Gâmbia um país sem acordo de extradição com Portugal, Bastos, depois de capturado, terá rejeitado a nacionalidade portuguesa, dizendo que não é a pessoa que está a ser procurada pela justiça.

No Bilhete de Identidade e no passaporte emitido pela Guiné-Bissau, António Cereja Bastos surge com o nome António José Santos Pereira, e com a naturalidade de Bissau. De acordo com a mesma fonte policial, há indícios de que os documentos terão sido falsificados e no âmbito do caso já foram interrogados o delegado e o conservador que intervieram no processo.

O antigo líder leiriense estará a fazer valer a sua identificação como cidadão guineense e é com base nela que Bissau oficializou o pedido para receber o detido de volta - através de um procedimento de entrega "polícia a polícia" que funciona entre países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Vários "detalhes burocráticos" estão em curso para Bastos regressar a Bissau para a seguir ser extraditado para Portugal, de onde se pôs em fuga em 2011 depois de condenado a 13 anos de prisão por homicídio. O homem já tinha sido detido no dia 3, na capital guineense, mas conseguiu fugir: numa audiência em tribunal terá simulado uma indisposição para ser encaminhado para um hospital de onde escapou às autoridades com o apoio de cúmplices.

A fuga inicial remonta a Dezembro de 2011, quando o Tribunal de Porto de Mós foi oficialmente notificado do seu desaparecimento quando se encontrava em prisão domiciliária, com pulseira electrónica, na Figueira da Foz.

António Bastos foi condenado em 2010 pelo homicídio de um homem que tentou assaltar a sua empresa quando este já se encontrava algemado pela GNR. Mais tarde, recebeu a notícia de que o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça mantinha a pena de 13 anos de prisão. Foi condenado ainda a pagar à família da vítima uma indemnização no valor de 111 mil euros.

Conferência


A Associação Cabo-verdiana (ACV) de Lisboa tem a honra e o prazer de o (a) convidar para assistir a uma conferência do eminente Intelectual Africano, Doutor Carlos Lopes, Secretário Executivo da Comissão Económica da ONU (Organização das Nações Unidas) para a África intitulada A Transformação Estrutural da Economia Africana: As Implicações para Cabo Verde.



A conferência terá lugar a partir das 19,00 h do próximo dia 25 de Fevereiro (quinta-feira), nas instalações da AVC, sitas na Rua Duque de Palmela, nº 2, oitavo andar, ao Marquês de Pombal.

Delírios


Conversa do presidente do Senegal, Macky Sall, com um alto dirigente da Guiné Bissau:

Macky Sall: "Perdi todo o respeito e crédito para com o vosso presidente." O dirigente guineense perguntou porquê? Sall respondeu: "Desde o dia que (o JOMAV) me confidenciou e pediu-me para fazer a ponte com o presidente da Nigéria Goodluck Johnatan (nas vésperas das eleições nigerianas), que ele tinha poderes e saberes para este (Johnatan) ganhar as eleições da Nigéria. Fiquei (Macky Sall), deveras estupefacto e incrédulo com tal promessa e respondi lhe de imediato que o assunto não me interessava minimamente."

DSP - Prestígio internacional


Um alto dirigente africano disse:

"A Guiné-Bissau é um país sus generis, enquanto as grandes organizações internacionais africanas e europeias e agências e multinacionais internacionais suspiram para ter o DSP como quadro, a Guiné-Bissau e principalmente a presidência querem vê-lo longe do país. DSP é a imagem mais credível que o país tem e podia muito bem vender por este mundo fora e com ganhos consideráveis para o desenvolvimento do país."

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

LIVRO: “JIHADISMO RADICAL: IMPACTO E PERSPECTIVAS. UMA VISÃO PROSPECTIVA”


Na próxima quinta-feira, dia 25, pelas 18h00, profiro no Palácio da Independência uma conferência sob o título genérico “JIHADISMO RADICAL: IMPACTO E PERSPECTIVAS. UMA VISÃO PROSPECTIVA”.



Trata-se, no fundo, da sequela da palestra, parcialmente com o mesmo título, que obteve assinalável êxito, no passado dia 20 de Janeiro, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Desta feita, pretende-se levar a efeito uma sessão inter-activa, com a mais ampla participação do público, a fim de se esclarecerem dúvidas e de se trocarem opiniões e comentários, atenta a actualidade, extrema complexidade e delicadeza do tema.

Esta conferência realiza-se no âmbito do Núcleo das Relações Internacionais da Academia Lusófona - Luis de Camões da Sociedade Histórica da Independência de Portugal

Esta notícia é para o presidente que está "farto da COMUNIDADE INTERNACIONAL"


FMI pondera apoiar campanha de caju na Guiné-Bissau

O Fundo Monetário Internacional (FMI) poderá trabalhar com o Governo da Guiné-Bissau para viabilizar a campanha de comercialização da castanha de caju, anunciou hoje a organização. A indicação foi dada por Óscar Melhado, representante do FMI em Bissau, após um encontro com o chefe do Governo guineense, Carlos Correia.

O encontro serviu para analisar quais os mecanismos com que o Fundo poderá apoiar "o relançamento da atividade económica" na Guiné-Bissau, afetada por uma crise política há vários meses. Na semana passada, o presidente da Câmara de Comércio da Guiné-Bissau, Mamadu Saliu Lamba, alertou as autoridades para os riscos de a campanha de comercialização de caju "vir a ser um fiasco".

Lamba lamentou que a poucos dias do arranque da campanha, não seja indicado um preço de referência para compra do produto ao agricultor, entre outras medidas. Aquele responsável alertou ainda para os receios dos bancos face à crise que os podem inibir na hora de financiar a campanha de comercialização do caju, que decorre entre março a setembro.

A castanha de caju é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau e, segundo dados do Governo, cerca de 80% da população rural dedica-se ao processo, desde a compra até à venda, fazendo girar a economia do país. Perante o cenário, o FMI pondera avançar com linhas de financiamento aos operadores económicos, numa iniciativa coordenada pelo Governo, como forma de "injetar capital na campanha", disse Óscar Melhado.

"É muito estratégico que a campanha da castanha do caju decorra bem. O ano passado correu bem", disse Melhado, que também anunciou a possibilidade de o FMI apoiar as ações do sector privado que atua na Guiné-Bissau no setor da mineração e das pescas. O representante entende que, no âmbito do processo de apoio às autoridades para a redução da pobreza, "seria também muito importante" reativar os compromissos firmados com a comunidade internacional na mesa redonda organizada em Bruxelas, na Bélgica, em 2015.

Os parceiros da Guiné-Bissau anunciaram intenções de apoio a projetos de desenvolvimento do país no valor de mil milhões de euros, desde que haja estabilidade política e governava. LUSA

Relembrando Koumba Yala


Disse um político experiente e amigo de Koumba na campanha presidencial de Nuno Nabiam.

Quando lhe questionaram o porquê de apoiar o Nuno Nabiam e não um candidato escolhido pelo PRS, Koumba foi sarcástico e igual a si mesmo. "Vi no semblante de Koumba um homem extremamente desiludido e preocupado com o futuro político de partido que fundou." Koumba disse-me, 'sabes, quando fundei este partido com cariz étnico fi-lo no pressuposto de uma reivindicação histórica que nos era devida na Guiné-Bissau. Passados estes anos, apesar de várias conquistas e ganhos para a democracia, reconheço que não consegui criar ou educar uma elite sólida e bem preparada para tomar o destino dessa terra.'" E foi Lapidar no fim: "É tudo uma questão de dinheiro, nem é pelo poder!"

Ó Man!


Aquando da triagem e entrevistas na presidência para o concurso de candidatos ao lugar de PGR, as principais perguntas/directivas aos candidatos foram:

- Acusar os ministros Geraldo Martins e José António Almeida, e o secretário de Estado João Bernardo Vieira. Procurar algo muito forte que comprometa o Domingos Simões Pereira e suspender os programas na rádio do Estado). Alguém garante que Sedja Man terá assumido prontamente todos esses compromissos.

Passado todo este tempo desde a sua nomeação, o procurador tem deparado com muitas dificuldades legais. Mesmo querendo ser um kamikaze ou jihadista, a sua missão tem sido muito dificil (confidenciou um juiz, que os amigos juristas próximos chegaram mesmo a alertá-lo de que iam estar atentos e vigilantes com as suas ações).

Seja Man estará arrependido porque aceitou o convite envenenado para fazer o trabalho sujo da presidência. A gota de água foi a cilada e montagem cobarde que fizeram para envergonhar o ministro Geraldo Martins no aeroporto - prontamente desmascarada, evitou-se a humilhação pública, perfeitamente desnecessária.

Consta que o PAIGC fez chegar ao procurador o seguintes: tanto o partido como o Governo estão atentos e registam todos os actos para memória futura. AAS

FACTO


Quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Notícia da Agência LUSA

Florentino Pereira, do PRS, disse que o seu partido desconhece até aqui "qualquer comportamento que possa pôr em causa a capacidade e a idoneidade" de Carlos Correia como figura política.

"Não temos elementos para ter qualquer objeção à figura" de Carlos Correia, sublinhou Florentino Mendes Pereira, que "não fecha as portas à possibilidade de o PRS vir a fazer parte do novo Governo desde que tal sirva para a estabilização da Guiné-Bissau".

MUITO INTERESSANTE - SÓ PARA RECORDAR - E AGORA?


Quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Notícia da Agência LUSA

Partidos com assento parlamentar satisfeitos com novo PM da Guiné-Bissau

Os cinco partidos com assento no Parlamento da Guiné-Bissau saudaram hoje a indicação e nomeação de Carlos Correia para o cargo de primeiro-ministro do país, afirmando tratar-se de "uma figura respeitada". Carlos Correia, de 81 anos, foi hoje nomeado pelo Presidente guineense, José Mário Vaz, para o cargo de primeiro-ministro, após receber uma indicação nesse sentido por parte do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Agnelo Regalla, líder da União para Mudança (UM), Florentino Mendes Pereira, secretário-geral do Partido da Renovação Social (PRS) e Vicente Fernandes, presidente do Partido da Convergência Democrática (PCD), todos foram unânimes em considerar Carlos Correia "uma figura acima de qualquer suspeita".

Para Vicente Fernandes, o novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau "sempre agraciou" a sociedade com "comportamentos responsáveis nos assuntos do Estado" das vezes que ocupou as funções de chefe do Governo.

Carlos Correia deu "sempre mostras de ser uma pessoa nobre, uma pessoa capaz de desempenhar essas funções, estamos gratos com o nome", disse o líder do PCD.

Com esta nomeação hoje, é a quarta vez que Carlos Correia irá desempenhar as funções de primeiro-ministro da Guiné-Bissau.

Florentino Pereira, do PRS, disse que o seu partido desconhece até aqui "qualquer comportamento que possa pôr em causa a capacidade e a idoneidade" de Carlos Correia como figura política.

"Não temos elementos para ter qualquer objeção à figura" de Carlos Correia, sublinhou Florentino Mendes Pereira, que não fecha as portas à possibilidade de o PRS vir a fazer parte do novo Governo desde que tal sirva para a estabilização da Guiné-Bissau.



Cerimónias fúnebres do Sr. João Vaz


A esposa, Sra, Perpetua Rosa Monteiro e Silva Vaz; os irmãos Teodora Vaz, Maria Sábado Vaz, Pedro Vaz e Miguel Gomes; os filhos António Vaz, Daniel Vaz, Francisca Vaz, Carlos Vaz, Fernando Vaz, Zélia Vaz, Teresinha Vaz e Victor Vaz; sobrinhos, netos e bisnetos,



vêm comunicar aos demais familiares e amigos no país e no estrangeiro, que o seu ente querido, Sr. João Vaz de 92 anos, de idade, vai a enterrar no dia 23 de fevereiro, as 4 horas da tarde, no Cemitério da Praça, após a uma missa de corpo presente, que terá lugar as 3 horas da tarde no mesmo dia na Sé Catedral de Bissau.

COMANDANTE PEDRO PIRES: "Aceitar o uso da violência foi uma decisão dolorosa"


FONTE: Diário de Notícias

Guerrilheiro e um dos protagonistas dos acordos de independência das antigas colónias portuguesas, Pedro Pires recorda como foi precisa "muito mais coragem para terminar a guerra" do que para a começar.



"Comandante Pedro Pires" ou apenas "Comandante". Era assim que o chamavam para lhe apertar a mão. Tem hoje 81 anos. Afastamo-lo desses tantos que o abordavam aquando da abertura do VI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, a que assistia, organizado neste mês pela União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa na cidade da Praia. No dia anterior inaugurara a exposição Casa dos Estudantes do Império. Farol da Liberdade. Casa por onde passaram Pedro Pires, Agostinho Neto, Joaquim Chissano, Amílcar Cabral. Jovens das ex-colónias que em Portugal, sob os olhos da PIDE - que fechou a casa em 1965 -, e ainda longe de se tornarem heróis, preparavam-se para a luta que viriam a travar. Agora, um homem (talvez o seu secretário) ao nosso lado vai apontando para o relógio. Mas o Comandante fala sem pressa naquela ilha de onde em certos sítios se vê o Fogo, onde nasceu.


Chegou a Lisboa em 1956. Como viveu então o período da Casa dos Estudantes do Império, em Portugal?

Eu fazia o serviço militar obrigatório, tinha os fins de semana livres e aproveitava para estreitar as minhas relações com os amigos que conheci na casa. Fazia-se de tudo um pouco: desporto, conferências, música, literatura, apresentação de pequenos livros publicados pela casa. Era mais um ponto de convívio e de troca de informações, ideias, e de bastante cumplicidade.

Já não se cruzou lá com Cabral.

Amílcar Cabral antecedeu-me. Quando eu estive na casa ele já era profissional e estaria entre Guiné e Angola. Encontrámo-nos em 1961, quando eu saí [de Portugal, numa fuga coletiva dos estudantes da casa para Paris], no Gana. Ele já era o líder do PAIGC e eu alguém à procura de qualquer coisa.

Essa procura surgiu em Lisboa?

Já tinha levado comigo o sentimento de que precisávamos de qualquer coisa, ou de que qualquer coisa não estava a funcionar bem. A consciência política foi adquirida durante a minha estada em Lisboa. Não só na casa, mas sobretudo do debate de ideias com outros jovens, e do acompanhamento do que estava a acontecer no mundo.

Custou-lhe perceber então que o caminho para libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde seria o da luta armada?

Foi um processo doloroso, que podia ser de rutura com as convicções, porque nós estamos marcados por esse princípio cristão: não matarás. De modo que a vida é sagrada e a questão de decidir por uma guerra... Está claro que dá que pensar. Embora, se aprofundássemos a ideia, veríamos que o mundo tem sido um mundo de guerras, de violência, que a humanidade não conseguiu ainda libertar-se do recurso à guerra. Parece uma loucura a ideia da guerra, de ter de destruir o outro para atingir os nossos fins. Foi uma decisão dolorosa, dizer: bom, vou deixar alguns princípios e ter de aceitar o uso da violência. Não é nada fácil. Depois a realidade, os factos, a vida vem-nos impondo as suas regras, mas por fim temos de rejeitar isso e voltar à ideia inicial, que afinal precisamos de discutir, precisamos de negociar e precisamos de dialogar.

Hoje pensa muito nisso?

De tempos a tempos. Por vezes, vivemos numa situação de alguma acalmia, de relações corretas entre os países e os povos, mas repentinamente aparece mais um fenómeno violento. Somos obrigados a pensar nisso: para onde é que nos querem levar?

E não havia alternativa à luta armada para conseguir a independência das ex-colónias?

Não havia. Creio que foi uma decisão acertada, mas há que pensar num outro aspeto: iniciar uma guerra é fácil, terminar uma guerra é muito mais complicado. Foi preciso muito mais coragem.

Como se faz do quotidiano uma luta, dentro ou fora das matas da Guiné, durante mais de dez anos?

Quando se tem um objetivo, um sonho, uma ambição, o que nos condiciona é isso, somos levados por isso. É uma vida de pressão psicológica. Há as dúvidas, as angústias, as vitórias, os ganhos.

Questionou o que fazia?

Isso nunca. Porque disse: eu tenho de ganhar isto. Estávamos imbuídos dessa necessidade, desejo, dessa opção. Não havia outra opção senão continuar. E nunca pensámos em recuar ou mudar de posição, de opção, isso nunca nos aconteceu. É uma certa utopia. Como lhe podemos chamar? Não é bem ilusão, mas era uma vontade que nos comandava.

Só volta a Cabo Verde em 1974, 18 anos depois de ter saído.

1974! Foi uma coisa... Fui envolvido por todo o movimento, que me ultrapassava, era um movimento coletivo de toda a gente. Havia solicitações de diversa natureza e colocámo-nos diante do grande desafio de viabilizar o país.

Como foram os tempos depois da independência? Aqui por Cabo Verde contam-se histórias da sua luta contra a mortalidade infantil e o analfabetismo, como histórias de operários que, nas horas de almoço das fábricas, aprendiam a ler e a escrever com jovens.

Foi um tempo de grande generosidade e de grande confiança no futuro. Foi um tempo em que toda a gente quis dar um pouco de si.

Sentiu-se recompensado?

Acho que sim, mas a pressão e a necessidade de fazer avançar as coisas, de ganhar o desafio, impuseram-se a tudo o que pudesse ser uma felicidade.

O trabalho nunca acabou?

Nunca acabou. Terminámos um, entrámos noutro, e avançámos assim. Se me sentia motivado, está claro que sim. Mas por vezes também preocupado, angustiado. A preocupação foi uma companheira permanente da minha pessoa.

Quarenta anos depois da independência, Cabo Verde ainda se constrói?

Isto é uma obra de longo prazo que exige contribuição de várias gerações. Porque ganho um desafio, resolvido um problema, nascem novos. Sobretudo num país pequeno, como é o nosso, insular e com um pequeno mercado, com todas as limitações, a consolidação de tudo isto vai levar o seu tempo.

Foi assim que imaginou o país?

Não, está claro que não.

Em que medida diferia?

Eu não seria sincero se dissesse que há 40 anos podia prever o futuro de Cabo Verde. Não podia. Eu alinho-me no que disse [o poeta espanhol] António Machado sobre a marcha. "Caminhante, o caminho se faz caminhando." Não podia francamente prever os nossos ganhos hoje, os nossos desafios. Fiz o caminho caminhando.

Negociou e assinou os acordos que levaram à independência da Guiné e de Cabo Verde ao lado de Almeida Santos, então ministro do primeiro governo provisório. Depois da sua morte, em janeiro, como o recorda?

O Dr. Almeida Santos era um grande amigo, com quem estabeleci relações de amizade, cumplicidade, de muita confiança. Não são coisas que se preveem. Quiseram os acasos da história que nos encontrássemos os dois no processo de negociações em relação à Guiné e a Cabo Verde. Conseguimos entender-nos um ao outro e creio que as coisas que se fizeram devem muito a essa empatia entre a minha pessoa e a do Dr. Almeida Santos.

Ele pressionou-o para convocar eleições em Cabo Verde, em 1975?

O Dr. Almeida Santos disse: "Eu não posso dar tudo, tem de ter algumas condições." E eu [também] nunca defendi essa ideia do poder entregue imediatamente, fui mais prudente nessa questão. Pela minha prudência e alguma intuição, ou inteligência estratégica, sabia que não podia ser. Então congeminámos qualquer coisa que era aceite por toda a gente. Aceite pelos portugueses e pelo PAIGC. Foram concessões mútuas. O acordo foi um compromisso. E nós estávamos convencidos de que íamos ganhar as eleições.

Como lidaram com a oposição interna ao processo?

O nosso objetivo era a libertação de Cabo Verde, [em relação a] outra gente que pudesse pensar numa solução diferente, nós tínhamos de ganhar. Alguém há de perder. Acho que o processo de libertação de Cabo Verde custou pouco e foi bastante pacífico. Não cem, mas noventa e muitos por cento pacífico.

E as prisões de que se fala nos partidos opositores [União Democrática de CV e União do Povo das Ilhas de CV]?

Não estávamos no poder na altura, isso também foi fruto de compromissos. Não éramos poder, éramos aspirantes. São compromissos...

O Prémio Mo Ibrahim, que recebeu em 2011, garante-lhe cinco milhões de dólares anuais. De que forma tem usado esse dinheiro?

Isso tem algum interesse, mas o prémio vale pelos recursos financeiros mas também pelo seu valor simbólico, que me permite hoje participar em conferências, em várias organizações com interesse, geralmente para o continente africano. É um prémio de reconhecimento que dá visibilidade à pessoa que o recebe. Esse é o lado mais importante. O lado material, está claro que eu devo utilizar os recursos da maneira que considerar mais útil, quer para mim, para a minha pessoa, a minha família, quer para apoiar atividades aqui no meu país, o prémio é esse.

O Instituto Pedro Pires para a Liderança [IPPL] é o maior investimento desse lado material?

O IPPL recebe uma parte do prémio que lhe é destinado.

Não quer dizer que outros projetos ou atividades apoia?

Não. A Fundação Mo Ibrahim apoia-nos também para realizar certas atividades de interesse, e eu escolhi pessoalmente a IPPL como uma forma de utilizar bem os recursos para a sociedade cabo-verdiana e para o país.

O que representa para si esse valor simbólico do prémio?

É um combate à ideia errada de que os líderes africanos não estão à altura das suas funções. Vem no sentido de criar símbolos alternativos aos que são publicitados pelos órgãos de comunicação internacionais. São dirigentes africanos com prestígio, estatura política e moral elevada.

Em que sentido surge a liderança na formação dada pelo IPPL?

No sentido mais amplo, melhorar a capacidade de liderar, o conhecimento da realidade do país e também a forma de ver a liderança, o exercício de responsabilidade.

Os formandos são jovens?

São maioritariamente jovens e maioritariamente quadros superiores que trabalham.

Não só potenciais políticos?

Não, a liderança não é só política, pode ser económica, social, doméstica, é um conceito amplo, é mais do que a política. O IPPL é de natureza apolítica, não recruta os seus formandos no seio dos partidos políticos.

Como são hoje os seus dias?

[Ri-se] Estou ocupado durante todo o dia. Tenho intervenção noutras organizações, continuo a ser presidente da Fundação Amílcar Cabral. Além disso, sou uma pessoa solicitada para opinar ou aconselhar diversas pessoas amigas. Por outro lado, tenho o trabalho de seguir o funcionamento do próprio IPPL. E tenho a questão do quotidiano, sou obrigado a acompanhar o que acontece internamente e no mundo.

Como vão as memórias? Disse que haveria de as publicar.

As memórias estão em curso. Hão de sair um dia.