domingo, 28 de julho de 2013

"Meu caro amigo Aly, chegou o momento de iniciarmos um novo ciclo político na Guiné-Bissau. Foram 40 anos de percurso desastroso, um país sempre adiado e a dignidade de toda uma nação abafada. A recusa de conformismo e de demissão estão na base do meu engajamento."


Foi desta maneira sentida que o professor Tcherno Djaló se me dirigiu. O lançamento da candidatura para a presidência da República da Guiné-Bissau é já na próxima terça-feira, dia 30 do corrente mês de Julho, no hotel AZALAI, em Bissau.

SOLIDARIEDADE: Associação portuguesa suporta escola para 125 crianças na Guiné-Bissau


Cento e vinte cinco crianças de Bissau tiveram ensino pré-primário no último ano letivo graças a uma escola criada pela organização portuguesa Afectos com Letras, que está a angariar fundos para construir outro estabelecimento na capital guineense. Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, em que só um terço das crianças vai à escola primária (segundo dados recolhidos em 2010) e em que a educação pública tem sofrido com várias greves de professores devido a salários em atraso. "Graças à ajuda que temos, o sonho foi realizado", refere Bitisanta Sia, de 37 anos, professora na escola da tabanca (aldeia) Djoló: é uma casa com um pátio largo coberto e rodeado de cinco salas equipadas com mesas, cadeiras, quadros e material educativo doado em Portugal.

Tem cinco professores, uma funcionária auxiliar e está a funcionar desde 2010. A escola está no bairro de São Paulo que, como outros na capital, é servido apenas por caminhos em terra batida, esburacados e atravessados por valas, com habitações degradadas e dispersas. À volta não há nada igual àquela escola e sem ela "estas crianças iam ficar fora" do sistema educativo, destaca Bitisanta.

Em vez disso, chegam a "finalistas", o que quer dizer que estão prontas para continuar os estudos no ensino básico. Graciana Nanque, seis anos de idade, foi uma dessas "finalistas" que na sexta-feira recitou com convicção um "juramento" em português, ensaiado para a cerimónia de fim de ano letivo e em que prometeu dar bom uso às capacidades e conhecimentos adquiridos. "Faço muita coisa na escola", explicou à agência Lusa na festa em que as crianças mostraram, entre outras coisas, como sabem escrever as vogais e o próprio nome.

Graciana e Nhibló Bercil, outra colega de seis anos, articularam palavras em português, com a ajuda da professora, para explicar que aquilo que mais gostam de fazer na escola "é cantar". Iniciativas como esta "preenchem um enorme vazio" no país, referiu Ramos Horta, representante das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, depois de assistir à festa. "Os setores da educação e saúde têm sofrido muito ao longo das décadas", referiu à agência Lusa, esperando que o futuro traga estabilidade política que permita aumentar o investimento público nestas áreas.

O projeto na tabanca Djoló nasceu a partir de um contacto da Afectos com Letras com as Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, uma missão italiana ali estabelecida desde 1980, da qual uma das responsáveis continua no bairro. Em Varela, a norte do país, é apoiado pela mesma associação portuguesa um estabelecimento semelhante, com 85 crianças, em parceria com outra organização não governamental de desenvolvimento (ONGD). No último ano, a Afectos com Letras canalizou 19 mil euros para as duas escolas, explicou à agência Lusa a presidente Joana Benzinho, sem esconder que "as dificuldades financeiras em Portugal" estão a criar obstáculos.

A organização tem em curso uma campanha de recolha de fundos para fazer uma nova escola noutro bairro de Bissau, com um orçamento que ronda os 50 mil euros: a construção "é cara" no país e é necessário um furo que garanta água com qualidade e painéis solares para fornecerem eletricidade. Outra ambição consiste em criar uma biblioteca para 1436 crianças da ilha de Pecixe: as ruínas de uma igreja portuguesa foram colocadas à disposição da ONGD que conta já com o apoio de um grupo de arquitetos portugueses para a obra. Neste caso, o projeto deverá ver a luz do dia em dezembro, concluiu Joana Benzinho. LUSA

sábado, 27 de julho de 2013

Detenção em Bissau: Ministra critica jornalistas


Em conferência de imprensa proferida ontem, para fazer a apresentação do Estudo sobre violência e criminalidade, a ministra da Administração Interna teceu fortes críticas à comunicação social pela forma como esta, na sua opinião, tem vindo a tratar o caso dos agentes da Polícia Nacional detidos na Guiné-Bissau.

É que segundo Marisa Morais, os jornalistas cabo-verdianos têm emitido informações “sem confirmações quanto à verdade sobre o caso dos polícias presos na Guiné-Bissau”, porém não avançou mais informações sobre o caso, demostrando o seu descontentamento em relação ao trabalho da comunicação social. “Os jornalistas só sabem criticar o trabalho dos outros. Eu também sou uma pessoa crítica. Há notícias que convém confirmar antes e são tão fáceis de serem confirmadas. O disparate não me merece qualquer comentário a não ser esse”, apontou a governante.

Apesar das críticas, Marisa Morais revelou, pela primeira vez, que a pessoa expulsa de Cabo Verde para a Guiné-Bissau é Enide Gama, mas nada adiantou sobre o desenrolar deste processo que conduziu à detenção e posterior prisão dos dois agentes da Polícia Nacional que a acompanharam na deportação. Recorde-se que nesta quarta-feira (24), o representante do Secretário-Geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, Ramos Horta, alertou para os problemas de saúde de um deles e lançou um apelo para que, do ponto de vista humanitário, se preste atenção “a um dos agentes, que, aparentemente, sofre de epilepsia”.

Ramos Horta continua, entretanto, confiante numa solução para o problema, depois de contactos mantidos com o Presidente guineense, Serifo Nhamadjo, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Fernando Delfim da Silva. “O Presidente da República e o ministro dos Negócios Estrangeiros querem resolver o caso porque Cabo Verde, ao fim ao cabo, é um país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), um país amigo, histórico”, sublinhou.

Segundo Ramos Horta, o desfecho deverá ser alcançado “com calma”, com uma solução que respeite “as leis da Guiné-Bissau” para resolver este caso que tem uma dimensão humanitária”, defendeu, sublinhando que “cabe às autoridades encontrar uma saída”. Segundo informações avançadas pela Agência de Notícias da Guiné-Bissau, citadas pela Inforpress, o procurador-geral da República, Abdú Mané, quando questionado, quarta-feira, 24, à saída de uma audiência com José Ramos Horta, se os detidos vão ser julgados no Tribunal Militar, limitou-se a afirmar: “ o processo está no segredo da justiça”.

Contudo, os advogados dos dois polícias, não confirmam nenhuma informação oficial sobre o julgamento dos mesmos por um Tribunal Militar. Em entrevista à Rádio Morabeza, a advogada Salomé dos Santos recordou que, para isso, “eles têm que notificar os advogados através de um despacho em termos de conhecimento do crime que estão a ser acusados”. “Nós não temos nenhuma notificação neste sentido e não fomos notificados com nenhuma informação oficial até hoje”, explicou.

Os dois agentes do Departamento de Estrangeiros e Fronteiras Mário Lúcio de Barros e Júlio Gomes Tavares foram detidos no Aeroporto de Bissau no dia 12 de Julho, quando já se encontravam na sala de embarque para Cabo Verde, depois de terem realizado uma missão de uma cidadã guineense expulsa do país, depois de cumprir metade de uma pena por tráfico de droga. Binókulu

sexta-feira, 26 de julho de 2013

CPLP muda forma como apoia a Guiné-Bissau


A designação de um representante especial para acompanhar diariamente a situação na Guiné-Bissau deu um sinal mais visível e motivador da forma como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa olha para a evolução dos acontecimentos naquele país de expressão oficial portuguesa.

As palavras são do ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique que, ouvido pela RTP África em parceria com a TVM, destacou a importância que a CPLP dá à situação na Guiné-Bissau em termos de acompanhamento. Oldemiro Balói garantiu que a comunidade lusófona vai continuar a ajudar o governo de Transição guineense, mas agora de forma diferente. Disse ainda que terá de ser analisada com ponderação a forma como a CEDEAO lidou com a situação guineense desde o início. Nesta entrevista à RTP África e à TVM, na sequência do conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP, Oldemiro Balói lançou um repto aos militares que tomaram o poder na Guiné-Bissau.

8 milhões? Estes são os suspeitos...


Visualizações de páginas por país

Portugal
1.794,260

Senegal
1.111,005

Guiné Bissau
700.201


Reino Unido
667.566

Estados Unidos
626.036

França
483.540

Brasil
432.556

Espanha
112.180

Cabo Verde
108.492

Marrocos
58.638

Bubo


AQUI, a entrevista de João Soares da Gama, embaixador da Guiné-Bissau nas Nações Unidas

Um exemplo para Bissau seguir...


O Director Geral da Polícia Nacional do Senegal, o Comissário Abdoulaye Niang, foi demitido ontem das suas funções. Niang tinha dirigido durante dez anos a OCTRIS, o Gabinete contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes. A semana passada, o seu sucessor, que recentemente deixou a Direção da OCTRIS, o Comissário Ckeikh Saadibou Keita, divulgou um relatório na qual acusa Abdoulaye Niang de estar implicado em negócios da droga, notícia oportunamente DIVULGADA pelo Ditadura do Consenso. O presidente senegalês, Macky Sall, ordenou a abertura de um inquérito judiciário sobre o assunto. O anúncio foi feito em Conselho de Ministros, após o Presidente Macky Sall ter estudado o relatório administrativo relativo ao assunto que envolve a polícia depois de uma semana.

Efectivamente, a semana passada, o Comissário Cheikh Sadibou Keita, ex-chefe da Unidade da Polícia encarregada de lutar contra o Tráfico de Estupefacientes, tinha acusado o seu predecessor, Abdoulaye Niang, de estar ligado a um negócio de revenda de drogas apreendidas pela polícia tendo como cúmplices traficantes nigerianos. Segundo Abdou Latif Coulibaly, o porta voz do governo, esta medida vai-lhe permitir «dispor de todos os meios para se defender perante a justiça." Um exemplo para ser seguido pelas autoridades da Guiné-Bissau... AAS

APGB - Contagem decrescente para o juízo final


Começaram já as audições para apurar o desfalque de centenas de milhões de FCFA desviados da APGB - Administração dos Portos da Guiné-Bissau. Ontem, o auditor Abdú Jaguité foi ouvido por magistrados do Ministério Público, e é dada como certa para os próximos dias, a audição do cabecilha principal nos golpes: Armando Correia Dias - aka N'dinho - ex-presidente do conselho de administração da APGB e também do até agora Director Geral Augusto Kabi, que poderá perder o lugar brevemente. AAS

Morreu na cidade do Porto, Portugal, Ivete Gomes. A malograda era esposa de Gregório Landim, funcionário da Direcção Geral de Viação e Transportes terrestres. Que descanse em paz e condolências à família. AAS


Ou vai, ou racha!


O General António Indjai, CEMGFA da Guiné-Bissau, denota em desabafos privados estar ciente de que deve abandonar o cargo, assim como não deve tentar impôr ou influenciar a escolha do seu substituto. Devido à sua má reputação externa, agravada por acusações da justiça dos EUA, reconhece que a sua retirada é “indispensável” à recomposição da credibilidade do país e das Forças Armadas, e que a nomeação de alguém com ele identificado, daria azo a reservas susceptíveis de prejudicar tal objectivo. A 'boa vontade' agora notada em António Indjai é associada a convicções do próprio segundo as quais assim contará com o apoio da CEDEAO e de países da região no processo da sua defesa face às acusações norte-americanas. António Indjai tem revelado uma atitude contemporizadora com o papel que a CEDEAO chamou a si na escolha do novo CEMGFA.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

António Aly Silva em entrevista à Rádio Morabeza: “Quem tem interesse em espiar a Guiné é a DEA”


António Aly Silva, jornalista guineense, é uma das vozes críticas que se levanta contra a detenção dos polícias cabo-verdianos na Guiné Bissau. Em entrevista exclusiva à Rádio Morabeza Aly Silva declara que tudo não passa de uma represália do governo guineense por causa da detenção de Bubo Na Tchuto em águas cabo-verdianas. Pode OUVIR a entrevista na íntegra.

António Aly Silva - É de lamentar que as autoridades da Guiné, uma vez mais estejam a passar uma imagem negativa para o mundo e sobretudo para os nossos irmãos de Cabo Verde. Povo com o qual fizemos uma luta em que cada um conseguiu a sua independência e pela qual muitos guineenses e cabo-verdianos morreram. Isto era uma coisa de evitar. Eu sei que as autoridades da Guiné, ilegítimas como são, com a incompetência que reina naquele governo que tem o apoio de quatro países, um pais que está cercado económica e politicamente nas instâncias internacionais credíveis esteja nervoso. E tenta com cada atitude errar ainda mais. Cada vez que o governo da Guiné tenta emendar a mão faz mais disparates, portanto eu lamento profundamente isto que está a acontecer, isto é uma coisa que se devia resolver muito facilmente. Aliás, há uma coisa que as pessoas ainda não perceberam… os agentes cabo-verdianos, antes de serem agentes são cidadãos de uma comunidade chamada CEDEAO onde todos os nacionais de cada um desses países tem livre circulação nesse espaço. Falhou alguma coisa. No momento em que as autoridades cabo-verdianas foram a Bissau entregar uma ex-detida com pena acessória de expulsão estavam a cumprir uma lei que é reconhecida internacionalmente. Muitas vezes guineenses chegam a Bissau levados por agentes do SEF português. Eu mesmo sou testemunha de vários casos e nunca aconteceu o que se esta a passar com os agentes da policia de imigração de Cabo Verde. E há outra coisa. Tudo isto servirá para que a Guiné continue no lamaçal em que está. Coitado daquele povo que não tem quem lhe acuda. Todas as pessoas falam em governos e em eleições, ninguém fala do povo da Guiné Bissau que é o menos tido em conta em toda esta questão.

Rádio Morabeza - O que está em causa?

Está em causa a hipotética prisão do Bubo nas águas de Cabo Verde com a ajuda dos polícias cabo-verdianos. Isto é uma represália patética, ordinária. Não se pode admitir. Cabo Verde não deverá admitir esta humilhação, porque isto é uma humilhação. A Guiné tem mais de 8000 guineenses a viver em Cabo Verde. Vamos imaginar, eu nem quero supor que isso um dia possa acontecer, mas vamos imaginar que represálias aconteçam também do outro lado. Isto tudo não ajuda ninguém. Isto tudo é… Eu não sei o que é que aquele país tem, não sei que mal fizemos para que tenhamos o castigo que estamos a ter. Com guineenses que não podem voltar a ver o seu pais, com guineenses todos os dias a serem raptados, espancados, assassinados… disto ninguém fala, as pessoas querem apenas eleições. Não resolve nada eleições, já ficou provado que não se resolve nada. Faço aqui um apelo ao governo da Guiné Bissau, deixem os cidadãos de Cabo Verde, os polícias, regressar ao seu país. Podem regressar e se houver um processo depois podem ser chamados. O governo da Guiné tem que aprender uma coisa… e isto é válido para este governo, para o que saiu, para o que há-de vir… em diplomacia, às vezes, há que engolir o peixe pelo rabo. Eu não sou diplomata, mas sei o que é diplomacia, porque eu estudei. Eles não podem tomar de ânimo leve decisões que podem ferir relações entre os estados mais próximos. Os mais próximos de nos é o Senegal, a Gambia e Conakry, mas o mais próximo dentro de nos e do nosso coração é Cabo Verde. Não é mais nenhum, não é Portugal, é Cabo Verde. Temos um líder comum, que lutou 11 anos e que foi assassinado pelos guineenses. Começaram a matar ali e continuam a matar pessoas e a prender pessoas. Sabe Deus em que condições estão essas pessoas, sabendo eu como são as celas das prisões naquela cidade de Bissau, porque de certeza que não os levaram para Mansoa ou para Canchungo, ou para Bafatá onde existem duas prisões novas. Sabe Deus em que situação se encontram. Deixem os homens em paz. Não há nada, o primeiro-ministro de Cabo Verde já disse que o país não tem serviços secretos. Quem tem interesse em espiar a Guiné é a DEA [n.d.r. Drug Enforcement Agency] e é o que tem feito. Aliás, nos documentos revelados pelo Snowden, a Guiné aparece como um dos países monitorados e continua a sê-lo. Eles querem apanhar os bandidos que lá estão, a começar pelo General e a descer até ao continuo… é só bandidos. E para tapar tudo isto fazem disparates a torto e a direito. Prendem pessoas, deixam-nos sabe Deus como sem serem ouvidos durante alguns dias, magistrados que não querem pegar no processo porque não vêem ponta por onde pegar para acusar alguém, e corre até, segundo uma fonte minha, que o próprio director da Judiciária é capaz de sair por causa deste processo. Não têm nada para pegar. Nada. Estão cegos, o guineense parece… somos 1 milhão e 600 mil e metade é surdo e a outra metade é cega! Mas que coisa é esta? Isto é uma afronta para a comunidade internacional que para além de ter tolerado, entre aspas, o golpe continua a confrontar-se com isto e até o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, António Patriota, disse há dias “até às eleições convém que haja estabilidade, nós não queremos que uma agulha se parta” e eles partem… quer dizer, isto é gozar. Eu acho que o Ramos Horta já bebeu água do Pidjiguiti, já dança gumbé, já fala crioulo e já come com as mãos. A Guiné Bissau está perdida. Isto é um alerta de socorro, se não nos ajudarmos… acabou, aquele país está perdido, completamente perdido. Se não podem ajudar a Guiné, vedem as fronteiras, saiam e deixem o povo, porque o povo também não faz nada, este povo é assim…

O que é que pode acontecer aos polícias cabo-verdianos agora que estão sob a alçada do António Indjai?

Olhe, eu não sei por que carga de água… nós temos um Procurador Geral da República… é bom que se perceba a Guiné. Quando se deu o golpe, lembrei-me da frase do Presidente Bush, quando as torres gémeas caíram… “Ou estão connosco ou estão contra nós”, quem estivesse contra eles e estivesse no país acontecia-lhe o que tivesse de acontecer, temos vários casos. Não acredito, e estou a dizê-lo como cidadão guineense, não acredito que o próprio Tribunal Militar encontre provas para acusá-los e condená-los. Não acredito. E não acredito numa outra coisa, um estado como Cabo Verde, que é um estado não é uma brincadeira de estado ou um estado de espírito, Cabo Verde tem os seus problemas como todos os países têm os seus problemas mas, Cabo Verde mostrou que é um estado. Tem atitude de Estado, vemos os seus membros do governo, vemos o pessoal que trabalha no Estado, nos altos cargos. É um estado a sério e que é levado a sério pese os problemas que tem e que tem tentado resolver. As pessoas na Guiné costumam dizer que Cabo Verde também tem tráfico de droga. Pois tem, mas quando são apanhados vão para onde? Vão para a cadeia e são julgados e são condenados. Há aquele célebre processo da Lancha Voadora. As pessoas estão na cadeia. Não é como na Guiné vais para a cadeia e à noite vais para a discoteca com uma namorada, vais beber um copo e depois voltas para a cadeia! Mas que país é este? Eu algum dia supus o meu país assim? Nunca! Guiné não é Estado, a Guiné não tem nada a ver com um Estado. A Guiné já nem é um Estado falhado, a Guiné é um Estado que não existe. A Guiné existe no mapa porque há um traço que nos faz ter fronteiras com três países porque de resto é só isso. A Guiné não tem nada. A Guiné não sabe sequer quantos habitantes tem, não sabe quantas camas tem nos hospitais. A Guiné não é nada! A Guiné é como uma casa onde cada um gere como quer… esse é que é o problema. A Guiné tem de ser tomada pela ONU como fizeram com Timor Leste, porque se o Ramos Horta é mesmo amigo da Guiné era a primeira coisa que dizia nas Nações Unidas. “Amigos, sem partir uma palha, vocês entraram aqui [n.d.r. Timor Leste] e fizeram um Estado reerguer-se e depois entregaram-no… façam o mesmo com a Guiné Bissau!” A União Africana não precisa de mandar um email à CEDEAO a dizer “olha, nós vamos tomar isto em mãos”, não precisa, porque a União Africana é a organização maior do continente e a CEDEAO são 24 países. Se a Guiné Bissau fosse largada e tomada em mãos pela ONU, daqui a dez anos, quem voltasse à Guiné ia dizer que estava no céu, porque temos mais recursos que qualquer um deles [n.d.r. os quatro países que reconheceram o governo golpista]. O problema do Senegal com a Guiné é o porto de Buba que seria o motor da economia nacional, e é isso que o Senegal não quer e continua a não querer. O Senegal não pode connosco, nem nos quer ver, é um país que não gosta de nós. É uma relação entre estados que são como duas comadres não podem uma com a outra! Portanto, se as Nações Unidas não resolverem imediatamente o problema da Guiné, sairão terroristas, sairá mais droga, sairá tudo o que é de mau para matar europeus, para matar ocidentais.
Todos os dias há notícias de guineenses presos nos aeroportos com bolotas de cocaína. Eu amanhã vou viajar e quando chegar ao aeroporto quase tenho de me despir, porque sou guineense, logo sou traficante de droga. Tudo isto não nos ajuda, não nos ajuda minimamente. O povo da Guiné Bissau também tem a sua dose de culpa. É um povo, fraco, é um povo completamente prostrado e a conviver com a canalha na mesma cidade que é tão pequenina que nos cruzamos a toda a hora e ainda por cima riem-se com eles e se for preciso ajudam-nos. Este é que é o problema da Guiné e dos guineenses…

Vou voltar à questão dos cabo-verdianos, o que é que vai acontecer aos dois policias cabo-verdianos agora que estão sob alçada do tribunal militar?

Francamente! Isto é tudo uma conivência  do António Indjai, que é de facto o homem que manda na Guiné, é o Presidente, o Primeiro-ministro, até para se nomear um director tem de se passar pelo António Indjai. E é isto que o mundo civilizado reconhece como inclusão, uma nova palavra para legitimar golpes e estas coisas todas. Mas não acredito que o tribunal militar vá levar esse processo adiante porque não vai ter provas, não há nada, quero aqui dizer, apelar à família dos agentes, ao governo de Cabo Verde para que estejam tranquilos. A Guiné Bissau, o seu povo, não falo deste governo que lá está ilegalmente, o seu povo sempre conviveu com os cabo-verdianos. Aconteceu o golpe de 80 e nenhum cabo-verdiano foi tocado na Guiné para sair do país. Continuamos todos lá, falamos todos a mesma língua. Que isto em nada belisque a relação entre os nossos dois povos, que é muito mais do que aquilo que lá está neste momento naquele país a fingir que governam. Não tem nada a ver, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Nada! É pura e simplesmente uma represália que, para mim foi triste e de lamentar, mas isto não pode beliscar a relação entre os dois povos.

A Guiné há de voltar a ter o seu governo legal que o povo votará. Este aqui está no fim, este não aguenta. A Guiné vai voltar a ter um golpe de Estado não tarda, isto ponho as minhas mãos no fogo e digo com toda a clareza, a Guiné vai sangrar de novo. As pessoas vão ver o que vai acontecer outra vez. Nada vai acontecer com os agentes da Policia de Cabo Verde, de certeza, e espero que estejam a ser bem tratados, na medida do que é que podemos entender por bem tratados quando alguém já está preso. Mas espero que brevemente possam voltar ao seu país e para junto das suas familias.

Na sua opinião este processo está quase a conhecer o seu desfecho?

Tenho quase a certeza, porque se há um processo patético, ou seja, mais um, é este.

Director-geral da PJ pediu demissão


O Director da Polícia Judiciária da Guiné-Bissau, João Biagué, pediu a demissão do cargo. Segundo apurou a RDP-África, a decisão de Biague surge após várias pressões de que tem sido alvo, na sequência da detenção dos dois Agentes da Polícia cabo-verdiana em Bissau.

João Biagué tem recusado falar com a Imprensa sobre este assunto, alegando que "não foi a Policia Judiciária que deteve os dois agentes." O pedido de demissão de João Biagué, do cargo do Director Geral da Polícia Judiciária guineense foi expressa através de uma carta enviada ao Ministro da Justiça, Mamadu Saido Baldé.

Polícias timorenses


O ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, José Luís Guterres, disse hoje que três polícias timorenses viajaram na quarta-feira para a Guiné-Bissau para integrarem a missão da ONU naquele país. "É uma honra e uma alegria para nós enquanto timorenses podermos contribuir para missões de paz das Nações Unidas, pois desde 1999 que recebemos missões da ONU que nos ajudaram a manter a paz no país", afirmou José Luís Guterres. Segundo o chefe da diplomacia timorense, agora chegou a altura de Timor-Leste "começar a contribuir".

DC: 8 milhões de visitas. Obrigado. AAS

DEA-EUA-ANTÓNIO INDJAI: Contagem decrescente


No dia em que o contra-almirante Bubo Na tchuto está de volta ao tribunal para responder por crimes relacionados com o tráfico de drogas, os EUA não se esqueceram do acossado António Indjai. O subtil recado deixado às autoridades de transição guineense pelo embaixador norte-americano para a Guiné-Bissau, com residência em Dakar, aquando da sua última visita ao país, foi claro: a Administração norte americana em nenhum momento se "esqueceu" do caso António Indjai, general guineense e Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, acusado de crimes de tráfico de droga e de armas visando um complô contra os EUA. O embaixador garantiu ainda que as autoridades do seu pais continuam empenhadas e determinados em traduzir António Indjai perante a justiça norte-americana.

Relativamente a este dossier, fontes bem informadas do Ditadura do Consenso dão conta de que, elementos operacionais do Departamento de Estado norte-americano e da DEA reúnem-se frequentemente com as autoridades securitárias da CEDEAO com base em Dakar, tendo como pano de fundo António Indjai. Dakar tornou-se, assim, a base de toda a operação, que poderá passar por uma 'blitz' a fim de tirar Indjai da sua toca e levá-lo à presença da justiça federal.

Na sequência da captura de Bubo Na Tchuto, as autoridades norte-americanas estavam determinadas em completar o "bouquet" e capturar por quaisquer meios António Indjai, não se importando minimamente com as repercussões internacionais desse acto. Temendo incompreensões regionais, a CEDEAO chegou-se à frente prometendo "tratar do assunto" a nível regional e de preferência sem ferir susceptibilidades das autoridades militares guineenses. Nesse particular interpuseram essencialmente, e por razões óbvias, o Senegal, temendo repercussões sobre o conflito de Casamança; e a Nigéria, temendo este, a perda de sua autoridade de policia regional. Segundo os planos da CEDEAO, num primeiro tempo, far-se-ia subtilmente sair da cena o general, propondo-lhe uma boa reforma e um "posto" num qualquer comando militar regional na Nigéria. Num segundo tempo e, após ganhar a sua confiança..., deixá-lo-iam cair nas malhas da DEA.

Até agora, o CEMGFA não caiu no engodo da CEDEAO e tem declinado todos os convites para ir a Abuja. Porém, o tempo foi passando e como não se vislumbrava nenhuma saída para o dossier Indjai, os americanos tornaram-se impacientes e pedem resultados, sob pena de entrarem eles mesmos em acção e consumarem a sua captura. A impaciência americana provocou esses novos encontros que deverão ser decisivos, segundo a nossa fonte.

A agravar colateralmente a situação, está igualmente a recente atitude das autoridades guineenses em deterem dois agentes da Policia cabo-verdiana em circunstâncias pouco claras e com cheiro a vingança. A Autoridades norte-americanas entendem essas detenções como sendo uma revanche guineense à captura do barão da droga Bubo Na Tchuto. Bissau tem acusado deliberadamente as autoridades cabo-verdianas de implicação directa nessa operação e deixaram implícitas que haveria retaliação. Essa atitude infantil das actuais autoridades de Bissau, teve como efeito provocar a exasperação dos norte-americanos que voltaram a meter pressão sobre o dossier Indjai, porquanto é de convicção dos Estados unidos de que o general está por detrás dessa rocambolesca "vendetta". Novos encontros estão previstos para Dakar, onde se espera que saia fumo branco para fechar o dossier o mais rapidamente possível. AAS