quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Guiné-Bissau precisa de mais apoio da comunidade internacional, diz Ramos-Horta em Bissau
José Ramos-Horta chegou na madrugada de hoje a Bissau e encontrou-se esta manhã com o primeiro-ministro de transição, Rui de Barros, o primeiro de um ciclo de contactos com responsáveis guineenses, nomeadamente para apresentação de cumprimentos. Após a reunião de cerca de 45 minutos, o novo representante das Nações Unidas afirmou-se otimista e pronto para "abrir outro capítulo" na Guiné-Bissau, embora as decisões nesse sentido tenham de partir dos guineenses. "Sou uma pessoa otimista, um otimismo fundado no que conheço do povo guineense, prático, determinado e com elevado número de quadros", disse Ramos-Horta, considerando que há "um bom ambiente" na Guiné-Bissau, quando comparado com outros países do mundo.
Afirmando que há "um processo de diálogo em curso" iniciado pelo Presidente da República de transição, Ramos-Horta disse acreditar que se está "no bom caminho" e acrescentou que está confiante no sucesso da sua missão. Na Guiné-Bissau há "uma situação de um Estado frágil, que precisa de ser apoiado. A Guiné-Bissau nunca teve muito apoio da comunidade internacional", disse o representante da ONU, uma ideia que lhe fica, acrescentou, do que tem observado ao longo dos anos e das vezes que esteve no país. É preciso, disse, que a comunidade internacional "direcione ajuda para beneficiar o povo guineense, sobretudo os jovens".
José Ramos-Horta, ex-Presidente de Timor-Leste e Prémio Nobel da Paz, foi em janeiro nomeado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, seu representante para a Guiné-Bissau. Ramos-Horta substituiu o ruandês Joseph Mutaboba, cujo mandato terminou a 31 de dezembro passado, na liderança do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau - UNIOGBIS. A Guiné-Bissau tem vivido momentos de instabilidade cíclicos. Em abril do ano passado, um golpe de Estado derrubou os dirigentes eleitos e desde então o país está a ser gerido por autoridades de transição, não reconhecidas pela maior parte da comunidade internacional. LUSA
JOVENS E TRAJETÓRIA DE VIOLÊNCIA. OS CASOS DE BISSAU E DA PRAIA
APRESENTAÇÃO DO LIVRO “JOVENS E TRAJETÓRIA DE VIOLÊNCIA. OS CASOS DE BISSAU E DA PRAIA”, Pureza, J.M; Roque, S.; Cardoso, K. (Orgs), Coimbra, Almedina/CES, 2012
Cabe-me apresentar a segunda parte deste livro que é dedicada ao estudo dos jovens e trajectórias de violência em Bissau. Gostaria de ressaltar, em primeiro lugar, o olhar original sobre as questões de segurança na Guiné-Bissau que nos traz este livro.
Quando pensamos em segurança na Guiné-Bissau, a imagem que dai resulta é a da violência política e militar, dos sucessivos golpes de estado, dos assassinatos políticos e da impunidade, e do narcotráfico. Recentemente, podemos ainda acrescentar o terrorismo e o tráfico de seres humanos. Ora, por causa destas preocupações, a atenção, as políticas e os fluxos financeiros têm sido desviados para as questões da segurança e as suas dimensões internacionais. Um dos exemplos claros deste desvio é a atenção dada à Reforma do Sector da Segurança: Reformar os militares é tido como essencial para um cenário de paz e desenvolvimento na Guiné-Bissau. Isto baseado no princípio que não há paz sem desenvolvimento nem desenvolvimento sem paz. Este posicionamento tem remetido para segundo plano outras dimensões das dinâmicas sociais na Guiné-Bissau que se vão tornando invisíveis; como também tem remetido para segundo plano muitas das reais preocupações dos guineenses em matéria de segurança.
Penso que esta é uma das razões porque este trabalho é diferente: porque tenta compreender a sociedade guineense a partir das suas próprias preocupações: Quais são de facto as questões que preocupam os guineenses ao nível da segurança?
Também em relação aos jovens, neste trabalho contestam-se (1) os processos de securitização dos jovens e (2) a imagem dominante dos jovens como “ameaças”. Assim este texto dá visibilidade a estes jovens ajudando-nos a tentar compreender: Quem são estes jovens de Bissau? Quais são as suas histórias de vida? Como é que eles se vêem, e se imaginam, como é que sonham o futuro? E em relação às jovens raparigas, tenta compreender a que tipos de violência estão sujeitas.
O primeiro capítulo sobre a Guiné-Bissau é da autoria da Sílvia Roque. Investigadora do Centro de Estudos Sociais de Coimbra e doutoranda, está fazer um doutoramento sobre violência em contextos de pós-guerra (nos casos de El Salvador e Guiné-Bissau) e trabalha há vários anos em questões ligadas à Guiné-Bissau e o que ressalta do seu trabalho é precisamente, esta postura de questionar os estereótipos, e é esta atitude que empresta a este trabalho. A autora propõe-se inverter a pergunta mais comum nos estudos sobre jovens e violência e pergunta: “por que razoes não se “mobilizam” os jovens em Bissau?” . Quando enfrentam desemprego, pobreza, falta de acesso a educação de qualidade, ausência de perspectivas de um futuro melhor, por que é então que estes jovens não se envolvem em gangs ou grupos armados?
A autora traça, em primeiro lugar, um retrato plural destes jovens que não são uma massa homogénea e, para tal, entrevista jovens detidos, consumidores de droga, jovens envolvidos em todo o tipo de projectos associados à cultura, a políticas, universitários, estudantes, bancadas, grupos de jovens em bairros, etc.
As razões da não-violência são múltiplas: desde a eficácia do controle social até a capacidade de superação dos problemas de forma pacífica. Mas também pode ser a desesperança que faz com que as soluções mais óbvias para o futuro sejam: fugir ou esperar. Também pode ser essa mesma desesperança que evita a organização violenta dos jovens que pode actuar no sentido de os desprover do exercício de uma cidadania activa, de protesto e de resistência.
Finalmente pergunta-se até quando que os jovens vão esperar pacificamente? Aliás coloca-se a mesma questão em relação ao povo guineense: até que ponto é que as transformações sociais poderiam por em causa a tremenda resiliência que a população guineense tem demonstrado face às adversidades?
No segundo capítulo, “Falhanço em cascata: como Sociedades Agrárias Africanas em colapso perdem o controlo sobre os seus cadetes”, Ulrich Schiefer, sociólogo e antropólogo, Professor do ISCTE-IUL e da universidade de Münster, dá-nos algumas das explicações também face à questão de por que é que os jovens não se mobilizam. Fá-lo através da análise dos mecanismos, extremamente elaborados, de contenção de violência que existem nas sociedades agrárias da Guiné-Bissau. Não se trata aqui de analisar sociedades imutáveis, como clarifica o prefácio, mas de tentar compreender em que medida é que estes sistemas podem ser resilientes ou enfraquecer perante as mudanças sociais. O ensaio salienta nomeadamente os potenciais impactos negativos na gestão da violência derivados da desestruturação das sociedades agrárias simultânea à migração para contextos urbanos nos quais as promessas da modernidade não podem ser cumpridas. É sobretudo nestes contextos urbanos, em que os bairros periféricos abrigam cada vez mais migrantes que fracassaram no seu projecto de (e)migrar, em cidades onde não encontram ocupação, que a gestão do potencial de violência se torna mais difícil.
Finalmente, o último capítulo da autoria de Sílvia Roque e Joana Vasconcelos centra-se nas jovens raparigas guineenses e analisa diferentes expressões de violência que as afectam. O título deste capítulo diz “raparigas de agora é só provocação” e surge da constatação de que as jovens raparigas são alvos de crítica generalizada sendo consideradas “interesseiras”, “que provocam os homens” e que se relacionam com estes apenas com o objetivo de obter ganhos materiais. A este propósito, é ilustrativa a citação de um grupo de mulheres que garante que: “as raparigas, se os homens não lhes dão dinheiro, elas vão buscar outro. E preciso encher-lhes o bolso”. As autoras defendem que estas acusações mostram de algum modo, por um lado, a perda de controlo sobre a sexualidade destas jovens e, por outro lado, as transformações económicas e sociais nas quais as raparigas assumem cada vez mais um papel de relevo enquanto actores com agência. No texto exploram ainda dois tipos principais de violência directa: o casamento forcado e a violência entre namorados que consideram um produto da recusa das práticas ditas “tradicionais” como da adesão a novos ideais como por exemplo, os ideais de amor romântico. Acima de tudo este trabalho pretende contribuir para superar a invisibilidade de grupos até agora quase invisíveis como os jovens e especificamente as jovens raparigas. É um olhar de fora mas que, através de um grande rigor, tenta ser de dentro. Daí ser muito diferente das abordagens habituais no campo da segurança. Foi, aliás, na perseguição deste objectivo que a Joana Vasconcelos, no âmbito da sua tese de doutoramento, iniciou o seu trabalho de campo para tentar para tentar compreender como é que as jovens raparigas conseguem superar as dificuldades da juventude.
José Manuel Pureza disse acreditar que “em cada um destes casos há um James Dean”. Se acreditarmos também que estes jovens dão expressão a uma violência que advém de choques entre visões do mundo e que podem conter em si a força de mudança, este livro é uma leitura essencial.
por Ana Larcher
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Tensões internas em reavivamento
1 . A situação político-militar na Guiné-Bissau apresenta sinais de anuviamento descrito num intelligence memo como “extremado”.
A saber:
- O alferes Júlio Mambali, comandante da guarda do CEMGFA, General António Indjai, foi coercivamente afastado; vários outros oficiais e efectivos subalternos da força foram também afastados e/ou presos.
- O relacionamento de per se tenso entre o Presidente de transição, Serifo Nhamadjo, e o CEMGFa, António Indjai, passou por novos episódios demonstrativos do seu carácter precário.
- O PM, Rui Barros, e o Governo em geral denotam estar “alinhados” com António Indjai no conflito que opõe este ao Presidente.
- Proliferam notícias de casos de corrupção, abusos de poder e de impreparação geral de vários governantes.
- As condições de vida nos quartéis, em especial nos aspectos da alimentação e acomodação, atingiram níveis considerados “insuportáveis”.
O cenário de uma ruptura violenta da situação não é, porém, admitido em meios que acompanham a sua evolução. O factor tido em conta na estimativa é o de que o poder militar da CEDEAO/Ecomig, instalado e mobilizável, tem capacidade de dissuasão suficiente para desencorajar um “putsch” – embaraçoso para a organização.
2 . A cumplicidade existente entre o Governo e o CEMG é especialmente fomentada por percepções dos próprios de que a evolução em que a situação entrou, tende a marginalizá-los. Entre os factores determinantes da referida evolução é especialmente valorizado o interesse da CEDEAO, em “alijar um ónus a que se expôs”.
A CEDEAO precisa, por razões políticas e financeiras, que a comunidade internacional atenue ou levante o isolamento em que mantém a Guiné-Bissau desde o golpe de Estado de 12 de Abril de 2012. Foi com essa intenção que “encorajou” desenvolvimentos como a reposição da Assembleia Nacional e a vinculação do PAIGC ao processo transição.
De acordo com o leitmotiv da CEDEAO, que enquanto tal e/ou através de membros influentes, teve um papel instigador no golpe de Estado, a sua intervenção na Guiné-Bissau deve ter um “fim honroso”. Na sua perspectiva, tal desígnio será alcançado com a realização de eleições credíveis com o início do processo de reforma das FA.
António Indjai está ele próprio ciente de que se converteu num “embaraço” para a CEDEAO, devido a traços/tendências de personalidade e conduta, assim como impreparação técnica. Entre os próprios governantes, em geral, há igualmente a percepção de que tenderão a ser preteridos, de modo a remover obstáculos como a sua má reputação.
O descrédito de António Indjai junto da CEDEAO tornou-se irreversível por efeito directo da de um motim interno que “montou” com o fim inferido de se apresentar como vítima e como garante da coesão das FA. A “montagem” foi geralmente considerada “inábil”.
3 . O afastamento e prisão de Júlio Mambali (presentemente em greve de fome) ocorreu em circunstâncias consideradas elucidativas das extremas preocupações de segurança que dominam António Indjai – em larga escala alimentadas pela noção que o próprio tem de tensões internas, nas FA e no país, que fazem dele “um alvo”.
O ex-comandante, por uma razão a que terá atribuído urgência, apresentou-se a António Indjai sem se sujeitar a normas/procedimentos que implicariam a sua passagem por um núcleo próximo da segurança interna do mesmo. António Indjai associou instintivamente a atitude a intenções menos claras em relação à integridade da sua pessoa e agiu em conformidade.
A guarda de António Indjai, internamente conhecida por “pretoriana”, monta guarda permanente a todos os locais que o mesmo frequenta, por rotina ou ocasionalmente. Residências de pernoita, quartéis e locais públicos. Manobra apoiada pela chamada Contra Inteligência (TenCor Tchipa), cuja função primacial é vigiar suspeitos.
4 . António Indjai revela desde há muito uma atitude de menosprezo e/ou de falta de respeito em relação a Serifo Nhamadjo. O fenómeno é atribuído à sua diminuta ilustração, a uma ideia onírica que tem de si próprio, assim como a tendências inatas que revela para a prepotência.
Os novos episódios:
- António Indjai mandou um emissário convocar Serifo Nhamadjo para um encontro urgente com ele, na sua casa em Jugudul. Nhamadjo, que se encontrava então de visita a Bafatá, recusou a convocatória – a que António Indjai reagiu com truculência pública.
- Tratou de forma furibunda Serifo Nhamadjo num momento em que este se preparava para embarcar para uma viagem a Abidjan, cimeira da CEDEAO; episódio notado pelos circunstantes em geral. AI
MUNDO CÃO: O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, está em Moçambique. Na bagagem, cooperação bilateral e conjuntura política regional...
... Na Guiné-Bissau, terá aterrado (mais) um avião cheio de colombianos e respectiva carga de morte. AAS
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
ÚLTIMA HORA/CASO JOMAV: Ex-ministro das Finanças proibido de abandonar o país sem autorização
O antigo ministro das Finanças da Guiné-Bissau, José Mário Vaz está proibido de sair do país sem autorização, de acordo com a medida anunciada hoje pelo Ministério Público em Bissau. José Mário Vaz esteve detido três dias na semana passada e foi ouvido pelo juiz de instrução criminal na passada sexta-feira, que o mandou em liberdade. Os termos em que fica em liberdade até ao julgamento só hoje foram conhecidos. Segundo os seus advogados, o antigo ministro ficou sujeito às medidas de termo de identidade e obrigação de permanência, pelo que não se poderá ausentar da sua residência mais de cinco dias sem avisar o Ministério Público nem sair do país sem autorização.
Por ordens do Ministério Público guineense, José Mário Vaz foi detido na segunda-feira passada, por alegado ilícito fiscal. É investigado sobre o paradeiro de 9,1 milhões de euros que Angola teria disponibilizado a favor do Governo guineense, mas que supostamente não teriam entrado no tesouro público. "Posso-vos dizer, hoje, muito honestamente, que não recuava um milímetro sequer sobre os procedimentos que imprimi a nível do Ministério das Finanças quando fui ministro", disse na passada sexta-feira o ministro do Governo deposto no golpe de Estado de 12 de Abril de 2012. angop
O caçador de cabeças
"Difícil foi assistir com indiferença, a frustrada tentativa pela parte do actual Procurador-Geral da República, de em plena luz do dia, vandalizar a reputação de José Mário Vaz, recorrendo a uma acusação duvidosa, com bases na moda dessa esquizofrénica perseguição, aos por agora, órfãos da última liderança deposta. Não falei num suposto ministério público, porque neste momento, esse nem funciona como tal. E por outro lado, estaria a ser muito injusto para com o saldo dos quadros desse grémio, que deveria constituir um prestigiado organismo estatal.
Assim como nos primeiros anos da nossa independência, fomos perseguindo em cada rescaldo de uma determinada substituição dos elementos no poder político, os que no nosso entendimento mesquinho, vão ficando órfãos desse, com falsas desculpas, de que beneficiavam de alguma maneira, com todos os prejuízos, que nos eram impostos pela respectiva cúpula. E em consequência dessas vergonhosas perseguições, vamos contribuindo para o elevado défice de competências, caros ao melhor funcionamento das nossas mais fundamentais instituições, o que inequivocamente, está sim, a prejudicar os interesses de todos nós, sem quaisquer excepções. Tanto assim é, que temos muitos dos mais incapazes compatriotas, a condicionarem de forma desagradável, o nosso quotidiano, e a vaticinarem um conjunto de indefinições, ao futuro dos nossos filhos!
É triste constatar um integral voluntarismo desse fervoroso militante de causas singularizadas, que nas funções de primeiro magistrado do ministério público, e a morrer por dentro, de tanta aversão que leva na alma, ainda encontrar disponibilidade, de optar pela promoção das questiúnculas ocasionais, no lugar de procurar o único caminho para a sua redenção, numa convivência pacífica e próspera, entre todos os guineenses e os seus parceiros, embora de diferentes proveniências, e com interesses diversificados.
Escusado seria mais uma vez lembrar, que só um esforço conjugado, no sentido progressivo, garantirá para todos nós, no primado da lei e da ordem, uma sociedade hierarquicamente estruturada. E nunca essa prática infantil e rancorosa, de cada vez que uns, se sentirem dominadores, lançarem logo no encalece dos outros, desdobrados numas perseguições impiedosas, mantendo assim essas nossas cíclicas conjunturas de insegurança, fragilizadas o suficiente, para um dia, passarem eles também a uma incómoda situação de perseguidos. Mais do que necessário, é mesmo urgente na nossa sociedade, o reflorescimento duma elite governativa, mas meritória. Quero com isto dizer o seguinte:
Devemos avançar como nação, para o reflorescimento de uma elite governativa, que seja tendencialmente livre dos favorecimentos deixados pelas graves iniquidades, parte da herança negativa dos séculos de colonização. Mas também não devemos dispensar a dura verdade de que, a génese dessa pretendida elite governativa, encontrou o seu fecundo modernismo, no cruzamento da nossa cultura política, com a cultura política dos nossos antigos colonos, permitindo com que, os então chefes tribais; mais tarde, os médios e os altos funcionários, ao serviço da administração colonial, ascendentes genealógicos de uns dentre nós, tenham beneficiado de certos privilégios políticos, e vantagens económicas, para com isso, deixarem hoje melhor posicionados, os seus descendentes directos e indirectos. Portanto, devemos ter a coragem patriótica, (porque é de facto, uma questão de coragem patriótica) e permitir que esse reflorescimento de uma elite governativa meritória aconteça, abandonando todos os complexos coloniais; os de superioridade; os de inferioridade; e os outros tantos mais, no nosso subconsciente. Isto é, encararmos com realismo, os fundamentos da tal necessidade do suicido da pequena burguesia, de que Amílcar Lopes Cabral falava, e que ainda muitos, uns por ignorância, outros por negligência, não entenderam.
De nada adiantará essa obsessão de termos que comparar na chegada, a transpirarmos inveja pelos poros todos, se na partida, não saímos em circunstâncias, pelo menos semelhantes. Pois a solução mais adequada para corrigirmos esses desequilíbrios sociais, vindos do passado, que tanto indigna, será, sem que tenhamos de reinventar a lâmpada, apostarmos num sistema de ensino por excelência, premiando e incentivando os melhores estudiosos, sejam eles de que origens, para que esses sim, venham a constituir uma consistente elite governativa, e servirem em igualdade de circunstâncias, como competentes dirigentes, nas nossas diversas instituições públicas e privadas, assim como nas outras instituições regionais e internacionais, das quais somos estado parte. Voltando ao propósito… O princípio da igualdade recomenda tratar questões iguais de forma igual, e tratar questões diferentes de forma diferente.
E o cidadão guineense, João Mário Vaz, sempre fez por merecer um tratamento diferenciado. Sabido que no nosso movediço contexto, o poder, no seu próprio conceito, anda diluindo nas incertezas dos nossos dias, nos registos menores da nossa já martirizada história, ficará mais uns nomes conotados a um consulado figurante, e que de momento, vai servindo levianamente como pretexto, para justificar o conivente reconhecimento regional, de um regime bastante insalubre, para os elevados desígnios de qualquer povo, - que desejo ser mais breve possível - enquanto suporta a impudica distribuição duma vil cobiça.
Mesmo à distância absoluta que me separa dessa empoleirada amostra das piores características, nossas, - entenda-se, guineenses - será sempre desagradável entre nós, o resto de uma necessária convivência cívica. Mas o difícil, normalmente é um pronuncio de óptimos objectivos por alcançar. E gentes de semelhante substância, também servem para nos ajudar a melhorar estratégias de luta, face à persistente paralisação, e por vezes grandes retrocessos, na evolução da nossa sociedade.
Ser, Conhecer, Compreender e Partilhar.
Flaviano Mindela dos Santos"
Greve da fome
Júlio Ma Mbali, de braço direito do CEMGFA António Indjai a prisioneiro no quartel de Mansoa em greve da fome
JOMAV não se arrepende do procedimento no Ministério das Finanças
O Ex-ministro das Finanças, José Mário Vaz (JOMAV), posto em liberdade esta sexta-feira, 8 de Fevereiro, pelo Juiz de Instrução Criminal (JIC), mostrou não estar arrependido da sua gestão no Ministério das Finanças, entre o final de 2009 a Abril de 2012, quando era o responsável máximo desta instituição. Em declarações à PNN depois de uma audição de cerca de oito horas, com o JIC, Mário Vaz aconselhou os actuais detentores do poder na Guiné-Bissau a darem importância a fazer avançar do país, que se encontra com problemas de crescimento económico.
«Se voltasse a ocupar as funções do Ministro das Finanças não recuaria sequer um milímetro em relação aos procedimentos que imprimi neste Ministério», declarou JOMAV. Perante familiares, amigos e conhecidos, o ex-ministro das Finanças agradeceu aos parceiros internacionais da Guiné-Bissau, à comunicação social e à sociedade guineense, a solidariedade para consigo durante a campanha do Ministério Público contra a sua pessoa.
«Gostaria de agradecer a solidariedade dos guineenses, à imprensa, quer a nível interno como no mundo lá fora», disse o antigo ministro. Em nome do colectivo de advogados, falou Octávio Lopes que disse haver a necessidade reforçar o estado dos direitos democráticos, feito de regras e de cumprimento das leis, prometendo trabalhar contra as violações das leis e tendo assegurado que o seu constituinte foi vítima de incumprimento, o que impôs custos irreparáveis.
«Este é um custo irreparável, devemos todos trabalhar para reforçar o estado de direito e democrático onde reinam as leis», disse Octávio Lopes, que não escondeu a satisfação pelo que considerou a independência e a afirmação de poder judicial face a outros poderes, destacando a libertação do seu constituinte. O ministro José Mário Vaz foi detido na noite de segunda-feira, 4 de Fevereiro, a mando do Ministério Público, onde foi interrogado sobre os moldes como geriu o dinheiro do Tesouro Público durante o período em que esteve responsável pelo Ministério das Finanças.
(c) PNN Portuguese News Network
Papa renuncia
"Queridíssimos irmãos,
Convoquei-vos para este Consistório, não apenas por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de examinar reiteradamente a minha consciência perante Deus, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério de Pedro (petrino). Sou consciente de que este ministério, pela sua natureza espiritual, deve ser levado a cabo não apenas por obras e palavras mas também, em menor grau, através do sofrimento e da oração.
No mundo actual, sujeito a rápidas transformações e sacudido por questões de grande relevância para a vida da Fé, para governar a barca de S. Pedro e anunciar o Evangelho é necessário também vigor, tanto do corpo como do espírito. Vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de forma que tenho de reconhecer a minha capacidade para exercer de boa forma o ministério que me foi encomendado.
Por isso, sendo consciente da seriedade deste acto, e em plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, sucessor de S. Pedro, que me foi confiado pelos cardeais no dia 19 de Abril de 2005. De forma que, a partir do dia 28 de Fevereiro de 2013, às 20h (19h em Lisboa), a sede de Roma, a sede de S. Pedro vai ficar vaga e deverá ser convocada, através daqueles que têm competências, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Queridíssimos irmãos, dou-vos as graças de coração por todo o amor e trabalho com que trouxeram até mim o peso do meu ministério e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora, confiamos a Igreja ao cuidado do Sumo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo e suplicamos a Maria, sua Santa Mãe, que assista com a sua materna bondade aos padres cardeais ao eleger o novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, também no futuro, quero servir com todo o meu coração à Santa Igreja de Deus com uma vida dedicada à oração.
Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013"
sábado, 9 de fevereiro de 2013
Camelo oferecido por Kadhafi dá dor de cabeça às populações
Na vila de Bissorã, norte da Guiné-Bissau, há um camelo oferecido pela Líbia, que destrói culturas e ataca pessoas quando "está com o calor" e está a dar origem a uma pequena "revolução". Dois anos depois do início da revolução líbia, que levou à queda e morte de Muammar Kadhafi, a pequena vila de Bissorã vive também um clima de rebelião, contra o camelo que já enviou duas pessoas para o hospital e já matou um burro. "Estamos cansados, se o camelo voltar vamos matá-lo". O grito de revolta é deixado por Fatumaté Camará, a presidente da Associação Nho Dema (Ajuda Mútua, em dialeto mandinga), que junta 150 residentes em Bissorã, 144 deles mulheres.
Mãos molhadas da rega, catana em punho e lenço na cabeça, é com voz revoltada que conta que o animal, uma fêmea, volta e meia aparece na horta comunitária e lhes come as couves. As hortaliças, vendidas nos arredores e até em Bissau, são o sustento de pelo menos 150 famílias. O animal (na verdade um dromedário) fazia parte de um grupo de cinco oferecido à Guiné-Bissau em maio de 2008 por Muammar Kadhafi (que na altura ofereceu camelos a 25 países da África subsaariana). Quatro morreram e ficou apenas aquele que hoje tira o sono a Bissorã, onde a população está farta de pedir às autoridades para que resolvam o problema: "ou o matam ou o devolvem à procedência".
Como não há forma de manter o animal fechado a fêmea passeia-se por onde quer e quando está "com o calor" (com o cio) torna-se mais agressiva. No mês passado, contou à Lusa uma autoridade de Bissorã que pediu para não ser citada, a camelo atacou uma mulher que levava um filho às costas. "A mulher foi levada para o hospital porque perdeu os sentidos", disse. A fonte disse não ter conhecimento de que a criança tenha morrido, embora Fatumaté Camará garanta que o animal mordeu a cabeça da criança.
"Na feira atacou um homem (de etnia) fula e ele teve de ser levado para Bissau. Basta ver uma pessoa com uma bacia (na cabeça) e vem logo por trás porque pensa que está lá alguma coisa para comer. Se for sal é pior, temos de fugir e deixar o sal", conta Fatumaté Camará. E diz também que o camelo parte as vedações, come os repolhos e estraga outros, e que as mulheres estão cansadas e com raiva. "Levantamo-nos muito cedo, deixamos os nossos filhos sem comer e vemos o camelo estragar o nosso trabalho. É mau, é através disto que sustentamos a nossa família. Se ele comer tudo como é que vamos alimentar os nossos filhos?". Duas dezenas de mulheres ouvem Fatumaté e apoiam. O problema do dromedário já foi objeto de várias reuniões em Bissorã. Polícia, administrador e deputados sabem da história e o caso já chegou ao governo.
"Já se propôs muitas soluções mas não me compete decidir, tem de ser o governo. Por mim ela seria transportada para o Senegal para poder acasalar", disse a fonte que pediu para não ser citada, concluindo: "na realidade não temos nenhuma condição para ter aqui o animal". É o que dizem as mulheres da Nho Dema. Fatumaté Camará, que adverte que ainda envenenam o animal, ou Binta Camará, lágrimas nos olhos, os filhos em casa sem nada para comer: quero pedir ajuda, para poço, para arame, para vedação, para sementes. Estamos cansadas, os animais entram aqui, não é só o camelo, há dias foi um burro". Na semana passada foi o marido de Suncar Sede, outra agricultora, que ficou sem um burro, morto pela fêmea no auge "do calor". Aparentemente um "crime passional". LUSA
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
CASO JOMAV: Não à vitória dos anarquistas
"Esta situação [adetenção do ex-ministro das Finanças, José Mário Vaz] para mim até seria justificável num Estado de direito, se fosse feita com base em pressupostos e principios democráticos legais consagrado na nossa lei magna. Isto é, na observância do principio de separação de poderes em que o Ministério Público tivesse liberdade de investigar qualquer cidadão sem ser coagido para atingir outros fins despropositado e desenquadrado dos principios constitucionais. Estamos aqui claramente a assistir à vitória dos anarquistas sobre os defensores da legalidade. Apesar de tudo, no final, estou certo que assistiremos a vitoria destes sobre aqueles...
Abraco,
Mayer Lopes"
De utopia em utopia
São efectivamente notórios os discursos utópicos e de ocasião que têm povoado os espaços virtuais sobre a Guiné-Bissau, a definir o consenso e o entendimento como a única solução para as cíclicas crises que tem condenado o país ao retrocesso.
Falam de consensos e entendimentos entre os vários actores da vida social e política do país, passando transversalmente pelo entendimento entre partidos políticos, entre os militares, entre as várias sensibilidades sociais e ainda o entendimento entre esses grupos anteriormente referidos, depois de terem “incendiado” a sociedade, com actos violentos, opressão e intimidação da população!
Ora, porque não referenciarmos também o consenso, a paz e o entendimento entre as partes que povoam este planeta, como a única solução para todos os problemas do mundo, principalmente os bélicos!?
O consenso, o entendimento, a paz e a harmonia, são palavras e conceitos “belos”, imbuídos de uma conotação sentimental e de uma boa dose de espiritualidade, com maior impacto quando pronunciado num clima de perseguições, medos, torturas e privações de liberdade.
Torna muito fácil ao opressor convencer aos oprimidos que também almeja a paz e a harmonia, tanto ou mais que aqueles a quem ele oprime... Mas, o que não diz aos oprimidos, é que a condição “sine qua non” para ele manter esse discurso e essa postura, é continuar na posição de opressor e condutor do “veículo” do consenso e da paz, ao destino que ele quer e pretende chegar…
A paz conseguida através do consenso e da união de um povo ou de uma sociedade é das maiores utopias que tenho visto a ser declamado por muitos que se acham e se dizem intelectuais. O criador fez cada ser humano diferente do seu semelhante, quer no seu património genotípico como no fenotípico… Acrescido a essas diferenças genotípicas e fenotípicas da criação, temos a influência social na modulação do carácter e formação da personalidade de cada indivíduo.
Ora, apesar de sermos todos humanos, somos todos diferentes na forma de estar, pensar e agir, de acordo com os nossos interesses pessoais e colectivos. Então, é nessa (e é com essa) diferença que temos de sobreviver e conviver uns com os outros, cultivando e alimentando o respeito e a tolerância por essa mesma diferença.
Conseguir a união e consenso de milhares de pessoas não passa de uma utopia, porque as partes em desvantagem e aquelas em vantagem ou detentores do poder, apenas cederão, quando devidamente acautelados os seus interesses pessoais e/ou colectivos.
Portanto, é com a nossa diversidade étnica e cultural que temos que aprender a viver e sobreviver na Guiné-Bissau, sempre no espirito de respeito e tolerância pelas nossas diferenças, sejam elas genotípicas, fenotípicas ou sociais. É esse respeito e tolerância que tem de ser antes cultivada e transmitida entre os guineenses, desde os mais pequenos aos mais velhos, dos iletrados aos doutorados e de uma etnia a outra seja ela qual for…
O único “quase-consenso” que poderá levar a Guiné-Bissau a sair das suas cíclicas crises, é uma forte condenação social e judicial do hábito já instalado do uso da violência como meio de atingir e preservar o poder. Quando todos aprenderem que o uso da violência (entenda-se golpes de estado ou outras formas de opressão) como forma de atingir e preservar o poder passa a ser fortemente rejeitado pela sociedade e quem pactuar com a violência e com os homens violentos deixará uma indelével mancha social e dessa forma poderá vir a comprometer o futuro dos próprios filhos, talvez a nossa Guiné-Bissau conhecerá o rumo ao progresso. Mas, para isso, é preciso que essa cultura e essa postura social comecem a ser ensinadas desde muito cedo às nossas crianças e aos nossos jovens…
Enquanto os “chico-espertos” acharem que podem continuar a influenciar os pseudomilitares a consumarem os golpes de estado, para depois aparecerem nos bastidores como “salvadores da pátria” e assumirem a partir desse momento o discurso de homens de paz e de consenso, numa clara política de autopromoção para candidaturas futuras pós-transição, jamais encontraremos o rumo.
Enquanto os golpistas e transicionistas continuarem a ser referências da nossa sociedade, será difícil ao país encontrar um rumo que dê o mínimo de satisfação que a população anseia.
Enquanto vermos pseudo-intelectuais manifestarem-se nos espaços virtuais, achando que “escudar-se na legitimidade parlamentar faz agudizar a desconfiança entre os atores políticos”, estaremos obviamente a agudizar a situação política e social da Guiné-Bissau. É bom não esquecer que, é na Assembleia que se encontra a verdadeira representação da vontade popular. Quando assistimos a maioria representativa da vontade popular a ser espezinhada nessa suposta Assembleia Nacional POPULAR, que tipo de consensos, união e paz esperam para o país!?
De utopia em utopia, andamos a humilhar a história e a comprometer seriamente o futuro do nosso país.
Jorge Herbert
Ovídeo Pequeno: "Já não existe nenhum obstáculo ao regresso de Carlos Gomes jr., nem ao dos outros exilados na Guiné-Bissau"
O representante especial da União Africana (UA) na Guiné-Bissau, Ovídio Pequeno, declarou quinta-feira em Paris que nada se opõe ao regresso ao seu país do antigo primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, refugiado em Portugal após o golpe de Estado de abril de 2012. «O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), ao qual pertence Carlos Gomes Júnior, assinou o acordo de transição. Para nós, já não existe nenhum obstáculo ao seu regresso nem ao dos outros exilados na Guiné-Bissau”, disse o diplomata santomense em entrevista à PANA.
Ovídio Pequeno reconheceu, no entanto, que o PAIGC tinha reivindicações específicas que ainda não foram consideradas pelas autoridades de transição. «O partido está doravante plenamente no processo de transição. Ele tem reivindicações específicas. Discussões estão em curso para encontrar rapidamente a melhor forma de responder a estas exigências”, acrescentou o representante especial da UA na Guiné-Bissau. «Para nós, União Africana, o desafio maior é a busca dum largo consenso entre a classe política bissau-guineense a fim de restabelecer o país na boa via”, prosseguiu o ex-chefe da diplomacia santomense. PANA
Domingos Simões Pereira em entrevista à Rádio Vaticano
Domingos Simões Pereira vai candidatar-se à liderança do PAIGC, o partido fundador da democracia guineense que vai realizar já em Maio o seu congresso nacional na cidade de Cacheu. Intenção confirmada pelo ex-secretário executivo da CPLP e já com ideias concretas sobre o programa eleitoral do seu partido para as eleições gerais que poderão ter lugar no final deste ano.
Ouça a ENTREVISTA AQUI
Ao nosso correspondente em Portugal Domingos Pinto, este engenheiro civil de 49 anos de idade diz que todos os guineenses têm direito à cidadania, numa referência ao eventual regresso ao país do ex-Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior e do antigo Presidente da República Raimundo Pereira, afastados do poder no golpe militar do passado dia 12 de Abril de 2012. Domingos Simões Pereira diz que é preciso encontrar consensos internos para devolver o país à estabilidade e à paz. Uma entrevista onde começa por confirmar a sua candidatura. A Guiné-Bissau vai a votos no final deste ano. Rádio Vaticano
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