quinta-feira, 8 de abril de 2010

Editorial do Jornal «Público»

A farsa da estabilidade em Bissau


"A única estabilidade que há em Bissau é a das armas e o que for dito em contrário não passa de perigosa ilusão.

Ontem, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, veio finalmente dizer sobre a Guiné-Bissau o que se impunha: que o poder político "permanece refém de uma estrutura militar" e que é preciso que esse mesmo poder político tome uma opção clara e rápida: "Ou entra numa via de estabilização e de construção de um Estado democrático ou se isola e se torna num caso flagrante de um Estado falhado."

Isto porque nos últimos dias tem sido posta a circular, erroneamente, a ideia de que haveria em Bissau estabilidade. Ora a única estabilidade que há em Bissau é a das armas e o golpe de dia 1, travestido em "incidente", é disso prova cabal. Presidente e primeiro-ministro continuam reféns do poder das espingardas e mesmo a democracia já há muito se transformou numa farsa, quando as instituições se vêem privadas do poder que lhes cabe face ao poder fáctico do chefe fardado mais em voga.

Por isso, de nada adianta o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior (o tal que foi preso por militares há dias, chegando mesmo a ser por eles ameaçado de morte) vir dizer que a "situação está ultrapassada" ou que se deve trabalhar "para apaziguar os ânimos". Porque ele, neste estado de coisas, não pode garantir nada.

Nem o Presidente, Malam Bacai Sanhá, que ontem foi a Luanda tentar nova desdramatização. A Guiné-Bissau só terá solução quando o poder militar for submetido hierarquicamente ao poder civil e isso só sucederá quando o exército deixar de ter "vida própria", como até aqui. Se as armas e os interesses do narcotráfico continuarem a ditar as leis, não haverá Estado de direito (que ali nunca houve, mas se deseja) nem socorro internacional que lhe valha.
"

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Alguém ouviu o Indjai?

Caro Aly,

Agradeço o trabalho que tem em nos manter actualizados, mesmo para os que cá vivem é difícil acompanhar os acontecimentos e se ficarmos à espera dos jornais... Não te deixes influenciar pelos sentimentos para não caíres no triste poço amargo de desabafos em que se tornaram (...) outros sites.

E o PGR, Amine Saad? Ouviu bem as declarações de António Indjai? Do que está à espera?

Os meus melhores cumprimentos,
E.S.


NOTA: Obrigado pelo seu e-mail. Eu mesmo vou fazer essa pergunta ao Procurador-geral, e depois digo-vos. AAS

N´bom... ali é fala kuma 'cócó bóia'

Caro Aly, Espero que te encontres bem apesar dos acontecimentos no nosso país. Não sei se te lembras bem de mim mas estivemos juntos na embaixada de Angola naquele triste dia do funeral do Presidente 'Nino' Vieira, em Março de 2009.

A primeira vez que te vi foi em 1999 no pavilhão Carlos Lopes (perto do Marquês de Pombal, em Lisboa) quando o Primeiro Ministro de então, Francisco Fadul estava de passagem por Lisboa. Chegamos a falar uma vez no facebook e é tudo o que sei de ti.

Envio-te este e-mail, porque gostaria apenas de te dizer que admiro muito a tua coragem e gostei muito mas muito da tua entrevista na TVI. Acho que partiste a loiça muito bem e nunca vi nestes 33 anos de vida alguém que tivesse a coragem de dizer isto na comunicação social e ainda continuar a viver na Guiné-Bissau.

Foste muito claro, directo e falaste do coração - o que aprecio bastante. Eu ainda estou aqui na América e devo acabar em Maio o meu mestrado. Assim que acabar eu vou juntar-me a ti nessa luta pela verdadeira libertaçaão nosso país ou seja da ignorância. Medo ka pudi tem nha ermon. Pabia cóc b´´oia dja. Bem haja meu caro.

J.V.

NOTA: Amigo, vem e traz mais cinco. Todos somos poucos para combater os bandidos. Que são já muitos... AAS

Cartoon do dia

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PRS: 'Antigo guarda-costas do actual Primeiro-Ministro, é que colocou a bomba que matou Tagmé Na Waie'

Num comunicado de imprensa hoje divulgado, o Partido da Renovação Social (PRS) da Guiné-Bissau afirmou que um antigo guarda-costas do actual Primeiro-Ministro, Carlos Gomes Júnior, é que colocou a bomba que matou o ex-chefe das Forças Armadas, general Tagmé Na Waié.

De acordo com o PRS, "no encontro do primeiro ministro com os membros da comissão permanente da Assembleia Nacional Popular, ficou a saber-se, através de palavras textuais deste, que terá sido um dos seus antigos guarda-costas quem transportou e colocou a bomba que vitimou o general Tagmé Na Waié", afirma o PRS, o maior partido de oposição da Guiné Bissau, liderado por Kumba Ialá.

"Estas afirmações não deixam margens para dúvidas sobre o conhecimento deste assassínio por parte do primeiro ministro, do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde", acrescenta o maior partido da oposição, liderado por Kumba Ialá.

No comunicado, o PRS refere também que o primeiro ministro deve esclarecer
às entidades competentes "quem terá sido o autor pela importação da bomba
(...) e quem será a próxima vítima
". O PRS solicita também ao Ministério Público a "tomar providências conducentes
à responsabilização criminal dos autores morais e materiais do caso em apreço
".
AAS

Desculpa, desculpa, desculpa

General António Indjai, esteve hoje na Procuradoria-geral da República, mas não deu cavaco aos jornalistas. Rodeado de fortes medidas de segurança, saiu hora e meia depois do gabinete de Amine Saad: "Não quero nada com os jornalistas", resmungou entre sorrisos.

Ditadura do Consenso sabe, contudo, que António Indjai NADA levou à PGR. Djumbai son... AAS

ÚLTIMA HORA: MILITARES LIBERTARAM PROTOCOLO DE ZAMORA INDUTA. AAS

Bibóóóóóó

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Por: Fernando Júlio - Cartoon para mais tarde recordar (desculpas à Kodak)

Entrevista de António Aly Silva

Entrevista no Jornal Nacional da TVI no dia 1 de abril (não é mentira). Aqui. Bom dia. AAS

terça-feira, 6 de abril de 2010

Mais uma oportunidade perdida

Hojé é dia 6 de abril de 2010, e a tropa continua no poder na Guiné-Bissau (desta vez não sangramos, mas é como se nos tivessem feito sangrar).

O que aconteceu neste País no passado dia 1 de abril, esventrou o Estado guineense e pô-lo de joelhos - numa manobra espectacular, os militares tomaram Bissau de assalto, foram à procura do Presidente da Assembleia Nacional Popular, Raimundo Pereira (felizmente, não estava em casa), raptaram o 1º Ministro durante, pelo menos, uma hora e continuam a ter na sua posse – sabe-se lá em que condições... - o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, o general Zamora Induta, e o chefe da secreta militar, coronel Samba Djaló.

Desde essa penosa manhã, até ao dia de hoje, a verdade é que a Guiné-Bissau, ainda que o Governo e a comunidade internacional digam o contrário, vivia um Golpe de Estado. Zamora Induta, esse, continua preso sob custódia militar, em Mansoa, num quartel tornado num autêntico forte - e muito bem armado.

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Hoje, da reunião patrocinada pelo Presidente da República, Malam Bacai Sanhá, parece que houve fumo branco. Mas não houve a verdade. Como é possível que alguém faça tudo o que António Indjai fez e, depois, saia ao lado do 1º Ministro, sorrindo, quase gozando?

Perdemos, pois, mais uma oportunidade flagrante para arrumar a casa. Quem pagará por este «incidente»? Logo, logo veremos...

NOTA: Pediram-me nestes últimos dias que «parasse de atirar lenhas para a fogueira». Para uma fogueira que eu não não acendi...AAS

segunda-feira, 5 de abril de 2010

ALERTA: Vivemos num País onde discordar pode ser fatal

FACTO: Vivemos num País assente num vulcão. Um País onde é proibido discordar e onde o acto de discordar pode ser terrível. Um País que está a ser dirigido para lado nenhum.

O que quer que me aconteça daqui para a frente é da inteira responsabilidade dos militares. E com responsabilidades políticas inteirinhas para o Governo, que não tem mãos no País.


Bissau, 05|abril|2010, António Aly Silva

Imagem do Dia

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AAS

Ainda o 1º de abril

- Zamora Induta foi transferido para a caixa-forte da tropa: o quartel de Mansoa. Acompanha-o na caminhada e na esperada travessia do deserto, o coronel Samba Djaló, aquele que mandava na secreta militar com nome de medicamento - a DINFOSEMIL...;

- Encontro de PR Malam Bacai Sanhá com partidos com representação parlamentar, acabou em desacordo. A velha senhora (PAIGC) quer que tudo fique na mesma; o PRID quer que seja «resposta a ordem constitucional», e o PRS reafirma a sua posição: «Carlos Gomes Júnior é o principal foco de instabilidade no País». Em que ficamos? Um Xanax, por favor!;

- Comissão parlamentar mete água. Ouvidos os intervenientes (os golpistas e os quase-golpeados), uma certeza: «Tudo não passou de um incidente». É penoso. AAS