quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Acordo Ortográfico? Tretas!
É bastante normal ouvir uma velhinha portuguesa dizer ao marido, quando este se atrasa para o lanche: "A bicha do cacete estava grande... por isso a demora..." No que o velhinho responde: "Não se aborreça, cheguei quase agora também, tinha bicha para tomar pico no cu".
Glossário Português x Brasileiro:
Bicha = Fila
Cacete = Bengala de pão
Pico no cu = Injeção nas nádegas
Um diplomata brasileiro foi convidado para um recepção em Lisboa. Pediu a sua secretária que ligasse para o Ministério dos Negócios Estrangeiros português e perguntasse se precisava ir de smoking. A funcionária respondeu que bastava que "ele fosse de fato", no que a secretária brasileira argumentou: "Sim, ele vai, só queria saber se precisa de smoking". Ao que a portuguesa retorquiu: "Não precisa, basta que ele venha de fato".
Glossário Português x Brasileiro:Fato = Terno completo
Em muitas casas de banho públicos portugueses é comum encontrar o seguinte cartaz: "É favor carregar no autoclismo da retrete".
Glossário Português x Brasileiro:
Carregar = Apertar um botão
Autoclismo = Descarga
Retrete = Vaso sanitário
O esférico passou pelo guarda-valas, mas bateu na moldura e desviou-se para fora do campo. O árbitro declarou pontapé de canto.
Glossário Português x Brasileiro:
Esférico = Bola
Guarda-valas = Goleiro
Moldura = Trave
Pontapé de canto = Escanteio
Ainda estão de acordo? Eu, não! AAS
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Ainda sobre o novo Presidente da Guiné-Bissau(*)
Sou apenas uma leitora que achou por bem proceder a um brevíssimo comentário ao artigo de Jorge Heitor, publicado na edição do passado dia 17, a propósito do novo presidente da Guiné-Bissau, Koumba Yalá Kobde Nhanca. É que o jornalista em questão parece estar incomodado com o facto de os dirigentes africanos possuírem todos nomes "pomposos", que passariam a exibir mal se alcandorassem ao poder. Por infelicidade ou triste coincidência, um dos escolhidos para fazer "parelha" com Koumba Yalá é o já remetido à sua verdadeira importância ex-dirigente Mobutu, de quem o povo do Zaire não guardará gratas recordações.
Ora, o novo presidente da República da Guiné-Bissau já era senhor dos quatro "pomposos" nomes com que hoje se fará anunciar, ao tempo em que éramos colegas na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, algures entre 1979 e 1983, período durante o qual, aliás, o Yalá (foi assim que ele sempre se apresentou; quiçá porque ainda não estaria nos seus planos presidir à sua nação, senão, e de acordo com os "medos" do sr. Jorge Heitor, certamente teria obrigado todos os colegas, inclusive nas conversas de café e nos almoços mais prolongados que compartilhávamos, a tratá-lo já por sr. presidente Koumba Yalá Kobde Nhanca, excelência...) frequentou também Teologia, na Universidade Católica.
Julgaria escusado afirmar que o agora Presidente da Guiné-Bissau me não passou procuração para vir defender a sua genuina "africanidade"; mas, ainda assim, não surge dispicienda a pertinência de sossegar o referido jornalista, não só quanto à simplicidade e à bonomia que caracterizavam o "Yalá", pelo menos ao tempo em que a minha avó ainda era viva e nos preparava "repastos" melhorados, para suavizar os pesadelos gastronómicos em que mergulhávamos quando a cantina nos esperava. Entre os colegas, também aparecia o "senhor presidente"; mas a verdade é que continuamos a contar-lhe quatro nomes de baptismo, modéstia de que não se podem gabar muitas das personagens da nossa praça política (e cultural).
Então, o português, o que ele continua a gostar de encher os formulários com "es" e "des", pese embora a chacota delicada que os nossos britânicos companheiros de Europa continuam a deliciar-se em fazer... Em jeito de conclusão, gostaria de congratular os povos africanos, em geral, e o povo guineense, em particular, por ter a sorte de os profetas da desgraça se encontrarem todos nos países "desenvolvidos", pelo que, assim, podem provar que a esperança na mudança também é um direito que lhes assiste. E como o sr. Jorge Heitor evidencia algum trauma quanto às lutas de libertação, o melhor mesmo é o povo estar preparado para o melhor, que do pior dá Africa lições ao resto do mundo, que a esventrou e exauriu!
Maria Paula A. Nunes dos Santos, Oeiras
(*) Texto publicado no jornal «Público», na altura em que Koumba Yalá era Presidente da República.
Ora, o novo presidente da República da Guiné-Bissau já era senhor dos quatro "pomposos" nomes com que hoje se fará anunciar, ao tempo em que éramos colegas na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, algures entre 1979 e 1983, período durante o qual, aliás, o Yalá (foi assim que ele sempre se apresentou; quiçá porque ainda não estaria nos seus planos presidir à sua nação, senão, e de acordo com os "medos" do sr. Jorge Heitor, certamente teria obrigado todos os colegas, inclusive nas conversas de café e nos almoços mais prolongados que compartilhávamos, a tratá-lo já por sr. presidente Koumba Yalá Kobde Nhanca, excelência...) frequentou também Teologia, na Universidade Católica.
Julgaria escusado afirmar que o agora Presidente da Guiné-Bissau me não passou procuração para vir defender a sua genuina "africanidade"; mas, ainda assim, não surge dispicienda a pertinência de sossegar o referido jornalista, não só quanto à simplicidade e à bonomia que caracterizavam o "Yalá", pelo menos ao tempo em que a minha avó ainda era viva e nos preparava "repastos" melhorados, para suavizar os pesadelos gastronómicos em que mergulhávamos quando a cantina nos esperava. Entre os colegas, também aparecia o "senhor presidente"; mas a verdade é que continuamos a contar-lhe quatro nomes de baptismo, modéstia de que não se podem gabar muitas das personagens da nossa praça política (e cultural).
Então, o português, o que ele continua a gostar de encher os formulários com "es" e "des", pese embora a chacota delicada que os nossos britânicos companheiros de Europa continuam a deliciar-se em fazer... Em jeito de conclusão, gostaria de congratular os povos africanos, em geral, e o povo guineense, em particular, por ter a sorte de os profetas da desgraça se encontrarem todos nos países "desenvolvidos", pelo que, assim, podem provar que a esperança na mudança também é um direito que lhes assiste. E como o sr. Jorge Heitor evidencia algum trauma quanto às lutas de libertação, o melhor mesmo é o povo estar preparado para o melhor, que do pior dá Africa lições ao resto do mundo, que a esventrou e exauriu!
Maria Paula A. Nunes dos Santos, Oeiras
(*) Texto publicado no jornal «Público», na altura em que Koumba Yalá era Presidente da República.
domingo, 9 de novembro de 2008
Nô Pintcha!
Agradeço aos sócios da WEST AFRICA SEGURANÇA e da CONNECTING, o favor de começarem a pensar no assunto destes dois lógotipos. Chega de brincadeiras, até porque TAMBÉM tenho filhos para criar. Estou a lutar pela vida como vocês e NÃO a fazer jogo sujo. António Aly Silva*
(*)António Aly Silva é o autor - com TODAS as provas - dos dois lógotipos.
a) - Os referidos lógotipos foram alterados sem consentimento do seu autor. Desenvolvimentos nos próximos episódios.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Nestes 21 dias, vou precisar muito disto
Por isso, peço às pessoas de boa vontade (já que está na moda...): Alka Seltzer, por favor. Em doses industriais! AAS
Os guineenses não são números...
A epidemia de cólera que já infectou mais de 12 mil pessoas e matou 205 na Guiné-Bissau está "fora de controlo", afirmaram hoje, 24 de Outubro, as agências das Nações Unidas. A cólera está "excepcionalmente difícil de controlar e está espalhada por todo o país", sublinhou a porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Vérónique Taveau, durante uma conferência de imprensa em Genebra.
A doença, endémica no país e recorrente todos os anos, "desenvolve-se actualmente sem controlo, com o risco de se propagar aos países vizinhos", preveniu também a porta-voz do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), Elisabeth Byrs. "A cólera faz mil novos casos por mês", acrescentou a porta-voz, sublinhando que a capital, Bissau, é a mais atingida, com mais de oito mil casos.
Entre 24 de Agosto e 21 de Outubro, a propagação da doença acelerou com 4.871 novos casos, entre os quais 915 crianças com menos de 14 anos, ou seja, 18 por cento do total de doentes, de acordo com dados da UNICEF. A Agência da ONU está particularmente preocupada com o início da campanha eleitoral para as legislativas previstas para 16 de Novembro porque, sublinha a porta-voz, "as grandes multidões favorecem a propagação da doença".
Segundo a UNICEF, a doença propaga-se facilmente pelo país devido a três factores: o mau estado do sistema de saneamento, a falta de acesso à água potável - especialmente na capital, onde 80 por cento da população não tem acesso à água corrente - e um ritual funerário, segundo o qual as famílias bebem a água que serviu para limpar o morto.
A ONU mobilizou mais de um milhão de dólares (cerca de 790 milhões de euros) para aquele país, mas a OCHA "gostava de ter mais financiamento, especialmente para a prevenção" das doenças, indicou a porta-voz daquela organização. Também chamada de "doença das mãos sujas", a cólera é uma infecção intestinal altamente contagiosa, que se manifesta por violentas diarreias e uma forte desidratação. Agência LUSA
A doença, endémica no país e recorrente todos os anos, "desenvolve-se actualmente sem controlo, com o risco de se propagar aos países vizinhos", preveniu também a porta-voz do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), Elisabeth Byrs. "A cólera faz mil novos casos por mês", acrescentou a porta-voz, sublinhando que a capital, Bissau, é a mais atingida, com mais de oito mil casos.
Entre 24 de Agosto e 21 de Outubro, a propagação da doença acelerou com 4.871 novos casos, entre os quais 915 crianças com menos de 14 anos, ou seja, 18 por cento do total de doentes, de acordo com dados da UNICEF. A Agência da ONU está particularmente preocupada com o início da campanha eleitoral para as legislativas previstas para 16 de Novembro porque, sublinha a porta-voz, "as grandes multidões favorecem a propagação da doença".
Segundo a UNICEF, a doença propaga-se facilmente pelo país devido a três factores: o mau estado do sistema de saneamento, a falta de acesso à água potável - especialmente na capital, onde 80 por cento da população não tem acesso à água corrente - e um ritual funerário, segundo o qual as famílias bebem a água que serviu para limpar o morto.
A ONU mobilizou mais de um milhão de dólares (cerca de 790 milhões de euros) para aquele país, mas a OCHA "gostava de ter mais financiamento, especialmente para a prevenção" das doenças, indicou a porta-voz daquela organização. Também chamada de "doença das mãos sujas", a cólera é uma infecção intestinal altamente contagiosa, que se manifesta por violentas diarreias e uma forte desidratação. Agência LUSA
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Lições de borla
A campanha eleitoral está a chegar. Se vai andar por aí a mandar postas de pescada, este manual é para si.
1º - ORGANIZE AS IDEIAS esteja a falar para uma audiência composta por comerciantes do mercado do Bandim ou a declarar guerra a outro país (ao Irão, por exemplo), é melhor organizar-se antes de se apresentar aos microfones. Siga aquele ditado tão velho como o mundo: diga o que lhes vai dizer, diga, e depois diga o que lhes disse. Estabeleça três pontos, fala sobre cada um deles e no final volte a relembrar esses mesmos pontos. É claro que o seu cérebro não conseguirá memorizar tudo mas soará muito desinteressante se estiver a ler pelo papel. Assim, escreva umas "palavras chave" em cábulas;
2º TREINE, TREINE MUITO tal como os lavadores de carros nas ruas de Bissau, a prática habitual ajuda muito nos discursos. Mas se por acaso não estiver habituado a ser o centro das atenções então o melhor mesmo é treinar. Ponha-se em frente ao espelho ou de uma câmara de vídeo para que simule os gestos, os silêncios, e o seu treino com as ditas cábulas que vai levar;
3º RESPIRE FUNDO se está nervoso, treine a respiração. Quanto ao tom de voz: mantenha um tom calmo, coloquial, e não use palavras de que não precisa de maneira nenhuma. É que não vai querer parecer palavroso nem pretensioso;
4º O DISCURSO PROPRIAMENTE DITO é necessário começar bem. Há quem comece com uma piada, mas, é melhor não arriscar, pois uma má piada logo no arranque pode ser um desastre de que ninguém se esquece. Mantenha-se direito enquanto fala, de costas direitas, com as mãos pousadas no púlpito, e não faça muitos gestos bruscos. Faça contacto visual com várias pessoas na plateia, mas evite estar a olhar para a mesma pessoa mais de cinco segundos. Infelizmente, isso pode ser um problema se só uma pessoa for ouvir o seu discurso...AAS
Fernando Gomes, dás-me o número de telefone de Deus?
Toda a crise tem vocábulos próprios e todo o político diz coisas nessa altura que significam exactamente o seu oposto. O primeiro-ministro, Carlos Correia, e o porta-voz do seu Governo, Fernando Gomes lá vergaram e decidiram reunir com a UNTG e prometeram - «com a ajuda de Deus» - pagar um mês de salário (dos 3 em atraso) aos funcionários do Estado «dentro de dez dias». Veremos. Aposto outro exílio em como dentro de dez dias saber-se-á a verdade. Ou seja, a mentira.
Cá para nós que ninguém nos ouve: eu acho que não estão a dizer a verdade. Melhor: estão a mentir. E porquê? Olha a pergunta, doutor. Desafio o doutor Fernando Gomes a dar-me o número de telefone de Deus. É que tenho umas coisas para Lhe dizer.
Este é um problema crónico, guineense, tão nosso que deviamos registá-lo na OAPI (Organização Africana da Propriedade Intelectual). As nossas ambições enquanto País, são grandes, mas as dificuldades para as concretizar são ainda maiores.
Vivemos uma autêntica repressão. A repressão, é sabido, gera medo e hipocrisia. Ou as duas coisas. As vítimas (os guineenses) dão a impressão de se conformarem mas não é assim: querem apenas furtar-se à regra. Mas entre mouros e judeus algum negro cristão há-de escapar.
AAS
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Verdade inconveniente
O PRID* de hoje é o PCD** de ontem...
* - Partido Republicano para a Independência e Desenvolvimento;
** - Partido da Convergência Democratica.
AAS
* - Partido Republicano para a Independência e Desenvolvimento;
** - Partido da Convergência Democratica.
AAS
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Quem salva a Cooperação Portuguesa?
Estimado António,
Tenho seguido a sua actividade jornalística mas, infelizmente, quando estive em Bissau estava você em Portugal. Tinha aí uma grande amiga professora no PASEG e por isso estive aí duas vezes (no ano passado e agora este ano). Tenho um familiar em Dacar e aproveitava para visitar essa minha amiga e conhecer Bissau.Como não sou uma mera turista, gosto de ouvir os comentários das pessoas e tentar sentir o pulso verdadeiro duma cidade, para além do que se vê à primeira vista. Talvez seja deformação profissional! Baseado nas histórias que ouvi da minha amiga daí de Bissau e de outras pessoas, bem como dalguma investigação que fiz em Lisboa, escrevi uma crónica informal. Não quero criticar só por criticar, mas é bom conhecer a opinião de quem por aí passa, sem ser "apanhado" por determinadas "obrigações" que quem aí vive, por vezes sobretudo sendo tuga, tem que respeitar. Fica aqui a crónica, se a quiser publicar. É um testemunho que deve ser feito.
Um abraço e até qualquer dia, talvez em Lisboa e continue a ser este António Aly que nos dá prazer ler,
Joana Otchan-Palha (JOP)
Quem salva a Cooperação Portuguesa?
Quem chega a Bissau, vindo de Dacar, após uma curta estadia, rende-se à evidência do mau estado em que se encontra esta terra e quão infrutíferas tem sido as acções da cooperação portuguesa.
Qualquer português da escassa comunidade que aguentou o conflito de 1998/9 e que por cá ficou, apesar das dificuldades, embora sem ser perito nos assuntos da cooperação, não tem dúvidas que as prioridades da Cooperação Portuguesa deveriam ser a Educação, a Saúde e a Cultura e, mais recentemente, a "guerra ao narcotráfico" que está ainda a criar maiores desigualdades na Guiné-Bissau e a minar o seu futuro. Não hesitam mesmo em falar num "Plano Marshall para a Guiné", com o apoio de Portugal e uma larga cooperação internacional.
A cooperação na área educativa conheceu um boom, no pós-conflito, com a implementação do PASEG - Projecto de Apoio ao Sistema de Ensino da Guiné e com umas dezenas de professores portugueses. Só que, após vários anos, não há aumento gradual do número de professores cooperantes, nem o seu alargamento ao interior. Pelo contrário, por razões impenetráveis da administração portuguesa, este ano, o seu número cairá para metade.
Quantos professores portugueses desempregados, mas com qualificações não abraçariam este projecto? E o apregoado "Fundo de 30 milhões" para apoiar a Língua Portuguesa não poderia ser utilizado nesta Missão? A saúde está mal (e não se recomenda!) na Guiné-Bissau. O surto de cólera, com uma elevada taxa de mortalidade, veio confirmar isto!
É verdade que a Cooperação Portuguesa tem procurado ajudar, mas os tais portugueses que por aqui andam, olhando o exemplo francês no Senegal, lamentam que não haja outro hospital a funcionar com mais meios, com mais médicos, enfermeiros e com medicamentos suficientes para fazer face a todas epidemias e doenças vulgares.
Até as farmácias do país são um espelho sintomático do estado da saúde com um mínimo de medicamentos e um aspecto pouco apelativo. A cultura tem sido o patinho feio da Cooperação Portuguesa, entalado progressivamente entre os ministérios da Educação,
da Cultura e dos Negócios Estrangeiros e na dependência do Instituto Camões há largos anos. A já reformada Presidente Simoneta Afonso nunca visitou o país ou se interessou, realmente, em melhorar a imagem da cultura portuguesa e a sua ligação com o meio artístico e intelectual guineense.
O absurdo da exoneração dos Directores dos Centros em Bissau e em São Tomé (os únicos exonerados nos PALOP's, enquanto em Cabo Verde e em Moçambique os seus homólogos já se encontram em funções há quase 6 e 9 anos) foi justificado com uma necessidade de poupança, mas o aumento do número doutros diplomatas em Bissau, contraria esta justificação. Uma decisão, sem critérios e avaliação prévia, tomada levianamente pelo então Ministro Freitas do Amaral, mas sem qualquer oposição da Presidente do Instituto Camões.
Depois do legado de Mário Matos e Lemos que por aqui andou quase 13 anos (e que conheci na sua curta passagem pelo CENJOR), de Daniel da Silva Perdigão e do último director do Centro Cultural Português, Luís Machado, ainda o CCP conseguiu sobreviver, mas hoje, todos lamentam que não haja praticamente jornais portugueses e que muito do que então se fazia não continue e que não se veja já aquele envolvimento dos jovens, apesar do Centro estar renovado e mais apelativo. Faltam as actividades, falta-lhe a gestão necessária, falta-lhe a alma!
Nem todos os diplomatas são bons gestores e programadores culturais e o facto de permanecerem pouco tempo em Bissau também não ajuda, pois os projectos da área cultural e da cooperação necessitam dum seguimento prolongado e de quem esteja profundamente dentro da sua problemática. Que o diga o Secretário de Estado, João Gomes Cravinho, que não permitiu que se tocasse nos responsáveis pela Cooperação nas diferentes Embaixadas (e que haja uma Conselheira em Luanda há 13 anos!).
Em tempo de férias, o Centro de Língua do Instituto Camões estava, merecidamente, em repouso, mas também me dizem que falta a ligação do mesmo com o Centro Cultural, que são "dois irmãos de costas voltadas um para o outro" e que se perde a interacção de meios. Comenta-se que o Instituto Camões já possui três terrenos em Bissau para construir um Centro Cultural de raiz, um projecto que se arrasta há mais de 10 anos. A continuar assim, o Instituto Camões será a primeira agência imobiliária oficial de Bissau! Talvez seja esta uma forma de obter verbas adicionais em tempo de crise global! Entretanto, sem exonerações, sem polémicas e contratempos, o Centro Cultural Francês lá continua de vento em popa.
Com o narcotráfico a aumentar e os problemas económicos sem melhoria à vista, não deveria a Cooperação Portuguesa motivar parceiros europeus e internacionais para se activar um projecto global de intervenção e ajuda à Guiné-Bissau? Quem aqui vive e até quem por aqui passa, só pode apoiar semelhante ideia. Sobretudo porque surgem, aqui e ali, pequenas intervenções sem conexão entre si.
É na noite de Bissau que se compreende que a própria Embaixada portuguesa na capital vive momentos conturbados, onde a vida pessoal e familiar de muitos funcionários já se mistura e influencia negativamente o desempenho e imagem profissionais, desprestigiando quem representa o Estado português. O próprio Embaixador andará por aqui há demasiado tempo, tendo já obtido o recorde de permanência em Bissau, mas seja pelo cansaço, seja pelas peripécias próprias (conflitos com a comunidade e com guineenses importantes) ou pelas alheias, há muito que parece ter perdido o pulso da sua Embaixada.
Não é de espantar que muitas sejam as vozes que clamam: "Quem salva a Cooperação Portuguesa?"
Joana Otchan-Palha
Jornalista freelancer e gestora de comunicação
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Lembras-te de Bissau?
“Venham daí esses ossos!”. Cruzamo-nos, por acaso, ia eu a atravessar a rua em direcção à fortaleza da Amura. Abraçamo-nos e depois afastou-se. «Olha só para ti, estás um homem!». Este meu amigo costumava parar no bar «Escondidinho» – que fica na esquina da escola «Marques Palmeirim». Chegava de sorriso aberto, ao final da tarde, depois de grandes caminhadas pelo dia e depois de noites que só ele sabia viver. «Já estou de abalada», dizia isso sem ressentimentos nem temor. Aliás, começou a dizer isto – contaram-me – ia nos quarenta. Durou mais vinte e um; depois, sossegadamente, cerrou as persianas feitas de colmo e foi embora.
E adorava falar de mulheres - «Na minha idade é que era, vocês hoje vão para a cama por tudo e por nada». E tinha razão. Estamos sempre a ir para a cama; de manhã, à tarde e à noite. Pela primeira vez ouvi-o falar da violência da terra, dos ardores do sexo e de gente que se maltratava por um corpo quente de mulher. De gente que ele viu matar por um desvio de águas ou pela aleivosia de um dito mal interpretado. O meu amigo não era de percorrer tabernas, não. O «Escondidinho» enchia-lhe todas as medidas. Bebia o seu tinto, conversava, rindo de riso breve, ouvindo histórias. Histórias como aquelas que ele próprio contava, bem entendido; e contava-as numa toada lenta e despedida de deselegâncias.
Porém, vivia sempre o seu tempo. Nesse encontro, dois anos antes da sua morte, lembramos muitas coisas. Contou-me que enviuvara há cinco anos. A mulher morreu na sala de operações, em pleno parto, por falha de electricidade. «Ninguém contava com aquilo, foi terrível». Fez-se um silêncio sepulcral. Não consegui olhá-lo olhos nos olhos. Senti-me enfraquecido e a desfalecer e culpado por não saber o que dizer para confortá-lo. «Pelo menos ainda temos o ‘Escondidinho’» - disse-lhe. E fomos entrando. Voltou a desabafar. «Os amigos morreram todos; o Ucha, o Fernandinho...O último foi o teu pai» – disse-me. O meu pai morrera nesse ano, mais precisamente.
Fiquei então a saber aquilo que anos a fio me apoquentava: ou seja, o que este meu amigo procurava no «Escondidinho»: Letrado, ele procurava apenas a ração de afecto, os gomos de ternura que, confirmou-mo um dia, só a sua pacata e recôndita aldeia lhe poderia realmente oferecer. Bebíamos, de vez por outra mais do que manda a lei do equilíbrio; e, sobretudo conversávamos muito. E nós ouvíamo-lo muitíssimo. Ele percebera que perdera o tom da época; que a sua época era outra e que sobre essa época outra escrevera tudo quanto tinha de escrever. Porém manteve-se interessado. Lia o que os outros escreviam.
Certa tarde – contou-me o senhor Zé do «Escondidinho» - decidiu que chegara a hora de regressar à sua aldeia. E eles iam lá, vê-lo e conversá-lo. «Bebíamos agora um pouco e devagar». O meu amigo, sábio e antigo, quedava-se agora no batente da porta, no silêncio da tarde, no silêncio de todas as tardes. «Já nem havia palavra, aliás», sussurrou-me o senhor Zé. Depois, confidenciou-me, «ergueu-se e, pausadamente, atravessou os umbrais da eternidade».
António Aly Silva
Jornalista
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
O que pensas tu da morte?
Em resposta à pergunta - Pedro! - mais descabida que me foi feita.
A morte é a única certeza que temos da vida (pagar impostos também, mas isso significaria estar, por ex., no Canadá e não na Guiné-Bissau).
Na verdade, nunca pensei na morte. De resto, quando chega, não deixa dúvidas (às vezes, nem deixa marcas - como um gato). Chega também a ser o acto mais individual da nossa vida (quando nascemos há sempre mais gente ao barulho).
A morte é apenas uma história fechada. De ponto final. Além de que é só nossa. Contudo, não estou preparado para a morte de ninguém, nem para a minha, nem para a dos meus amigos, nem para a dos meus inimigos.
Por que havia eu de perder tempo com minudências? Aliás, se querem mesmo saber, a minha morte, hoje, causaria o maior transtorno. É que já tenho coisas combinadas para Dezembro. E como se isso não bastasse, ainda morria em má companhia... AAS
PS - O "Fuck You" refere-se à morte propriamente dita. AAS
A morte é a única certeza que temos da vida (pagar impostos também, mas isso significaria estar, por ex., no Canadá e não na Guiné-Bissau).
Na verdade, nunca pensei na morte. De resto, quando chega, não deixa dúvidas (às vezes, nem deixa marcas - como um gato). Chega também a ser o acto mais individual da nossa vida (quando nascemos há sempre mais gente ao barulho).
A morte é apenas uma história fechada. De ponto final. Além de que é só nossa. Contudo, não estou preparado para a morte de ninguém, nem para a minha, nem para a dos meus amigos, nem para a dos meus inimigos.
Por que havia eu de perder tempo com minudências? Aliás, se querem mesmo saber, a minha morte, hoje, causaria o maior transtorno. É que já tenho coisas combinadas para Dezembro. E como se isso não bastasse, ainda morria em má companhia... AAS
PS - O "Fuck You" refere-se à morte propriamente dita. AAS
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