sexta-feira, 11 de julho de 2008

Gente que dói

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Nas tardes de chuva é sempre assim: melancolia vaga, saudades nem eu sei de quê, a minha vida que parece não passar deste varandim. E a palmeira que num ai se me afigura humana. Pessoas que conheci ou nem existem, uma a uma diante de mim. Acenam. Calados, como convém quando chove. E eu sentado. E ela passa. Ela é gente. E a emoção que causa ao passar. Peito altivo e cara de colegial. E coragem para lhe sussurrar? Se ao menos fosse capaz de dizer isto num passinho muito leve, em palavras leves que os olhos quase não necessitam de tocar... Chamo-me António e que mistério num nome. Se o meu nome fosse outro o que teria feito dos dias? Uma palidez azul no interior da chuva chega-me. Enfim, banalidades importantíssimas que os anos me tiraram. E esta noite, vamos dançar? E fazer amor?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Muitos, não seremos demais

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Depois de mais de 30 anos...uma TERCEIRA VIA é possível. E necessária. AAS

quarta-feira, 9 de julho de 2008

É claro que fico chateado, pá!

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Nha parentis n'na konta bôs, stória di arte baratu...

Pois, então...

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Para aquelas pessoas que gostam de um ambiente descontraído e acolhedor, o X-Klub reserva-lhes um lugar na noite. No autocarro não que aí só cabem quatro...djitu ka ten. FOTO:(C)DR

terça-feira, 8 de julho de 2008

Encontramo-nos ao balcão

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...Para discutir a táctica. FOTO:DR

Gostava de vos ver aqui

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Sim. É que, sabe, eu sou daqui. Mesmo. Nem do Bureau Político nem do Comité Central. Nem da Esquerda, nem da Direita. Nem de qualquer dos centros. Apenas daqui, deste pedaço de terra. E não vos ligo nenhuma. Nem a um nem a outro. Nem à vossa retórica - um embuste, demagogia barata. Eu sou feliz assim.
E por ser daqui posso dizer: Um grupo restrito - ainda para mais de analfabetos e de incompetentes - domina a dignidade, a alma, o futuro do País.
E o povo. Passivo.
E, no entanto, continuo a ser daqui. Deste imenso verde desaproveitado. Deste lugar estranho onde a destruição do Estado é quase uma 'razão de ser'. Deste lado, daqui, a viver neste paraíso da palavra inútil e da imagem que não serve para nada.
Estou tão cansado de pensar no País, em mim próprio. Estou farto de mim!
Heróis. Daqui e de todo este verde passaram a bestas por tocarem no nosso dinheiro, por derramarem o nosso sangue.
E continuo daqui. E estou aqui. E acho mesmo que no meio de tanta coisa imóvel, só eu me mexo. E nos intervalos deixo sempre escapar, para um, para outro, um soslaiozinho satisfeito, contente.
Eu? Continuo daqui. Já agora, para aqui são dois murros:
Um, no estômago;
Outro, no conformismo.
AAS/FOTO: (C)AAS

segunda-feira, 7 de julho de 2008

I sibidu dja

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«I na bim», «I ka na bin», «é tudjil bim»», «siti ku liti», «leba ku tissi». Ma suma seku ku modjadu i ka konbersa... Finalmente. Koumba Yalá chegou. A democracia só tem a ganhar. Que ganhemos. Todos. Afinal, quem tem medo do doutor Koumba Yalá?
FOTO: DR

Falemos de... poesia medieval

Ontem. Eu. Sozinho.
Três cafés. Muitos cigarros.
E observava. Observava diversos tipos de pessoas que passavam. Eram umas poucas famílias, casais, um ou outro bêbado, pelo menos nove mafiosos, meninas de mini saia e outros tipos indefinidos.
E tu falavas de felicidade. A Felicidade, amiga, é um processo, e não um lugar onde finalmente se faz nada. Fazer nada no paraíso, por exemplo, não traz felicidade. Apesar de isto ser o sonho de tantos guineenses.
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E não é que sejamos felizes. Nem pensar. A estrela negra que eu carregava cheio de orgulho no lado esquerdo do peito desde a independência, deitei fora. E, com ela, ideias e convicções que não fazem mais sentido. O que ficou foi um grande vazio. De uma hora para outra senti-me meio órfão. Um dia, muita gente neste país terá de engolir a sua habitual prepotência.

Olha que três...

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Este Governo é tipo um barco a três. Um olha para um lado, outro rema para outro. Patrão ka tem! Só confusão...AAS

sábado, 5 de julho de 2008

Hoje, 7 de Julho

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Seja bem-vindo ao seu País, Sr. Presidente do PRS! Estava a ver... cheguei a pensar que seria preciso um helicóptero militar para que Koumba Yalá regressasse a Bissau... mas não!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Está desvendado o mistério

E qual é o mistério? Afinal, os elementos do governo guineense são todos membros do Greenpeace.
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E é, afinal, por isso que a Guiné-Bissau é um país ecológico. Ora vejamos: não temos luz (poupamos a camada de ozono, a vista dos peões, ajudamos os morcegos e por aí fora), não temos água (os animais rastejantes, em vias de extinção, escapam de uma morte por afogamento). Preservamos os buracos das estradas como nunca se fez no mundo todo (nem no Egipto, nem em Foz Côa se fez tanto pela preservação). AAS

Fixem (BEM) este nome

Vocês sabem do que é que eu estou a falar...

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quinta-feira, 3 de julho de 2008

A montanha pariu um, dois, três, quatro... cinco ratos!

Caiu o pano sobre o 7º Congresso Ordinário do PAIGC. Já previra, no post de 30 de Junho, a vitória de Carlos Gomes Júnior «talvez até com uma perna às costas». Foi com as duas. Perdi. Ou melhor, não acertei por um triz.

IMPRENSA (sobretudo as rádios) – Uma barafunda. Imperceptíveis, os directos, confusas as mensagens que se quis passar. Registo, no entanto, uma das pérolas. Do Califa Soares Cassamá: já em Bissau e depois de um «cansativo trabalho», perdiu-se-lhe um ‘rescaldo’. Qual bombeiro, começou por atacar as infraestruturas (pois tinha tudo a ver; como se o estado das mesmas fosse uma novidade para o PAIGC...).
E a apreciação que Califa Cassamá fez dos candidatos, sobretudo de dois, o Baciro Djá e o Policarpo Cabral de Almada? Notável e digno de um Pulitzer: Do segundo (que obteve 0’5% dos votos), o jornaleiro augura «um bom futuro, pois teve ideias e coisa e tal e blá, blá». Do primeiro, não regateia elogios e chegou mesmo a apontá-lo como «alguém que podia vencer o Congresso», pois «fez todo o mundo chorar no salão com o seu discurso»... Ah!, o Califa tem razão. Não é por acaso que aqueles que estão bem neste país fizeram, cada um no seu tempo, chorar muita gente!

MAIS ‘PÉROLAS’

Sempre o Califa: «Há quem diga que houve compra de consciências. Bom, mas isso é que é democracia. Quem pode, compra!». Ora, aí está o remédio santo para as próximas eleições: sloganes como «eleitor, deixe que te comprem!» ou «eleitor, vende-te!» terão bastante saída e igual proveito para os partidos políticos.

RECADO AO PRESIDENTE DO PAIGC:
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Sr. Carlos Gomes Junior, a sua casa (o partido, bem entendido), está suja, desorganizada a exalar um cheiro fétido tão devastador quanto os cadáveres que se descobrem nos esgotos a céu aberto da cidade de Bissau. Quer, ao menos, tentar as ganhar próximas eleições legislativas? Então, parta para uma limpeza radical. Investigue. Puna. Quem sabe, alguns voltem a acreditar no PAIGC. Não obstante, não conte com o meu voto.

RECADO A MALAM BACAI SANHÁ
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Sr. Malam Bacai Sanhá: o senhor não ganhou a prata. Perdeu o ouro! Rápido, sai daí rápido, Malam. É ka mistiu lá...
PERGUNTA A MARTINHO DAFÁ KABI
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O que esperar de uma garrafa quando esta entra num jogo de pedras?

AAS

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Hora di gassali lenha tchiga!

O presidente cessante do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, foi reconduzido no seu cargo no termo das eleições no VII Congresso desta formação política realizado em Gabú. Cadogo foi eleito com 578 votos, contra 355 para o seu rival imediato Malam Bacai Sanhá, candidato do partido às eleições presidenciais de 2005 ganhas por João Bernando "Nino" Vieira.
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FOTO (c) AAS
Três outros candidatos disputaram a presidência do PAIGC, nomeadamente Cipriano Cassama, ex-líder do grupo parlamentar do partido, Baciro Dja, do movimento juvenil, e o actual primeiro-ministro, Martinho Ndafa Cabi, terceiro vice-presidente desta formação, considerado como libertador da Guiné-Bissau depois de 11 anos de guerra contra o colonialismo português. O presidente do PAIGC afirmou, por seu turno, que era uma vitória de todo o partido."Convido os perdedores a juntar-se a mim para que possamos construir um futuro melhor para o nosso partido", declarou o presidente do PAIGC no termo destas eleições. O Congresso do PAIGC decorreu de 26 a 30 de Junho. Martinho Dafá Cabi tem de retirar consequências políticas. JÁ!

Um dia em Bissau

Na Guiné-Bissau, um dia normal pode começar de variadíssimas formas.
Esta pode ser uma delas:

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Saio de casa logo pela manhã com uma brilhante disposição porque o optimismo é uma ferramenta crucial para a sobrevivência neste mundo...especialmente para Bissau...
Vou de carro para o trabalho; um carro comprado em segunda mão vindo não sei bem de onde...A meio do caminho apercebo-me que mais uns quilómetros e terei de abastecer o carro com combustível...Vou fazê-lo à hora do almoço!
8h30: sento-me na minha secretária, contente com o ambiente entre colegas e porque até a essa hora nada de mau aconteceu!
13 Horas: dirijo-me à bomba de gasolina Lenox e SURPRISE!!! Não há gasolina...Não desespero e arranjo logo o ponto positivo da situação: aproveito e levo o carro ao mecânico para arranjar o tubo de escape, o travão de mão ou as velas, há-de ter sempre alguma coisa para arranjar...
Vou a correr para a Santa Rosa com uma fome avassaladora e, surprise!!! Não há galinha em Bissau...Só pernas da dita! 1000 CFA cada!!! Não porque sou sovina mas porque não compactuo com este tipo de exploração flagrante, regresso de estômago vazio ao trabalho.
Ahhhhh, mas pago 2.500 CFA por uma sandes mista barrada com Planta, (margarina para quem não conhece)!!! Irónico. Depois de umas horas é o poder da fome contra o poder do bom senso!
Bom, o dia está a chegar ao fim e a esperança de chegar a casa sem mais nenhum stress cresce!
O carro já está pronto, fantástico! Sempre ouvi dizer que a festa se faz depois da vitória, ou que não se deve cantar antes do tempo, isto dos provérbios não é bem o meu forte. O meu forte é mais carregar com um fardo de “mufunessas”... O carro vem com o tubo de escape em ordem mas a porta vem sem a maçaneta e a placa da marca do carro caída...Não tenho tempo para reivindicar os meus direitos hoje e o mecânico tem de ir buscar ou levar o filho ao fanado, não percebi bem! Mecânicos! Desanco-o amanhã.
Mas nem tudo está perdido porque agora vou ter com a minha cara-metade, relatar os acontecimentos do dia e refastelar-me no conforto de a ter perto de mim.
Vamos dar uma volta de carro, porque finalmente, depois de duas semanas de desespero, sem luz, água, sem transportes, o Governo resolveu pronunciar-se em relação aos preços do combustível e já há gasóleo! Uma parvoíce de preços tendo em conta o que se ganha no país, quando se ganha...
De regresso a casa, já de noite, começa a chover torrencialmente como só acontece na Guiné, os carros mal conseguem circular. Como se isso por si só não bastasse, surprise!... resolvem fechar uma faixa da estrada porque o Presidente da República tem um rendez-vous algures por aí...
OK, aqui vamos nós a passo de caracol sem ver um palmo à frente do nariz, a levar com os máximos de carros de terceiros na fronha...Todos muito revoltados mas todos muito submissos a esta autoridade de merda que nos faz viver em condições de tamanha tristeza!
O Zé-povinho é que sofre quando o PR decide passear, decide viajar, decide confraternizar...É ver os toca-tocas a abarrotar de gente, gente a fugir da chuva, os polícias completamente encharcados no meio da estrada a desorganizar o caos mas altamente compenetrados no cumprimento do seu dever, carros a esbarrarem contra carros, a maré a aumentar, pessoas desesperadas por chegar rápido ao destino... A única satisfação é ver as crianças felizes a saltitar na rua ao ritmo da chuva!
O que levamos - 10 a 15 minutos num dia normal - levamos hoje 45 minutos. Ouvimos um CD inteiro de música. Se o PR quer segurança, conforto, que crie condições para isso: estradas alternativas e seguras, luzes nas estradas, sinalização de jeito, arranje um helicóptero, eu sei lá, dêem azo à criatividade. O PR deveria dar o exemplo...E não sacrificar o povo a condições de vida precárias e revoltantes.
Existem vezes, em que a escolta presidencial chega a atropelar pessoas e a criar acidentes entre carros (pessoalmente já tive um encontro de 1º grau com esses camelos, que resolveram circular em sentido proibido num dia de treino), tudo em nome da segurança do PR. E a segurança do povo?!
Ainda colocámos a hipótese de passar para a faixa do PR e fazer uso ao comportamento de massas, uma espécie de manifestação. A indiferença de todos os PR’s em relação a esta situação crónica irrita profundamente! Mas o bom senso e a experiência da Guiné, diz-nos que seríamos os únicos e que com a representação de justiça que a sociedade possui, estaríamos feitos ao bife.
É com este ânimo que chegamos a casa, completamente derrotados por um sentimento de impotência.
Duas horas depois e já de banho tomado damo-nos conta que o PR só agora acabou de passar... Duas horas de estrada fechada, polícias à chuva, carros encravados no trânsito, acidentes, pessoas aflitas para chegarem onde precisam (casa, hospital, trabalho,...)...E o PR tranquilo a executar a sua agenda.
Enterramos a falta de combustível, enterramos a falta de galinhas no mercado, enterramos a vigarice dos mecânicos e enterramos o “lebsimenti” das autoridades locais, para o nosso próprio bem físico, mental e social!!
O que vale é que amanhã o dia é outro e teremos tempo para criar outros ânimos e viver de forma diferente!

Tchumá