sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

EXCLUSIVO DC: Assassinato de Helder Proença: o que disse o Monha Aié?

REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU

SERVIÇO DO MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO DO
TRIBUNAL REGIONAL DE BISSAU

AUTO DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA(*)

Data: 13.05.010.
Hora: 30: 30mn

Magistrado do Ministério Público: Drs: A. D., D. M. e T. M.S. C.

Técnico de Justiça: L. G.

Iniciado o acto, a testemunha foi explicado dos direitos e deveres que lhe assiste, previstos nos artº 122 do CCP, aos costumes quanto ao suspeito disse não ser família, nem amigo e não possuir qualquer ligação de parentesco.

Seguidamente a testemunha identificou-se da seguinte forma:

Nome: Monha Aié
Filiação: Mbundé Na Aié e Nrani Na Yuié
Natural de (Sector/Região) Bidanda / Região de Tombali
Data de Nascimento: 13.01.1951
Profissão: Lavrador
Domicilio: Bissau-Antula

Cumpridas todas as formalidadees legais a matéria dos autos:

Sobre a matéria dos autos, instado a pronunciar-se o qué que sabe sobre o assassinato de Helder Proença, respondeu que no dia 4 de junho de 2009, cerca das 10 horas da noite, foi chamado pelo telefone pelo o seu superior hierárquico, Coronel Samba Djaló que se encontrava nas novas instalações do Estado Maior. Disse que ao chegar ali viu o Samba junto da porta do gabinete do Chefe de Estado Maior a aguardar da chegada dele, testemunha. Daí este entrou para o gabinete do CEMGFA, que entretanto, ao sair disse-lhe (à testemunha) para aguardar, que o cChefe de Estado Maior, Almirante José Zamora Induta, vai o informar do assunto, ou seja do que está passar. Disse que cerca de 10mn depois foi chamado, digo convidado pelo CEMGFA para se entrar no gabinete deste. Aí, de pé, foi informado pelo CEMGFA que tem informações em como havia um grupo de individuos inclusive o Helder Proença estava a preparar um golpe de Estado. Por isso, como o Helder vinha de Ziguinchor naquele dia, tem que ser preso, tanto assim que já tinha dado instruções nesse sentido, depois retirou-se do gabinete e voltou para a antiga instalações do estado Maior.

Disse que no mesmo dia, cerca das 11 horas foi de novo chamado pelo o Coronel Samba Djaló, onde foi instruido por este no sentido de ir conduzir o Pansau Kwassá da residencia do Helder Proença sito no cruzamento de Guimetal, para o Estado Maior, sem especificar o motivo. Ordem que cumpriu de imediato.
Disse ainda que já na companhia do Coronel Samba Djaló na viatura dele testemunha estava ser conduzida pelo seu motorista de nome Mamadú Seidi, dirigiram-se para a residência do Helder Proença no sentido de constantar as caracteristicas da viatura que o Helder vinha de Dakar para Bissau. Ali, o Coronel Samba vestoriou a aludida viatura, tendo de seguida interpelado o motorista desta viatura, um cidadão de Nacionalidade Senegalês, tendo inclusive falado com ele em lingua francesa. Que após dessa interpelação ao motorista mandou o Pansau Kwassá para o Estado Maior, conduzido sob custódia pelos elementos de policia militar, tendo o Tenente Coronel Samba Djaló, ela testemunha e mais o motorista seguido para Bula, digo, em direcção a Bula.

Que, chegado numa localidade entre João Landim e Bula, o motorista dela testemunha constatou algo estranho quando viu os três corpos (M/N: referia-se aos cadáveres de Helder Proença, Puntchu e do amigo deste) na estrada, tendo reduzido a velocidade da viatura, posteriormente foi ordenado pelo o Samba a estacionar. Que, já no local, viram dois corpos na berma da estrada a direita e o outro corpo a esquerda junto de uma viatura supostamente uma carrinha dupla cabine de côr branca que, têm impressão de que alguém disparou contra esta viatura e os ocupantes. Que depois de ter constatado esta situação voltaram de imediato para Bissau, directamente ao Estado Maior. Que no Estado Maior o Coronel Samba Djaló dirigiu directamente para o gabinete do CEMGFA Almirante José Zamora Induta, tendo-lhe informado da ocorrência. Depois através das orientações do Coronel Samba Djaló, seguiram para os Bombeiros, tendo ali abordado o oficial dia no sentido de irem resgatar os corpos digo, retirar os corpos dos bandidos que se encontravam na estrada entre João Landim e Bula. Que como não havia combustivel, o Tenente Coronel Samba Djaló voltou de novo ao Estado Maior, onde veio com dinheiro para custiar aquisição de combustivel. Após a entrega desta quantia de dinheiro, seguiram em companhia dos Bombeiros para o local onde se encontravam os corpos.

Quando chegaram encontraram dois remorcos (nota: camiões TIR) com os seus respectivos ocupantes a protestarem sobre o ocorrido ou seja dos corpos encontrados nas duas bermas da estrada. O Coronel Samba ordenou a retirada imediata dos individuos que estavam a protestar e com a saida destes os Bombeiros foram ordenados pelo Coronel Samba para retirarem os cadaveres e posto isto, dirigiram-se, isto é, a testemunha com Samba e o motorista mais a equipa dos bombeiros para Bissau e quando chegarm à Chapa de Bissau os Bombeiros continuaram em direcção ao Hospital Simão Mendes e ela (a testemunha) e o Samba dirigiram-se ao Estado Maior General das Forças Armadas, e ali Samba entrou no gabinete do CEMGFA certamente para informar o Chefe do Estado Maior da retirada dos corpos pelos Bombeiros.

A MORTE DE BACIRO DABÓ

Inquirido sobre a morte de Baciro Dabó disse que só teve o conhecimento após o regresso ou seja após a retirada dos três cadaveres, já no Estado Maior General das Forças Armadas pelo Coronel Samba Djaló.
Quanto aos nomes dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado, disse que ele não se encontrava em Bissau por falecimento da sua mãe no sul do país e que só regressou na vespra dos acontecimentos em referência ou seja no dia 3 de Junho do ano 2009, razão pela qual não teve acesso a esses mnomes.
Perguntado se sabe ou não do envolvimento do falecido Baciro Dabó na tentativa de golpe de Estado, disse que não sabe, mas que um dia após a morte do Baciro, o Coronel Samba Djaló foi ao seu gabinete pedindo-lhe que preparasse um auto de declração ou seja uma informação que envolvesse o nome do falecido Baciro Dabó como sendo um dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado, tendo em conta que este afinal não fazia parte do grupo dos supostos golpistas, o que a testemunha disse ter recusado categoricamente fazer, por entender que essas ordens prendem-se com a preocupação do CEMGFA, Almirante José Zamora Induta para justificar o assassinato do Major Baciro Dabó.

Disse que com a recusa da referida ordem, o Coronel Samba Djaló chamou o Tenente Almamo Sanó, dando-lhe a mesma ordem na sua presença, que este acabou por cumprir depois de tant aa persistência do Coronel Samba Djaló. Esclarece que tais falsas informações produzidas pelo Tenente Almamo Sanó, não foram feitas no Estado Maior General das Forças Armadas mas sim no Ministério do Interior. Disse que dias depois o Tenente Almamo Sanó compareceu no seu gabinete dizendo-lhe que deveria fazer as cópias das referidas informações a fim de dar conhecimento ao Vice-CEMGFA sobre o que estava a ser preparado, mas que entretanto já tinha entregue os documentos sem fazer fotocópias.

Confrontado com as declarações do Coronel Samba Djaló, o Tenente Almamo Sanó, no que se refere às ordens para a produção de informações falsas, assim como dos dados pessoais de algumas pessoas em como prestaram declarações, afirmando que foram mobilizadas pelo Major Baciro Dabó para participarem no golpe de Estado, respondeu que em nenhum momento chamou o Tenente Almamo para lhe dar ordens nesse sentido, mas sim, como ficou atrás dito, este foi chamado pelo Coronel Samba Djaló no gabinete dele, onde deu as referidas ordens. Assim como em nenhuma circunstância também deu dados pessoais dos ditos elementos ao Tenente Almamo Sanó, e muito menos viu as referidas informações, visto que as mesmas foram produzidas no Ministério do Interior e não no Estado Maior.

A única coisa que sabe é do grupo que foi deter Faustino Imbali. Disse que foi o Batalhão de Asseguramento do Estado Maior, contudo, não sabe precisar dos nomes das pessoas que participaram naquela operação. Disse que só recorda o nome de um dos condutores do referido Batalhão de nome Tino, cujo apelido desconhece.

E mais não disse e nem foi perguntado. Lidas as suas declarações achou conforme e vai assinar.----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Para constar se lavrou a presente Auto de Inquirição de testemunha que depois de lida e achada conforme vai ser assinado pelos intervenientes processuais.

Drs: A. D., D. M., T. M.S. C., e L.G.
Monha Aié



Nota:
(*) O texto está escrito tal como vem no Auto de Inquirição de Testemunha. AAS