Bissau e uma cidade com pouca iluminacao publica. Agora, imaginem como fica quando lhe e imposta a escuridao total. Nao se ve um palmo a frente! As trevas, as profundezas do abismo.
Mas ha boas novas. Nao se ouvem tiros. O ruido que mais se ouve, para quem esteja a caminhar, sao dos geradores. Ou, de alguns aparelhos de ar condicionado. Ha mais de 20 militares na parte da frente da residencia do primeiro-ministro, e, presumo, outros tantos nas traseiras.
Ha militares no cruzamento do clube do SB Benfica, assim como no da antiga Primatura. A residencia do Presidente da Republica, Malam Bacai Sanha, ausente do Pais por motivos de saude, continua entregue ao seu corpo de seguranca. Tambem nas traseiras do quartel da Marinha de Guerra (frente a sede da ONU), existem militares.
O ministerio do Interior, que tomou a lideranca dos acontecimentos logo a seguir, esta cercada pela Policia de Intervencao Rapida e por alguns elementos da seguranca do Estado. Alias, uns minutinhos antes da morte do Iaia Dabo, cumprimentei o seu director, Lino Lopes, que na altura falava ao telefone, nao no ministerio do Interior, mas no comissariado da Policia de Ordem Publica. Veio ate a janela do carro e cumprimentamo-nos, trocando palavras breves.
Hoje ja crepitam pequenos fogareiros. Junto a sede da Policia Judiciaria, prepara-se o warga (cha tradicional). Os guardas contam-se historias que nem supunham! La esta - o boato, o nosso pior pesadelo. Alguns falam como se tivessem assistido ao vivo...
O HN Simao Mendes esta tambem calmo. Nao ha novos 'fregueses'. So gostava que continuasse tudo assim, como esta agora, calmo, sereno, contudo escuro. O breu total. Bissau assusta nestas alturas. Fui visitar alguem. Conversamos durante umas duas horas. E concordamos com quase tudo. Abriu uma garrafa de champagne, e, deixando-me sem jeito e sem uma unica pinga de sangue, disse-me apenas 'bom trabalho. Tens uma grande capacidade'. Obrigado.
Ha viaturas a circular sem matricula: esta em marcha uma grande operacao para aniquilar algumas bolsas de resistencia. Pelo meno e o que alegam. Veremos. Uma coisa parece clara, e todos concordamos: ha que explicar, e bem, tudo o que estamos a assistir. Antonio Aly Silva
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Disseram-me ao telefone para 'nao ir dormir a minha casa' esta noite.. Amanha, espero que digam alguma coisa sobre esta morte... A cidade permanece calma. Uma coisa e certa: Eu (ou alguem por mim) visitaremos a morgue do HN Simao Mendes varias vezes esta noite, e durante toda a madrugada... Boa noite. AAS
EXCLUSIVO: Iaia Dabo foi morto a sangue frio, dentro do carro do Deputado Conduto de Pina. Soube que tinha sido localizado e queria entregar-se as autoridades. Presenciaram o acto o Pr da Liga Luis Manuel Cabral, e Filomeno Cabral. Djoi entregou-se ao fim da tarde. Desconhece-se o paradeiro de Roberto Cacheu. AAS
Bissau, madrugada de 27 de dezembro, terça-feira
Bissau adormece fatigada, menos fria (e falo do tempo). Estou a chegar a casa, depois de umas voltas, hoje muito limitadas pelos acontecimentos que se desenrolaram ontem. Até agora, está tudo calmo, parace até que toda a gente se mudou da capital para o interior. Mas há vultos na noite.
Há vultos como que amontoados, ha murmúrios nesta noite. Quase não circulam carros, e não há, ao contrário de outras noites, fogareiros a crepitar, nem gargalhadas cúmplices e menos ainda namoricos nas esquinas escuras. Mas há vultos nesta madrugada que ainda é uma criança.
Andei por ai, às voltas, e ninguém me importunou. Ninguém se importou sequer com a minha presença. Passei despercebido. Senti o silêncio da cidade, um silêncio que ensurdece. E eu ali às voltas. Devagar até para o meu gosto. Serei invisivel? Não. Apenas não me tomaram como uma ameaça.
Estou já em casa. Apetece-me chorar, gritar a plenos pulmões, gesticular e dizer: chega!, basta! Párem de sobressaltar este povo, esta gente humilde. Tenham vergonha deste povo e deste País que amanhã os vossos filhos e netos herdarão. Boa noite a todos. Antonio Aly Silva
Há vultos como que amontoados, ha murmúrios nesta noite. Quase não circulam carros, e não há, ao contrário de outras noites, fogareiros a crepitar, nem gargalhadas cúmplices e menos ainda namoricos nas esquinas escuras. Mas há vultos nesta madrugada que ainda é uma criança.
Andei por ai, às voltas, e ninguém me importunou. Ninguém se importou sequer com a minha presença. Passei despercebido. Senti o silêncio da cidade, um silêncio que ensurdece. E eu ali às voltas. Devagar até para o meu gosto. Serei invisivel? Não. Apenas não me tomaram como uma ameaça.
Estou já em casa. Apetece-me chorar, gritar a plenos pulmões, gesticular e dizer: chega!, basta! Párem de sobressaltar este povo, esta gente humilde. Tenham vergonha deste povo e deste País que amanhã os vossos filhos e netos herdarão. Boa noite a todos. Antonio Aly Silva
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
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