Hoje, por volta das 20 horas, vários tiros deixaram a população de Bissau em alerta máximo.
Ao que DC apurou, tudo começou com uma manifestação de protesto de jovens do bairro de Chão de Papel Varela. Os jovens acusam um homem de ser "um feiticeiro", e de ter "morto" um amigo seu.
A Polícia de Intervenção foi chamada ao local, tendo disparado vários tiros de pistola e AK-47. Depois dos tiros, DC testemunhou a correria da população, preocupados com os seus familiares. Os jovens bateram em retirada e o bairro de Chão de Papel Varela voltou à pacatez de sempre. AAS
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Arezki 'oferece' 40 metros de alcatrão para tapar pouca-vergonha na avenida principal
A empresa Arezki, que ganhou o concurso para a construção da estrada que liga a cidade de Bissau ao aeroporto Osvaldo Vieira, 'ofereceu' cerca de 40 metros de estrada - a que corta o Ministério dos Negócios Estrangeiros esquisitos, para cobrir a vergonha e a anarquia que reinam na construção da estrada principal (avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria).
Não há nenhum tipo de coordenação com a polícia, nem sinalização, muito menos regam a estrada por causa do pó. Os acidentes subiram em flecha e os atropelamentos de peões também.
Ontem, à entrada da chapa de Bissau...havia cinco faixas de um dos lados da estrada! Cinco! Uma autêntica escravatura, aquela que os trabalhadores (sobretudo guineenses) passam, cavando à mão as valas laterais, amassando cimento com pás em vez de máquinas... E ganhando 1.500 fcfa por dia!?
Aposto aqui que assim que começarem as primeiras chuvas, em vez de alcatrão...teremos um rio de pedras; e nas valas, pessoas a gritar por socorro. Não é a primeira vez que a Arezki faz e desfaz na Guiné-Bissau. Mas como pagam tudo e todos... AAS
Não há nenhum tipo de coordenação com a polícia, nem sinalização, muito menos regam a estrada por causa do pó. Os acidentes subiram em flecha e os atropelamentos de peões também.
Ontem, à entrada da chapa de Bissau...havia cinco faixas de um dos lados da estrada! Cinco! Uma autêntica escravatura, aquela que os trabalhadores (sobretudo guineenses) passam, cavando à mão as valas laterais, amassando cimento com pás em vez de máquinas... E ganhando 1.500 fcfa por dia!?
Aposto aqui que assim que começarem as primeiras chuvas, em vez de alcatrão...teremos um rio de pedras; e nas valas, pessoas a gritar por socorro. Não é a primeira vez que a Arezki faz e desfaz na Guiné-Bissau. Mas como pagam tudo e todos... AAS
Comité Central do PAIGC obriga e obtém minuto de silêncio
A Resolução Final da 1ª Sessão Ordinária do Comité Central do PAIGC (6 a 8 fevereiro), decorreu num clima de alta-tensão. Quase se chegou a vias de facto, em que Botché Candé foi o protagonista, ameaçando Roberto Cacheu por este ter criticado o presidente do partido, Carlos Gomes Jr.
Também Daniel Gomes, ex-ministro da Defesa travou-se de razões com o porta-voz do PAIGC, Cancan, tendo-o apelidado de ser um PIDE e locutor do PFA na Guiné Portuguesa. Quente, como se pode ver...
Martinho Dafa Kabi, foi outro dos protagonistas. Propôs e obteve um minuto de silêncio a favor das vítimas dos assassinatos políticos de 2009. Mais: o Comité Central do PAIGC, na sua resolução final, "Repudia os actos que originaram os assassinatos perpetrados no decurso do ano 2009 dos camaradas Tagme Na Waie, João Bernardo Vieira 'Nino', Hélder Proença, e Baciro Dabó, que constituiram acontecimentos funestos na vida da Nação Guineense". O CC solicita ainda o Governo que crie "as condições necessárias e indispensáveis para a conclusão do processo de investigação dos assassinatos das eminentes personalidades citadas no ponto 19" (vide o parágrafo anterior).
O Comité Central decidiu ainda "reiterar e subscrever a posição já assumida pelo Governo e o Bureau Político do Partido a relativamente aos assassinatos" dos mesmos. AAS
Também Daniel Gomes, ex-ministro da Defesa travou-se de razões com o porta-voz do PAIGC, Cancan, tendo-o apelidado de ser um PIDE e locutor do PFA na Guiné Portuguesa. Quente, como se pode ver...
Martinho Dafa Kabi, foi outro dos protagonistas. Propôs e obteve um minuto de silêncio a favor das vítimas dos assassinatos políticos de 2009. Mais: o Comité Central do PAIGC, na sua resolução final, "Repudia os actos que originaram os assassinatos perpetrados no decurso do ano 2009 dos camaradas Tagme Na Waie, João Bernardo Vieira 'Nino', Hélder Proença, e Baciro Dabó, que constituiram acontecimentos funestos na vida da Nação Guineense". O CC solicita ainda o Governo que crie "as condições necessárias e indispensáveis para a conclusão do processo de investigação dos assassinatos das eminentes personalidades citadas no ponto 19" (vide o parágrafo anterior).
O Comité Central decidiu ainda "reiterar e subscrever a posição já assumida pelo Governo e o Bureau Político do Partido a relativamente aos assassinatos" dos mesmos. AAS
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Viajar no pensamento
"Adorei os relatos da viagem... Acho que de certo modo, também viajei pelo Mali!
Beijinho,
LG
(Lili)"
M/N. ... E viajar é olhar. Bjs, AAS
Beijinho,
LG
(Lili)"
M/N. ... E viajar é olhar. Bjs, AAS
Guineense é bom
"Caro irmão, Aly Silva
O Senhor é um verdadeiro GUINEENSE! Amo, por vezes, ultrapassando os meus limites, a GUINE-BISSAU! O seu gesto, a simplicidade e a humildade, denotam a nobreza de um GRANDE GUINEENSE! Esta atitude, é uma Andragogia/Pedagogia, que caracteriza a nossa forma de ser/estar GUINEENSE. Os meus parabéns! Continue a trabalhar como até aqui, porque é muito importante para todos nós, no País e na diáspora! Estou muito emocionado e orgulhoso de si, acredite! Todos, queremos o melhor, mas mesmo o melhor para a nossa PÁTRIA!
Um grande abraço irmão.
Filipe Sanha"
M/N: Obrigado, amigo. Um abraço. AAS
O Senhor é um verdadeiro GUINEENSE! Amo, por vezes, ultrapassando os meus limites, a GUINE-BISSAU! O seu gesto, a simplicidade e a humildade, denotam a nobreza de um GRANDE GUINEENSE! Esta atitude, é uma Andragogia/Pedagogia, que caracteriza a nossa forma de ser/estar GUINEENSE. Os meus parabéns! Continue a trabalhar como até aqui, porque é muito importante para todos nós, no País e na diáspora! Estou muito emocionado e orgulhoso de si, acredite! Todos, queremos o melhor, mas mesmo o melhor para a nossa PÁTRIA!
Um grande abraço irmão.
Filipe Sanha"
M/N: Obrigado, amigo. Um abraço. AAS
O caminho para a perdição
Saímos de Bamako no dia 8, com destino a Kayes - 680 km de estrada alcatroada (os últimos cem um pouco maus). A andar 130/140 km hora, e a 65 km do nosso destino, calhou-nos um buraco mais largo do que o nosso carro. Um baque forte e seco deixou-me em alerta e com os sentidos apurados. Uns kms mais adiante, decidi, por instinto, parar para atestar o depósito de combustível, e...tinha o pneu esquerdo da frente furado. Mas, felizmente, ainda estavámos no Mali!
Colado à estação da estação de serviço, onde abastecemos (eram umas 20:30h), vimos fogareiros a crepitar e alguma agitação) "Colam pneus aqui ao lado", disse-nos o afável empregado da 'bomba'. Deixei o carro descair uns trinta metros e já está. Parecia magia. Fermé! Mas havia um número de telemóvel escrito a tinta de óleo, no muro. Liguei e passei ao Mussá. Tínhamos acabado de travar amizade com o Mussá, e o nosso socorro vinha a caminho.
Pusemo-nos então a conversar com o Mussá. Um jovem na casa dos 20 anos, alto e fino como um ponto de exclamação, mas bastante inteligente. Via-se que estudou. E que sabe do que fala. Gabou o trabalho feito pelo Presidente Amadou Toumane Touré (ATT, como o tratam por todo o Mali), mas também reconheceu que faltava fazer alguma coisa (Roma e Pavia não se fizeram num dia, e o Mali agora completou 50 anos de independência. Dou um exemplo: se a Guiné-Bissau completar 50 anos de independência, e estiver desenvolvido como o Mali que eu vi, então podemos estar descansados. Mas a Guiné-Bissau, coitada, não tem, ainda, os seus filhos mais capazes a governar. Só vemos analfabetos, analfabrutos e um mar de incompetentes funcionais!
Chegou o nosso salvador. Vinha com um sorriso estampado no rosto, e trazia a farda de trabalho vestida. Olhou para o pneu que eu já tinha começado a desmontar (o tempo era essencial), e pediu-me que me afastasse, coisa que fiz. Tirou o pneu, colou-o e voltou a montá-lo em menos de meia hora. Pagámos e selamos aquele momento com um aperto de mão e a felicidade em todos os rostos.
Chegámos a Kayes e fomos directos ao hotel. Havia quarto, e, imaginem, água quente na casa de banho! Foi uma benção!!! De manhã, ao pequeno almoço, telefonei a agradecer ao mecânico salvador. Infelizmente o meu bambaram não tinha progredido desde a noite anterior e peço ao recepcionista para fazer de intermediário. Este também muito simpático, traz um folheto consigo. Era do turismo da cidade de Kayes. Ficámos a saber que decorria o Festival International Kayes Medine Tamba. Por falta de tempo e, no fundo, já saciados de festivais de música, decidimos ir visitar o forte, ainda que não estivesse nos nossos planos. A estrada para o Forte de Medina - perguntei ao funcionário do hotel - é boa? Dá para ir, respondeu. E lá nos metemos ao caminho. Assim que atravessámos a linha férrea que liga Mali ao Senegal, quase que perdi a esperança na humanidade. A estrada – se é que a posso chamar assim – mais não era que um amontoado de pedras que pareciam brotar do chão como cogumelos (a sua pavimentação, entretanto, está para breve, como mais adiante se verá).
Nem percorremos dois quilómetros, quando precisei de fazer uma travagem... carrego no pedal do travão, e senti-o fugir até fazer contacto com o chão do carro. Estava sem travões. “Pas de freins!” – disse para o nosso ‘guia’. Descontraído, apenas respondeu «ah, ok! Mais c’es déja lá le fort». E lá continuei a guiar por uns bons 10 kms, sem travões e num carro de caixa automática! Até que vislumbrámos, ao longe, os traços do Forte. Uma dezena de camiões circulavam pela ‘estrada’ (há uma mina de brita na estrada que leva ao forte), levantando uma enorme nuvem de pó branco.
Chegámos. O Forte de Medina, situa-se a 12 kms de Kayes e data do século XVIII. Foi erigido em 1885 pelo general francês Faidherbe para proteger a cidade de Medina contra os ataques das tropas toucouleurs d’El Hadj Oumar Tall, que ameaçavam os interesses comerciais franceses. Visitámos a messe dos oficiais, a residência do comandante, a campa de Marie Duranthon (filha de um explorador francês da época), a prisão, o monumento aos mortos. No exterior do Forte, visitámos o mercado dos escravos, a gare ferroviária, o cemitério Real (onde repousam Hawa Demba Diallo - que cedeu a Faidherbe o terreno para a construção do Forte), e a torre onde era guardada a reserva de ouro da França durante a II Grande Guerra. Repousam, assim, no impotente Forte, mais de dois séculos de história.
O Forte está em reconstrução, e os trabalhos avançam a bom ritmo. O Presidente do Mali, ATT, foi quem colocou a 1ª pedra, o que mostra a vontade que o País tem na recuperação e na preservação do seu passado histórico, que é isso mesmo – História. E a nossa ‘estrada para a perdição’, a que leva ao Forte e nos custou os travões, será finalmente alcatroada. Uff!!!
De regresso, fomos a uma oficina e resolveu-se o problema. Um pedregulho partira um dos cabos e um líquido escuro pastoso colou-se à jante. Seguimos depois para o hotel Maida, para agradecer ao Mussa, o nosso ‘guia’, o facto de nos ter sugerido essa visita ao Forte de Medina, na cidade de Kayes, de onde é natural.
A nossa ideia era dormir em Bissau no dia 9, mas já não fomos a tempo e ficámos a dormir num hotel muito simpático em Koukandé, com um grande jardim.
Voltamos a fazer-nos à estrada pela manhã, depois de um pequeno almoço com pão, mel, café e leite. Mais oitenta e tal quilómetros até Diboli. A viagem fez-se de um só fólego. Depois, tínhamos muita estrada (má) até Tambacounda e ainda havia que chegar a Velingara. E é no Senegal onde tudo quase cai por terra. Como não havia nenhuma placa de sinalzação a indicar Guiné-Bissau (o que mostra o grande respeito que o Senegal tem por nós), só havia uma coisa a fazer: perguntar. Acontece no entanto que pusemos mal a pergunta. E fomos induzidos em erro. Em vez de entrarmos em Ouassadou, seguimos a estrada e fomos dar a Diaoubé. A Gendarmerie mandou-nos parar, e, meio educadamente meio a gozar na nossa cara, mandou-nos dar meia volta e seguir para Ouassadou. «Têm que sair pela fronteira onde entraram», disse-nos o gendarme. Mas estava enganado. Podíamos entrar, garantiu-nos um polícia senegalês, na fronteira de Pirada, em qualquer uma. Estávamos a sair do território do Senegal.
Mal atravessámos a fronteira, voltámos a ficar sem travões. Porém, desta vez, não havia mecânico, a não ser 53 kms mais à frente – ou seja, em Gabú. Lá conseguimos chegar, sem precalços de maior. O único senão foram as lombas (ou melhor, muros) que a população ergue nas estradas, junto às povoações. Cada uma mais alta do que a outra. Em Gabú, parei num mecânico para me certificar do problema. Era um cabo partido, mas agora do lado direito. Decidi não ‘perder tempo’ e arranquei rumo a Bafatá – uma estupidez. Felizmente tudo correu bem. Bafatá/Mansoa, também. E assim continuou até Bissau.
Quando cheguei à Chapa de Bissau, por volta das 15:30, era o caos: de um lado da estrada, de repente havia cinco faixas de carros. Camiões da Arezki numa grande azáfama, ninguém controlava o tráfego, não havia um polícia. Era a Bissau que deixarámos havia uma semana. E de que dá pena falar... AAS
Colado à estação da estação de serviço, onde abastecemos (eram umas 20:30h), vimos fogareiros a crepitar e alguma agitação) "Colam pneus aqui ao lado", disse-nos o afável empregado da 'bomba'. Deixei o carro descair uns trinta metros e já está. Parecia magia. Fermé! Mas havia um número de telemóvel escrito a tinta de óleo, no muro. Liguei e passei ao Mussá. Tínhamos acabado de travar amizade com o Mussá, e o nosso socorro vinha a caminho.
Pusemo-nos então a conversar com o Mussá. Um jovem na casa dos 20 anos, alto e fino como um ponto de exclamação, mas bastante inteligente. Via-se que estudou. E que sabe do que fala. Gabou o trabalho feito pelo Presidente Amadou Toumane Touré (ATT, como o tratam por todo o Mali), mas também reconheceu que faltava fazer alguma coisa (Roma e Pavia não se fizeram num dia, e o Mali agora completou 50 anos de independência. Dou um exemplo: se a Guiné-Bissau completar 50 anos de independência, e estiver desenvolvido como o Mali que eu vi, então podemos estar descansados. Mas a Guiné-Bissau, coitada, não tem, ainda, os seus filhos mais capazes a governar. Só vemos analfabetos, analfabrutos e um mar de incompetentes funcionais!
Chegou o nosso salvador. Vinha com um sorriso estampado no rosto, e trazia a farda de trabalho vestida. Olhou para o pneu que eu já tinha começado a desmontar (o tempo era essencial), e pediu-me que me afastasse, coisa que fiz. Tirou o pneu, colou-o e voltou a montá-lo em menos de meia hora. Pagámos e selamos aquele momento com um aperto de mão e a felicidade em todos os rostos.
Chegámos a Kayes e fomos directos ao hotel. Havia quarto, e, imaginem, água quente na casa de banho! Foi uma benção!!! De manhã, ao pequeno almoço, telefonei a agradecer ao mecânico salvador. Infelizmente o meu bambaram não tinha progredido desde a noite anterior e peço ao recepcionista para fazer de intermediário. Este também muito simpático, traz um folheto consigo. Era do turismo da cidade de Kayes. Ficámos a saber que decorria o Festival International Kayes Medine Tamba. Por falta de tempo e, no fundo, já saciados de festivais de música, decidimos ir visitar o forte, ainda que não estivesse nos nossos planos. A estrada para o Forte de Medina - perguntei ao funcionário do hotel - é boa? Dá para ir, respondeu. E lá nos metemos ao caminho. Assim que atravessámos a linha férrea que liga Mali ao Senegal, quase que perdi a esperança na humanidade. A estrada – se é que a posso chamar assim – mais não era que um amontoado de pedras que pareciam brotar do chão como cogumelos (a sua pavimentação, entretanto, está para breve, como mais adiante se verá).
Nem percorremos dois quilómetros, quando precisei de fazer uma travagem... carrego no pedal do travão, e senti-o fugir até fazer contacto com o chão do carro. Estava sem travões. “Pas de freins!” – disse para o nosso ‘guia’. Descontraído, apenas respondeu «ah, ok! Mais c’es déja lá le fort». E lá continuei a guiar por uns bons 10 kms, sem travões e num carro de caixa automática! Até que vislumbrámos, ao longe, os traços do Forte. Uma dezena de camiões circulavam pela ‘estrada’ (há uma mina de brita na estrada que leva ao forte), levantando uma enorme nuvem de pó branco.
Chegámos. O Forte de Medina, situa-se a 12 kms de Kayes e data do século XVIII. Foi erigido em 1885 pelo general francês Faidherbe para proteger a cidade de Medina contra os ataques das tropas toucouleurs d’El Hadj Oumar Tall, que ameaçavam os interesses comerciais franceses. Visitámos a messe dos oficiais, a residência do comandante, a campa de Marie Duranthon (filha de um explorador francês da época), a prisão, o monumento aos mortos. No exterior do Forte, visitámos o mercado dos escravos, a gare ferroviária, o cemitério Real (onde repousam Hawa Demba Diallo - que cedeu a Faidherbe o terreno para a construção do Forte), e a torre onde era guardada a reserva de ouro da França durante a II Grande Guerra. Repousam, assim, no impotente Forte, mais de dois séculos de história.
O Forte está em reconstrução, e os trabalhos avançam a bom ritmo. O Presidente do Mali, ATT, foi quem colocou a 1ª pedra, o que mostra a vontade que o País tem na recuperação e na preservação do seu passado histórico, que é isso mesmo – História. E a nossa ‘estrada para a perdição’, a que leva ao Forte e nos custou os travões, será finalmente alcatroada. Uff!!!
De regresso, fomos a uma oficina e resolveu-se o problema. Um pedregulho partira um dos cabos e um líquido escuro pastoso colou-se à jante. Seguimos depois para o hotel Maida, para agradecer ao Mussa, o nosso ‘guia’, o facto de nos ter sugerido essa visita ao Forte de Medina, na cidade de Kayes, de onde é natural.
A nossa ideia era dormir em Bissau no dia 9, mas já não fomos a tempo e ficámos a dormir num hotel muito simpático em Koukandé, com um grande jardim.
Voltamos a fazer-nos à estrada pela manhã, depois de um pequeno almoço com pão, mel, café e leite. Mais oitenta e tal quilómetros até Diboli. A viagem fez-se de um só fólego. Depois, tínhamos muita estrada (má) até Tambacounda e ainda havia que chegar a Velingara. E é no Senegal onde tudo quase cai por terra. Como não havia nenhuma placa de sinalzação a indicar Guiné-Bissau (o que mostra o grande respeito que o Senegal tem por nós), só havia uma coisa a fazer: perguntar. Acontece no entanto que pusemos mal a pergunta. E fomos induzidos em erro. Em vez de entrarmos em Ouassadou, seguimos a estrada e fomos dar a Diaoubé. A Gendarmerie mandou-nos parar, e, meio educadamente meio a gozar na nossa cara, mandou-nos dar meia volta e seguir para Ouassadou. «Têm que sair pela fronteira onde entraram», disse-nos o gendarme. Mas estava enganado. Podíamos entrar, garantiu-nos um polícia senegalês, na fronteira de Pirada, em qualquer uma. Estávamos a sair do território do Senegal.
Mal atravessámos a fronteira, voltámos a ficar sem travões. Porém, desta vez, não havia mecânico, a não ser 53 kms mais à frente – ou seja, em Gabú. Lá conseguimos chegar, sem precalços de maior. O único senão foram as lombas (ou melhor, muros) que a população ergue nas estradas, junto às povoações. Cada uma mais alta do que a outra. Em Gabú, parei num mecânico para me certificar do problema. Era um cabo partido, mas agora do lado direito. Decidi não ‘perder tempo’ e arranquei rumo a Bafatá – uma estupidez. Felizmente tudo correu bem. Bafatá/Mansoa, também. E assim continuou até Bissau.
Quando cheguei à Chapa de Bissau, por volta das 15:30, era o caos: de um lado da estrada, de repente havia cinco faixas de carros. Camiões da Arezki numa grande azáfama, ninguém controlava o tráfego, não havia um polícia. Era a Bissau que deixarámos havia uma semana. E de que dá pena falar... AAS
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Uma história histórica
"Durante o período de partido único, concretamente após 1980, sendo João Bernardo Vieira, vulgo NINO, Presidente da República, conspirava-se nos bastidores do poder de forma activa e zelosa, a possibilidade de nomear um determinado fulano, para cargo de chefia, pela sua servilidade para com o poder instalado. Na decada de 90, o fulano em questão, passa de simples servidor, para lugar de confiança do Presidente NINO, chegando a existir actos de ciúmes entre os companheiros de armas e o dito fulano, por ser a partir de um determinado momento o HOMEM DE CONFIANÇA.
Dá-se a guerra de 7 de junho em 1998, NINO parte para o exílio, o fulano em questão permanece na Guiné. Concorre ao cargo de Presidente do partido de NINO, ganha e por sequência, concorre as eleições onde consegue uma vitória sem precedentes na nossa história democratica. Nino regressa em 2004 como candidato as presidênciais. É eleito. Começa um novo período da nossa história, que culmina com o discurso do dito fulano em Cabo-Verde, onde afirma que nunca irá coabitar com um General Bandido. Tinha acabado de fazer história por ter advinhado o futuro.
O fulano que foi servil e obediente a NINO, dá-se pelo nome de Carlos Gomes Júnior. Não posso deixar de pensar como tudo seria diferente se a história tivesse conhecido outro rumo: se NINO nunca tivesse conhecido Carlos Gomes Júnior, se Carlos Gomes Júnior nunca fosse presidente do PAIGC e por fim se não tivesse ganho as eleições.
As acções de um indivíduo, por mais ambicioso e versátil que seja, dá-se no entanto, em circunstância histórica precisa. Sem a guerra de 7 de Junho, Carlos Gomes Júnior, não teria ido longe e provavelmente NINO ainda estaria vivo.
Quem lê com cuidado os livros de história sobre as coisas que se passam, descobre sempre que eles podiam não se ter passado assim – o que se torna numa ideia alucinante porque mostra a fragilidade com que se provocam, se decidem os grandes acontecimentos humanos, a facilidade com que ocorrem desastres, a facilidade com que o amigo se transforma em inimigo, a facilidade com que a tolerância se sobrepõem a violência, a estupidez à inteligência.
A história não é um resultado de leis objectivas ou de forças ocultas, mas de actos de pessoas com nome, com rosto que, no meio de cruzamentos de azares e sortes, podem optar entre o mal e o bem, entre o delírio e a sensatez. Se olharmos para África, numa perspectiva de destuição verificadas nas últimas decadas, assistimos por exemplo, o infortúnio do Congo, que depois de sofrer um colonialismo sangrento teve ainda que suportar Mobutu e a boa sorte da África do Sul com Mandela.
Fecho este ensaio, perguntando a mim próprio, que mentalidade se forma para que o crime continue na nossa vida quotidiana, apesar dos avanços democráticos conseguidos, das medidas de solidariedade instituídas, das esperanças entre nós?
Resta risignar-me à minha própria impotência, e reconhecer que a história repete-se.
H. F. P"
Dá-se a guerra de 7 de junho em 1998, NINO parte para o exílio, o fulano em questão permanece na Guiné. Concorre ao cargo de Presidente do partido de NINO, ganha e por sequência, concorre as eleições onde consegue uma vitória sem precedentes na nossa história democratica. Nino regressa em 2004 como candidato as presidênciais. É eleito. Começa um novo período da nossa história, que culmina com o discurso do dito fulano em Cabo-Verde, onde afirma que nunca irá coabitar com um General Bandido. Tinha acabado de fazer história por ter advinhado o futuro.
O fulano que foi servil e obediente a NINO, dá-se pelo nome de Carlos Gomes Júnior. Não posso deixar de pensar como tudo seria diferente se a história tivesse conhecido outro rumo: se NINO nunca tivesse conhecido Carlos Gomes Júnior, se Carlos Gomes Júnior nunca fosse presidente do PAIGC e por fim se não tivesse ganho as eleições.
As acções de um indivíduo, por mais ambicioso e versátil que seja, dá-se no entanto, em circunstância histórica precisa. Sem a guerra de 7 de Junho, Carlos Gomes Júnior, não teria ido longe e provavelmente NINO ainda estaria vivo.
Quem lê com cuidado os livros de história sobre as coisas que se passam, descobre sempre que eles podiam não se ter passado assim – o que se torna numa ideia alucinante porque mostra a fragilidade com que se provocam, se decidem os grandes acontecimentos humanos, a facilidade com que ocorrem desastres, a facilidade com que o amigo se transforma em inimigo, a facilidade com que a tolerância se sobrepõem a violência, a estupidez à inteligência.
A história não é um resultado de leis objectivas ou de forças ocultas, mas de actos de pessoas com nome, com rosto que, no meio de cruzamentos de azares e sortes, podem optar entre o mal e o bem, entre o delírio e a sensatez. Se olharmos para África, numa perspectiva de destuição verificadas nas últimas decadas, assistimos por exemplo, o infortúnio do Congo, que depois de sofrer um colonialismo sangrento teve ainda que suportar Mobutu e a boa sorte da África do Sul com Mandela.
Fecho este ensaio, perguntando a mim próprio, que mentalidade se forma para que o crime continue na nossa vida quotidiana, apesar dos avanços democráticos conseguidos, das medidas de solidariedade instituídas, das esperanças entre nós?
Resta risignar-me à minha própria impotência, e reconhecer que a história repete-se.
H. F. P"
Guiné-Bissau: o falso dilema europeu
Por Paulo Gorjão*
A União Europeia abandonou a táctica do pau e da cenoura em relação à Guiné-Bissau e quer usar apenas o pau. Será o mais conveniente? Na semana passada, a União Europeia (UE) decidiu suspender a ajuda financeira que tem vindo a dar à Guiné-Bissau. Não fosse a intervenção de Portugal e a UE teria igualmente congelado os bens e proibido a deslocação à Europa de diversos altos responsáveis do país.
Este endurecimento da posição da UE em relação à Guiné-Bissau não é propriamente uma surpresa. No ano passado a UE já tinha optado por não renovar a missão para a reforma do sector da segurança na Guiné-Bissau. No seu conjunto, estas decisões revelam que, nas actuais circunstâncias, aparentemente a UE não pretende continuar com a sua estratégia de engajamento em relação à Guiné-Bissau. Será a decisão mais acertada?
Mesmo que concordasse com a posição da UE, Luís Amado teria sempre de tentar defender os interesses da Guiné-Bissau em Bruxelas. Afinal, na sua relação diplomática com os países de língua portuguesa, Portugal reivindica para si o estatuto de principal defensor dos seus interesses em Bruxelas. De qualquer modo, tendo conta a posição que assumiu na semana passada, Luís Amado parece ter uma noção muito clara do que está em jogo.
Nesta altura a UE parece inclinar- -se para a adopção de uma estratégia de contenção, que privilegie instrumentos de natureza repressiva e que favoreça o confronto político. Mais do que com a cenoura, nesta fase a UE quer acenar com o bastão à Guiné-Bissau. Todavia, esta estratégia, se vier a ser adoptada, muito provavelmente estará condenada ao fracasso, uma vez que a UE não tem a influência e os recursos de poder necessários para impor a sua vontade aos actores políticos e sobretudo às chefias militares da Guiné-Bissau. Dito de outro modo, a UE tem capacidade para causar danos, mas não tem poder para alterar o curso dos acontecimentos. Logo, tanto quanto é possível prever, a implementação de uma estratégia de contenção não parece ser uma abordagem vencedora.
Acresce que, sem a ajuda financeira da UE, a Guiné-Bissau procurará reforçar outras alianças. As visitas nos últimos nove meses de diversas figuras políticas e militares da Guiné-Bissau a Angola, ao Irão ou à Líbia ilustram bem algumas das opções disponíveis. Inevitavelmente, sobre isso não haja ilusões, o espaço vazio deixado pela UE será ocupado por outros actores. Na sequência da decisão tomada pela UE na semana passada, a promessa imediata da África do Sul e do Brasil de apoio à Guiné-Bissau é um sinal claro disso mesmo.
Na prática, se adoptar uma estratégia de contenção, a UE abdica, sem qualquer contrapartida, da pretensão de exercer alguma influência positiva na Guiné-Bissau. No pior dos cenários, uma estratégia de contenção poderá mesmo contribuir, de forma passiva e activa, para reforçar a espiral rumo ao estatuto de estado falhado, ou a consolidação da Guiné-Bissau enquanto narcoestado na África ocidental.
Em suma, a UE tem à sua frente um falso dilema. Na verdade, Bruxelas não tem uma alternativa credível e eficaz, pelo que a manutenção da estratégia de engajamento, seguida nos últimos anos, é uma inevitabilidade. Na melhor das hipóteses, a UE pode reformular a estratégia de engajamento de modo a assumir uma natureza mais mitigada, num processo a que Portugal prestará seguramente especial atenção.
*Paulo Gorjão, é director do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS)
A União Europeia abandonou a táctica do pau e da cenoura em relação à Guiné-Bissau e quer usar apenas o pau. Será o mais conveniente? Na semana passada, a União Europeia (UE) decidiu suspender a ajuda financeira que tem vindo a dar à Guiné-Bissau. Não fosse a intervenção de Portugal e a UE teria igualmente congelado os bens e proibido a deslocação à Europa de diversos altos responsáveis do país.
Este endurecimento da posição da UE em relação à Guiné-Bissau não é propriamente uma surpresa. No ano passado a UE já tinha optado por não renovar a missão para a reforma do sector da segurança na Guiné-Bissau. No seu conjunto, estas decisões revelam que, nas actuais circunstâncias, aparentemente a UE não pretende continuar com a sua estratégia de engajamento em relação à Guiné-Bissau. Será a decisão mais acertada?
Mesmo que concordasse com a posição da UE, Luís Amado teria sempre de tentar defender os interesses da Guiné-Bissau em Bruxelas. Afinal, na sua relação diplomática com os países de língua portuguesa, Portugal reivindica para si o estatuto de principal defensor dos seus interesses em Bruxelas. De qualquer modo, tendo conta a posição que assumiu na semana passada, Luís Amado parece ter uma noção muito clara do que está em jogo.
Nesta altura a UE parece inclinar- -se para a adopção de uma estratégia de contenção, que privilegie instrumentos de natureza repressiva e que favoreça o confronto político. Mais do que com a cenoura, nesta fase a UE quer acenar com o bastão à Guiné-Bissau. Todavia, esta estratégia, se vier a ser adoptada, muito provavelmente estará condenada ao fracasso, uma vez que a UE não tem a influência e os recursos de poder necessários para impor a sua vontade aos actores políticos e sobretudo às chefias militares da Guiné-Bissau. Dito de outro modo, a UE tem capacidade para causar danos, mas não tem poder para alterar o curso dos acontecimentos. Logo, tanto quanto é possível prever, a implementação de uma estratégia de contenção não parece ser uma abordagem vencedora.
Acresce que, sem a ajuda financeira da UE, a Guiné-Bissau procurará reforçar outras alianças. As visitas nos últimos nove meses de diversas figuras políticas e militares da Guiné-Bissau a Angola, ao Irão ou à Líbia ilustram bem algumas das opções disponíveis. Inevitavelmente, sobre isso não haja ilusões, o espaço vazio deixado pela UE será ocupado por outros actores. Na sequência da decisão tomada pela UE na semana passada, a promessa imediata da África do Sul e do Brasil de apoio à Guiné-Bissau é um sinal claro disso mesmo.
Na prática, se adoptar uma estratégia de contenção, a UE abdica, sem qualquer contrapartida, da pretensão de exercer alguma influência positiva na Guiné-Bissau. No pior dos cenários, uma estratégia de contenção poderá mesmo contribuir, de forma passiva e activa, para reforçar a espiral rumo ao estatuto de estado falhado, ou a consolidação da Guiné-Bissau enquanto narcoestado na África ocidental.
Em suma, a UE tem à sua frente um falso dilema. Na verdade, Bruxelas não tem uma alternativa credível e eficaz, pelo que a manutenção da estratégia de engajamento, seguida nos últimos anos, é uma inevitabilidade. Na melhor das hipóteses, a UE pode reformular a estratégia de engajamento de modo a assumir uma natureza mais mitigada, num processo a que Portugal prestará seguramente especial atenção.
*Paulo Gorjão, é director do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS)
Bamako by night
Acordamos, depois de uma excelente noite. Jantámos 'à Mali' numa rotisserie - carne de carneiro assada num forno a lenha. Muito bom. Depois, fomos ao' Le Terrasse', um bar giro, que fica num primeiro andar pendurado sobre uma rua (toda ela cheia de bares e restaurantes).
Depois, fomos ao 'Bla Bla Bla'. Conversa vai conversa vem, bebemos uma garrafa de bom vinho francês. O espaço é lindo, com duas salas sendo que uma delas fica a céu aberto.
No meio dos dois bares, havia uma cave com vinhos e champanhe francês - fechada a essa hora. Com muita pena nossa...
Havia música ao vivo tocada por tuaregues que envergavam trajes de um azul fantástico. Nas paredes, havia pinturas apenas de mulheres - cada uma mais bonita que a outra.
Hoje, tomámos café de cápsula no 'Relax'. Estamos a preparar-nos para os 680 quilómetros que nos separam de Kayes, onde dormiremos. Esperam-nos depois mais 83 km até à fronteira com o Senegal.
Numa palavra: estamos a adorar cada dia que passamos no vasto Mali. Um país com um povo adorável e simpático. Havemos de voltar. AAS
Depois, fomos ao 'Bla Bla Bla'. Conversa vai conversa vem, bebemos uma garrafa de bom vinho francês. O espaço é lindo, com duas salas sendo que uma delas fica a céu aberto.
No meio dos dois bares, havia uma cave com vinhos e champanhe francês - fechada a essa hora. Com muita pena nossa...
Havia música ao vivo tocada por tuaregues que envergavam trajes de um azul fantástico. Nas paredes, havia pinturas apenas de mulheres - cada uma mais bonita que a outra.
Hoje, tomámos café de cápsula no 'Relax'. Estamos a preparar-nos para os 680 quilómetros que nos separam de Kayes, onde dormiremos. Esperam-nos depois mais 83 km até à fronteira com o Senegal.
Numa palavra: estamos a adorar cada dia que passamos no vasto Mali. Um país com um povo adorável e simpático. Havemos de voltar. AAS
Paún...quê?!
"Aly,
Estou a adorar as crónicas da tua viagem ao Mali. Como sinto saudades das incursões que fiz ao longo desse fabuloso rio de que falas nos teus roteiros, pela Guiné Conacky até às zonas fronteiriças do Mali. Nunca estive em Bamako, talvez um dia possa realizar esse meu sonho.
Adorei essa do carro do corpo diplomático. No meu tempo, usava a artimanha de sempre quando me eram pedidos os documentos: punha dentro do passaporte uma nota de um dólar (USD). Funcionava. O problema era a quantidade de vezes que tinha de o fazer...
Um bom regresso a casa. Sei que vais passar muito perto de Paúnca - como estará?
Um Grande abraço,
A.B."
M/N: Grande Avelino. Obrigado pelo e-mail. O Mali é extraordinário. E Paúnca, lá pelos lados de Gabú...está à imagem da Guiné-Bissau: una mierda! Abraços, Aly
Estou a adorar as crónicas da tua viagem ao Mali. Como sinto saudades das incursões que fiz ao longo desse fabuloso rio de que falas nos teus roteiros, pela Guiné Conacky até às zonas fronteiriças do Mali. Nunca estive em Bamako, talvez um dia possa realizar esse meu sonho.
Adorei essa do carro do corpo diplomático. No meu tempo, usava a artimanha de sempre quando me eram pedidos os documentos: punha dentro do passaporte uma nota de um dólar (USD). Funcionava. O problema era a quantidade de vezes que tinha de o fazer...
Um bom regresso a casa. Sei que vais passar muito perto de Paúnca - como estará?
Um Grande abraço,
A.B."
M/N: Grande Avelino. Obrigado pelo e-mail. O Mali é extraordinário. E Paúnca, lá pelos lados de Gabú...está à imagem da Guiné-Bissau: una mierda! Abraços, Aly
Há, mas são poucos
"Olá amigo Aly
O teu 'Repórter Notebook' ou seja os teus diários a partir do Mali têm sido excelentes. Leio-os logo de manhã e antes de ir para a cama.
Os teus contos, o ambiente, as cores, a vida, e tudo o que tens observado fazem-nos sentir como se estivéssemos lá contigo em Ségou. Mas também vamos aprendendo com o civismo da vida política e social dos malianos. Isto que é ser-se Jornalista! Aliás, há poucos jornalistas lusófonos com uma tal habilidade.
Portanto, amigo, obrigado mais uma vez pela boa fé e pela grande vontade em compartilhar esta grande aventura com os teus leitores. Um grande abraço!
U.D."
M/R: Meu caro, sempre atento. Outro abraço, Aly
O teu 'Repórter Notebook' ou seja os teus diários a partir do Mali têm sido excelentes. Leio-os logo de manhã e antes de ir para a cama.
Os teus contos, o ambiente, as cores, a vida, e tudo o que tens observado fazem-nos sentir como se estivéssemos lá contigo em Ségou. Mas também vamos aprendendo com o civismo da vida política e social dos malianos. Isto que é ser-se Jornalista! Aliás, há poucos jornalistas lusófonos com uma tal habilidade.
Portanto, amigo, obrigado mais uma vez pela boa fé e pela grande vontade em compartilhar esta grande aventura com os teus leitores. Um grande abraço!
U.D."
M/R: Meu caro, sempre atento. Outro abraço, Aly
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Bamako
Chegámos a Bamako. 240 quilómetros em menos de 2 horas! Prego a fundo, 120/140 km/hora e cá estamos de novo nesta metrópole africana. Bamako respira vida em cada esquina, em cada avenida, em cada rosto.
Quando estavámos quase a chegar, um polícia quis 'testar-me'. Encosto o carro e ele diz "bonjour, ça va?". - Oui, ça va três bien monsieur, atiro. Depois, o caldo entorna-se: há uma infracção, diz-me todo sério, e explicou. No Mali é proibido circular de vidros fumados. Ora essa! Saí do carro disparado e disse-lhe que havia entrado na fronteira mas ninguém me avisara desse pormenor durante os quase três mil quilómetros. Insistiu. E eu também. A multa, disse-me, são 15.000 fcfa. Respondi à minha maneira: não pago nada! Começou a mudar de cor. Primeiro ficou azulado, depois púrpura.
Olhou-me como se lhe tivesse dito que a lua é em forma de losango. Vous ne paye pas? - perguntou. E confirmei oui, je ne paye rien! E depois lembrei-me de uma conversa no dia em que chegámos a Bamako: "Já reparaste que a tua matrícula é CD? Passa muito bem aqui por corpo diplomático". Olhei para o polícia e sorri: "Mon ami, ma voiture est corps diplomatique". E ele foi à parte da frente, inclinou-se e leu 33-50 CD. Voltou-se para mim e, derrotado, sorriu e só lhe ouvi: "Monsieur, on tolére ça. Je vous souhaite bonne route". E lá fomos à nossa vida, ou melhor, à estrada.
Fomos recebidos em Bamako pela D. Glória e pelo seu marido, o Soumarré (durante a primeira estada, só estava o Soumarré). Casal simpático, ela portuguesa e ele um economista maliano. Mandei o carro para mudar o cinebloco da frente e um amortecedor (vinham a pedir mudanças desde Bissau). E depois fomos almoçar a um dos muitos restaurantes libaneses de Bamako.
Ouvimos dizer que há uma professora portuguesa a leccionar na universidade católica de Bamako, e que se sentia muito só. A minha companheira de viagem, mais a D. Glória, vão visitá-la hoje. Mas primeiro terão que a encontrar.
Amanhã saímos de Bamako e dormiremos, creio, em Kayes, que fica a 83 quilómetros da fronteira com o Senegal (dormiramos lá no dia em que entrámos no Mali. Um hotel de merda, com electricidade, mas com a luz tão fraca, tão fraca que a luz da vela fica a rir. Hoje, disseram-nos que havia para lá mais hotéis, mas não sei se vamos procurar outro hotel. Tudo aqui é vasto, enorme, hiper! Mas tudo funciona às mil maravilhas.
Bamako, Bamako. AAS
Quando estavámos quase a chegar, um polícia quis 'testar-me'. Encosto o carro e ele diz "bonjour, ça va?". - Oui, ça va três bien monsieur, atiro. Depois, o caldo entorna-se: há uma infracção, diz-me todo sério, e explicou. No Mali é proibido circular de vidros fumados. Ora essa! Saí do carro disparado e disse-lhe que havia entrado na fronteira mas ninguém me avisara desse pormenor durante os quase três mil quilómetros. Insistiu. E eu também. A multa, disse-me, são 15.000 fcfa. Respondi à minha maneira: não pago nada! Começou a mudar de cor. Primeiro ficou azulado, depois púrpura.
Olhou-me como se lhe tivesse dito que a lua é em forma de losango. Vous ne paye pas? - perguntou. E confirmei oui, je ne paye rien! E depois lembrei-me de uma conversa no dia em que chegámos a Bamako: "Já reparaste que a tua matrícula é CD? Passa muito bem aqui por corpo diplomático". Olhei para o polícia e sorri: "Mon ami, ma voiture est corps diplomatique". E ele foi à parte da frente, inclinou-se e leu 33-50 CD. Voltou-se para mim e, derrotado, sorriu e só lhe ouvi: "Monsieur, on tolére ça. Je vous souhaite bonne route". E lá fomos à nossa vida, ou melhor, à estrada.
Fomos recebidos em Bamako pela D. Glória e pelo seu marido, o Soumarré (durante a primeira estada, só estava o Soumarré). Casal simpático, ela portuguesa e ele um economista maliano. Mandei o carro para mudar o cinebloco da frente e um amortecedor (vinham a pedir mudanças desde Bissau). E depois fomos almoçar a um dos muitos restaurantes libaneses de Bamako.
Ouvimos dizer que há uma professora portuguesa a leccionar na universidade católica de Bamako, e que se sentia muito só. A minha companheira de viagem, mais a D. Glória, vão visitá-la hoje. Mas primeiro terão que a encontrar.
Amanhã saímos de Bamako e dormiremos, creio, em Kayes, que fica a 83 quilómetros da fronteira com o Senegal (dormiramos lá no dia em que entrámos no Mali. Um hotel de merda, com electricidade, mas com a luz tão fraca, tão fraca que a luz da vela fica a rir. Hoje, disseram-nos que havia para lá mais hotéis, mas não sei se vamos procurar outro hotel. Tudo aqui é vasto, enorme, hiper! Mas tudo funciona às mil maravilhas.
Bamako, Bamako. AAS
Le dimanche a Bamako, c'est le jour de marriage
É o fim de festa. O Festival Sur Le Niger encerrou ontem. O duo Amadou et Mariam fechou com chave de ouro esta 7ª edição do FSLN, em Ségou.
Aliás, foi a noite mais quentinha das três que cá passamos, e, para mim, a mais dançada deste festival. Arrastamo-nos penosamente para o carro e depois guiamos em direcção ao hotel.
Hoje, há pouco, vinha a guiar distraído a ouvir Vieux Farka Touré...e priiiiiiiiiiiiii! Polícia. Não Parei para dar passagem a outro veículo. O polícia: o sr passou sem ter prioridade. Sim, sr guarda. Tem toda a razão. Ele: ou passo-lhe uma multa para pagar no comissariado ou, agora pasmem-se, "resolvemos isto entre nós". Quanto é a multa? - perguntei. Ele respondeu: 3.000 fcfa. Como ainda tinha que ir à Western Union, e estava um pouco cansado para dar voltas numa cidade que mal conheço (as ruas pareceram-me todas iguais), lá resolvemos a coisa entre nós. Duas notas de mil passaram da minha mão para as do polícia e lá fomos à procura de uma agência.
Hoje, regressamos a Bamako. A viagem para Djenné fica adiada. Seriam mais 700 quilómetros a juntar aos mais de 1.400 já feitos. Para mais, já fiquei sem um pneu (tinha 3 pregos) e tive que comprar mais dois.
Saímos de Ségou dentro de momentos, para mais 240 km de boa estrada. Amanhã, contamos atravessar a fronteira e entrar triunfantes na Guiné-Bissau. AAS
Aliás, foi a noite mais quentinha das três que cá passamos, e, para mim, a mais dançada deste festival. Arrastamo-nos penosamente para o carro e depois guiamos em direcção ao hotel.
Hoje, há pouco, vinha a guiar distraído a ouvir Vieux Farka Touré...e priiiiiiiiiiiiii! Polícia. Não Parei para dar passagem a outro veículo. O polícia: o sr passou sem ter prioridade. Sim, sr guarda. Tem toda a razão. Ele: ou passo-lhe uma multa para pagar no comissariado ou, agora pasmem-se, "resolvemos isto entre nós". Quanto é a multa? - perguntei. Ele respondeu: 3.000 fcfa. Como ainda tinha que ir à Western Union, e estava um pouco cansado para dar voltas numa cidade que mal conheço (as ruas pareceram-me todas iguais), lá resolvemos a coisa entre nós. Duas notas de mil passaram da minha mão para as do polícia e lá fomos à procura de uma agência.
Hoje, regressamos a Bamako. A viagem para Djenné fica adiada. Seriam mais 700 quilómetros a juntar aos mais de 1.400 já feitos. Para mais, já fiquei sem um pneu (tinha 3 pregos) e tive que comprar mais dois.
Saímos de Ségou dentro de momentos, para mais 240 km de boa estrada. Amanhã, contamos atravessar a fronteira e entrar triunfantes na Guiné-Bissau. AAS
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