domingo, 8 de março de 2009

Dar murros em ponta de faca

"Acabo de visitar o seu site. Já não vou mais sublinhar os arrepios que o Aly provoca nas pessoas pela forma nua e crua como expõe os factos. Afinal, factos, são factos e contra factos não há argumentos... (é o velho mote dos jornalistas: "Não querem que noticiemos? Pois não deixem que aconteça!")

Mas há duas coisas a que gostaria de referir:

1. O "recado" do Sr. Carlos Silva: à primeira vista parece ser apenas uma mensagem de um compatriota seu a referir-lhe que o Aly "rema contra a maré" mas a mim pareceu-me mais uma ameaça velada a lembrar-lhe que voce está a "dar murros em ponta de faca."


2. A angústia de sua Mãe: NO COMMENT! Depois do que eu, (uma desconhecida), disse ao Aly no meu primeiro e-mail, reservo-me agora o direito de não produzir qualquer comentário sobre a angústia que sua Mãe está a sentir. Apenas lhe digo o seguinte: Aly, eu não queria estar no lugar dessa pobre senhora...

P.S.: Infelizmente perdi a sua entrevista à Rádio Nacional de Cabo Verde porque só agora visitei seu site. Ultimamente evito visitá-lo, com regularidade, porque tenho sempre medo de um dia chegar lá e não ter mais Aly...

Please take care of yourself. Ok?
Bj
"

A máscara vai caindo aos poucos...

"Sinto orgulho. Não esperava outra coisa de ti. Diz-me se estás bem, ok?

A.
"


Olá

Obrigado. Estou bem.

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... Não sei como definir a minha pessoa. Mas acho que sou uma mistura de jornalista e de doido (não no sentido literal, claro). Na verdade sou tudo e nada ao mesmo tempo. Sei apenas que a comunicação é o meu mundo. E que o mundo é a minha casa.

Assisto a uma realidade e partilho-a da melhor maneira que sei e posso, com o mundo. O meu sentimento profundo - se queres mesmo saber, é humanista. Não é político. Aliás, fui ensinado a prezar a liberdade, mesmo quando ela significa liberdade para decidir ao contrário das minhas opções políticas.

Aconteceu-me ontem:

Ontem, tinha combinado beber um café no D. Bifanas com alguns jornalistas estrangeiros. Como já tinha jantado, fiz para chegar a tempo da sobremesa e dos cafés. Estava ao balcão enquanto eles jantavam, já tarde na noite.

Pouco depois, recebi uma chamada estranha que me fez abandonar o restaurante. Saí e, pela indicação que recebi ao telefone, vi que um carro estava parado entre a escola e a ANP com os mínimos acesos. Reconheci-o. Fui com o meu carro na sua direcção e parei mesmo ao lado. Olhei lá para dentro e a pessoa que estava ao volante - curiosamente havia outro ocupante, mas sentado no banco de trás - em vez de olhar e me enfrentar, escondeu-se e tapou a cara com o braço.

Um perseguidor cobarde? Um verdadeiro cobarde! Se queria intimidar-me estava a perder tempo. Mas intimidar-me como? Dando-me um tiro, dois tiros? Ou despejando-me um carregador da AK47 de trinta tiros? Não adianta.

A minha única preocupação - desde que começou esta bestialidade - sempre foi zelar pela minha própria segurança e neste dias tomei medidas que julguei serem necessárias para que fique seguro.

Mas não tenho medo nenhum da morte. Ninguém deve ter medo da morte, pois é a entrada para o absoluto.

AAS

Aqui repousará 'Nino' Vieira. Chamam a isto... Funeral de Estado?!

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Um Presidente da República, numa campa rasa. AAS
Foto: Tiago Petinga/LUSA

Cada guineense é um alvo. E depois?

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AAS

"Freedom is a system based on courage" - Charles Peguy

Desculpa lá, Mãe

A minha Mãe chegou de Lisboa na madrugada do fatídico dia 2, e, sem ainda saber dos 'preparativos' para o próximo massacre (Tagmé havia sido assassinado horas antes, no dia 1) foi dormir a casa de uma sobrinha mais a minha irmã, pois tinham-na ido buscar ao aeroporto.

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A minha Mãe, Muna Aly

Ontem, ela ligou-me de Gabú mas não atendi a chamada. Então, deixou o recado ao meu tio. Para mim: "Diz ao Tony (o mesmo que Aly) para não ir a nenhum dos funerais, pois sonhei que ele ia ser morto..." Assim, friamente.

Hoje, voltou a ligar para saber de mim. E recebeu a pior das notícias: "Mãe, desculpa. Estou no funeral do Tagmé, e terça-feira estarei no do Presidente da República." Fez-se um silêncio sepulcral. E então ela disse: "Deus te proteja". E desligou o telefone. Amanhã vou visitá-la a Gabú e regresso no final do dia.

Meus caros: Tagmé Na Waie não me perdoaria se faltasse ao seu enterro. Eu fui militar neste País (1987/89); o Presidente da República, idem, mas não porque tenha alguma vez votado nele ou coisa parecida. Aliás, estávamos nos antípodas e isso não era segredo para ninguém... Vou porque ele foi Presidente da República durante dois mandatos, e foi eleito democraticamente. Presidente de todos os guineenses, ainda que sem o meu voto. Haja respeito. AAS

P.S. - Mãe, não te preocupes. Pede a Deus, caso eu morra, que guarde a minha alma para que eu possa abençoar o meu Pai, onde quer que ele esteja. AAS

P.S. - Agora, neste preciso momento, são disparadas salvas de artilharia. Enterra-se um General. AAS

Adeus, General Na Waie

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Funeral de Tagmé Na Waie, hoje. Rostos fechados. Revolta. Indignação em todos e em cada olhar. Um mau prenúncio? Talvez... Suspeitos. Na TV e no cemitério. Eu, Aly, é que disse. AAS

FOTO: (C) Miguel Martins/RFI

Pergunta pertinente

Por que razão até hoje o PAIGC NÃO condenou os assassinatos, quer do Presidente da República, quer do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waie? Alguém que responda, sff? AAS

sábado, 7 de março de 2009

Quem será o próximo alvo?

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Choque e espanto. António Aly Silva

Extensa entrevista à Radio Nacional de Cabo Verde...

Para ouvir, hoje, a partir das 14 horas.
www.rtc.cv

Nadar contra a corrente

Caro irmão e compatriota Sr. Silva

Não precisa de ser louvado pela sua integridade e coragem com que enfrenta diariamente tudo e todos na Guiné-Bissau. Pois foi a sua escolha fazer o seu trabalho na Guiné.
Por isso "lhe tiro o chapéu". Ao contrário da maioria dos guineenses para quem a apatia e o conformismo é o pão nosso de cada dia, você, Sr. (António Aly) Silva, destaca-se porque "nada contra a corrente". Muito obrigado, e continue o bom trabalho

Carlos da Silva

Leia a minha opinião no Correio da Manhã

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"A ONU É QUE DEVIA INVESTIGAR"

Uma semana após o duplo assassínio, de Nino Vieira e Tagmé Na Waié, as circunstâncias em que se deram as mortes continuam na boca do povo mas o medo de represálias impede que o façam abertamente. O jornalista António Aly Silva é um dos poucos que se atrevem a fazê-lo. "O que se passou é intolerável e não pode continuar. Estes acontecimentos ultrapassam o nosso próprio Estado, observou, apontando soluções: "A questão devia ser tomada pela ONU, abrir-se um inquérito internacional e criarmos uma comissão de reconciliação, como aconteceu na África do Sul."



Aqui. AAS

sexta-feira, 6 de março de 2009

Disse apenas o que pensava. E isso é louvável. Amanhã, no Correio da Manhã.

Para quem quiser, eis o link onde pode ver e ouvir a entrevista que concedi à TVI. AAS

TELEX: Luto Nacional prolonga-se até ao dia 10. Feriado no dia do funeral para os servidores do Estado (*)

AAS

(*) Ditadura do Consenso é o verdadeiro serviço público! Qual Agência Noticiosa da Guiné qual quê!!! Nô Pintcha!...

Um Panteão Nacional, já!

Muitos guineenses, entre eles - e com toda a justiça - a família do malogrado Presidente 'Nino' Vieira, estão indignados com o Estado da Guiné-Bissau a propósito das cerimónias fúnebres do Chefe de Estado, assassinado na sua residência na madrugada do dia 2 do corrente, marcadas para a próxima terça-feira.

E com razão. Como chefe de Estado, o lugar de eterno descanso do Presidente deveria ser num mausoléu, por exemplo na Fortaleza da Amura, ao lado de Amílcar Cabral. E agora estamos nesta indecisão: a família exige respeito. E um funeral de Estado deverá sê-lo até ao fim!

O Estado da Guiné-Bissau deve honrar os seus heróis, e Titina Silá, Pansau Na Isna, Domingos Ramos, Canhé Na N'Tunguê, entre outros, deveriam ser sepultados num único sítio. Que tal começarem a pensar num Panteão Nacional? AAS