terça-feira, 1 de março de 2005

Com a alma em sangue*



Um grito pela liberdade e pelo desenvolvimento


O ano de 2005 já cá canta. Estamos todos de parabéns. Este é o ano em que nós, os guineenses, devemos trocar a idade do armário em que nos vimos enfiado, e ultrapassar a barreira da puberdade. Ao guineense, é com a alma em sangue que peço: Pense. Confesse. Já nenhum de nós tem idade para andar de skate. É altura de trocar o T-1 por uma casa, reclamar uma camisa no lugar de uma T-shirt e, por tabela, exigir um Estado sério, credível, respeitado. Grande. Crescido. Como nós.
Pense. Como é que um país com trinta e um anos de independência, com tanta história de mestria e valentia; como é que este país que lutou pela sua independência e de mais quatro (!) países atirou a toalha ao chão? Este país é coisa pouca para alguém? Seja. Mas é nosso. Pode até ser uma coisa pouca, uma luz qualquer. Chega-nos. Deslumbra-nos. A Guiné-Bissau podia, hoje, ser um gigante entre gigantes mas nunca deixaram-na ter essa medida, esse sentido de proporção, a mínima mercê. E, no entanto, a Guiné-Bissau continua brilhante como se a noite não existisse. Do que nos vale uma Nação sem nacionalismos? Que tal é a sensação desta alma colectiva que se desalma diariamente; esta idade sem qualidade, este tempo dessincronizado com a nossa natureza, onde já não há herói, figura, exemplo, esperança que nos empolgue ou nos sirva?
Pense. A Guiné-Bissau é o país do universo africano que fala o português que, proporcionalmente, tem melhores e mais quadros nos organismos internacionais. E se não regressam é porque aqui tudo é muito previsível e, normalmente, o que acontece é quase sempre mau. Verdade seja dita, raras vezes se registam acontecimentos que indiciam novos tempos. Por mais que os ventos soprem. A Guiné-Bissau tornou-se como aquele mistério que pensamos saber e a perfeição que sabemos não conseguir. É este o mistério perfeito da realidade, o sonho sem amanhã, o desejo sem desperdício, a ideia de uma Nação, o coração de um povo. É verdade.
Confesse. A nossa geração – aquela que não está gasta – tem valores que importa preservar, e uma responsabilidade de proporções bíblicas, que é a de criar uma sociedade em que não se registe a exploração do homem pelo homem ou humilhantes discriminações em relação à mulher. A realidade actual do mundo impõe-nos outra reflexão, e outra intervenção. Um País é um País e é assim, País, que deveria ser. Por tudo isto, repito-me: encaro este ano de 2005 como uma praça de touros em que o forcado é o povo: o resultado da pega é normalmente imprevisível…
António José Aly Rodrigues da Silva
*Este artigo foi publicado no 'Diário de Bissau', em Fevereiro de 2005

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

GUINÉ-BISSAU 2005/2010



Aos que me enviam mail's a perguntar se vou candidatar-me às eleições para Presidente da República, respondo com humildade:
Sim, vou candidatar-me.
Aproveito para deixar aos Guineenses - ela aplica-se mais a alguns candidatos a candidatos...-, esta frase para reflexão. Ela foi proferida por Abraham Lincoln (1809-1865), Presidente dos Estados Unidos da América entre 1861-1865:
António José Aly Rodrigues da Silva

domingo, 27 de fevereiro de 2005

Parece mentira, mas não é...

"Quando a verdade é substituída pelo silêncio, o silêncio é uma mentira".

Yevgeny Yevtushenko, poeta e dissidente soviético

sábado, 26 de fevereiro de 2005

É oficial...


(c)DR-2005

GUINÉ-BISSAU 2005/2010


Foto: DR

O pequeno ditador


Foto: DR

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

Guiné-Bissau no seu melhor (I)


Até porque, quem lhe vendeu o X5 ainda tem estes dois...
Fotografia (c) AAS/2005

Guiné-Bissau no seu melhor (II)


Este é o carro que o deposto presidente KOUMBA YALÁ comprou por largos milhares de euros. Na Guiné-Bissau, em vez de se investigar, aplaude-se! Corrupção e ostentação, sem descaramento.

GUINÉ-BISSAU 2005/2010


Fotografia: DR2005

GUINÉ-BISSAU 2005/2010

Encaro este ano de 2005 como uma praça de touros em que o forcado é o povo: o resultado da pega é normalmente imprevisível…António Aly Silva

Primos e enteados ou perfeitos anormais

Devido à velocidade da luz ser superior à do som,
algumas parecem inteligentes até falarem. Ou agirem.
PRIMOS. Repare nestas hipotéticas figuras de eleição. Barrete de Pai Natal e colar de ouro. Fatinhos pomposos. Bom corte – talvez feitos à medida, talvez não. São eles os doutores Yalá, Sanha, Vieira e Fadul. Ou, se preferirem, os camaradas Koumba, Malam, João Bernardo e Francisco José.
E o que têm em comum estas quatro criaturas? Fácil: Deve-se a eles o País que há hoje (a dívida prolonga-se aos demais tentáculos que sempre o dominaram). Esta gente não será a pior, porque qualquer selecção é redutora. Mas serão dos piores, e servem pelo menos para «ilustrar», mais do que resumir, as três primeiras décadas de vida da República da Guiné-Bissau. NUNCA MAIS!
ENTEADOS. Agora, anda toda a gente num corrupio desenfreado. Falam em voz alta e gesticulam. Estarão em transe? Apresentam documentos de porte – é CIF Bissau para aqui, FOB Bissau para lá e por aí adiante, de forma arbitrária. Mas o que reclamam eles? Olha a pergunta! Reclamam o pagamento da dívida interna. Ou seja, a dívida do Estado para com as suas empresas. Óptimo. Eu também reclamava. Sem palhaços não há circo. Mas, agora, vamos partir isto devagar, que é como sabe melhor.
NÓS, os guineenses, vimos reclamar junto do Governo democraticamente eleito da República da Guiné-Bissau: que mande publicar a «dívida interna» dessas pessoas ao Estado da Guiné-Bissau.
Depois – Guterres não diria melhor – hum…, deixa lá ver… bom, é só fazer as contas…
Talvez um dia, civilizadamente e com a humildade que nos caracteriza, nos decidamos por tornar público os nomes – e, já agora, as quantias – daqueles que se afastaram dos «caminhos da revolução» e que se deixaram aburguesar.
Sejamos verdadeiros. Se houve uma coisa que sempre existiu na Guiné-Bissau foi uma corrupção e uma utilização da calúnia muito marcantes. Fosse de uma forma isolada, através de lobbies ou de compadrios por conveniência. E doses industriais de descaramento.
Aliás, se a Guiné-Bissau alguma vez fosse uma democracia a sério, muita gente – mas muita gente mesmo – teria sido julgada e condenada com base em provas irrefutáveis. Outros estariam, ainda hoje, a cumprir pena e quem ficava ganhar era o povo guineense.
Mas não. Hoje, quando sonho, é um pesadelo. Uns dias atrás, sonhei que numa madrugada qualquer uns homens acabaram com o franco CFA, fosse ele novo ou velho, e fizeram da corrupção a nova moeda nacional. Acordei sobressaltado, e limpei o suor que me escorria pela testa. «Trata-se apenas de oficializar uma realidade», admiti a custo.
ALERTA VERMELHO. Se não for agora, quando será? Se não formos nós, quem há-de ser?
António Aly Silva

GUINÉ-BISSAU 2005/2010


Fotografia (c) DR2005

GUINÉ-BISSAU 2005/2010


Fotografias (c) DR2005

GUINÉ-BISSAU 2005/2010


Fotografia (c) AAS/2005

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005