quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Presidente de Cabo Verde: «Para que haja progresso em África é necessário acabar com regimes ditatoriai​s»


O Presidente de Cabo Verde defendeu hoje que é necessário acabar com os conflitos e com os regimes ditatoriais africanos para que o continente apresente progressos, pedindo novas lideranças "mais pragmáticas". Questionado pela agência Lusa, no final da Cimeira sobre Inovação em África, que decorreu desde terça-feira na Cidade da Praia, Jorge Carlos Fonseca sintetizou o que afirmara pouco antes, no encerramento da conferência, salientando que só assim o continente africano poder afirmar "definitivamente" o ideário da democracia.

Confrontado com a necessidade de acabar com as ditaduras para assegurar o desenvolvimento de áfrica, Jorge Carlos Fonseca foi taxativo: "Sim, para sermos francos. Não pode haver progresso em África, essa África projetada para daqui a 30 anos, não existirá se não formos capazes de resolver os conflitos. Se não criarmos condições para não haver golpes de Estado” ou “regimes militares", frisou o presidente cabo-verdiano.

O continente tem de trabalhar para que “triunfe, em definitivo, o ideário da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, da inclusão social, da igualdade do género, para uma África que seja capaz, finalmente, de criar condições para o bem estar económico, social e cultural das pessoas. Os líderes são pagos para isso", sustentou. Questionado também pela Lusa sobre se tem faltado pragmatismo às novas lideranças africanas, Fonseca afirmou que essa atitude está cada vez mais presente no continente.

"Tem havido agora mais pragmatismo, talvez, do que há uns anos atrás, mas falta trabalhar ainda mais nesse caminho", disse, aludindo também à necessidade de África evoluir, sobretudo através da inovação, tema da conferência na Cidade da Praia e que reuniu mais de 250 especialistas de 30 países, maioritariamente africanos. "A inovação implica transformações nas atitudes, nos produtos industriais, mas também nos próprios modelos de organização económica e social e, quiçá, o próprio Estado. Tem de ser uma atitude permanente de criatividade, de procura, com os menores custos possíveis e com as melhores e mais eficazes soluções", sustentou.

Segundo o presidente cabo-verdiano, quando se discute a inovação em África "para além dos contextos românticos e históricos", o que interessa é a transformação num continente "competitivo", num parceiro "incontornável" e em "pé de igualdade" com a Europa e com a América. "Tem de se apostar fortemente nas novas tecnologias, no desenvolvimento inovador em áreas como a energia, produção agrícola, em modelos de gestão fundiária, de registos dos quadros legais, para que possa, além dos discursos, das proclamações e das ambições legítimas, em 10, 15, 20 anos, competir com outros continentes", disse.

Salientando a evolução significativa na União Africana (UA), que substituiu a Organização da Unidade Africana (OUA), Fonseca, que conheceu a instituição como diretor geral, como secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, como chefe da diplomacia e agora como Presidente de Cabo Verde, reconhece a mudança da estrutura. "Basta pensarmos que, hoje, os textos da UA - o projeto de desenvolvimento da ‘Agenda pós-2015’, ou a ‘Agenda 2063’, em que se fala de uma África com um crescimento inclusivo, de direitos humanos, de Estados de Direito, de democracia, de igualdade de género, para ver que África mudou muito. Este discurso não é o de há 30 anos atrás", frisou, contando, depois, um pequeno episódio passado na cimeira da organização realizada a 30 e 31 de janeiro, em Addis Abeba, na Etiópia.

"O presidente da Zâmbia (Michael Sata), numa tirada a seu jeito, disse na sua intervenção que se os discursos e os propósitos fossem fatores de desenvolvimento, África estaria no primeiro lugar. Foi um discurso crítico, mas de prudência em relação a excessivos otimismos. O que quer dizer que as novas lideranças africanas têm de trabalhar muito", contou.

Sobre a cimeira da Cidade da Praia, Fonseca salientou a necessidade de haver seguimento e de avaliar o impacto no arquipélago e fora dele, defendendo que se devem também manter as redes de contacto criadas com a participação de mais de 250 especialistas de 30 países, maioritariamente africanos. LUSA