terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Guiné-Bissau: o falso dilema europeu

Por Paulo Gorjão*


A União Europeia abandonou a táctica do pau e da cenoura em relação à Guiné-Bissau e quer usar apenas o pau. Será o mais conveniente? Na semana passada, a União Europeia (UE) decidiu suspender a ajuda financeira que tem vindo a dar à Guiné-Bissau. Não fosse a intervenção de Portugal e a UE teria igualmente congelado os bens e proibido a deslocação à Europa de diversos altos responsáveis do país.

Este endurecimento da posição da UE em relação à Guiné-Bissau não é propriamente uma surpresa. No ano passado a UE já tinha optado por não renovar a missão para a reforma do sector da segurança na Guiné-Bissau. No seu conjunto, estas decisões revelam que, nas actuais circunstâncias, aparentemente a UE não pretende continuar com a sua estratégia de engajamento em relação à Guiné-Bissau. Será a decisão mais acertada?

Mesmo que concordasse com a posição da UE, Luís Amado teria sempre de tentar defender os interesses da Guiné-Bissau em Bruxelas. Afinal, na sua relação diplomática com os países de língua portuguesa, Portugal reivindica para si o estatuto de principal defensor dos seus interesses em Bruxelas. De qualquer modo, tendo conta a posição que assumiu na semana passada, Luís Amado parece ter uma noção muito clara do que está em jogo.

Nesta altura a UE parece inclinar- -se para a adopção de uma estratégia de contenção, que privilegie instrumentos de natureza repressiva e que favoreça o confronto político. Mais do que com a cenoura, nesta fase a UE quer acenar com o bastão à Guiné-Bissau. Todavia, esta estratégia, se vier a ser adoptada, muito provavelmente estará condenada ao fracasso, uma vez que a UE não tem a influência e os recursos de poder necessários para impor a sua vontade aos actores políticos e sobretudo às chefias militares da Guiné-Bissau. Dito de outro modo, a UE tem capacidade para causar danos, mas não tem poder para alterar o curso dos acontecimentos. Logo, tanto quanto é possível prever, a implementação de uma estratégia de contenção não parece ser uma abordagem vencedora.

Acresce que, sem a ajuda financeira da UE, a Guiné-Bissau procurará reforçar outras alianças. As visitas nos últimos nove meses de diversas figuras políticas e militares da Guiné-Bissau a Angola, ao Irão ou à Líbia ilustram bem algumas das opções disponíveis. Inevitavelmente, sobre isso não haja ilusões, o espaço vazio deixado pela UE será ocupado por outros actores. Na sequência da decisão tomada pela UE na semana passada, a promessa imediata da África do Sul e do Brasil de apoio à Guiné-Bissau é um sinal claro disso mesmo.

Na prática, se adoptar uma estratégia de contenção, a UE abdica, sem qualquer contrapartida, da pretensão de exercer alguma influência positiva na Guiné-Bissau. No pior dos cenários, uma estratégia de contenção poderá mesmo contribuir, de forma passiva e activa, para reforçar a espiral rumo ao estatuto de estado falhado, ou a consolidação da Guiné-Bissau enquanto narcoestado na África ocidental.

Em suma, a UE tem à sua frente um falso dilema. Na verdade, Bruxelas não tem uma alternativa credível e eficaz, pelo que a manutenção da estratégia de engajamento, seguida nos últimos anos, é uma inevitabilidade. Na melhor das hipóteses, a UE pode reformular a estratégia de engajamento de modo a assumir uma natureza mais mitigada, num processo a que Portugal prestará seguramente especial atenção.


*Paulo Gorjão, é director do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS)

Bamako by night

Acordamos, depois de uma excelente noite. Jantámos 'à Mali' numa rotisserie - carne de carneiro assada num forno a lenha. Muito bom. Depois, fomos ao' Le Terrasse', um bar giro, que fica num primeiro andar pendurado sobre uma rua (toda ela cheia de bares e restaurantes).

Depois, fomos ao 'Bla Bla Bla'. Conversa vai conversa vem, bebemos uma garrafa de bom vinho francês. O espaço é lindo, com duas salas sendo que uma delas fica a céu aberto.

No meio dos dois bares, havia uma cave com vinhos e champanhe francês - fechada a essa hora. Com muita pena nossa...

Havia música ao vivo tocada por tuaregues que envergavam trajes de um azul fantástico. Nas paredes, havia pinturas apenas de mulheres - cada uma mais bonita que a outra.

Hoje, tomámos café de cápsula no 'Relax'. Estamos a preparar-nos para os 680 quilómetros que nos separam de Kayes, onde dormiremos. Esperam-nos depois mais 83 km até à fronteira com o Senegal.

Numa palavra: estamos a adorar cada dia que passamos no vasto Mali. Um país com um povo adorável e simpático. Havemos de voltar. AAS

Paún...quê?!

"Aly,

Estou a adorar as crónicas da tua viagem ao Mali. Como sinto saudades das incursões que fiz ao longo desse fabuloso rio de que falas nos teus roteiros, pela Guiné Conacky até às zonas fronteiriças do Mali. Nunca estive em Bamako, talvez um dia possa realizar esse meu sonho.

Adorei essa do carro do corpo diplomático. No meu tempo, usava a artimanha de sempre quando me eram pedidos os documentos: punha dentro do passaporte uma nota de um dólar (USD). Funcionava. O problema era a quantidade de vezes que tinha de o fazer...

Um bom regresso a casa. Sei que vais passar muito perto de Paúnca - como estará?

Um Grande abraço,
A.B.
"

M/N: Grande Avelino. Obrigado pelo e-mail. O Mali é extraordinário. E Paúnca, lá pelos lados de Gabú...está à imagem da Guiné-Bissau: una mierda! Abraços, Aly

Há, mas são poucos

"Olá amigo Aly

O teu 'Repórter Notebook' ou seja os teus diários a partir do Mali têm sido excelentes. Leio-os logo de manhã e antes de ir para a cama.

Os teus contos, o ambiente, as cores, a vida, e tudo o que tens observado fazem-nos sentir como se estivéssemos lá contigo em Ségou. Mas também vamos aprendendo com o civismo da vida política e social dos malianos. Isto que é ser-se Jornalista! Aliás, há poucos jornalistas lusófonos com uma tal habilidade.

Portanto, amigo, obrigado mais uma vez pela boa fé e pela grande vontade em compartilhar esta grande aventura com os teus leitores. Um grande abraço!

U.D.
"

M/R: Meu caro, sempre atento. Outro abraço, Aly

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Bamako

Chegámos a Bamako. 240 quilómetros em menos de 2 horas! Prego a fundo, 120/140 km/hora e cá estamos de novo nesta metrópole africana. Bamako respira vida em cada esquina, em cada avenida, em cada rosto.

Quando estavámos quase a chegar, um polícia quis 'testar-me'. Encosto o carro e ele diz "bonjour, ça va?". - Oui, ça va três bien monsieur, atiro. Depois, o caldo entorna-se: há uma infracção, diz-me todo sério, e explicou. No Mali é proibido circular de vidros fumados. Ora essa! Saí do carro disparado e disse-lhe que havia entrado na fronteira mas ninguém me avisara desse pormenor durante os quase três mil quilómetros. Insistiu. E eu também. A multa, disse-me, são 15.000 fcfa. Respondi à minha maneira: não pago nada! Começou a mudar de cor. Primeiro ficou azulado, depois púrpura.

Olhou-me como se lhe tivesse dito que a lua é em forma de losango. Vous ne paye pas? - perguntou. E confirmei oui, je ne paye rien! E depois lembrei-me de uma conversa no dia em que chegámos a Bamako: "Já reparaste que a tua matrícula é CD? Passa muito bem aqui por corpo diplomático". Olhei para o polícia e sorri: "Mon ami, ma voiture est corps diplomatique". E ele foi à parte da frente, inclinou-se e leu 33-50 CD. Voltou-se para mim e, derrotado, sorriu e só lhe ouvi: "Monsieur, on tolére ça. Je vous souhaite bonne route". E lá fomos à nossa vida, ou melhor, à estrada.

Fomos recebidos em Bamako pela D. Glória e pelo seu marido, o Soumarré (durante a primeira estada, só estava o Soumarré). Casal simpático, ela portuguesa e ele um economista maliano. Mandei o carro para mudar o cinebloco da frente e um amortecedor (vinham a pedir mudanças desde Bissau). E depois fomos almoçar a um dos muitos restaurantes libaneses de Bamako.

Ouvimos dizer que há uma professora portuguesa a leccionar na universidade católica de Bamako, e que se sentia muito só. A minha companheira de viagem, mais a D. Glória, vão visitá-la hoje. Mas primeiro terão que a encontrar.

Amanhã saímos de Bamako e dormiremos, creio, em Kayes, que fica a 83 quilómetros da fronteira com o Senegal (dormiramos lá no dia em que entrámos no Mali. Um hotel de merda, com electricidade, mas com a luz tão fraca, tão fraca que a luz da vela fica a rir. Hoje, disseram-nos que havia para lá mais hotéis, mas não sei se vamos procurar outro hotel. Tudo aqui é vasto, enorme, hiper! Mas tudo funciona às mil maravilhas.

Bamako, Bamako. AAS

Le dimanche a Bamako, c'est le jour de marriage

É o fim de festa. O Festival Sur Le Niger encerrou ontem. O duo Amadou et Mariam fechou com chave de ouro esta 7ª edição do FSLN, em Ségou.

Aliás, foi a noite mais quentinha das três que cá passamos, e, para mim, a mais dançada deste festival. Arrastamo-nos penosamente para o carro e depois guiamos em direcção ao hotel.

Hoje, há pouco, vinha a guiar distraído a ouvir Vieux Farka Touré...e priiiiiiiiiiiiii! Polícia. Não Parei para dar passagem a outro veículo. O polícia: o sr passou sem ter prioridade. Sim, sr guarda. Tem toda a razão. Ele: ou passo-lhe uma multa para pagar no comissariado ou, agora pasmem-se, "resolvemos isto entre nós". Quanto é a multa? - perguntei. Ele respondeu: 3.000 fcfa. Como ainda tinha que ir à Western Union, e estava um pouco cansado para dar voltas numa cidade que mal conheço (as ruas pareceram-me todas iguais), lá resolvemos a coisa entre nós. Duas notas de mil passaram da minha mão para as do polícia e lá fomos à procura de uma agência.

Hoje, regressamos a Bamako. A viagem para Djenné fica adiada. Seriam mais 700 quilómetros a juntar aos mais de 1.400 já feitos. Para mais, já fiquei sem um pneu (tinha 3 pregos) e tive que comprar mais dois.

Saímos de Ségou dentro de momentos, para mais 240 km de boa estrada. Amanhã, contamos atravessar a fronteira e entrar triunfantes na Guiné-Bissau. AAS

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dance, dance, dance

O Mali tem-nos surpreendido pela positiva. O hotel onde estamos instalados é simpático, fica na margem do rio Niger e chama-se (apena por coincidência) Faro. Tem wi-fi, mas não tem água quente, um bem necessário por cá. À noite, faz um frio de rachar!

Reparei na organização das cidades. Por exemplo, em Kayes, uma cidadezinha, está tudo sinalizado. Até para os deficientes motores! E em Bamako, nas grandes avenidas com quilómetros de extensão, há corredor próprio para as milhares de motas. Nas três pontes três que atravessam a cidade, também.

Ontem, assim que nos instalamos no hotel, fomos dar uma volta pelo centro de Ségou. Quando fiz a curva para ir comprar os passes para o festival, ouvimos uma sirene e vimos as luzes. Encostei o carro e vimos passar um jeep, mais outro e depois um Peugeot 605, com a chaparia bastante amolgada. Uma coisa chamou-me a atenção: a placa de matrícula do jeep que trazia a sirene e as luzes. Dizia PRM - ou seja, cruzamo-nos com o Presidente da República do Mali - Amadou Toumane Touré, carinhosamente tratado por ATT. Da sua residência, no alto de uma das colinas que cercam a capital, dizem os malianos "il regarde tout Bamako".

Não vimos militares na escolta, nem toda a parafernália a que estamos habituados a ver na Guiné-Bissau, ou, por exemplo no Senegal ou noutros países africanos. O Presidente do Mali, viaja num velho Peugeot 605, todo amolgado...

"No Mali, quem tentar um golpe de Estado terá todo o povo (cerca de 13 milhões de pessoas) atrás de si", disse-nos um maliano que também conhece a Guiné-Bissau. Há uns anos atrás, um ministro, o mais amável que o Mali conhecerá, foi à Universidade para tentar acalmar os ânimos dos estudantes em fúria, mas... Foi assassinado! Assim que saiu da viatura oficial, enfiaram-no um pneu e atearam fogo. Outro exemplo: o Governo decretou o uso do capacete - no Mali, sobretudo em Bamako e em Ségou...as motorizadas são aos milhares! - mas as mulheres protestaram: quem iria pagar-lhes as contas do cabeleireiro? A lei ficou na gaveta até hoje. E elas parecem felizes nas suas motas chinesas. E estão por todo o lado. Partout!

Ontem, fomos finalmente ao palco central do Festival sur le Niger. O palco está montado numa das margens do rio Niger. O problema são os espectadores... Sentamos todos perigosamente inclinados na direcção do rio. Explico: a plateia é bastante inclinada. Simplesmente, é o local onde os barcos, depois de reparados, se fazem à água, escorregando que nem patinhos feios.

Vimos muitas quedas, umas mais aparatosas que outras, mas todas com a sua piada. Gente houve que após estar sentada, foi escorregando até dar conta de que estava em cima de outro alguém. Vimos os concertos do Ismael Lo e do Toumane Diabaté, os dois fantásticos. O senegalês cantou grandes êxitos, e o velho não perdeu a genica. Saímos por volta da uma da manhã. Cansados, mas satisfeitos. AAS

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Hoje, Ségou. Festival sur le Niger

Saímos de Bamako, rumo a Ségou para o Festval sur le Niger, percorrendo os 280 quilómetros de bom alcatrão.

Hotel, arrastar a bagagem. Instalarmo-nos. Estamos exaustos mas confiantes. De seguida, uma viagem ao centro da cidade e umas compras: dois turbantes (em Roma, sê romano) e dois panos lindos.

Comprámos os bilhetes para os três últimos dias do festival (4, 5 e 6 fevereiro) e depois fomos 'almoçar' - coisa que estamos a fazer enquanto escrevo este post.

Lemos e-mail's de amigos. Respondemos a uns. Responderemos a outros mais tarde. Ou talvez amanhã. Ségou está cheio de gente (turistas europeus) e de vida.

Para já, tudo corre bem. A única coisa que me cansa é a barulheira. Mas tenho de aguentar isto. Depois de Ségou, ainda vamos a Djene visitar a senhora Mesquita que é Património Mundial da Humanidade. AAS

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Aly no Mali

Alin li. No Mali, um País que é um quase-continente, depois de mais de 1000 quilómetros de estrada. Saímos de Bissau, fomos até Gabú. Dali, seguimos para Pirada. Depois, Tambacounda e Kayes. O Toyota portou-se uma vez mais à altura - I Love cars from the USA. Period!

Algumas considerações sobre o Mali, nomeadamente e por enquanto, Bamako - a grande urbe. Dormimos ontem em Kayes, uma cidade com alguma coisa para ver mas que ficará para uma próxima viagem. Hoje fizémos os 680 km que separa Kayes da capital, Bamako. A estrada, um mimo. Os agentes de fronteira e da alfândega foram extremamente simpáticos - Gâmbia, rói-te de inveja. O povo, trabalhador e até certo ponto disciplinado. Entretanto, fomos 'aliviados' em 20.000 fcfa por um polícia. Foi um roubo. Coisa curiosa: vimos mais de 5 vacas mortas, todas à beira da estrada. Curioso, e de certa maneira irónico, foi ver como um outrora majestoso cavalo castanho, perdeu a vida...à beira de um rio. De sede não foi, com toda a certeza...

Bamako tem três senhoras pontes suspensas sobre o Rio Niger (uma por inaugurar, contudo já concluída). Aqui não há a nossa eterna cantata do luz bim, luz bai...luz tem!!! Antes do jantar, fui comprar cd's: The Best Of Soul, Freedom Road (Bob Marley), The Essential - George Benson e Francis Cabrel com Des Roses & Des Ortis.

Depois, jantámos no Savana. Frescos que nem uma alface, aliás nem parece que acabarámos de fazer quase setecentos quilómetros a conduzir. Um restaurante agradável e com boa comida, e mesmo ao nosso lado estava o presidente de um partido político, que, garantiram-nos, é dos mais proeminentes do Mali. Nova geração, portanto. O Mali - que de acordo com estudos efectuados, caminha para uma quase-tragédia, com cerca de 98% do seu território a sofrer de uma espécie de 'síndroma de desertificação' - está a crescer a olhos vistos. Durante a viagem Kayes/Bamako, cruzámos com mais de uma centena de camiões TIR carregados com todo o tipo de mercadoria, na direcção do Senegal e vice-versa.

Saímos de Kayes às 9.30 da manhã e chegámos a Bamako pontualmente - como no poema de Lorca - a las cinco em punto de la tarde. depois de algumas paragens obrigatórias.

Hoje, dormimos em Bamako e amanhã rumamos a Segou (240km) para o "Festival sur le Niger". Ficaremos 3 noites, e depois, lá apanharemos a estrada novamente: Djene (140 km), para visitar a Grande Mesquita que é Património Mundial da Humanidade. Oh, lá, lá.

A companhia para esta viagem não podia ser melhor; melhor, não podia querer outra, de resto. Contas feitas para esta aventura extraordinária: Bissau/Bamako/Bissau: mais de 3.000 quilómetros de estrada. AAS

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ausência de força angolana faz UE adiar cumprimento de sanções

A União Europeia suspendeu - por agora - o cumprimento de sanções impostas a oficiais generais das forças armadas guineenses, ontem tornada pública via agências de notícias.

Fonte do Ditadura do Consenso garante que a ausência, por enquanto, dos militares angolanos nos País é que deixa em banho-maria tal cumprimento a decisão de Bruxelas.

Todos os nomes

Para além de António Indjai e Bubo Na Tchuto, citados na LUSA e na France Press, Ditadura do Consenso apurou que da lista europeia constam ainda nomes como o de Papa Camará, Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, do ex-médico de 'Nino' Vieira, Tcham Na Man e o próprio ex-CEMGFA Zamora Induta.

A detenção dos cinco implicados será feita pelos militares angolanos, ainda segundo a nossa fonte. AAS

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

au, au, au, ue

A recente notícia - divulgada, creio, pela France Press e pela Agência LUSA dando conta de que a União Europeia se preparava para anunciar o congelamento de contas bancárias e proibição de entradas do espaço Schengen a oficias generais das nossas Forças Armadas (Bubo Na Tchuto e António Indjai) e a mais três...sem nomes.

Primeiro: a reacção do Governo satisfez-me; mas há uma coisa que não entendo: por que é que, de cada vez que o Primeiro-Ministro abandona o País...a UE ou os EUA, ou ainda os dois, ameaçam-nos com sanções? Segundo: o comunicado do EMGFA, encheu-me as medidas. A tropa desafia a UE a apresentar provas (ou seja, só se congela uma conta se ela existir). A UE ameaça ainda - segundo a France Press e a LUSA - com a proibição de entrada no espaço dos 27 aos cinco envolvidos.

Contudo, depois do comunicado do EMGFA - um comunicado duro, sem dúvida - a UE 'adiou' a sua decisão, presumo que sine die. Esta, sim, é a posição habitual da UE, que nós, guineenses, estamos habituados a ver...

Gostava que a UE se posicionasse sobre as casas que muitos (todos?) ministros compram por essa Europa. Bom, mas como é o dinheiro que cura a crise europeia...é só roubá-lo cá, que a UE recebe-o lá com passadeira vermelha!

Mas não. Isso é um pormenor tão irrelevante, que a UE, sabiamente, prefere chutar para canto. Centenas de milhões de dólares foram/são desviados da Guiné-Bissau por gente corrupta e desavergonhada: 80 por cento desse dinheiro é 'enterrado' na Europa, na compra de vivendas, de apartamentos, entre outras mordomias - e quem os rouba são alguns ministros, secretários de Estado e até directores gerais. Ladrões deste humilde Povo. Gente má, sem escrúpulos nem remorsos. Gente a quem servia na perfeição um tiro na testa, disparado à queima-roupa. Para doer. Essa estirpe é que tem a Guiné-Bissau nesta situação - não os golpes de Estado.

É isto que a Europa - e o seu Povo - precisam de saber. O Povo europeu deve exigir dos seus governos a publicação de uma lista com todos os bens de governantes africanos existentes no seu vasto território. Todos!

Parece que a UE está empenhada em estragar-nos o dia. Dia após dia. Desde o dia 1 abril de 2009 que este País não conhece uma convulsão. Desde 1 de abril, a UE parece, entretanto, apostada e empenhada para que haja um conflito militar na Guiné-Bissau. Não será nas vossas costas...

Portugal - que tem mais afinidade com a Guiné-Bissau do que qualquer outro País europeu e talvez mundial - tem no terreno (no nosso País) pessoal militar, pára-militar e de informações e segurança. E o que diz Portugal à UE, lá, no Parlamento Europeu sobre o que se passa na Guiné-Bissau? Portugal tem de se mostrar mais. Teria de mostrar aos seus parceiros que a Guiné-Bissau está estável; que a Guiné-Bissau precisa, sobretudo, que a orientem. Porque desorientada, desorientada estamos há, pelo menos, 500 anos!

A ver o que dirá a UE - a sua comissão dos Negócios Estrangeiros - sobre o que este blog vai publicar por estes dias... AAS

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

EXCLUSIVO: Gatunagem na Alfândega de Bissau com a benção do Ministro das Finanças, José Mário Vaz

A 15 de outubro do ano de 2009, deu entrada no gabinete do Ministro das Finanças, José Mário Vaz, um documento com a referência 328/GDGA(gabinete do Director-Geral das Alfândegas)/2009. vinha assinado por António Sanca, à altura Director-Geral (DG) das Alfândegas. O DOCUMENTO CONFIDENCIAL dava conta ao ministro sobre um serviço prestado pelo antigo Director-Geral das Alfândegas, Amizade Farã Gomes, e que foi conduzido por F. J. F. L. “Sigilo absoluto” - foi o que o então DG solicitou ao investigador desta recambolesca história, que resultou na descoberta de um grupo organizado que delapidou de mais de 1 bilião de fcfa dos cofres do Estado da Guiné-Bissau. Alguns importadores e despachantes oficiais, são os principais cabecilhas desta rede.

Recebido o documento, o Ministro das Finanças começou por obstruir todo o processo. Primeiro, requisitou, por telefone, todo o processo quando soube que António Sanca, na altura o DG das Alfândegas, tinha formado uma equipa para o efeito de cobrança do montante roubado, e para o apuramento das responsabilidades. Prova 1: O Ministro das Finanças estava, conscientemente, a proteger os ladrões. A troco do quê? Sabe-se lá...

O todo-poderoso Ministro das Finanças e futuro candidato à Presidência da Câmara Municipal de Bissau com a benção do seu padrinho Carlos Gomes Jr, dá início à purga propriamente dita: primeiro, exonera o DG Amizade Farã Gomes por este ter mandado efectuar a investigação. Depois, António Sanca também conhece a mão pesada de JOMAV: é demitido, por ter ousado constituir uma equipa para a recuperação das receitas desviadas, e consequente apuramento de responsabilidades.

Mas foi sol de pouca dura. O documento haveria de chegar ao conhecimento do 1º Ministro Carlos Gomes Jr. Em reunião de Conselho de Ministros de 15 de janeiro de 2010, ficou decidido, nos seus pontos a) e b):

a) Analisando as conclusões da auditoria mandada efectuar às Alfândegas de Bissau, onde se apuraram prejuízos para o erário público que ascenderam a mais de 1 bilião de francos cfa, por descaminho aos direitos, recomendar ao Ministro das Finanças que se confirme, primeiro, o resultado da referida auditoria e, sendo conclusivo, que mande proceder a averiguações com vista ao apuramento de possíveis responsabilidades dos importadores e dos despachantes oficiais implicados, sem prejuízo de posterior remessa do relatório para o Ministério Público, se o eventual ilícito criminal apontar nesse caminho;

b) Que as inspecções das Finanças e do Comércio devem actuar em parceria de modo a combater a fraude e evasão fiscais.

Alguns dos preumíveis implicados estã já a ser ouvidos na Procuradoria Geral da República, que destacou três homens: José Biagué Bado, coordenador do Gabinete de Luta Contra a Corrupção e Delitos Económicos do Ministério Público encabeça a equipa, composta ainda por Quintino Inquebi e Romelo Barai.

Enquanto isso, o autor da referida investigação, FJFL está a ser ameaçado de morte. O País é de todos nós, e um cidadão aceitou fazer a sua parte, realizando uma investigação desta natureza e de grande envergadura. A ver no que dá... AAS

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

EXCLUSIVO: Desvio de mais de 1 bilião de fcfa nas Alfândegas de Bissau! DC conta toda a história. Hoje. AAS

EXCLUSIVO: 1º Ministro terá sido ouvido antes de deixar Bissau, sobre a carta do PGR enviado ao PR e que DC divulgou em exclusivo.

No Ministério do Interior, os polícias fecharam a estrada e reivindicam reajustamento de salários. Terão o apoio do CEMGFA, que esteve lá há pouco em visita de solidariedade. AAS

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sin murri gossi

O Ministério Público, ou, se preferirem a Procuradoria Geral da República, nunca mais será a mesma. Isto, desde que o Ditadura do Consenso, publicou os três autos de inquirição de testemunha. Autos mal escritos, num português de merda, que envergonha qualquer cidadão esclarecido de um País de língua portuguesa. Mas nós somos mesmo assim: funcionais. Funcionamos...só que mal. Tudo o que copiamos faz lembrar os chineses e o seu descaramento desmesurado e sem vergonha.

Publiquei os três autos, sim. E publiquei-os porque tive acesso a eles. Antes mesmo de ir a Lisboa, em dezembro. E antes de os publicar, fui à PGR e dei conta do que ia fazer.

Mostrei igualmente todos os autos - porque fui contactado por duas pessoas ligadas ao processo. Num café-restaurante. Cheguei primeiro e esperei. Pouco depois chegaram. Apresentamo-nos. "Já o conhecia pelo blog", disse um. "Sim, do Ditadura do Consenso", confirmou o outro. Entretanto, já suavam.

"E então, ouvimos dizer que tem aí umas coisas para 'lançar' hoje. Pode mostrar-nos?". Sim. Posso. Saquei então dos três autos. Eles esticaram-se. E um dos magistrados começou a folhear rapidamente a dúzia de páginas. Como bom observador que sou, reparei em dois pormenores, que na altura pareceram banais e hoje fazem todo o sentido: folheou uma, duas, três, quatro e de repente fez-se luz. Parara na página que diz respeito ao Samba Djaló, da sinistra Dinfosemil.

Folheou novamente as três das quatro páginas do referido auto, e suspirou baixinho antes de ir para a última página. "Abro, não abro", terá pensado. E, pensando, lá se decidiu pelo abismo. E o porquê? Ora, porque é na página quatro que estão as assinaturas de Samba Djaló, dos três magistrados que o ouviram, e, ainda, do técnico de justiça - aquele, aquele que escreveu os autos...

E então o magistrado deixou cair as folhas. Caíram com estrondo, o barulho na altura assemelhou-se à queda de uma resma de papel A/4 de uma altura de 50 cm. Haverá estrondo, portanto. E levou as duas mãos à cabeça. Olhou para o seu colega. Tinha um ar triste. Estava - a seu ver - destruído. Inspirou e, um pouco irritado disse: "Estamos acabados. Quem é que lhe deu isto?". Não, não queria assustar-me (foram bastante afáveis até, e, em certa medida, comedidos).

Limitei-me a garantir-lhes que ninguém nestes três autos deu-me fosse o que fosse. "Nem os conheço" - dei a minha palavra. Numa palavra, eles não queriam que eu tornasse público os autos. "É segredo de Estado" - tentaram. Calmamente, disse-lhes "segredo do Estado não pode vir parar à rua!". E calei-me, à espera do ricochete. Mas não.

Desta vez, tentei eu. "Garanto-lhes que não publico nada sem antes falar convosco". Pela primeira vez durante a conversa, acho, respiraram normalmente. E convenientemente. Esticaram-se, e ajeitaram as gravatas no mesmo momento. Foi giro. Um deu uma folga ao nó da gravata. Um nó duplo. Outro pediu água e depois deixou-se cair para trás. Depois de beber e pousar o copo na mesa, garantiu ao colega: "De agora em diante, passarei a andar com todo o processo na mala!".

Nesse mesmo dia, por volta das 19 horas, telefonei. Boa tarde, senhor doutor - disse eu. Respondeu como se estivesse abalado - eu também estaria. Acredite. Depois disse-lhe "decidi publicar os autos". Desta vez ouvi-lhe a alma: "Está bem, faça como entender". Desligámos.

Deixei passar tempo. Passaram uma, duas, três horas. Antes de os publicar, fui às estatísticas: mais de 8 mil visitas! E todos à espera. Enter. Feito.

Mal sabia ele que eu já estava na posse de mais documentação, ainda sobre as mortes de Helder Proença e Baciro Dabó. E também relativamente ao assassinato do ex-Presidente 'Nino' Vieira. E é apenas por uma questão de oportunidade - e da minha segurança - que ainda não as tornei públicas. Não tenho pressa, prefiro ter cuidado.

Oscar Wilde escreveu que "a cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo" e acrescentou que "para ser popular é indispensável ser medíocre". E é aqui que eu entro. Não sendo popular, ala com o medíocre. Aliás, a mediocridade tem várias casas: mora na primatura, às vezes dorme na Assembleia, faz uma visita à Presidência, e acaba sempre por desaguar em alguns gabinetes da Procuradoria Geral da República.

Assim, e não sendo medíocre, prefiro sabiamente isto, que Bertold Brecht deixou escrito na pedra: "Há homens que lutam um dia, e são bons; há os que lutam muitos dias, e são muito bons; há os que lutam um ano, e são melhores. Porém, há os que lutam toda a vida - estes são imprescindíveis". AAS