sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Carta aberta dirigida a Carlos Gomes Jr, Presidente do PAIGC e 1º Ministro

Camaradas Membros da Direcção Superior do Partido;
Camaradas Responsáveis, Militantes e Simpatizantes do nosso grande Partido
Povo da Guine Bissau,
Camaradas,

É TEMPO DE AGIR PARA SALVAR O PARTIDO E A DIGNIDADE DOS GUINEENSES

O PAIGC, enquanto Partido libertador do povo Guineense atravessa o período mais crítico da sua história com consequências nefastas para o povo e para o país. Uma sombra negra paira sobre o nosso Partido, Partido de Amílcar Cabral, dos Combatentes da Liberdade da Pátria e do povo guineense.

Chegou a hora de todos os Militantes do PAIGC acordarem para juntos erguerem as suas vozes, para que se oiçam os seus protestos, para que a história não os venha a julgar da mesma maneira, que aqueles que neste momento pelas suas más práticas políticas estão a ensombrar o Partido e a conduzi-lo para a desintegração e perdição, fenómeno jamais vivido ao longo da brilhante história do Glorioso PAIGC.

É manifesta a incapacidade da actual cúpula directiva do Partido em garantir a unidade e a coesão interna, em manter a tradicional autoridade no seio dos militantes, em conduzir as reformas estruturais inadiáveis, em evitar o fosso entre a cúpula e as bases do Partido, em instaurar um clima de segurança e confiança no seio dos seus quadros promovendo a efectiva estabilidade do partido através de uma gestão atenta e criteriosa dos conflitos sociais e políticos. Também é incapaz de criar as premissas susceptíveis de relançar e dinamizar o processo de competitividade no seio do próprio Partido.

Esta cúpula directiva do partido, não se orienta pelos princípios do PAIGC e do legado politico de Amílcar Cabral, dos Combatentes da Liberdade da Pátria, legado esse em que o nosso Líder imortal considerou o homem como valor supremo do universo, com o direito a vida, a liberdade, ao progresso e acima de tudo o Direito a uma Pátria.

Caros Camaradas, Dirigentes, Militantes e Simpatizantes,

O PAIGC sempre combateu o espírito divisionista assente na máxima colonialistas “Dividir para melhor reinar” e instaurou a divisa libertadora de “Unidade e Luta” que foi uma alavanca que impulsionou a nossa luta e conduziu a Independência Nacional.

Infelizmente, de forma escandalosa e triste, a prática de divisionismo está hoje a ser implementada no seio do PAIGC, pelo senhor Carlos Gomes Júnior, Presidente do Partido, com a clara cumplicidade da cúpula do Partido e de alguns círculos da sua “confiança”.

O PAIGC, ganhou as eleições legislativas de 2008 com a maioria 67 deputados dos 100 compõem a ANP, resultante de uma acção solidária de todos os seus Dirigentes, Militantes e Simpatizantes e em certos casos com recursos próprios, movidos sobretudo pelo bom senso e a primazia dos superiores interesses do Partido.

Entretanto hoje, assiste-se muito tristemente a uma liderança autocrática déspota e arrogante, impondo ao Partido uma realidade dramática, com reflexos deveras prejudiciais à governação e à própria imagem e bom nome do PAIGC. O presidente do Partido persiste em erigir o nepotismo e clientelismo como método de direcção e governação, fugindo a todo e qualquer diálogo interno como se de uma empresa sua se tratasse.

Assistimos neste momento ao bloqueio/boicote das instâncias dirigentes do partido, traduzido numa deliberada inexistência de reuniões dos órgãos (Secretariado Permanente, Bereau Politico, Comité Central) e, em seu lugar, o Presidente promove um estranho funcionamentos com base em “esquemas” e manobras maquiavélicas em flagrante e permanente violação dos estatutos.

A tudo isto, junta-se o encorajamento à intriga, a estratégia do dividir e agrupar em “grupos dos que apoiam a direcção ou o seu presidente mesmo que de forma anti-estatutárias, o abuso de poder, decisões singulares, “ só eu é que posso”, “só eu é que mando”, em suma “sou o Chefe”.

Como se não bastasse, todo este cortejo de desmandos enveredou-se pela via da violência, como ilustram os assassinatos de triste memoria, caso 1 e 2 de Março 2009,4 e 5 de Junho do mesmo ano, espancamentos de figuras publicas com o único intuito de silenciar vozes discordantes e assim sufocar a democracia, como são os casos do Dr. Francisco Fadul, Ex-Primeiro Ministro, do General José Loa, hoje falecido e quiçá causa próxima da morte, do Advogado, Dr. Pedro Infanda, Jornalista-Rogério Dias, Dr. Francisco Ndur Djata ”Dr. Chico” do Ministério do Interior, entre outros. As Prisões arbitrárias e ab aeternum no seio do sector castrense, General, José Loa “falecido” entre outros.

Os casos de prepotência e falta de sentido de Estado nos casos famosamente conhecidos do Contra Almirante, José Américo Bubo Na Tchuto, em que propalou a quatro ventos a eminente prisão, julgamento e exoneração do mesmo em claro desrespeito aos princípios do Estado de Direito Democrático que no fundo não se tratava mais do que uma encenação e bluff de quem e ávido de um poder de que não dispõe.

Senhor, Primeiro-ministro e Presidente do Partido, como explica, tanta fuga de cidadãos solicitando asílio nos países amigos?

Como explica, tanta saída de quadros do partido para irem integrar ou formar outros Movimentos políticos? Como são os casos do Dr. Aristides Gomes, do Partido PRID, Senhor, Braima Embalô, do PDS, Ibraima Sow, do Partido Popular, levando com eles um grande número de militantes.

Chegando ao cumulo de instituir a eliminação física dos adversários através de assassinatos como método de governação e perpetuação do poder, métodos estranhos aos princípios do PAIGC de CABRAL, Partido que notabilizou-se pelo respeito pela dignidade humana, diálogo interno permanente e solidariedade entre camaradas. De recordar que ao longo destes últimos anos os assassinatos só acontecem no consulado do senhor Carlos Gomes Júnior. Porque? E a mando de quem? Estará a fazer “frete” por conta de alguém?

Camaradas,

É triste mas é hoje frequente ouvir, “O Partido sou eu e ninguém mais. Enquanto eu for o Presidente do Partido não admitirei!

O Partido é hoje, um Partido em claro divorcio com os seus princípios, que foram sempre a sua alma, expressa na máxima “unidade e coesão interna,” resultando desta forma na fragilidade na Governação ferindo os valores cardinais que deveriam conduzir o seu grupo parlamentar no apoio institucional e político do PAIGC de forma a permitir a realização do seu projecto político largamente sufragado nas urnas, perigando desta maneira a credibilidade do partido com consequência de quebra da confiança dos eleitores com o partido.

O dramático de tudo isto, é que vinha sendo laboriosamente instaurado um clima de pluralismo no partido, com respeito dos princípios democráticos, respeito pelas diferenças de opiniões, tolerância; eis que subitamente instala-se pelo presidente um estado de terror interno. Sendo a consequência de tudo a exclusão imediata por simples divergências de opinião e preterimento a favor de um seu servidor zeloso, “Sim Senhor”.

O Partido conhece neste momento, uma notável diminuição da sua capacidade de mobilização, um acrescente e generalizado descontentamento dos seus militantes e quadros, a que a não ser atempadamente combatido esse estado de coisas acarretaria num futuro próximo, resultados de consequências imprevisíveis para o partido.

O método e a linguagem do nosso partido mudou, já não se fala das decisões do Partido e dos seus órgãos de direcção. Aliás neste momento, não existe o Secretariado do Partido, tão só fecho de informação com inexistência deliberada das reuniões ordinárias. As decisões são hoje tomadas apenas na base de interesses encomendados e imediatos do presidente e quando assim é reunindo o Bereau Politico de forma expedita e improvisada, lutando custe o que custar para tomar decisões que lhe convém mesmo que sem quórum e muitas vezes na ausência premeditada do próprio presidente.

Assim se tramaram mortes, perseguições, afastamento das suas funções de dirigentes e quadros do partido, deputados hostilizados até ao ponto da humilhação, outros forçados ao exílio, tudo na Guiné-Bissau, na governação do PAIGC de CADOGO.
É nesta mesma governação de Carlos Gomes Júnior, que se distribuem prébendas dos postos relevantes do Governo, fundamentalmente os da área económica e financeira que se presume com rendimentos chorudos, reservados aos genros, pais dos mesmos, primos, amigos pessoas de relações negociais e de outros interesses inconfessos.

A promiscuidade entre o cargo de Primeiro-ministro, Presidente do PAIGC e o instinto de cupidez do empresário Carlos Gomes Júnior. Enquanto Primeiro-ministro vende por tudo quanto é sítio “urbe et orbi” a instabilidade insanável do país e na pele de empresário pinta um oásis onde o capitão môr é o próprio. Os diferentes empresários estrangeiros que com ele privaram, que o digam.

Somos pela razão e, para a melhor compreensão dos camaradas enumeramos alguns factos mais marcantes da forma como a actual direcção de Carlos Gomes Júnior vem gerindo o partido ao sabor dos seus interesses e prazeres da clique.

O Estranho e Grande Silêncio.

Nos dias 1 e 2 de Março de 2009, foram assassinados respectivamente os Combatentes da Liberdade da Pátria e em funções, O Camarada Tagme Na Waie, então Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas e o General, João Bernardo Vieira “Nino” então Presidente da Republica.

Aquando dos assassinatos o PAIGC não se pronunciou, remetendo-se ao silêncio macabro em como se nada tivesse acontecido. Alias, apressou-se com justificações sem fundamentos, com substituições e tomada de posse feitas de forma estranha e atabalhoada, contrária aos hábitos tradicionais, próprios de golpes de estados, sem honra nem gloria e desrespeito a memoria desses heróicos combatentes de Liberdade da Pátria. Isto tudo sob orientação de quem, senhor Presidente do PAIGC e Primeiro-ministro?

Foi um momento de horror, e de desonra na vida do PAIGC e do povo Guineense, não pronunciar nada, absolutamente nada, nem tão pouco condolências á família enlutada. Só veio a ser convocada uma primeira reunião do Bureau Politico no dia 19 de Março, isto dezassete dias depois, reunião essa, que tristemente terminou sem a tomada de qualquer posição.

O que terá acontecido Camaradas, nesses dias em que o PAIGC remeteu-se ao silencio?
A actual direcção do partido tem que esclarecer bem as razoes que impediram de prestar as merecidas homenagens e reconhecimento de estado a estes dois mártires e figuras marcantes da história do PAIGC e da Nação guineense.

2- Nos dias 4 e 5 de Junho de 2009 o País foi sacudido por um acontecimento ignóbil e criminoso, alegadamente de tentativa de golpe de estado, para matar Carlos Gomes júnior e Zamora Induta. Esquecendo-se até que o Carlos Gomes Júnior não se encontrava no País. Vergonhosa justificação de uma personalidade do Partido que se transformou em verdadeiro Fantoche de CADOGO. O que queriam? Decapitar e destruir a campanha eleitoral do Camarada Malam Bacai Sanha!

Toda a directoria de campanha do Camarada, Malam Bacai Sanha tornou-se um alvo a bater, a saber:

Roberto Ferreira Cacheu – Director Nacional
Marciano da Silva Barbeiro – Director Nacional Adjunto
Daniel Gomes – D Gab de Marketing e Porta voz
Conduto de Pina – Membro da Directoria Nacional

O camarada Hélder foi brutalmente espancado para seguidamente ser friamente abatido por mãos assassinas. Os outros Membros escaparam pela mão divina, o Camarada Roberto Ferreira Cacheu e Conduto de Pina no País e os Camaradas Marciano Silva Barbeiro e Daniel Gomes acidentalmente no estrangeiro.

Que grande Golpe de Estado? Quando nenhum dos titulares dos órgãos de soberania sequer estavam no País? Na verdade quem fez o golpe foi quem mandou matar.
O Camarada Baciro Dabo, deputado e candidato as Presidenciais fora torturado e friamente abatido em sua casa.

Importa sublinhar que todos esses Camaradas á data dos assassinatos eram membros do Bureau Politico do PAIGC e Deputados da Nação. A macabra tentativa de golpe de Estado foi orquestrado pelo próprio governo de Carlos Gomes Júnior, que confirma-se pelas declarações do Sr. Zamora Induta na altura chefe de estado-maior general das forças armadas, que disse citamos:

Cumprimos as ordens que nos foram dados pelo governo, agora cabe ao governo responder”, fim de citação.

A corroborar essas declarações o governo emitiu um comunicado a apoiar as alegações de tentativa de golpe de estado e num exercício inglório de pertenço esclarecimento áudio visual do dito acontecimento, emitido na nossa televisão e na RDP e RTP-Africa tendo como tristemente célebres protagonistas encenadores, os senhores António Óscar Barbosa (Kankan) então Ministro dos Recursos Naturais e Botche Cande Ministro do Comércio. Pensamos nos que esses senhores devem sentir ensombrados e com consciência pesada de remorsos pela mentira grosseira contra os seus camaradas do partido. Que vergonha?

O próprio substituto do Primeiro Ministro na altura, Camarada Manuel Saturnino Costa, então Ministro da Presidência do Conselho de Ministros foi a ANP na vã tentativa de justificar o acto criminoso, alias uma opinião expressa por um dos representantes diplomáticos acreditados no país. Até hoje não é capaz de exibir a menor prova que os deputados solicitaram. Como devem dormir os senhores Kankan, Botche e Manuel Saturnino?

Apesar da gravidade desta situação, a Direcção do PAIGC não se dignou a prestar qualquer esclarecimento aos militantes e á opinião pública nacional e internacional, chegando ao ridículo de impedir a divulgação da decisão judicial de arquivamento do processo por inexistência de indícios incriminatórios relativo aos Camaradas do Partido, uns assassinados outros caluniados na famigerada tentativa de golpe de estado. Censura por quem? Do Senhor Carlos Gomes Júnior, presidente do PAIGC.
Camaradas,

O PAIGC é o único partido capaz de garantir a estabilidade da governação, mas para isso terá que ser capaz de resolver ou ultrapassar os seus problemas internos e de liderança.

Entretanto, desde o Congresso de 2002, o PAIGC tem sido refém de personalidades que o dividiram em várias facções, cada uma delas em busca do poder, numa luta sem tréguas no interior do próprio partido.

A tarefa não é fácil mas tem que ser feita, em nome do país, em nome da história do PAIGC, em nome da sacrificada sociedade guineense e do nosso povo sofrido, que deu tantos dos seus filhos para que a Guiné-Bissau pudesse ser livre e próspera.
É necessário e urgente que no seio do partido emerja um grupo de militantes esclarecidos e disponíveis para constituírem um baluarte de regeneração do tecido político interno e de um novo rumo ao PAIGC, que seja capaz de fazer o partido voltar a ser uma força política federadora de diferentes vontades, coeso e solidário, forte e geradora de dinâmicas envolventes, moderna e depositário do legado sociopolítico e promotor da sociedade sonhada por Amílcar Cabral.

A urgência da redenção justifica-se igualmente porque a independência já tem trinta e sete anos e a epopeia libertadora dos seus protagonistas muito mais tempo. A sociedade guineense a quem o PAIGC propõe continuar a servir mudou profundamente e o nosso grandioso partido, o PAIGC, tem que estar a altura dos acontecimentos e dos desafios do tempo, sempre na qualidade de protagonista e componente estratégico.


Camaradas,

Não se trata de nenhum ajuste de contas dentro do partido, mas tão só um diagnostico das graves situações e atropelos cometidos pela actual direcção do senhor Carlos Gomes Júnior, sem citar outros desmandos e desgovernação, nomeadamente os casos da exoneração dos quadros do partido em benefício de amigos da clique, DGCI, EAGB, Previdência Social, etc., etc. A Petromar e o monopólio do sector dos combustíveis, monopólio do BAO na gerência dos fundos do Estado e os aferismos mal contados sobre o advento da confiscação do património do estado sob a capa da pseudo privatização.
Nesta perspectiva e porque aconteceram coisas horríveis e macabras no nosso seio; pelo estado letárgico, de intriga, persecutório e mercantil como esta direcção tem conduzido o partido, propomos com carácter de urgência, a realização de uma reunião extraordinária do Bereau Politico ao abrigo do n 1 do artigo 34 dos estatutos do PAIGC, propondo, entre outros, a inclusão do seguinte ponto central:
Situação Politica Actual do PAIGC
Explicações do Presidente do Partido sobre a Governação e os crimes não esclarecidos, cometidos durante o ano de2009.
Camaradas,

É preciso salvar o PAIGC e a dignidade da Guiné-Bissau. É tempo de agirmos em prol de um Partido do século XXI.

Bissau, 30 de Setembro de 2010

ASSINATURAS: Robert Cacheu, Coronel Manecas Santos, Daniel Gomes, Marciano Silva Barbeiro, Tumane Mané, Abel da Silva Gomes, Gustavao Na Onta, entre outros