sexta-feira, 20 de junho de 2008

A tristeza não tem fim. A felicidade, sim

Photobucket

Pediram-me. Cá vai, com os devidos acertos.

Os guineenses devem trocar a idade do armário em que se viram enfiados, e ultrapassar a barreira da puberdade.
Ao guineense, é com a alma em sangue que peço: Pense. Reflicta. Confesse. Já nenhum de nós tem idade para andar de skate. É altura de trocar o T-1 por uma casa, reclamar uma camisa no lugar de uma T-shirt e, por tabela, exigir um Estado sério, credível, respeitado. Grande. Crescido. Como nós.
Como é que um país com quase quarenta anos de independência, com tanta história de mestria e valentia; como é que este país que lutou pela sua independência e de mais quatro(!) países atirou a toalha ao chão?
Este país é coisa pouca para alguém? Seja. Mas é nosso. Pode até ser uma coisa pouca, uma luz qualquer. Chega-nos. Deslumbra-nos. A Guiné-Bissau podia, hoje, ser um gigante entre gigantes mas nunca deixaram-na ter essa medida, esse sentido de proporção, a mínima mercê. E, no entanto, a Guiné-Bissau continua brilhante como se a noite não existisse.
Do que nos vale uma Nação sem nacionalismos? Que tal é a sensação desta alma colectiva que se desalma diariamente; esta idade sem qualidade, este tempo dessincronizado com a nossa natureza, onde já não há herói, figura, exemplo, esperança que nos empolgue ou nos sirva?
A Guiné-Bissau é o país do universo africano que fala o português que, proporcionalmente, tem melhores e mais quadros nos organismos internacionais. E se não regressam é porque aqui tudo é muito previsível e, normalmente, o que acontece é quase sempre mau. Verdade seja dita, raras vezes se registam acontecimentos que indiciam novos tempos. Por mais que os ventos soprem.
A Guiné-Bissau tornou-se como aquele mistério que pensamos saber e a perfeição que sabemos não conseguir. É este o mistério perfeito da realidade, o sonho sem amanhã, o desejo sem desperdício, a ideia de uma Nação, o coração de um povo. É verdade. A nossa geração – aquela que não está gasta – tem valores que importa preservar, e uma responsabilidade de proporções bíblicas, que é a de criar uma sociedade em que não se registe a exploração do homem pelo homem ou humilhantes discriminações em relação à mulher. A realidade actual do mundo impõe-nos outra reflexão, e outra intervenção. Um País é um País e é assim, País, que deveria ser.

António Aly Silva
Jornalista

Contra vontade

«Há indignação no ar, em Bissau, face a uma atitude do embaixador português para com uma cidadã lusa. Não vou comentar nem “linkar” o caso, precisamente porque já deixou de ser apenas “político-diplomático” para começar a ser pessoal e intestinal. Acho, contudo, interessante que sejam sobretudo guineenses os porta-vozes da indignação (e daí não vem mal nenhum ao mundo). Tecerei apenas algumas considerações genéricas sobre a presença de estrangeiros na capital bissau-guineense. Que fique bem claro que não me refiro a ninguém, nem a nenhum grupo de pessoas, em concreto. Bissau tem 3 tipos de brancos (diplomatas, cooperantes e outros): 1 – os que lá estão porque foram para lá enviados pela instituição/empresa para a qual trabalham; 2 – os que lá estão por dinheiro; 3 – os que lá estão porque gostam de África e/ou da Guiné-Bissau. Os terceiros, a minoria, são os mais discretos no meio desta fauna selvagem que pulula na pequena capital africana. Não dão nas vistas, fazem o seu trabalhinho e vão gozando a vida, contentes por ali estarem, embora admitindo que há locais melhores para se viver. Os primeiros e os segundos são os que causam problemas. São malcriados, trabalham contra-vontade e representam mal os organismos/empresas para os quais trabalham. Lamentam-se a toda a hora de uma terra e de um povo que já carrega nas costas um calvário inteiro. Tornam-se racistas. Armam zaragatas. Fumam droga, bebem alcóol, fazem sexo com quem não devem e passam o tempo procurando esquecer o tempo em que estão – de castigo – em Bissau. Ora, estas pessoas não têm culpa da sua sorte. Se foram parar a Bissau é porque: ou ganhavam mal onde estavam ou não mereceram a confiança dos seus superiores/patrões para ir para locais melhores (“melhores” segundo eles, pois para mim Bissau é a cidade perfeita para se viver). Assim, a culpa das suas atitudes é de quem para lá os enviou, que não deveria ter enviado. Quem, no norte do mundo, faz a escolha dos profissionais a enviar para Bissau devia ser mais criterioso e não mandar para lá qualquer um. Por outro lado, quem para lá é enviado não devia descarrregar angústias e frustrações em cima dos outros. Bissau é uma cidade pouco simpática (na perspectiva desta gente, na minha não), mas nem sempre na vida se pode trabalhar em locais (ditos por estas pessoas) “agradáveis e bonitos”. Não se pode comer bife do lombo todos os dias. Uma bentaninha cozida sem sal, cheia de espinhas e a saber a bolanha não faz mal a ninguém, de vez em quando.»
NOTA: Subscrevo, e assino por baixo. Obrigado.

Matrículas CD - Mas que brincadeira vem a ser isto?

O senhor HAMADI, há muito que deixou o cargo de Cônsul Honorário do Reino de Espanha (ou da Coca-Cola), não se sabe bem.

PERGUNTO AO MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS
DA GUINÉ-BISSAU:

Agora que o senhor HAMADI já não representa nada, por que motivo conserva a matrícula que lhe dá total imunidade? É vê-lo, imponente, no seu Land-Rover Discovery a pavonear-se pelas ruas de Bissau. A matrícula? CH 2-1 CC. Falta a fotografia da máquina, e da criatura.

P.S. - Na quarta-feira, eu mesmo dei o endereço do meu blogue à ministra guineense dos negócios Estrangeiros. E disse-lhe isto: EU SOU O POLÍCIA DO CORPO DIPLOMÁTICO. E sou.

Os bigodes

Photobucket
Com o seu ar cinzento, reminiscência de um passado que foi imperial, eles continuam aí! Marca indiscutível do que é ser Português, com P gigante.
Nos bares da cidade, encontram-se nos cantos mais discretos, molhados de cerveja e salgados de mancarra.
Nas discotecas, encontram-se nos cantos mais discretos ou nos limites das pistas de dança, e aí prolongam a soberania através das bajudas ansiosas por uma ou outra nota que lhes dê o passaporte para viver mais um dia. Sim, eu também sei disso: a carne é fraca, a tentação é forte, o calor possui-nos. Todos vivemos pelo mesmo.
Pela tardinha, a sede impera e, antes da farda tirada, chegam a um café para saciar o que o organismo pede. De novo, o banho da cerveja e o sal da mancarra.
Os guineenses que passam são tratados rudemente através de frases que terminam em pá. Outra marca do Português, com P gigante, esta bem mais vergonhosa. Não é culpa dos bigodes. É culpa da educação que não receberam. Só isto lhes aponto, com um dedo qualquer que mostre desagrado.
Passo e recebo deles um sorriso simpático. Simpatizo com eles também. Lembram-me os avós que, no meu bairro de infância, levam os netos às tabernas, depois de almoço, e lhes compram um chocolate enquanto bebem o vinho vermelho escuro por um copo mal lavado.
Se não fosse sentir um arrepio de nudez sob os seus olhares, poderia encontrar ali um amparo paternal, nesta terra que não é minha, mas que amo.
AL.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A ONU - uma manta de retalhos

Photobucket
Ora cá está um organismo por excelência (gosto da palavra excelência) onde, à sexta-feira, ninguém trabalha depois do almoço. Nos outros dias, dizem-me, nada fazem. Ou melhor, fazem. Fazem pó, muito pó.

1 - Os condutores do sistema das Nações Unidas, parecem uns autênticos malucos na estrada, uns aceleras imberbes. Por onde passam deixam sempre uma nuvem de poeira nas gentes e gentes com um credo na boca. A Divisão de Trânsito da Polícia de Ordem Pública, é claro, deixa passar tudo em claro (perdoem-me a redundância). Porque «são carros com imunidade», disseram-me. Macacos me mordam. Aposto desde já isto: o primeiro carro a aparecer no meu blogue será da ONU;

2 – PERGUNTA INDISCRETA: Há cargos nacionais ocupados por estrangeiros, sem que ninguém dê um pio e peça satisfações. E a ONU na maior, pagando salários sumptuosos a estrangeiros, quando esse dinheiro dava um grande jeito aos nacionais. Era para eles, de facto;

3 – E existe, não me deixarão mentir, uma grande falta de normalidade nessa organização completamente desorganizada.

PS – Se houver, na ONU, alguém que me possa esclarecer me telefone, tá?: (+245) 668 31 13. Ou vai ser preciso organizar uma marcha em frente à vossa sede?
António Aly Silva

O Cônsul que afinal era um cavalo

Photobucket
Recebi um e-mail. Eu, Aly, recebi um e-mail que mais parece um interrogatório da polícia. Daqueles que eu gosto, desde que me tratem com respeito e coisa e tal. Quero deixar aqui bem claro que muita gente não percebeu o post «Menos ais». Mas como ultimamente tenho andado ocupado a comprar guerras aqui e aly...respondo.
Ler, leram, porque tem havido feedback. Mas que não entenderam, lá isso não entenderam.
Bom, mas o que diz a criatura? Começa por falar do tempo, mas eu já o tinha topado à distância. E quando a moeda cai na ranhura, eis que surge o império em todo o seu esplendor. Aqui vai a minha resposta:
«Caro amigo
Obrigado pelo e-mail. estava mesmo a precisar. A história, como bem sabemos, foi prenhe em impérios. Por todo o lado. De todos os lados. O império português, por quem tu gritas e gesticulas, não passou disso mesmo: de um império. E é - lá está, História. Não me cabe, portanto, julgar o império português, nem outro qualquer. O meu eterno liberalismo tem limites.
Mas como escreveste a um «intelectual» - obrigadinho, pá!, o intelectual (agora sem aspas) escreve-te também (aviso-te já que gosto de reciprocidade).
Isto para te dizer o seguinte: no império romano - esse colossal império, houve de tudo: imperadores inteligentes, outros brilhantes e teve outros que eram... Bom - conta Suetónio (historiador romano 70/160, que viveu na época de pelo menos dois imperadores) - tiveram um que lhes saiu, digamos assim, pela culatra: nomeou cônsul o seu próprio cavalo! Sim, esse idiota do Calígula.
O que se diz é que é a História. Mas, deixa para lá que a história também está cheia de anedotas...

Conversas em família

Photobucket
Bissau, um mês qualquer entre Maio e Outubro. Choveu toda a manhã. Podia ouvir a chuva bater nas vidraças das janelas e até o murmúrio secreto das pessoas. E sentia o agradável odor do café que a minha Avó preparava todas as manhãs. E só hoje me dei conta de que todas estas pequenas coisas são coisas boas. Desejava chegar aos domingos só para ouvir o ruído do fogão a petróleo e sobretudo a minha Avó a conversar baixinho com o meu Avô. Conversavam acerca do correr dos dias e lembravam-se do tempo em que eram jovens em flor.
Daqueles dias exaltantes, dos bailaricos de rua e de salão. «Foram bons tempos, esses», acrescentava o avô. O meu Avô era um homem pequenino e de mãos bonitas, bem talhadas de resto, pese embora todo o trabalho que suportou durante a sua longa vida. Ainda mantinha uma voz fina, bem modulada. Usava um chapéu branco que, com o passar dos anos, se apresentava todo remendado com arame fino que ele, pachorrentamente, desfiava dos fios de electricidade. Ria muito e com frequência e recusava boleias. O pretexto era sempre o mesmo: «a melhor receita para envelhecer com dignidade é caminhar». E lá ia ele todo pomposo, rua abaixo. Também dizia, a propósito de viver muito (contava na altura cerca de 80anos), que chegara a essa idade porque «gostou muito de mulheres. Ainda gosto, claro. Gosto mas já não posso, se é que me faço entender» - o meu Avô teve muitos filhos e tem-nos visto partir, com dor. Quanto a bebidas, um cálice de whisky por semana, aos domingos, e de um só trago embora se mostre um perito no assunto. «Só se deve beber entre amigos e com amigos. Quando um homem bebe só, algo está mal, algo não vai bem dentro dele». E saiu-se com esta frase lapidar: «quem bebe só está a conviver com a morte que lhe mora na alma» … A minha Avó (que morreu com a respeitável idade de 86 anos) gostava muito do meu Avô. Gostava mesmo muito e dizia-lho sorrindo enlevada (ou embevecida?), não sei bem. E ele manifestava o seu contentamento afagando-lhe as mãos e beijando-a com suavidade na testa enrugada. «Quando a gente não gosta, não deve ocultar os sentimentos e muito menos as emoções». Escutava-os feliz e adormecia no seu colo como uma criança que quer saber coisas sobre as estrelas.
Contei-vos o que sei. Outras mãos escreverão um dia, como todos os outros pormenores, o que falta nesta história.

António Aly Silva
Jornalista
Imagem: pintura de António Aly Silva

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Reforma do Sector de Segurança na Guiné-Bissau

Acompanhe tudo a partir daqui:

http://www.consilium.europa.eu/cms3_fo/showPage.asp?id=1413&mode=g&lang=en

Lembras-te de Bissau?

Photobucket
“Venham daí esses ossos!”. Cruzamo-nos, por acaso, ia eu a atravessar a rua em direcção à fortaleza da Amura. Abraçamo-nos e depois afastou-se. «Olha só para ti, estás um homem!».
Este meu amigo costumava parar no bar «Escondidinho» – que fica na esquina da escola «Marques Palmeirim». Chegava de sorriso aberto, ao final da tarde, depois de grandes caminhadas pelo dia e depois de noites que só ele sabia viver. «Já estou de abalada», dizia isso sem ressentimentos nem temor. Aliás, começou a dizer isto – contaram-me – ia nos quarenta. Durou mais vinte e um; depois, sossegadamente, cerrou as persianas feitas de colmo e foi embora.
E adorava falar de mulheres - «Na minha idade é que era, vocês hoje vão para a cama por tudo e por nada». E tinha razão. Estamos sempre a ir para a cama; de manhã, à tarde e à noite. Pela primeira vez ouvi-o falar da violência da terra, dos ardores do sexo e de gente que se maltratava por um corpo quente de mulher. De gente que ele viu matar por um desvio de águas ou pela aleivosia de um dito mal interpretado. O meu amigo não era de percorrer tabernas, não. O «Escondidinho» enchia-lhe todas as medidas. Bebia o seu tinto, conversava, rindo de riso breve, ouvindo histórias. Histórias como aquelas que ele próprio contava, bem entendido; e contava-as numa toada lenta e despedida de deselegâncias.
Porém, vivia sempre o seu tempo. Nesse encontro, dois anos antes da sua morte, lembramos muitas coisas. Contou-me que enviuvara há cinco anos. A mulher morreu na sala de operações, em pleno parto, por falha de electricidade. «Ninguém contava com aquilo, foi terrível». Fez-se um silêncio sepulcral. Não consegui olhá-lo olhos nos olhos. Senti-me enfraquecido e a desfalecer e culpado por não saber o que dizer para confortá-lo. «Pelo menos ainda temos o ‘Escondidinho’» - disse-lhe. E fomos entrando. Voltou a desabafar. «Os amigos morreram todos; o Ucha, o Fernandinho...O último foi o teu pai» – disse-me. O meu pai morrera nesse ano, mais precisamente.
Fiquei então a saber aquilo que anos a fio me apoquentava: ou seja, o que este meu amigo procurava no «Escondidinho»: Letrado, ele procurava apenas a ração de afecto, os gomos de ternura que, confirmou-mo um dia, só a sua pacata e recôndita aldeia lhe poderia realmente oferecer. Bebíamos, de vez por outra mais do que manda a lei do equilíbrio; e, sobretudo conversávamos muito. E nós ouvíamo-lo muitíssimo. Ele percebera que perdera o tom da época; que a sua época era outra e que sobre essa época outra escrevera tudo quanto tinha de escrever. Porém manteve-se interessado. Lia o que os outros escreviam.
Certa tarde – contou-me o senhor Zé do «Escondidinho» - decidiu que chegara a hora de regressar à sua aldeia. E eles iam lá, vê-lo e conversá-lo. «Bebíamos agora um pouco e devagar». O meu amigo, sábio e antigo, quedava-se agora no batente da porta, no silêncio da tarde, no silêncio de todas as tardes. «Já nem havia palavra, aliás», sussurrou-me o senhor Zé. Depois, confidenciou-me, «ergueu-se e, pausadamente, atravessou os umbrais da eternidade».
António Aly Silva
Jornalista
Fotografia: (C) AAS

Porque há coisas que encantam nesse ‘tchon’

Photobucket
“Um agitador cheio de coragem e loucura.” Há quem te qualifique assim (eu, por exemplo). Neste espelho cruel e cómico do que é esta cidade, este país, estas gentes, ficava bem um pouco de cor amena, tons pastel que ajudem a respirar com maior leveza nos dias que correm.
Os sorrisos com que me cruzo todos os dias. Nuns encontro inocência, noutros pura simpatia, noutros a esperança de dias melhores.
E as pessoas andam pelas ruas da cidade. Ninguém sabe para onde vão, donde vêm, o que as move. Mas andam. A cidade acorda bem cedo, bem antes de mim ou de qualquer pessoa que vive sob a protecção dos muros do meu bairro - muros de um mundo que não é este. Cada um luta à sua maneira para sobreviver a mais um dia. Mas luta pacificamente. O que vier, virá!
A força já não está nos olhares. Nem nas mãos, nem em lado nenhum. O trabalho faz-se lentamente. O tempo corre lentamente. O calor vai embora lentamente, ou não vai. A chuva agita apenas um pouco a vida desta gente, pelo menos por enquanto.
A alegria é encontrada nas pequenas coisas. Em coisas tão insignificantes que são ridículas aos olhos de quem aqui não pertence.
Um menino do interior da Guiné-Bissau, dos seus 4 anos, passou uma noite em minha casa, a dormir comigo, porque eu pertenço ao mundo dos que acham que estes pequenos gestos nos resgatarão do egoísmo em que vivemos submergidos. Estava calor, dormimos com o ar condicionado durante a noite toda. No regresso a sua casa, este menino contou aos outros meninos da sua idade que dormiu numa casa linda, cheia de vento. O que há de mais doce do que isto?
Aqui existe muita tristeza, muita miséria a todos os níveis. Mas depois existe aquela pequenina coisa pela qual vale a pena viver: a doçura reembolsada por nada! Há aqui uma magia que encanta. Essa magia está nas pessoas.

Bissau, 18 de Junho de 2008
MeGaMi
Foto: (C)AAS

Os novos colonialistas

África já foi citada de várias maneiras. E feitios. Apontam-lhe defeitos. E depois sugam-lhe até ao tutano, como diria Zeca Afonso. Porém, há uma citação que me atormenta. Tem-me perseguido, aliás, como se de uma sombra se tratasse:

«África não é nada, não faz nada nem nunca conseguirá fazer nada», afirmou Eden Kodjo, na altura secretário-geral da OUA (Organização da Unidade Africana), hoje União Africana graças ao homem dos camelos.

Eden Kodjo continua - volvidos quase trinta anos - dono desta razão sem razão, mas com razão de ser. E que é só esta:

Hoje, a Organização Mundial do Comércio, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, estabelecem as regras de uma situação de domínio e exploração de facto, e que consegue ser igual ou pior e de consequências mais funestas do que a escravatura colonial.
António Aly Silva
Jornalista

terça-feira, 17 de junho de 2008

É mesmo.

Photobucket

Só mesmo um judeu!

Um judeu foi ao jornal pôr o anúncio da morte da mulher:

"Escreva assim: Sara morreu."

O escriturário, muito admirado pergunta: "Mas é só isso?"

Responde o judeu: "Sim, porque senão fica muito caro!".

O escriturário explica-lhe então que paga o mesmo até cinco palavras.

O judeu aproveita:

"Então escreva assim: Sara morreu. Vendo Opel Corsa".

E por estar tudo tenso...

Marque o zero...

Uma executiva de topo de um instituto público (portanto, não se trata de uma guineense...), recém nomeada, faz a sua primeira viagem em trabalho fora da sua cidade. À noite, sentiu-se sozinha e por isso decidiu telefonar a uma empresa de acompanhantes. Diz ela ao telefone:

- "Boa noite. Preciso de uma massagem... Não, espere! Na realidade o que quero é sexo! Uma grande e duradoura sessão de sexo, mas tem de ser agora! Estou a falar a sério! Quero que dure a noite inteira! Estou disposta a fazer de tudo, participar em todas as fantasias que vocês inventarem. Traga tudo o que tiver de acessórios: algemas, chicotes, dildos, pomadas... quero ficar a noite inteira a fazer de tudo! Vamos começar por espalhar mel pelo corpo um do outro. Depois vamos lamber-nos mutuamente... ou será que você tem alguma ideia mais quente? O que acha?

Diz o homem do outro lado da linha:

- "Bem, na verdade parece-me fantástico, mas para chamadas exteriores a senhora precisa de marcar o zero primeiro...

País light

Eterna feminina, a cidade de Bissau tem o gosto da angústia. A angústia de quem não tem a varinha de condão capaz de transformar, por exemplo, uma sandes de peixe frito em maravilhosas costeletas.
Por seu lado e como bom guineense, o J. é antes de mais, um bom machista. É ele quem fixa as regras do jogo. As garinas são sinónimo de panela de caldo di tchebém e brindje de skilon ao fim-de-semana ou, ainda, de uma barriga por engrossar.
«São muitas vezes simples objectos de prazer», fiz notar ao meu amigo, que não me deixou sem o devido troco. «Sobretudo agora, depois de sucessivos anos de orgia de violência, que reduziram o pessoal masculino e fizeram com que a média mulher-homem fosse (ainda) mais dilatada. «A guerra afinal serve para estas coisas…», disse em tom desajeitado. Recordámos então, com aquele sorriso maroto, as filas intermináveis nos Armazéns do Povo e na Socomin e os jogos de futebol de salão nos ringues do agora Ministério das Finanças, e da defunta UDIB (como dói!).
Isto passou-se pouco antes do meu atribulado regresso a Lisboa (nha polícias di luxo…), no mês de Outubro do corrente ano. De volta ao país, voltei a cruzar-me com o J. numa das nossas esquinas. Estava diferente. Deixara crescer o bigode e engordara. Deitava-me agora aquele olhar melancólico e impotente. «É a Bissau a preto-e-branco» – sussurrei-lhe. «Boa mãe para uma imensa minoria e madrasta para a esmagadora maioria».
É que, há dias, há dias em que um dia parece que nunca mais passa. E há vezes em que estes anos todos passaram quase que de repente. «E o guineense comum – barafustou J. – o Zé-povinho, passa por esta vida como um gato – sem deixar marcas». Provocador (como eu, sim, como eu…) olhou à volta, para se certificar que tínhamos todos ouvido, e riu-se durante cerca de 5 minutos. Nem sequer parou de rir quando, em marcha-atrás, um automóvel conduzido por um motorista meio lélé-da-cuca quase lhe partia a perna.
Fiz-lhe notar que Bissau se transformara num parque de diversões, onde os homens são homens, mesmo que não queiram, e as mulheres são mulheres, mesmo que tenham que fingir. As mulheres divertem-se a gritar ou a fechar os olhos para se convencerem que não estão ali. Os homens cerram os dentes e abrem os olhos como prova de coragem. Na realidade, como fica mal gritar – e não foram educados para isso – defendem-se com um sentido de humor tirado dos intestinos fraquejantes. Outra maneira de ser homem é explicar que isto parece mas não é. Quer dizer, parece que podemos morrer, cair, magoarmo-nos, mas não é possível. Que País!...

António Aly Silva
Jornalista